Grafite em Cuba pedindo a liberdade dos 5 cubanos presos nos EUA | Foto: Alamy |
Por William Blum no Cuba Debate
Já são mais de 50 anos. A propaganda e a hipocrisia da mídia de massa dos EUA parecem intermináveis e sem modificação. Eles não podem aceitar o fato de que os líderes de Cuba são humanos ou racionais. Aqui está o que foi publicado no jornal The Washington Post, em 13 de dezembro passado, sobre um americano preso em Cuba:
"O governo deteve um cidadão estadunidense trabalhando como empreiteiro para a Agência de Desenvolvimento Internacional (USAID), que estava distribuindo telefones celulares e laptops para ativistas cubanos... de acordo com a lei cubana... um cidadão cubano ou um visitante estrangeiro pode ser detido praticamente por qualquer coisa que suspeite "periculosidade".
Isso parece absolutamente espantoso, não? Imagine-se estar sujeito a ser preso por qualquer coisa que outra pessoa possa considerar "perigoso". Acontece que nos EUA vem acontecendo exatamente a mesma coisa desde a Revolução Bolchevique, de 1917. Nós não usamos o termo "periculosidade". Nós usamos o termo "segurança nacional". Ou, mais recentemente, "terrorismo". Ou, ainda "fornecer apoio material ao terrorismo".
O norte-americano detido trabalha para a Development Alternatives Incorporated (DAI), uma entidade contratante do governo dos EUA, que oferece seus serviços para o Departamento de Estado, Pentágono e para a Agência de Desenvolvimento Internacional (USAID).
Em 2008, a DAI recebeu fundos do Congresso para "promover a transição democrática" em Cuba. Sim! Oh, que felicidade! - Estamos levando a democracia para Cuba, igual ao que fizemos no Afeganistão e no Iraque.
Em 2002, a DAI foi contratada pela USAID para trabalhar na Venezuela, e continuou a financiar os mesmos grupos que haviam trabalhado no planejamento do golpe - momentaneamente bem-sucedido - contra o presidente Hugo Chávez. DAI realizou outros trabalhos subversivos na Venezuela, e tem sido igualmente ativa no Afeganistão, Paquistão e outros lugares importantes.
"Subversiva" é o que Washington chamaria a uma organização igual a esta, se atuasse da mesma forma nos Estados Unidos, em nome de um governo estrangeiro.
Os meios de comunicação em massa dos EUA nunca oferece aos seus leitores esses dados (e por eles, faço repetidas vezes): os EUA são para o governo cubano o que a Al Qaeda é para Washington, só que muito mais próxima e mais potente.
Desde o triunfo da Revolução Cubana, os EUA e os anticastristas exilados nos EUA têm causado muitos danos a Cuba e mais perdas de vidas humanas do que àquelas ocorridas em Nova York e Washington, no 11 de Setembro de 2001.
Dissidentes cubanos inconfundivelmente têm mantido uma ligação política muito próxima e, até mesmo, íntima com os agentes do governo estadunidense.
Será que o governo dos EUA ignoraria um grupo de norte-americanos que recebessem financiamento ou equipamento de comunicações da Al-Qaeda? E, ou, que se reunissem com os líderes dessa organização?
Em anos mais recentes, o governo EUA deteve um grande número de pessoas em seu território e fora dele, sob a acusação de ligações com a Al Qaeda, com menores provas que Cuba tem sobre a vinculação de seus dissidentes com EUA. Provas recolhidas geralmente duplos agentes cubano. Praticamente todos os "presos políticos" cubanos são ditos dissidentes.
O artigo do Washington Post continua:
"O governo cubano autorizou apenas no ano passado, aos seus cidadãos, o direito de comprar telefones celulares".
Ponto final.
O que deve pensar uma pessoa depois de ler uma declaração destas, sem mais, nem menos? Como é possível que o governo cubano tenha sido tão duro com as necessidades do seu povo, por tantos anos? Bem, deve ser assim que agem os "totalitários".
Mas, o fato é que, após o colapso do campo socialista, com a perda para Cuba de seus principais parceiros comerciais, combinado com a agressão econômica interminável do governo dos EUA, a Ilha foi atingida por uma falta energética grave, que provocou, no início da década de 90, repetidos apagões na ilha.
As autoridades cubanas se viram obrigadas a limitar a venda de acessórios que consumissem eletricidade, como telefones celulares. Mas, uma vez estabilizada a suficiência energética, as restrições foram eliminadas.
"Os cubanos que desejam entrar na Internet, geralmente têm que se identificar às autoridades governamentais."
O que significa isso? Graças a Deus, os norte-americanos, podem entrar na Internet sem ter que se identificar às suas autoridades governamentais. Seus provedores de Internet fazem por eles, dando seus nomes para o governo, anexando aos seus e-mails, cada vez que o governo solicitar.
"O acesso é restrito a alguns sítios."
O quê!? Por quê? E mais importante ainda, qual é a informação que um cubano poderia obter na Internet, que o governo não gostaria?
Eu não posso imaginar. Os cubanos estão em constante contato com seus parentes nos EUA, por e-mail, regular ou pessoalmente. Assistem programas de TV de Miami. Se realizam conferências internacionais sobre toda sorte de tema políticos, econômicos e sociais, em Cuba. O que a mídia poderia pensar que é o grande segredo que se esconde do povo cubano por parte deste governo bandido comunista?
"Cuba tem uma nascente comunidade blogueira e, liderada pela popular comentarista, Yoani Sanchez - que geralmente escreve sobre as vicissitudes por que passam ela e seu marido, ao serem perseguidos e assediados por agentes do governo por causa do que ela escreve em seu blog. Sanchez tem tido repetidamente negado sua permissão para deixar o país, a fim de receber os prêmios de jornalismo que recebeu."
De acordo com o artigo bem fundamentado, do professor Salim Lamrani, a história de Sanchez de abusos do governo parece um pouco exagerado. Além disso, ela se mudou para a Suíça em 2002, viveu lá por dois anos e retornou voluntariamente para a ilha.
Por outro lado, em janeiro de 2006, eu fui convidado para participar de uma Feira do Livro em Cuba, onde um dos meus livros - em uma nova edição traduzida para o castelhano - seria apresentado. Infelizmente, o governo dos Estados Unidos não me deu permissão para viajar. Meu pedido para viajar a Cuba, em 1998, também foi rejeitado pela administração Clinton.
"Atividades contrarrevolucionárias, que incluem pequenos protestos e escritos críticos carregam o risco da censura ou da detenção. Grafites e discursos contra o governo são considerados crimes graves."
Levantem suas mãos se você ou alguém que você conhece, foi preso por participar de um protesto. Substituam "contrarrevolucionárias" por "pró-Al Qaeda", e, no caso "contra o governo" e pensem nas milhares de pessoas que foram presas nos últimos oito anos pelos EUA, dentro e fora de suas fronteiras... e por quê?
Na maioria dos casos não existe uma resposta clara. Ou a resposta é muito clara: a) estar no lugar errado, na hora errada; b) ser delatado para receber a recompensa do governo EUA; ou, c) crimes de pensamento. E seja qual for o motivo da prisão, eles provavelmente foram torturados.
Nem mesmo os anticastristas mais fanáticos, acusam Cuba de algo assim. Durante o período da Revolução Cubana, desde 1959, Cuba tem tido um dos melhores históricos a respeito de direitos humanos, no hemisfério. Confira os detalhes do meu ensaio "Os Estados Unidos, Cuba e essa coisa chamada democracia." (em inglês).
Não há precedentes de uma pessoa detida em Cuba que se compare a injustiça e a crueldade praticada pelo Estados Unidos, quando da prisão em 1998 (que perdura até hoje), daqueles que têm sido chamados de os Cinco Cubanos. Presos na Flórida e sentenciados a sentenças extremamente longas por tentarem evitar atos terroristas contra Cuba, que emanavam dos EUA.
Seria lindíssimo se o governo de Cuba pudesse trocar o detido da DAI pelos Cinco.
Cuba, em várias ocasiões, propôs a Washington, que trocassem aqueles que os EUA consideram "presos políticos", em Cuba, pelos seus Cinco detidos nos EUA.
Até agora, os EUA não aceitaram a troca.
William Blum é um autor estadunidense é crítico da política externa dos Estados Unidos.
Tradução: Robson Luiz Ceron/Blog Solidários s Cuba.
Isso só prova o quanto é incoerente a propaganda anti-cubana.
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