Capa do livro "A Ilha - um repórter brasileiro no país de Fidel Castro" | Foto: Amazon |
Por William Mendes no Refeitório Cultural
"Uma vez eu estava em um barraco, numa clareira, num lugar sem árvores, que seria um alvo formidável para a aviação da ditadura. Fidel viu aquela movimentação em volta da minha mesa e me disse: 'Olha, vê se você se mete logo dentro do bosque com essa gente, porque se um avião nos localiza aqui não sobra ninguém". A partir desse dia, passei a montar minha barraquinha de médico sempre dentro de algum matagal bem coberto por árvores. E Fidel aproveitava esse tempo para fazer propaganda política. Enquanto eu, de um lado, atendia os doentes, ele aproveitava os que esperavam, ou que já tinham sido atendidos, para conversar. E lhes falava que íamos fazer a reforma agrária, que eles não deviam mais pagar aluguel aos donos da terra, que enquanto estivéssemos na serra eles não tinham mais obrigações de pagar aos donos - e que depois que descêssemos à cidade, aí sim, eles seriam definitivamente donos da terra. Ele insistia em que a terra era de quem trabalhava nela, não do dono que a alugava. E o poder de persuasão desse homem é tão grande que eu vi centenas e centenas de camponeses que eram batistianos se transformarem em fidelistas depois de alguns discursos dele." (Depoimento do médico Julio Martinez Paes, in: "O médico da Sierra Maestra", pág. 221).
Seguindo meu desejo de conhecer um pouco mais a respeito da história do povo cubano, desta vez li um livro reportagem de Fernando Morais. A Ilha, livro publicado em 1976, fruto de uma viagem do jornalista a Cuba uns 16 anos após a revolução. O mundo vivia ainda o clima de guerra fria entre países capitalistas e socialistas.
A edição que tenho, a 30ª (2001), traz textos extras muito bons. Ela inclui um prefácio do autor - "Cuba revisitada, um quarto de século depois" - e mais 4 textos excepcionais, incluindo uma entrevista com Fidel Castro em 1977 e uma com um médico que esteve praticamente todo o período vivido pelos revolucionários na Sierra Maestra. Aulas de resistência e determinação!
A leitura foi rápida, intensa, e me pôs a pensar bastante no que estamos vivendo no mundo neste exato momento. Alguns capítulos do livro me colocaram a pensar sobre a encruzilhada histórica em que estamos enfiados. Ou a esquerda volta a ter como horizonte de lutas o socialismo ou a humanidade será extinta muito rapidamente! É chocante ver sair da agenda dos partidos e sindicatos o socialismo como objetivo histórico!
Enquanto lia cada capítulo com uma temática específica sobre a vida no país após a Revolução Cubana de 1959, o antes e o depois do fim da ditadura de Batista, e após os embargos econômicos norte-americanos em retaliação à ilha, me vinha à cabeça alguma lembrança sobre a nossa própria miséria capitalista porque aqui não há embargo econômico e não vivemos sob o regime socialista e o povo brasileiro viveu sua história de 5 séculos sob a mais absoluta miséria capitalista, exceção somente no período dos 3 governos do PT, de Lula e Dilma.