segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Haiti e Cuba: a solidariedade silenciada

Médico cubano fornecendo medicamento a um haitiano Foto: Fidel - Soldado das Ideias

Por José Manzaneda no Cuba Información

Os cerca de 400 cooperadores da brigada médica cubana foram a mais importante assistência médico-sanitária levada ao povo haitiano durante as primeiras 72 horas após o terremoto. Esta informação foi censurada nos grandes meios de comunicação internacionais. A ajuda de Cuba ao Haiti não chegou com o terremoto. Cuba desenvolve no Haiti desde 1998, um Plano Integral de Saúde pelo qual passaram mais de 6000 trabalhadores da saúde. Horas depois da catástrofe, no mesmo dia 13 de janeiro, somaram-se à brigada de saúde 60 especialistas em catástrofes, componentes do Contingente “Henry Reeve” que chegaram de Cuba num voo com medicamentos, soro, plasma e alimentos. Os médicos cubanos prepararam sua residência para funcionar como hospital de campanha, atendendo milhares de pessoas por dia e realizando centenas de operações cirúrgicas em 5 pontos assistenciais em Porto Príncipe. Além disso, cerca de 400 jovens haitianos, formados médicos em Cuba, reforçaram a brigada cubana. Sobre estes fatos, os grandes meios de comunicação silenciaram.

O diário El País, em 15 de janeiro, publicava uma infografia sobre a “ajuda financeira e equipes de assistência”, onde Cuba nem sequer aparecia entre os 23 Estados que ofereceram colaboração. A cadeia estadunidense Fox News chegou a afirmar que Cuba é dos poucos países vizinhos do Caribe que não prestaram nenhuma ajuda. Vozes críticas de dentro dos Estados Unidos denunciaram este tratamento informativo, embora sempre em muito limitados espaços de divulgação. Sarah Stevens, diretora do Centro para a Democracia nas Américas, dizia, no blog The Huffington Post: "se Cuba está disposta a cooperar com os Estados Unidos no ar (abrindo-lhe seu espaço aéreo), não deveríamos cooperar com Cuba nas iniciativas terrestres que dizem respeito a ambas nações e aos interesses conjuntos de ajudar o povo haitiano?"

Laurence Korb, ex-subsecretário de Defesa e, agora, vinculado com o Centro para o Progresso Americano, pedia ao governo Obama para “aproveitar a experiência de um vizinho como Cuba”, que “tem alguns dos melhores corpos médicos do mundo”, com os quais “temos muito que aprender”. Gary Maybarduk, ex-funcionário do Departamento de Estado, propôs entregar equipamentos às brigadas médicas cubanas com o uso de helicópteros militares dos USA, para que pudessem deslocar-se para lugares pouco acessíveis do Haiti. Steve Clemons, da New América Foundation e editor do blog político The Washington Note, afirmava que a colaboração médica entre Cuba e Estados Unidos, no Haiti poderia gerar a confiança necessária para romper inclusive com o estancamento que houve nas relações entre os dois países durante décadas.

Mas as informações sobre o terremoto no Haiti, procedente das grandes agências de notícias e das corporações midiáticas nos países maiores, parece mais uma campanha de propaganda sobre os donativos dos países e cidadãos mais ricos do mundo. Se bem que a vulnerabilidade, diante da catástrofe, por causa da miséria, seja repetida uma e outra vez, pelos grandes meios de comunicação, nenhum deles se dispôs a analisar o papel das economias da Europa ou dos Estados Unidos no empobrecimento do Haiti.

O drama deste país está demonstrando, mais uma vez, a verdadeira natureza dos meios de comunicação – ser o gabinete da imagem dos poderosos do mundo, convertidos em doadores da salvação para o povo haitiano, quando têm sido, e são, sem paliativos, seus verdadeiros carrascos.

José Manzaneda é jornalista. 

Tradução: Eduardo Marinho/Telesur.

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