domingo, 31 de janeiro de 2010

Conheça como funciona o sistema judicial em Cuba

Fonte: CUBAHORA
Tribunal Supremo Popular Foto: CUBAHORA

Por Vladimir Passos de Freitas na revista eletrônica CONJUR

Em Cuba, a função judicial está prevista no Capítulo X da Constituição da República. Ressalte-se que não existe Poder Judiciário nos moldes da tripartição de poderes prevista por Montesquieu, adotada pelo Brasil e pela maioria dos países do mundo ocidental. Nesta linha, o artigo 120 da Constituição, expressamente, fala em “função de distribuir justiça”.

Exatamente por não existir um Poder Judiciário, os tribunais, nos termos do artigo 121 da Carta Magna, são subordinados hierarquicamente à Assembleia Nacional do Poder Popular e ao Conselho de Estado. Portanto, não possuem autonomia administrativa e financeira.

O órgão máximo da função judicial é o Tribunal Supremo Popular, com sede na capital e jurisdição em todo o país. O TSP possui um Conselho de Governo, assemelhado aos Conselhos da Magistratura ou de Administração existentes em nossos tribunais, tendo este órgão atribuições de propor leis, emitir instruções de cumprimento obrigatório aos demais tribunais e de estabelecer uma prática judicial uniforme na interpretação e aplicação da lei.

A composição e atribuições do Conselho de Governo estão previstas na Lei dos Tribunais Populares de número 82, publicada na Gaceta Oficial de 14 de julho de 1997. Segundo o artigo 18-1, o Conselho de Governo é composto pelo presidente do TSP, pelos vice-presidentes e pelos presidentes de salas (equivalentes às nossas turmas ou câmaras). O ministro da Justiça e o Procurador-Geral da República podem participar de suas sessões, com direito a voz, mas sem voto.

Abaixo do TSP estão os Tribunais Provinciais Populares, que equivalem aos nossos Tribunais de Justiça. Cuba é um estado unitário, dividido em províncias. Em cada província existe pelo menos um TPP, cuja sede será em local definido pelo Conselho de Governo do TSP. Os TPPs também têm o seu Conselho de Governo, com estrutura assemelhada à do TSP.

A primeira instância é exercida pelos Tribunais Municipais Populares, que exercem sua jurisdição no território correspondente ao município em que se encontram. Os TMPs têm sua sede e jurisdição definida pelo Conselho de Governo do TSP, eles dividem-se em salas e estas podem ser desmembradas em seções especializadas em determinadas matérias. Os TMPs não possuem Conselhos de Governo. Existem, ainda, Tribunais Militares, com regras próprias.

O TSP, através dos juízes pertencentes ao seu Conselho de Governo, mantém contato direto e permanente com os juízes das instâncias inferiores, a fim de discutir seus problemas e procurar aperfeiçoar a Justiça. A cada dois anos, todos os juízes de Cuba reúnem-se em um congresso nacional.

As decisões dos tribunais cubanos são de cumprimento obrigatório por todos. A jurisdição e competência dos tribunais não estão previstas na Constituição, mas sim na lei. O artigo 124 da Constituição estabelece que todos os tribunais funcionarão de forma colegiada. É dizer, não existe em Cuba, em qualquer instância, sentença dada por um juiz. Todas são proferidas por um órgão colegiado, que pode ser de três ou de cinco juízes.

As ruas de Cuba têm dono!

Marcha das Tochas| Foto: Radio Habana Cuba

Por  Gladys Gutierrez no blog La Isla Desconocida

Caros estudantes e pessoas aqui presentes:

Em 27 de janeiro de 1953, centenas de estudantes universitários, jovens e pessoas diversas iluminaram com suas tochas a mesma Alma Máter que iluminamos hoje. Por iniciativa da FEU e da Frente Cívica de Mulheres Martianas, a Marcha das Tochas foi criada desta escadaria até Fragua, em homenagem real a José Martí, rejeitando a sátira que o ditador Batista tentou fazer desta data. A geração do Centenário engrossou a marcha: era a antessala do despertar do Mestre.

Seis anos depois, com o triunfo de 1959, as ideias de Martí tomaram forma na Revolução que nascia e cada vontade do Mestre edificou gerações. Por isso, é um absurdo que nos tentem apresentar Martí como o símbolo de uma antítese. Nosso Herói Nacional vive no cotidiano desta pátria. O verdadeiro Martí está presente na mobilização espontânea e na solidariedade dos estudantes, jovens e do povo cubano com o sofrido irmão, o povo haitiano; está presente na indignação que sentimos com cada soldado ianque que desembarca no Haiti, em nome da liberdade e da democracia.

O anti-imperialismo e o latino-americanismo de Martí figuram no exemplo de toda uma nação que se manteve por 51 anos em uma Revolução e que possui como primeira lei a plena dignidade do homem, e não faz distinção entre o país e a humanidade. A figura desta Revolução é o de um David que desnuda com sua onda, as entranhas de um grande monstro.

As tochas que acendemos hoje iluminam não apenas as ideias do Mestre, mas também de seu maior discípulo, Fidel Castro Ruz, assim como sua prática e sua obra. Essas tochas iluminam nossa Revolução e seus frutos: nós, jovens dispostos a defendê-la, continuamos, aperfeiçoamos e eternizamos.

Em Abril vamos comemorar o IX Congresso da Juventude Comunista, quando vamos discutir nossas conquistas, dificuldades, desafios e compromissos. A maior aspiração deste Congresso é que todos nós, jovens cubanos, sejamos capazes de praticar as verdades e a essência martiniana como única maneira de existir como um Estado soberano.

Com a clareza dos ensinamentos do Mestre e diante das manobras do Norte revolto e brutal que nos despreza, Raul nos alertou, na última sessão do Parlamento:

sábado, 30 de janeiro de 2010

Cuba, uma reflexão

Hotel Nacional De Havana | Foto: Manifesto:

Por Santiago Alba Rico, Carlos Fernández Liria, Belén e Pascual Serrano no site Público

Estes são tempos de reflexão na economia. Após várias décadas de predomínio neoliberal patrocinado pela Escola de Chicago, a economia mundial enfrenta uma crise com consequências imprevisíveis, mas em todo caso, muito grave. O mínimo que se poderia pedir ao espírito científico é mudar paradigmas, inverter as evidências, reagir, em suma, diante da falência intelectual que impediu diagnosticar e prever a catástrofe por vir. É isso que se está fazendo?

Temos conhecido versões diferentes, mais ou menos destrutivas do capitalismo, assim como do socialismo. Mas, no que diz respeito à lógica interna que diferencia um do outro, há algo que deveria interessar-nos profundamente hoje: o socialismo pode parar de crescer, o capitalismo não. O socialismo pode retardar a marcha, o capitalismo não.

Consideremos o exemplo de Cuba. Quando caiu a URSS, Cuba de repente perdeu 85% de seu comércio exterior. Seu produto interno bruto caiu nada menos do que 33% em termos absolutos. Seria uma sensação de catástrofe se a Europa perdesse apenas um único ponto no crescimento esperado. Junto com a perda, o bloqueio dos EUA cresceu. No entanto, as pessoas não morreram de fome em Cuba, não perderam seus sapatos, nem sua educação, sua segurança social, nem a dignidade. Passaram muito mal, mas não enfrentaram o fim do mundo, como havia ocorrido com semelhantes indicadores nos países capitalistas.

Em meio ao atual choque, quando o capitalismo destrói corpos na África e postos de trabalho na Espanha, quando inevitavelmente corrói as condições de vida, quando necessita usar o "lubrificante" das máfias, o estímulo do fundamentalismo religioso, a restrição dos direitos trabalhistas e a redução das liberdades, nesse momento, todos os olhos se dirigem, de fato, à Cuba ... Mas para condená-la e persegui-la.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Cuba diz que Obama não faz esforços por aproximação

Barack Obama |  Foto: Tribuna do Norte


O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, reiterou hoje que o Governo de Barack Obama não dá passos fundamentais para melhorar as relações com a ilha apesar de ter reduzido a "retórica anticubana" e eliminado algumas restrições para viajantes. Segundo Rodríguez, Obama não utiliza as "prerrogativas" que tem para aliviar o embargo comercial e financeiro a Cuba sem que a iniciativa passe pelo Congresso estadunidense.

As declarações do ministro foram feitas em Havana na abertura de um encontro de cubanos que vivem em outros países e são favoráveis ao Governo do general Raúl Castro. No evento, Rodríguez lembrou que as questões "essenciais" para a melhoria das relações entre Cuba e Estados Unidos são o fim do bloqueio, a retirada da ilha da lista de países que apoiam o terrorismo, a revogação das leis americanas que estimulam a emigração ilegal de cubanos e o fim do apoio à dissidência interna.

O chanceler cubano também pediu o fim das transmissões de rádio e TV dirigidas à ilha e a libertação de cinco agentes cubanos presos nos EUA por espionagem. Para o ministro, apesar de as partes terem reatado as negociações sobre assuntos migratórios e para o restabelecimento do correio direto, os EUA ainda não desistiram de "destruir a revolução" cubana liderada pelo agora ex-presidente Fidel Castro. 

Segundo Havana, cerca de 450 cubanos procedentes de 42 países, a metade deles dos EUA, participam do Encontro de Cubanos Residentes no Exterior contra o Bloqueio, em Defesa da Soberania Nacional, que vai até sexta-feira.

Cuba se prepara para as eleições municipais

Eleições em Cuba: Uma força da Revolução garantida pelo Estado Foto: Granma


Autoridades cubanas iniciarão a partir de amanhã a comprovação do registro de eleitores com vistas às eleições parciais, que selecionarão os delegados às Assembleias Municipais do Poder Popular. Ditos sufrágios se realizarão no próximo 25 abril e no seguinte domingo - 2 de maio, em segundo turno, naqueles circunscrições onde nenhum dos candidatos obtenha mais de 50 % dos votos válidos emitidos.

Em entrevista coletiva, a presidenta da Comissão Eleitoral Nacional, Ana María Mari, precisou hoje que, com o apoio de dirigentes de bairros e a visita a cada lar, se prolongará o processo até no dia 14 de fevereiro. 

Reiterou que as autoridades eleitorais trabalharão com ética, profissionalismo, apego à lei e imparcialidade como partes de um processo exemplo para apresentar ao mundo: nosso Registro de Eleitores se distingue de outros em nível internacional por ser de ofício, público e permanente, destacou o vice-presidente da mencionada comissão, Rubén Pérez. Explicou que cada cubano aos 16 anos é inscrito automaticamente para exercer o voto, um direito constitucional, assim como também tem acesso a consultar o listrado, cuja atualização ocorre de maneira periódica.

Também antecipou que a nominação de candidatos começará no dia 24 de fevereiro e culminará um mês depois nas áreas definidas pelas 15 mil e 93 circunscrições desta ilha caribenha: esse será um momento para propiciar a maior quantidade de propostas e nomear aos melhores pela sua autoridade moral ganha nas comunidades sem distinção de raça, sexo ou crença religiosa, sublinhou Pérez.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Haiti e Cuba: a solidariedade silenciada

Médico cubano fornecendo medicamento a um haitiano Foto: Fidel - Soldado das Ideias

Por José Manzaneda no Cuba Información

Os cerca de 400 cooperadores da brigada médica cubana foram a mais importante assistência médico-sanitária levada ao povo haitiano durante as primeiras 72 horas após o terremoto. Esta informação foi censurada nos grandes meios de comunicação internacionais. A ajuda de Cuba ao Haiti não chegou com o terremoto. Cuba desenvolve no Haiti desde 1998, um Plano Integral de Saúde pelo qual passaram mais de 6000 trabalhadores da saúde. Horas depois da catástrofe, no mesmo dia 13 de janeiro, somaram-se à brigada de saúde 60 especialistas em catástrofes, componentes do Contingente “Henry Reeve” que chegaram de Cuba num voo com medicamentos, soro, plasma e alimentos. Os médicos cubanos prepararam sua residência para funcionar como hospital de campanha, atendendo milhares de pessoas por dia e realizando centenas de operações cirúrgicas em 5 pontos assistenciais em Porto Príncipe. Além disso, cerca de 400 jovens haitianos, formados médicos em Cuba, reforçaram a brigada cubana. Sobre estes fatos, os grandes meios de comunicação silenciaram.

O diário El País, em 15 de janeiro, publicava uma infografia sobre a “ajuda financeira e equipes de assistência”, onde Cuba nem sequer aparecia entre os 23 Estados que ofereceram colaboração. A cadeia estadunidense Fox News chegou a afirmar que Cuba é dos poucos países vizinhos do Caribe que não prestaram nenhuma ajuda. Vozes críticas de dentro dos Estados Unidos denunciaram este tratamento informativo, embora sempre em muito limitados espaços de divulgação. Sarah Stevens, diretora do Centro para a Democracia nas Américas, dizia, no blog The Huffington Post: "se Cuba está disposta a cooperar com os Estados Unidos no ar (abrindo-lhe seu espaço aéreo), não deveríamos cooperar com Cuba nas iniciativas terrestres que dizem respeito a ambas nações e aos interesses conjuntos de ajudar o povo haitiano?"

Laurence Korb, ex-subsecretário de Defesa e, agora, vinculado com o Centro para o Progresso Americano, pedia ao governo Obama para “aproveitar a experiência de um vizinho como Cuba”, que “tem alguns dos melhores corpos médicos do mundo”, com os quais “temos muito que aprender”. Gary Maybarduk, ex-funcionário do Departamento de Estado, propôs entregar equipamentos às brigadas médicas cubanas com o uso de helicópteros militares dos USA, para que pudessem deslocar-se para lugares pouco acessíveis do Haiti. Steve Clemons, da New América Foundation e editor do blog político The Washington Note, afirmava que a colaboração médica entre Cuba e Estados Unidos, no Haiti poderia gerar a confiança necessária para romper inclusive com o estancamento que houve nas relações entre os dois países durante décadas.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Ganhadores de Prêmio Nobel apoiam campanha pela liberdade dos Cinco Cubanos

Rosa Aurora Freijanes mostra a foto do marido Fernando Gonzales, preso nos EUA .
Foto: Gazeta do Povo
Por Natasha Pitts na Adital

Quase 12 anos depois, a causa dos cinco cubanos encarcerados nos Estados Unidos continua mobilizando pessoas de todo o mundo. A cada ano são realizadas novas campanhas para pressionar os líderes americanos a libertarem os cidadãos presos desde 12 de setembro de 1998. 

Neste início de ano, o Comitê Internacional pela Liberdade dos Cinco Cubanos está intensificando uma forte mobilização que recebe o apoio de dez ganhadores do prêmio Nobel. 

Um requerimento assinado por José Ramos-Horta, Rigoberta Menchú, Adolfo Pérez Esquivel, Máiread Corrigan Maguire, Günter Grass, José Saramago, Dario Fo, Nadine Gordiner, Wole Soyinka e Zhores Alferov, todos ganhadores do prêmio Nobel, exige a imediata libertação dos cinco cubanos. A intenção é pressionar o presidente americano Barack Obama, prêmio Nobel da Paz 2009, a assinar a liberdade dos cinco e permitir que retornem a Cuba com suas famílias. 

O requerimento será enviado para a Casa Branca onde também devem chegar centenas de cartões remetidos pela população mundial com o pedido de liberdade. O Comitê Internacional está distribuindo cerca de 20 mil cartões, que podem ser encontrados em sua maior parte em inglês e espanhol. Parceiros como França e Itália estão realizando a tradução para que a campanha chegue a vários países. A orientação é que os cartões cheguem à Casa Branca circulando de mão em mão sem envelope. Desta forma, os que ainda não conhecem o caso poderão tomar conhecimento. A mobilização não tem data para acabar, pois, a cada dia, novos países e cidades americanas aderem à campanha solicitando os cartões e convocando "Presidente Obama, estamos esperando sua assinatura".

Os interessados em participar ativamente da campanha podem encomendar os cartões ou solicitar o PDF para editá-lo de acordo com o idioma de seu país. Os pedidos devem ser remetidos para o endereço de e-mail info@thecuban5.org. O Comitê também disponibiliza uma apresentação em Power Point aos interessados em disseminar ainda mais a mobilização dos cartões.

Histórico do caso

sábado, 23 de janeiro de 2010

Fidel Castro: Enviamos médicos, não soldados

Na reflexão do dia 14 de janeiro, dois dias após a catástrofe no Haiti, que destruiu este país irmão e vizinho, eu escrevi: 

"Cuba, apesar de ser um país pobre e bloqueado, há anos coopera com o povo haitiano. Cerca de 400 médicos e especialistas em saúde oferecem gratuitamente a cooperação àquele povo. Em 127 das 137 municípios do país, nossos médicos trabalham todos os dias. Além do mais, nada menos que 400 jovens haitianos  formaram-se em Medicina em nossa Pátria. Agora trabalharão com o reforço de nossos médicos que viajaram ontem para salvar vidas em críticas situações. Pode-se mobilizar, sem esforço especial, até mil médicos e especialistas em saúde que já estão quase todos lá e prontos para cooperar com qualquer outro Estado que queiram salvar vidas haitianas e na reabilitação dos feridos".

"A situação é difícil - relatou a chefe da Brigada Médica Cubana - mas já começamos a salvar vidas".

Hora após hora, dia e noite, nas poucas instalações que permaneceram de pé, em tendas ou em parques e espaços abertos, com medo da população de novos tremores, os profissionais de saúde cubanos começaram a trabalhar incansavelmente.

A situação era mais grave do que inicialmente imaginada. Dezenas de milhares de feridos clamavam por ajuda nas ruas de Porto Príncipe. Um número incalculável de pessoas, vivas ou mortas, estavam sob as ruínas de barro ou adobe, material das casas da maioria da população. Edifícios, inclusive os mais fortes, desmoronaram. Ademais, foi necessário localizar, no meio de bairros destruídos, os médicos haitianos formados na ELAM, muitos dos quais foram direta ou indiretamente afetados pela tragédia.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Haiti: primeira ocupação militar do poder "inteligente"

Soldados estadunidenses chegando de helicóptero no palácio presidencial de Porto Príncipe Foto: Cubadebate

Por Angel Guerra Cabrera no Cubadebate

Os Estados Unidos se aproveitam da mais recente tragédia no Haiti para implantar-se militarmente no país caribenho por um longo tempo. Isto não foi visto desde que Washington anunciou o envio de uma enorme quantidade de meios bélicos a sofrida nação, ação mais própria de uma invasão armada do que uma operação humanitária.

Sublinhando as táticas de poder inteligente na era Obama, o abrandamento da ação militar - por hora - é feito pela televisão, que transmite imagens horríveis de sofrimento do povo haitiano, separando-as de seu contexto social e político, como se não fosse devido, principalmente, a uma história de pilhagem e atropelos imperiais de séculos. As imagens não fazem mais do que mostrar um quadro humano apocalíptico que, agora ainda mais agravado, já existia antes do terremoto.

Enquanto as terríveis tomadas televisivas mobilizam uma onda de solidariedade internacional nunca vista, a ocupação militar marcha de vento em popa, disfarçada de ação de socorro.

Chegou ao Haiti o super porta-aviões Carl Vinson e o seu grupo de batalha, incluindo três navios de assalto anfíbio e de dois navios com mísseis, barcos e helicópteros da Guarda Costeira, uma unidade de elite de 2.000 Fuzileiros Navais, 3.500 soldados da 82ª Divisão Aerotransportada - a mesma que atuou nas invasões da República Dominicana, Granada e Panamá -, segundo anuncia o Pentágono, estão por chegar entre 9.000 e 10.000 militares norte-americanos.

O aeroporto e o tráfego aéreo estão sob controle da Força Aérea norte-americana e seus militares colocaram em segundo plano as forças da ONU, cujo comando não se subordina. Surgem protestos na França, Brasil, Venezuela e do Caricom, cujos aviões não obtém permissão de pouso dos ianques. O enorme destacamento militar está longe de ser temporário, está ali para ficar, como foi confirmado pelas declarações da senhora Clinton, em visita ao Haiti, e pelo porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley: "Vamos ficar lá por um longo prazo..."; e, também, as do general Douglas Frazer, chefe do Comando Sul, responsável pela "ajuda". Fatos amplamente discutidos pelo acadêmico canadense e especialista em geoestratégia, Michell Chossudovsky, em seu artigo "A militarização da ajuda de emergência para o Haiti: É uma operação humanitária ou de uma invasão?” publicado no site do Global Research.

Agroecologia em Cuba: O modelo de agricultura que poderia salvar o mundo

Muitas possibilidades se abrem para o futuro da agricultura em Cuba.
 Foto: Rádio Aguada

Por Ana Margarita González na 
Prensa Rural

O movimento agroecológico em Cuba é um esteio para garantir a segurança alimentar e substituir quantidades significativas de alimentos, combustíveis, agrotóxicos e adubos químicos. Mais de 110 mil camponeses aplicam essas técnicas em seus cultivos ou na criação de animais, e cerca de 120 mil praticam a agricultura orgânica. Orlando Lugo Fonte, presidente da Associação Nacional de Agricultores Pequenos (ANAP), fez essas colocações a "Trabajadores" (informativo da Central de Trabalhadores de Cuba) na cidade de Güira de Melena, no encerramento do II Encontro Internacional de Agroecologia e Agricultura Sustentável, ao qual assistiram uma centena de estrangeiros e 70 cubanos.

Os delegados constataram os avanços desse movimento nas propriedades e cooperativas de várias províncias do país e ficaram impressionados pelos resultados produtivos, que "não são ainda os ideais, mas são alentadores se comparados com os de dois anos atrás, quando assistiram ao I Encontro", assegurou o dirigente camponês. 

"Nós, os cubanos, somos, em todo o mundo, os mais obrigados a desenvolver e estender as práticas da agroecologia e da agricultura sustentável, por que temos um país e uma economia bloqueados há mais de 50 anos e dependemos da importação de grande quantidade de alimentos para manter os níveis adequados de nutrição que a população necessita. Esse tipo de agricultura produz alimentos mais baratos e sãos", assegurou o dirigente campesino.

Lugo Fonte destacou o desenvolvimento inicial da agricultura suburbana, que integrará milhares de camponeses e cooperativistas e que terá como premissa o uso da tração animal e os adubos e pesticidas orgânicos e biológicos. 

Informou ainda que este ano deve concluir com a produção de 100 mil toneladas de húmus de minhocas e 150 mil toneladas de adubos orgânicos, números que serão uma garantia para a produção agroecológica. 

Também comunicou que, em todo o país, há mais de 800 pessoas dedicadas a dar assistência à agroecologia, e que em muitas cooperativas já existem técnicos capacitados para assessorar essa atividade, razão pela qual é factível continuar ampliando essas práticas.

Peter Rosset, especialista da organização internacional Via Campesina, afirmou que Cuba é um farol do movimento agroecológico mundial, por que percebeu precocemente a necessidade de colocar a família camponesa como protagonista das transformações de sua própria realidade. 

O pesquisador norte-americano defende a teoria de substituir o uso de produtos químicos e a mecanização nos processos agropecuários, pelos danos irrecuperáveis que causam aos solos, ao meio ambiente e consequentemente ao ser humano. 

Reconheceu a dinâmica alcançada pelos agricultores cubanos para reverter essa política, e a integração com os centros científicos de pesquisa para enfrentar desafios maiores.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Che, sempre!

Estátua de Che em La Higuera na Bolívia |  Foto: Granma

O vice-presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros de Cuba, Ramiro Valdés Menéndez, visitou a aldeia de La Higuera, na Bolívia Oriental, onde há 42 anos assassinaram o comandante Ernesto Che Guevara.

Como parte da visita que realiza à nação sul-americana, o ministro das Comunicações e Tecnologia da Informação disse que se emocionou ao percorrer o local histórico em que em outubro de 1967 desapareceu fisicamente o Guerrilheiro Heroico Ernesto Che Guevara.

Menéndez também se interessou pelas condições de vida das famílias que vivem naquela comunidade intrincada e humilde, encravada a mais de mil quilômetros da cidade de La Paz.

O líder cubano manteve um animado diálogo com os médicos de Cuba, a camagueyana, Danay Gonzalez e Roberto Sanchez, da província de Granma, que prestam serviços lá como parceiros internacionais.

Valdes conheceu as especificidades das dezenas de consultas médicas diárias, e sobre o atendimento gratuito oferecido por esses médicos para as famílias locais e de outros territórios vizinhos, de escassos recursos.

Acompanhado pelo vice-ministro das Relações Exteriores de Cuba, Marcelino Medina, e do embaixador cubano na Bolívia, Rafael Dausa, o vice-presidente também visitou a escola, palco do assassinato de Che Guevara e do museu erguido em honra do Guerrilheiro Heroico.

Valdes chegou quinta-feira no aeroporto internacional da cidade de Santa Cruz para participar de atos de posse do presidente boliviano, Evo Morales, eleito para seu segundo mandato.

Tradução: Robson Luiz Ceron/Blog Solidários a Cuba.

Haiti: recuperação através da solidariedade cubana

Menina encontra corpo de irmão nos escombros, em Porto Príncipe | Foto: DW
Por Karol Assunção na Adital

Após uma semana do terremoto que destruiu parte do Haiti, a situação no país ainda continua complicada. De acordo com informações do secretário-executivo da Plataforma Haitiana Por um Desenvolvimento Alternativo (PAPDA), Camille Chalmers, a situação no país permanece ruim, com dificuldades de comunicação. Vários países ajudam no resgate e no atendimento aos feridos, como Cuba, que continua a enviar médicos ao local.

Segundo Chalmers, a realidade no país caribenho é "dramática", com três milhões de flagelados, mais de 100 mil mortos e centenas de feridos: "Toda a população dormindo na rua esperando a réplica e novos golpes...", afirma. O problema torna-se ainda mais grave por conta da ausência do Estado.

"Uma resposta muito fraca de um Estado quase ausente. Os 9.000 soldados da ONU [Organização das Nações Unidas] não estão fazendo nada para ajudar a população. A maioria das pessoas ficou sem assistência médica durante 48 horas porque os maiores hospitais da capital atingidos também não são funcionais. Os bombeiros também [estão] totalmente impotentes porque seu local está enterrado e superado pelas dimensões da catástrofe", comenta.

Para ele, três elementos são necessários para a recuperação do país: uma assistência de urgência coordenada, com o objetivo de garantir o fornecimento de água potável, comida, roupas e abrigos para a população necessitada, assim como de ajudar no resgate de pessoas e de lutar contra os riscos de epidemia; uma reabilitação, com a recuperação da comunicação e da infraestrutura do país; e uma solidariedade estruturante, com investimentos para que a população possa reestruturar a vida com melhores condições.

Chalmers acredita que, a partir da solidariedade, os haitianos podem reconstruir suas vidas de forma mais digna, sem a presença da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). "É a hora de uma grande onda de brigadas de solidariedade com o Povo do Haiti que não seja esta miséria, agressão caricaturesca que representa a Minustah", defende.

De acordo com o secretário da Papda, tal movimento de solidariedade - de povo para povo -, deve priorizar pontos como: a construção de um sistema de ensino público gratuito e eficaz que respeite a história, a cultura e o ecossistema do país; a luta contra a crise ambiental; a construção de um sistema de saúde público de qualidade e acessível; a expulsão da Minustah em troca da construção de brigadas de solidariedade; e a reconstrução de uma cidade baseada na lógica de urbanização humana.

Cuba: quase meio milhão de cubanos preparam as eleições

Milhares de cubanos participarão do XIV processo eleitoral | Foto: Brasil de Fato

Por Fidel Rendón Matienzo no Portal Cuba

Quase meio milhão de cubanos participarão dos preparativos para as Assembleias eleitorais do Poder Popular, previstos para 25 de abril (primeiro turno) e 2 de maio (segundo turno), que terão como lema "Eleições 2010: eleições de virtudes, méritos e capacidade". 

Para Ana Maria Marí Machado, presidenta da Comissão Eleitoral Nacional, este XIV processo eleitoral deve contar desde o início com a mais ampla, ativa e entusiasmada participação da população, e contribuir para que as Assembleias Municipais de Governo contem com uma maior presença de mulheres e jovens, assim como uma melhor composição étnica. Numa coletiva com a imprensa, assegurou que do ponto de vista político, as eleições serão uma expressão da força da Revolução, e no plano legal e jurídico “mais uma vez demonstraremos para o mundo a pujança de nossa democracia socialista, genuína e autônoma”.

Marí Machado ressaltou a necessidade de que o povo tenha consciência do que passou e do momento histórico em que acontecem os sufrágios. Transcorrerão num cenário político internacional muito complexo, caracterizado por uma crise mundial, que tem impactos sobre a economia cubana do mesmo modo que o bloqueio norte-americano, enquanto internamente o país se empenha para alcançar a eficiência econômica. Em relação aos preparativos para as eleições, destacou que nenhum passo do processo eleitoral pode ser esquecido, nem a qualidade na seleção e preparação daqueles que participarão de seu desenvolvimento. Também destacou a contribuição dada pelas organizações de massa e da imprensa, na mobilização e orientação do povo.

A funcionária lembrou que este processo é que vai indicar os candidatos a delegados de acordo com suas virtudes, méritos e capacidade, e também, nas urnas, eleger diretamente os melhores para que os representem nas Assembleias Municipais do Poder Popular. Na constituição da Comissão Eleitoral Nacional, no último dia 06 de janeiro, Ricardo Alarcón, presidente do Parlamento, chamou o processo que conduzirá as eleições dos delegados distritais, e as Assembleias, com o rigor, sistematicidade e espírito crítico e criador que convocou o presidente cubano Raúl Castro. 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Fidel Castro: O Haiti coloca a prova o espírito de cooperação

As notícias que chegam do Haiti configuram o grande caos que era de esperar na situação excepcional criada pela catástrofe.

Surpresa, espanto, comoção nos primeiros instantes, vontades de prestar ajuda imediata nos cantos mais afastados da Terra. O quê enviar e como fazê-lo para um canto do Caribe, desde a China, a Índia, o Vietnã e de outros pontos localizados a dezenas de milhares de quilômetros? 

A magnitude do terremoto e da pobreza do país gera nos primeiros instantes ideias de necessidades imaginárias, que dão origem a todo o tipo de promessas possíveis que depois se tenta fazer chegar por qualquer via.

Os cubanos compreendemos que o mais importante nesse instante era salvar vidas, para o qual estávamos treinados não apenas perante catástrofes como essa, mas também contra outras catástrofes naturais relacionadas com a saúde.

Ali estavam centenas de médicos cubanos e, adicionalmente, um bom número de jovens haitianos de origem humilde, convertidos em profissionais da saúde bem treinados, uma tarefa na qual temos cooperado durante muitos anos com esse irmão e vizinho país. Uma parte dos nossos compatriotas estava de férias e outros de origem haitiana treinavam-se ou estudavam em Cuba.

Até a CNN elogia ajuda médica de Cuba ao Haiti

Médicas cubanas atendem no Haiti | Foto: Patricia Grogg/IPS 
Por Robson Luiz Ceron 

Enquanto o nosso ministro Nelson Jobim usurpa decisões que pertencem à ONU, cujo mandato as Forças Armadas brasileiras estão no Haiti, ao sugerir que fiquemos mais cinco anos por lá, outras nações procedem de maneira diferente. É o caso de Cuba, que está enviando centenas de pessoas da área de saúde, entre médicos e auxiliares; um esforço que é reconhecido até por órgãos da imprensa norte-americana, como o correspondente da CNN, Steve Kastenbaum, cujo boletim está no vídeo abaixo.

Diz ele, numa tradução livre:

“Há muito poucos lugares onde os haitianos podem ir quando precisam de cuidados médicos urgentes no centro da cidade. No entanto, encontramos uma: o Hospital La Paz, operado pelo pessoal médico cubano aqui no Haiti, juntamente com equipes da Espanha e América Latina ”

“E é incrível ver. Eles estão dando atendimento de qualidade aos feridos graves, média de seis a sete mil pacientes por dia e fazem várias dezenas de cirurgias diariamente. Trabalham em turnos, 24 horas por dia, sete dias na semana e é um dos poucos lugares em toda a cidade onde os haitianos podem ser atendidos com uma chance razoável de sobreviver. Nós vimos muitas lesões traumáticas lá. Eu não sei quantas vezes vimos amputações, fraturas compostas, feridas traumáticas na carne."

"No entanto, estas equipas médicas esmagada pela emergência, encontraram maneiras de cuidar de todos eles, apesar da falta de suprimentos - oxigênio, anestésicos e água- de que necessitam para isso. Eles compensam a falta de abastecimento com aquilo que chega da Espanha ou da ilha e tudo funciona de maneira muito organizada.”

Que diferença de quem só se preocupa em manter o controle (que é necessário, mas não é o suficiente) sobre uma população desesperada pela dor, fome e sede. 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Fidel Castro: A lição Haiti

Desde há dois dias, quase às 18h:00, hora de Cuba (já era de noite no Haiti devido a sua posição geográfica), as emissoras de televisão começaram a veicular notícias de que um violento terremoto de uma intensidade 7,3 na escala Richter tinha devastado Porto Príncipe. O fenômeno sísmico originou-se numa falha tectônica situada no mar, localizada a apenas 15 quilômetros da capital haitiana, uma cidade onde 80 por cento da população haitiana mora em casas frágeis construídas de adobe e barro.

As notícias continuaram quase ininterrompidamente durante horas. Não havia imagens, mas afirmava-se que muitos prédios públicos, hospitais, escolas e instalações de construção mais sólida tinham colapsado. Eu li que um terremoto de uma intensidade 7,3 equivale à energia liberada por uma explosão igual a 400 mil toneladas de TNT.

Descrições trágicas eram veiculadas. Os feridos nas ruas pediam aos gritos ajuda médica, rodeados de ruínas com famílias sepultadas. No entanto, ninguém conseguiu transmitir nenhuma imagem durante muitas horas.

A notícia surpreendeu-nos a todos. Muitos escutávamos com frequência informações sobre furacões e grandes cheias no Haiti, mas ignorávamos que o vizinho país corria o risco de sofrer um grande terremoto. Nesta oportunidade saiu à tona que há 200 anos essa mesma cidade tinha sofrido um grande terremoto, quando talvez a cidade tinha alguns poucos milhares de habitantes.

Às 24h:00 ainda não se conhecia uma cifra aproximada de vítimas. Altos chefes das Nações Unidas e vários chefes de Governo falavam sobre os comovedores acontecimentos e anunciavam o envio de brigadas de socorro. Como lá tem desdobradas tropas da MINUSTAH, forças das Nações Unidas de diversos países, alguns ministros de defesa falavam de possíveis baixas entre seu pessoal.

Foi verdadeiramente na manhã de ontem, quarta-feira, quando começaram a chegar as tristes notícias sobre as enormes perdas humanas na população e inclusive instituições como Nações Unidas mencionavam que algumas de suas edificações naquele país tinham colapsado, um termo que não diz nada por si próprio ou que podia significar muito.

Durante horas ininterrompidas continuaram chegando notícias cada vez mais traumáticas sobre a situação nesse irmão país. Eram discutidas as cifras das vítimas mortais que oscilam, segundo versões, entre 30 mil e 100 mil. As imagens são devastadoras; é evidente que o desastroso acontecimento tem recebido ampla difusão mundial, e muitos governos, sinceramente comovidos, realizam esforços por cooperar na medida de seus recursos.

A tragédia comove de boa fé a grande número de pessoas, especialmente as que são de caráter natural. Mas, talvez, poucas pessoas se põem a pensar por que o Haiti é um país tão pobre. Por que a sua população depende quase em 50% por cento das remessas familiares que são recebidas do exterior? Por que não analisar também as realidades que conduzem à situação atual do Haiti e  seus enormes sofrimentos?

A democracia socialista no centro do debate em Cuba

Praça da Revolução em Havana Foto: Portal Vermelho
Por Hideyo Saito na Carta Maior

A mobilização atual da sociedade cubana é um esforço declarado, pelo menos de parte da intelectualidade e de dirigentes políticos, pelo aprofundamento da democracia e do socialismo no país em favor de uma maior participação popular nas decisões. Esse clima se reflete também na imprensa, acusada nos debates populares de omitir assuntos considerados inconvenientes e de não retratar adequadamente a realidade do país.

Mas, se é verdade que a mídia cubana deixa a desejar na cobertura das grandes questões nacionais, é igualmente verdade que ela tem sido sensível às críticas da sociedade. 

O que escondem as autoridades e dirigentes de empresas cubanas, empenhados em dificultar o trabalho de jornalistas e fotógrafos que tratam de oferecer informação pública à população?

Como fazer do direito à informação, uma realidade cotidiana em Cuba?

Essas perguntas foram feitas em matéria de destaque publicada no jornal Granma, porta-voz do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, na edição de 23 de novembro de 2009. No texto, assinado pela jornalista Katia Siberia García e intitulado Jornalismo com fobias, são citados exemplos de autoridades que dificultam o acesso à informação por parte da imprensa. De acordo com Katia García, geralmente esses dirigentes exigem que o repórter mostre autorização escrita dos escalões superiores para aceitarem responder a seus questionamentos.

Outro artigo, este de 29 de agosto de 2009, assinado pelo colunista do Juventud Rebelde, José Alejandro Rodríguez, denunciou a “obsessão doentia” de autoridades de diversos escalões em não fornecer informações negativas para pretensamente cuidar da imagem do país, do ministério, da empresa ou da província. Todas se escudam em desculpas de que as críticas depreciam as conquistas da revolução. O jornalista, porém, atribui essa concepção a “oportunistas e indolentes”, argumentando que “as sociedades também necessitam de espelhos para se olhar e perceber suas rugas, que são reversíveis, ao contrário das que marcam os rostos humanos.” Nesse sentido, escreve ele, o pior desserviço à revolução “é o silêncio, a simulação, a dupla moral, o conformismo, a complacência diante dos problemas que se armam sob os nossos olhos”.

Rodríguez lembra que houve muita resistência em aceitar a ideia que a corrupção estivesse incubada na sociedade cubana, mas graças aos que insistiram em denunciar o assunto, o país acabou criando em meados de 2009 uma Controladoria Geral para cuidar especificamente do assunto. O jornalista, por fim, adverte: o socialismo europeu desapareceu porque permitiu que prevalecesse essa atitude de avestruz diante dos problemas que se avolumavam.

Um terceiro jornalista cubano, Manuel David Orrio, concentrou sua crítica no funcionamento da própria imprensa, ao comentar uma nota publicada na BBC Mundo sobre um filme cubano que aborda o assunto de forma contundente. Trata-se do curta-metragem Brainstorm, de Eduardo del Llano, exibido em abril de 2009 no Festival de Cinema Pobre, realizado anualmente na cidade de Gibara (a quase 800 km de Havana). A película mostra o conselho de direção de um jornal discutindo qual será a manchete do dia, até que a conversa é encerrada por uma chamada telefônica ao diretor, em que alguém de fora determina a escolha. O correspondente da BBC, Fernando Ravsberg, escreve que a sátira de Llano não é nada exagerada: na vida real, ninguém se atreve a publicar uma notícia politicamente importante sem que haja um claro sinal de cima.

O diretor da película é um jovem realizador, autor de vários filmes polêmicos, alguns exibidos em festivais cubanos com bastante sucesso, mas nenhum ainda apresentado em circuito regular de cinema. Sobre o tema de Brainstorm, ele declara: “O jornalismo cubano muitas vezes está de costas para a realidade ou a enfeita demais. Não é um jornalismo combativo como o que queremos. Não queremos algo meramente informativo e didático”. 

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

7 destinos: conheça Cuba além dos estereótipos

Turistas em frente ao Museu da Revolução | Foto Lala Rebelo

Por Diego Dacax no Guia da Semana

O Guia da Semana preparou um roteiro para quem quer ir além dos clichês cubanos.

Apesar de ainda ser mais conhecida por sua conturbada situação política do que pelas suas belezas naturais e urbanas, Cuba tem sido um destino cada vez mais frequente na lista dos turistas mundo afora. Com uma localização privilegiada, o país que é composto por mais de 4 mil recifes, ilhotas e ilhas propriamente ditas, fica entre o Mar do Caribe - famoso por seu azul e pelas paisagens paradisíacas das nações à sua volta - e o Estreito da Flórida. Ao contrário do que comumente se pensa, o turismo na ilha vai muito além de Havana. A partir disso, elencamos alguns dos principais pontos para quem quer conhecer Cuba para além de seus estereótipos.

Havana, ao fundo Capitólio de Cuba |
Foto: Arion by Andri
Havana

Capital e principal cidade cubana, Havana concentra mais de vinte por cento dos cerca de 11 milhões de habitantes do país. 

Apesar de ser quase um clichê quando se fala em Cuba, o local ainda é o principal centro cultural da ilha. Para se ter uma ideia, por lá existem 30 museus, 10 galerias de arte e 25 teatros, a maioria destes espaços fica na cidade velha, que em 1982 foi tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Esta área da capital é, por si só, uma atração à parte.

Além disso, não faltam opções para quem quer aproveitar a noite. Entre os locais para se dançar e escutar música estão o Café Cantante Mi Habana, a Casa de La Música e o Habana Café. Quanto à gastronomia, destacam-se restaurantes de comidas típicas, como o Florida, que era frequentado pelo escritor Ernest Hemingway, e o La Bodeguita Del Medio, onde, dizem, se toma o melhor Mojito da cidade.

Quartel Moncada em Santigo de Cuba |
Foto: Viaje Combinado
 
Santiago de Cuba

Antiga capital da ilha, Santiago de Cuba é um destino obrigatório para quem quer conhecer o país e sua cultura. 

Entre os locais fundamentais estão o parque Céspedes e a Casa de Velásquez, que tem a fileira de sacadas mais antiga das Américas. De lá, é possível iniciar um passeio pela rua Heredia, onde estão diversos monumentos e espaços como o Museu Ambiente Histórico Cubano, o Museu de Carnaval e a Casa dos Estudantes. A Casa de La Trova, um dos redutos musicais da cidade, também fica nessa região. Foi lá que músicos como Compay Segundo e Ibrahim Ferrer, integrantes do Buena Vista Social Club, começaram suas carreiras. Santiago de Cuba é a verdadeira capital musical do país.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pela liberdade dos cinco antiterroristas cubanos: alpinistas no topo das Américas

Jovens no Aconcágua reivindicando a liberdade dos cinco cubanos antiterroristas | Foto: Cuba Debate


Uma bandeira com um pedido de liberdade para os cinco cubanos presos nos Estados Unidos por lutar contra o terrorismo já ondula no topo do monte Aconcágua como gesto solidário de três jovens argentinos. 

Os alpinistas da província de Neuquén, Santiago Vega, condutor de rádio e televisão; Aldo Bonavitta, bancário, e Alcides Bonavitta, ativista social, atingiram ontem o chamado Teto da América, 6.959 metros acima do nível do mar. Depois de terminarem sua façanha, chegaram eufóricos no domingo ao acampamento Penitentes, primeira escala da descida, de acordo com o comunicador neuquino Pablo Javier Fernández, que por sua vez recebeu a confirmação de Alejandro Miranda, o andinista da província de Mendoza que manteve o contato com os intrépidos escaladores.

A bandeira levada por eles até o monte continental tem o logotipo criado por Gerardo Hernández, um dos cinco antiterroristas cubanos. O propósito da expedição, de acordo com suas declarações, é unir dessa maneira ao clamor mundial pela libertação de Ramón Labañino, Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Fernando González e René González e dar singular divulgação ao que a imprensa cúmplice se cala. 

Até o momento não se conheceram outros detalhes da finalização da subida, mas Miranda afirmou que hoje enviará mais informações, pois terá melhores condições de comunicação e inclusive contará com algumas fotos.

De acordo com o programa dos andinistas, a expedição retornará no dia 18 à cidade de Neuquén, a mais de 1.100 quilômetros a sudoeste desta capital, após desafiar as temperaturas extremas e o perigo que implica uma escalada deste tipo. 

O majestoso monte Aconcágua está localizado quase na fronteira entre Argentina e Chile, a 30 quilômetros (um dia e meio a pé) de Ponte do Inca, e faz parte do chamado circuito mundial dos "Sete Topos". 

Mais de dois mil especialistas cubanos cooperam em Angola

Embaixador de Cuba em Angola, Pedro Ross Leal | Foto: Agência Angola Press

Dois mil duzentos e quinze especialistas cubanos trabalham em Angola, no âmbito dos acordos de cooperação bilateral. 

Esta informação foi prestada à Angop hoje, segunda-feira, pelo embaixador de Cuba em Angola, Pedro Ross Leal, referindo que deste número, 1300 trabalham no sector da saúde e os restantes na educação e construção civil. Segundo o diplomata, estes especialistas estão colocados nas 18 províncias onde contribuem para a estabilidade e desenvolvimento do país.

O embaixador destacou a colaboração em cinco faculdades de Medicina, para formação de médicos a funcionar a partir deste ano nas províncias de Cabinda, Benguela, Huambo, Huíla e Malange. Destacou, igualmente, o tratamento de aproximadamente 160 mil cidadãos no Centro Oftalmológico de Benguela, doado por Cuba, tendo sido realizado mais de dez mil cirurgias, bem como do programa de alfabetização “ Sim Eu Posso”, em curso em todo pais. “Verifica-se hoje, em todo território nacional, a presença de médicos, professores, construtores, cientistas e outras categorias de trabalhadores que têm contribuído com a sua experiência e conhecimentos, ao mesmo tempo que bebem da experiência acumuladas pelos profissionais e técnicos angolanos “, referiu.

De acordo com Pedro Leal, Cuba sente-se orgulhosa pelo fato de seu espírito internacionalista e de solidariedade ter contribuído para que distintos povos pudessem sair da opressão do jugo colonial e alcançar a independência total como no caso de Angola, a libertação de alguns países do continente.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Os "dissidentes" cubanos seriam considerados "terroristas" nos EUA

Grafite em Cuba pedindo a liberdade dos 5 cubanos presos nos EUA | Foto: Alamy

Por William Blum no Cuba Debate

Já são mais de 50 anos. A propaganda e a hipocrisia da mídia de massa dos EUA parecem intermináveis e sem modificação. Eles não podem aceitar o fato de que os líderes de Cuba são humanos ou racionais. Aqui está o que foi publicado no jornal The Washington Post, em 13 de dezembro passado, sobre um americano preso em Cuba:

"O governo deteve um cidadão estadunidense trabalhando como empreiteiro para a Agência de Desenvolvimento Internacional (USAID), que estava distribuindo telefones celulares e laptops para ativistas cubanos... de acordo com a lei cubana... um cidadão cubano ou um visitante estrangeiro pode ser detido praticamente por qualquer coisa que suspeite "periculosidade".

Isso parece absolutamente espantoso, não? Imagine-se estar sujeito a ser preso por qualquer coisa que outra pessoa possa considerar "perigoso". Acontece que nos EUA vem acontecendo exatamente a mesma coisa desde a Revolução Bolchevique, de 1917. Nós não usamos o termo "periculosidade". Nós usamos o termo "segurança nacional". Ou, mais recentemente, "terrorismo". Ou, ainda "fornecer apoio material ao terrorismo".

O norte-americano detido trabalha para a Development Alternatives Incorporated (DAI), uma entidade contratante do governo dos EUA, que oferece seus serviços para o Departamento de Estado, Pentágono e para a Agência de Desenvolvimento Internacional (USAID).

Em 2008, a DAI recebeu fundos do Congresso para "promover a transição democrática" em Cuba. Sim! Oh, que felicidade! - Estamos levando a democracia para Cuba, igual ao que fizemos no Afeganistão e no Iraque.

Em 2002, a DAI foi contratada pela USAID para trabalhar na Venezuela, e continuou a financiar os mesmos grupos que haviam trabalhado no planejamento do golpe - momentaneamente bem-sucedido - contra o presidente Hugo Chávez. DAI realizou outros trabalhos subversivos na Venezuela, e tem sido igualmente ativa no Afeganistão, Paquistão e outros lugares importantes.

"Subversiva" é o que Washington chamaria a uma organização igual a esta, se atuasse da mesma forma nos Estados Unidos, em nome de um governo estrangeiro.

Os meios de comunicação em massa dos EUA nunca oferece aos seus leitores esses dados (e por eles, faço repetidas vezes): os EUA são para o governo cubano o que a Al Qaeda é para Washington, só que muito mais próxima e mais potente.

Desde o triunfo da Revolução Cubana, os EUA e os anticastristas exilados nos EUA têm causado muitos danos a Cuba e mais perdas de vidas humanas do que àquelas ocorridas em Nova York e Washington, no 11 de Setembro de 2001.

Dissidentes cubanos inconfundivelmente têm mantido uma ligação política muito próxima e, até mesmo, íntima com os agentes do governo estadunidense.

Será que o governo dos EUA ignoraria um grupo de norte-americanos que recebessem financiamento ou equipamento de comunicações da Al-Qaeda? E, ou, que se reunissem com os líderes dessa organização?

sábado, 9 de janeiro de 2010

Cuba é mais rica do que o aliado estratégico dos EUA na América

Moeda cubana de três pesos com destaque para Ernesto Che Guevara | Foto: Crônicas do Sul

Por Glauco Cortez no blog Educação Política

Cuba, que sofre embargo dos EUA há 50 Anos, é mais rica que a Colômbia, parceira estratégica dos Ianques, diz The Economist. 

A pequena ilha de Cuba, que sofre há quase 50 anos embargo da maior potência mundial terá em 2010 um PIB (Produto Interno Bruto) per capita maior que o da Colômbia, parceira estratégica dos estadunidenses na América Latina e que também recebe deles ajuda financeira e base militar.

Os dados são do Economist Intelligence Unit (The Economist), e foram publicados recentemente pela Carta Capital. 

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Governo Cubano se manifesta contra a arbitrária lista de países "terroristas"

A inclusão de Cuba na injusta lista é arbitrária e com motivações politicas | Foto: DW
Do Granma 

Na segunda-feira, 04 de janeiro, informações de imprensa revelaram que, a partir desse dia, a Administração de Segurança do Transporte dos Estados Unidos começou a aplicar novas medidas de controle de segurança em todos os aeroportos do mundo, a qualquer passageiro com passaporte dos países considerados pelo Departamento de Estado como "patrocinadores do terrorismo internacional", entre os quais, Cuba é arbitraria e injustamente incluída, como o Irã, Síria e Sudão, bem como de outros países considerados "de interesse", que são: Afeganistão, Argélia, Iraque, Líbano, Líbia, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Somália e Iêmen.

As medidas também serão aplicáveis a qualquer pessoa que faça escala nestes 14 países. Informou-se que a decisão de impor estas novas medidas foi adotada após a tentativa de atentado terrorista contra um avião da linha aérea norte-americana Northwest Airlines, que se dirigia à cidade de Detroit, em 25 de dezembro passado. De acordo com informações de imprensa que reproduzem declarações de funcionários estadunidenses não identificados, os passageiros que se classifiquem nestas categorias serão revistados, a bagagem de mão será minuciosamente examinada e serão submetidos a refinadas técnicas de detecção de explosivos ou de scanner por imagens.

Na tarde de 5 de janeiro, após uma reunião com os membros de sua equipe de Segurança Nacional, o próprio presidente Barack Obama confirmou a adoção, desde o dia anterior, das medidas antes referidas "à passageiros que voem para os Estados Unidos, de ou através das nações incluídas em nossa lista de Estados patrocinadores do terrorismo ou de outras de interesse". Nessa mesma tarde, o Ministério das Relações Exteriores e a Repartição Consular de Cuba em Washington apresentaram uma nota de protesto à Legação de Washington em Havana e ao Departamento de Estado, respectivamente. Na nota, o Minrex repudia categoricamente esta nova ação hostil do governo dos Estados Unidos, derivada da inclusão injustificada de Cuba na chamada lista de Estados patrocinadores do terrorismo, por razões meramente políticas, que têm como único propósito justificar a política de bloqueio, condenada majoritariamente pela comunidade internacional.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Cuba: o socialismo sustentável

Turistas em frente à baía de Santiago de Cuba | Foto: Brasil de Fato
Da Prensa Latina

Cuba inicia 2010, outro ano que se vislumbra difícil para a economia mundial, sobre a base de medidas articuladas em 2009 como estratégia de prevenção, encaminhadas a conseguir o maior aproveitamento possível dos recursos com que conta o país. 

Com a linha traçada por seu prócer José Martí de que "tem que se fazer devagar o que tem que durar muito", avançam os estudos com vistas a introduzir as mudanças que fortaleçam o sistema social vigente mediante a atualização do modelo econômico cubano.  Na linha dos investimentos, os planos levados a cabo têm como principal objetivo criar a base produtiva na qual se desenvolva o socialismo sustentável, objetivo que levado em conta na hora de contrair acordos de cooperação econômica e comercial durante o ano de 2009.

Cooperação e Comércio Internacional - O ano de 2009 abriu novas possibilidades no caminho da cooperação ainda durante a crise econômica na qual se move hoje o mundo, e da qual Cuba não está alheia. Durante esse ano, a Ilha estreitou seus vínculos com a Venezuela, país que se firmou como seu primeiro sócio comercial, a China, a Rússia, o Brasil, o Vietnã e o Irã, e os retomou com Portugal e Líbia, sem deixar de atender outros sócios tradicionais. 

Com a Venezuela o intercâmbio cresceu a 1 bilhão e 499 milhões de dólares com a execução de 107 projetos; e durante a sessão da Comissão Intergovernamental em Havana, no mês de dezembro, aprovaram-se outros 285 acordos no valor de mais de 3 bilhões e 161 milhões de dólares, cuja materialização em 2010 contribuirá para o desenvolvimento econômico de ambos os países. Os planos referem-se às áreas de esporte, saúde, alimentação, educação, mineração, siderurgia, agricultura, entre outras de interesse e benefício mútuo. 

Por sua vez, Cuba fortaleceu sua cooperação com a China em 2009, ano em que assinaram acordos financeiros, agropecuários, marítimos e de comunicações, em ocasião da visita a Havana do presidente da Assembleia Popular Nacional da China, Wu Bangguo. Em particular, ambos os países chegaram a um amplo consenso sobre temas de interesse comum, como o comércio bilateral e financiamento, investimento mútuo e cooperação econômica e tecnológica, pela combinação de ambas as economias em benefício de seus respectivos povos. A China, de fato, ratificou-se nos últimos quatro anos como o segundo sócio comercial de Cuba e uma de suas principais fontes de doações.