Antes de ler a quarta parte ( capítulo 20 ao 27) e quinta parte ( capítulo 28 ao 33) do "O Império por dentro" de Fidel Castro, leia antes as outras três partes anteriores."O Império por dentro" parte I (capítulo 1 ao 7) e Parte II (capítulo 8 ao 14) clicando aqui. E "O Império por dentro" parte III (capítulo 15 ao 19) clicando aqui.
[Quarta parte]
Capítulos 20 e 21
"Continuam as avaliações sobre as opções relacionadas com a guerra no Afeganistão. Se identificam três prioridades em termos de esforços de caráter civil: a agricultura, a educação e a redução dos cultivos da papoula. Se conseguíssem estes objetivos poderiam minar o apoio ao Talibã.
"A grande questão permaneceu sendo o que poderia ser feito em um ano.
"Petraeus disse que elaborou um manual intitulado "Lições sobre a reconciliação ", sobre suas experiências no Iraque, do qual não tinha conhecimento Mullen.
"De acordo com pesquisas de opinião pública, dois de cada três norte-americanos acreditavam que o presidente não tinha um plano claro para o Afeganistão. Mesmo entre a população, as opiniões estavam divididas acerca de como proceder.
"Axelrod respirou fundo. O público não fazia qualquer distinção entre o Talibã e a Al Qaeda. Isso poderia ser parte do problema.
"Apenas 45 por cento da população aprovava a forma como Obama manejava a questão da guerra (ele tinha perdido 10 pontos em um mês, 15 pontos desde o mês de agosto e 18 desde que atingiu seu nível mais alto). A redução da cifra foi devido à perda de apoio dos republicanos.
"Axelrod não se preocupava; dizia que, ao final, seria ele, ou todos, que explicaria qual era a decisão em termos claros, para que as pessoas pudessem entender o que estava sendo feito e por quê.
"Panetta disse que nenhum presidente democrata podia ir contra as recomendações dos militares, especialmente se o presidente as tinha solicitado. Sua recomendação era fazer o que eles diziam. Expressou a outros funcionários da Casa Branca que, em sua opinião, a decisão deveria ter sido tomada em uma semana, mas que Obama nunca perguntou e ele nunca tinha expressado voluntariamente sua opinião ao presidente.
"O ex-vice-presidente Dick Cheney disse publicamente que os Estados Unidos não deviam titubear quando as forças armadas estavam em perigo.
"Obama quis tomar uma decisão antes de sua viagem pela Ásia. Disse que ainda não lhe apresentaram duas opções, que eram as 40 000 tropas ou nada. Disse que queria uma nova opção nesta mesma semana.Tinha em sua mão um memorando de duas folhas enviado por seu diretor de Orçamento, Peter Orszag, com a estimativa dos custos da guerra no Afeganistão. De acordo com a estratégia recomendada por McChrystal, o custo para os próximos 10 anos seria de 889 bilhões de dólares, quase US $ 1 trilhão.
"Iste não é o que eu estou procurando", disse Obama. "Não vou prolongar isso por dez anos; não vou aprofundar-me na construção de uma nação a longo prazo. Eu não vou gastar um trilhão de dólares. Os tenho pressionado a respeito. "
"'Não não está em função do interesse nacional. Sim, é necessário internacionalizar esta situação. Essa é uma das maiores falhas do plano que me apresentaram. "
"Gates apoiava a solicitação de tropas de McChrystal, mas pelo tempo que fosse necessário para manter a quarta brigada.
"Obama disse: 'Talvez nós não precisemos de uma quarta brigada, ou dos 400 mil efetivos das forças de segurança afegãs, que McChrystal se propõe a treinar. Poderíamos aspirar a um crescimento mais comedido desta força. Poderíamos aumentar os efetivos para combater o levante inimigo, mas sem nos envolvermos em uma estratégia de longo prazo. "
"Hillary opinava que a McChrystal deveria ser dado o que ele pedia, mas concordava que se deveria esperar antes de enviar a quarta brigada.
"Obama perguntou a Gates:"Você realmente precisa de 40 mil efetivos para reverter a ascensão do Talibã? E se nós enviarmos de 15 mil a 20 mil? Por que não seria o suficiente com esta quantidade de tropas?" Reiterou que não concordava com os gastos de um trilhão de dólares, nem com uma estratégia de contra-insurgência que se prolongasse durante dez anos.
"Eu quero uma estratégia de saída", acrescentou o presidente.
"Todo mundo percebeu que, ao apoiar McChrystal, Hillary unia forças com os militares e com o secretário de Defesa, limitando assim a capacidade de manobra do presidente. Tinha reduzido suas possibilidades de visar um número significativamente menor de tropas ou uma política mais moderada.
"Foi um momento decisivo em suas relações com a Casa Branca. Era ela de confiança? Podia ela algum dia realmente pertencer à equipe de Obama? Teria sido ela em algum momento parte de sua equipe? Gates achava que ela falava a partir de suas próprias convicções.
"Muito rápido, aqueles que tinham idéias semelhantes se agruparam. Biden, Blinken, Donilon, Lute, Brennan e McDonough eram um grupo poderoso, próximo a Obama, em muitos aspectos, e eram o equilíbrio contra a frente unida formada por Gates, Mullen, Petraeus, McChrystal e agora Clinton.
Capítulos 22 e 23
"Obama, convocou os chefes do Estado Maior à Casa Branca. Durante os últimos dois meses, os militares fardados estavam insistindo no envio de 40 mil efetivos, mas os chefes de serviços individuais ainda não tinham sido consultados. Os chefes da Marinha de Guerra, do Exército e Força Aérea eram os que recrutavam, treinavam, equipavam e forneciam as tropas aos comandantes como Petraeus e seus chefes subordinados no terreno, como McChrystal. Estes dois últimos não assistiram porque estavam no Afeganistão.
"Obama pediu que propusessem três opções.
"James Conway, comandante geral dos marines, se referiu à alergia dos combatentes a missões prolongadas que se estendem além da derrota do inimigo. Sua recomendação era que o presidente não devia se envolver em uma operação de longo prazo para construir uma nação.
"O general George Casey, chefe do Estado Maior do Exército, disse que a retirada programada do Iraque permitiria ao Exército dispor dos 40 mil soldados para o Afeganistão, mas que ele estava cético sobre os principais compromissos das tropas nestas guerras. Para ele, a chave estava em uma transição rápida, mas que o plano de 40 mil era um risco global aceitável para o exército.
"O chefe de operações navais e o chefe da Força Aérea tinha pouco a dizer, pois qualquer que fosse a decisão no Afeganistão, seu impacto sobre as suas forças seriam mínimos.
"Finalmente, Mullen apresentou ao Presidente três opções:
"1. 85 mil tropas. Esta era uma cifra impossível. Todo mundo sabia que não se dispunha desta força.
"2. 40 mil tropas.
"3. 30 mil a 35 mil tropas.
"A opção híbrida era de 20 mil soldados e duas brigadas para dispersar os talibãs e treinar as tropas afegãs.
Capítulos 24 e 25
"Obama propõe ao presidente paquistanês, uma escalada contra os grupos terroristas que operam a partir desse país.
"O diretor da CIA disse esperar apoio do Paquistão, porque a Al Qaeda e seus seguidores eam inimigos comuns. Ele acrescentou que se tratava da própria sobrevivência do Paquistão.
"Obama se dava conta de que a chave para manter unida a equipe de segurança nacional era Gates.
"Após seu regresso da Ásia, Obama convocou uma reunião de sua equipe de segurança nacional e prometeu que, em dois dias, tomaria a decisão final. Ele disse estar de acordo com os objetivos menos ambiciosos e mais realistas, e que os objetivos deviam ser alcançados dentro de um período de tempo mais curto do que o Pentágono tinha recomendado inicialmente. Agregou que o número de soldados começaria a declinar a partir de julho de 2011, o período de tempo que Gates havia sugerido na última sessão.
"'Nós não precisamos de perfeição; quatrocentos mil não vai ser a cifra à qual chegaremos antes de começarmos a reduzir as tropas'.
"Hillary parecia quase saltar sobre seu acento, dando mostras de que queria que a deixassem falar, mas Jones já havia decidido que a ordem das palavras e a secretária teve que ouvir os comentários de Biden em primeiro lugar.
"Biden tinha preparado uma nota apoiando o presidente, que questionava o tempo e os objetivos da estratégia. Petraeus sentia como se o ar abandonasse a sala.
"Biden não tinha certeza de que a cifra de 40 mil era politicamente sustentável e tinha muitas dúvidas sobre a viabilidade dos elementos da estratégia de contra-insurgência.
"Clinton teve a oportunidade de falar. Ela apoiava plenamente a estratégia. "Passamos um ano à espera de uma eleição e um novo governo ali. A comunidade internacional e Karzai sabem qual seria o desenlace se não incrementamos os nossos compromissos. O que estamos fazendo agora não vai produzir resultados. O plano não é tudo o que gostaríamos, mas nós não o saberemos se não nos comprometermos. Eu apoio o esforço; tem um custo enorme, mas se o acometemos sem desejos não vamos conseguir nada. " Suas palavras eram uma versão de uma frase muito comum usada por ela quando era primeira-dama da Casa Branca e que ainda usa regularmente: finja-o até conseguí-lo. "
"Gates sugeriu esperar até dezembro de 2010 para fazer uma avaliação completa da situação. Acreditava que julho era uma data muito antecipada para isso.
"Mullen, através de uma videoconferência de Genebra, apoiava o plano e disse que era necessário enviar tropas o mais rapidamente possível, que ele tinha certeza de que a estratégia de contra-insurgêncuia ia obter resultados.
"Ao ver que se alinhava um bloco a favor do envio de 40 mil efetivos, o presidente interrompeu:'Não quero ver-me dentro de seis meses nesta sala a discutir o envio de mais 40 mil'.
"'Nós não vamos pedir um acréscimo de 40 mil", disse Mullen.
"Petraeus disse que apoiava qualquer decisão que tomasse o presidente. E depois de ter declarado seu apoio incondicional, disse que sua recomendação, do ponto de vista militar, era que os objetivos não poderiam ser alcançados com menos de 40 mil efetivos.
"Peter Orszag disse que provavelmente teria de pedir ao Congresso recursos adicionais.
"Holbrooke concordaram com as afirmações feitas por Hillary.
"Brennan assegurou que o programa antiterrorista continuará, independentemente da decisão a ser tomada.
"Emanuel se referiu à dificuldade de pedir ao Congresso recursos adicionais.
"Cartwright disse que apoiava a opção híbrida de 20 mil efetivos.
"O presidente tentou resumir. "Após dois anos, há ainda elementos ambíguos nessa situação", disse ele. Ele agradeceu a todos e anunciou que estaria trabalhando nisto durante o fim de semana para tomar uma decisão final na próxima semana.
"Na quarta-feira, 25 de novembro, Obama se reuniu na Sala Oval com Jones, Donilon, McDonough e Rhodes. Ele disse que estava inclinado a aprovar o envio de 30 mil efetivos, mas que essa decisão não era definitiva.
"Este deve ser um plano para transferir-lhes o comando e sair do Afeganistão. Tudo o que façamos deve estar focado na maneira como vamos reduzir nossa presença ali. É parte de nosso interesse de segurança nacional. Deve ficar claro que isto é o que estamos fazendo ", disse Obama. "O povo americano não entende de número de brigadas, mas de número de tropas. E eu decido que sejam 30 mil. "
"Obama agora parecia mais seguro sobre o número de tropas.
"'É preciso deixar claro para as pessoas que o câncer está no Paquistão. A razão pela qual estamos operando no Afeganistão é para que o câncer não se espalhe até lá. E também precisamos remover o câncer do Paquistão. "
"Parecia que o valor de 30 mil era irremovível. Obama disse que, do ponto de vista político, era mais fácil dizer não para os 30 mil, pois assim poderia concentrar-se na agenda nacional, que ele queria que fosse o centro do seu mandato como Presidente. Mas os militares não entendiam isso.
"Politicamente, seria mais fácil para mim dar um discurso e dizer que o povo americano estava farto desta guerra, e que iria enviar apenas 10 mil assessores, porque essa era a maneira com a qual íamos sair de lá. Mas os militares iam se incomodar. "
"Ficou claro que uma grande parte de Obama queria precisamente pronunciar esse discurso. Parecia que ele o estava ensaiando.
"Donilon disse que Gates renunciaria se só se enviassem 10 mil assessores.
"Isso seria uma coisa difícil", disse Obama, 'porque não existe na minha equipe de segurança nacional outro membro mais forte que ele. "
"O presidente estava determinado a anunciar os 30 mil, a fim de manter a família unida.
Capítulos 26 e 27
"Em 27 de novembro, Obama chamou Colin Powell ao seu escritório para uma conversa particular. O presidente disse que estava se debatendo entre vários pontos de vista diferentes. Os militares haviam se unido para apoiar McChrystal e sua solicitação de 40 mil soldados, e os seus conselheiros políticos estavam muito céticos. Ele continuava pedindo novas abordagens, mas seguiam dando-lhes as mesmas opções.
"Powell disse: 'Você não tem que suportar isso. Você é o Comandante em Chefe. Esses caras trabalham para você. O fato de adotarem uma posição unânime em suas recomendações não significa que elas estão corretas. Generais existem vários, mas só há um Comandante em Chefe ".
Obama considerava Powell um amigo.
"O dia após a Ação de Graças, Jones, Donilon, Emmanuel, McDonough, Lute e o coronel John Tien, um veterano do Iraque, foram ver o presidente em seu gabinete. Obama perguntou por que eles se reuniam novamente com ele para tratar do mesmo assunto. "Eu pensei que isso tinha acabado na quarta-feira", disse ele.
"Lute e Donilon explicaram que ainda havia dúvidas do Pentágono que não tinha sido respondidas, e eles queriam saber se um aumento de 10 por cento no número de de efetivos seria aceito, com o qual se incluiria os facilitadores.
"O presidente, exasperado, disse que não, que apenas 30 mil, e perguntou por que aquela reunião depois que todos haviam concordado. Ao presidente foi informado que ainda estavam trabalhando com os militares. Eles queriam agora que os 30 mil efetivos estivessem no Afeganistão no verão.
"Parecia que o Pentágono estava abrindo de novo cada um dos temas. Também estavam questionando a data de retirada das tropas (julho 2011). Gates preferia que fosse seis meses depois (no final de 2011).
"Eu estou preocupado", disse Obama, sem levantar a voz. Parecia que todas as questões seriam novamente discutidas, negociadas ou esclarecidas. Obama disse que ele estava disposto a voltar atrás e aceitar o envio de 10 mil assessores. E essa seria a cifra definitiva.
"Esta era uma controvérsia que opunha o presidente e o sistema militar. Donilon se assombrava ao ver o poder político que os militares estavam exercendo, mas percebeu que a Casa Branca tinha que ser o corredor de longa distância nesta competição.
"Obama continuava a trabalhar com Donilon, Lute e outros. Começou a ditar exatamente o que queria, elaborando o que Donilon chamou de "folha de prazos e condições", semelhante ao documento legal utilizado em uma transação comercial. Acordou que o conceito estratégico da operação seria "degradar" o talibã, e não desmantelar, destruir ou derrota. Copiou ao decalque as seis missões militares requeridas para reverter a ascensão do Talebã.
"Mas os civis no Pentágono e o Estado Maior tratavam de expandir a estratégia.
"Vocês não podem fazer isso ao presidente", dizia eu Donilon. "Isso não é o que Obama queria. Ele queria uma missão mais limitada". Mas a pressão continuou.
"'Coloque restrições', Obama ordenava. Mas, quando Donilon voltava do Pentágono, vinha com mais adições, e não menos. Um deles era enviar uma mensagem a Al Qaeda. 'Isso não vamos fazer', disse o presidente quando descobriu.
"Donilon se sentia como se estivesse reescrevendo as mesmas ordens dez vezes.
"Do Pentágono continuavam a chegar pedidos de missões secundárias. Obama seguia dizendo não.
"Alguns continuavam agora apoiando o pedido inicial de McChrystal de 40 mil efetivos. Era como se ninguém houvesse dito que não.
"'Não', disse Obama. O número final foi de 30 mil, e mantinha a data de retirada das tropas em julho de 2011, que também seria a data de começar a transferência da responsabilidade da segurança para as tropas afegãs.
"Suas ordens foram passadas para a máquina em seis folhas a um espaço. Sua decisão não era apenas fazer um discurso e referir-se aos 30 mil; esta também seria uma diretiva, e todos deveriam ler e assinar. Esse era o preço que ele teria de exigir, o jeito com que ele pretendia acabar com a controvérsia, pelo menos pelo momento. Mas, como agora todos sabemos, a controvérsia, como a guerra, provavelmente não teria fim, e a luta iria continuar.
"Em 28 de novembro foi mais um dia dedicado ao Conselho de Segurança Nacional, encontro em que participaram Donilon e Lute. A análise da estratégia se tornou o centro do universo. O presidente e todos eles estavam sendo esmagados pelos militares. Já não importavam as peguntas que o presidente ou qualquer outra pessoa fizessem. Agora a única solução viável eram os 40 mil efetivos.
"Donilon se perguntava quantos dos que estavam pressionando a favor dessa opção iam estar aqui para ver os efeitos da estratégia em julho de 2011.
"A conclusão era de que todos eles iriam, e aqui ficaria o presidente com tudo o que esses caras lhe haviam vendido.
"O debate continuava - em casa e na sua cabeça. Obama parecia hesitar quanto aos 30 mil efetivos. Pediu a opinião da sua equipe. Clinton, Gates e Jones não estavam presentes.
"O coronel Tian disse ao presidente que não sabia como ele ia desafiar a cadeia de comando dos militares. "Se você disser a McChrystal, 'estudei sua avaliação, mas decidi fazer outra coisa', provavelmente você terá que substituí-lo. Você não pode dizer 'faça do meu jeito, obrigado por seu trabalho'. O coronel quis dizer que McChrystal, Petraeus, Mullen, e até mesmo Gates, estaria dispostos a se demitir -algo sem precedentes no alto comando militar.
"Obama sabia que Brennan se opunha a um grande aumento de tropas.
"Obama herdou uma guerra com um começo, um meio, mas sem um final claro.
"Lute pensava que Gates era demasiado deferente com os militares fardados. O secretário de Defesa é a primeira linha do controle civil do Presidente. Se o secretário não garantia esse controle, o presidente teria que fazê-lo. Lute pensava que Gates não estava prestando um bom serviço ao presidente.
"O presidente chamou Biden por telefone e lhe informou que queria reunir-se toda a equipe de segurança nacional no domingo, no Salão Oval. Biden pediu para se encontrar com ele em primeiro lugar, e Obama disse que não. "
Fidel Castro Ruz
13 de outubro de 2010
[Quinta Parte e última]
"CAPÍTULOS 28 e 29
"Obama lhe respondeu: 'Não vou me enrolar num fracasso. Se aquilo que eu propus não funciona, não vou fazer como os outros presidentes que se aferraram a isso, por razões do meu ego ou da minha política, da minha segurança política. Isto é o que vou anunciar'. E distribuiu cópias do seu documento de seis páginas.
"'Haverá um incremento de 30 000 efetivos. Em dezembro de 2010 será feita uma avaliação para ver o que funciona e o que não. Em julho de 2011 começaremos a retirada das nossas tropas.'
"'Em 2010 não vamos ter uma conversação sobre como fazer mais. Não se vai repetir o que aconteceu neste ano. Não se trata nem de contra-insurgência nem de construir uma nação. Os custos são proibitivos', expressou Obama.
"Os militares tinham obtido quase tudo o que pediam.
"Petraeus e Mullen ratificaram seu apoio ao Presidente. Emmanuel se preocupava pelo custo da operação –mais de 30 bilhões de dólares.
"Biden reconheceu que aquilo não era uma negociação, que era uma ordem do Comandante-em-Chefe. Era uma mudança de missão, e se não se percebia como tal não se podiam justificar os meses que tinham sido empregados neste trabalho.
"O Presidente informou sua decisão a Eikenberry e a McChrystal através de uma vídeo-conferência. Ambos concordaram.
"Biden estava convencido que o Presidente tinha cravado uma estaca no coração da ofensiva contra-insurgente expandida.
"Petraeus disse em privado: 'Você deve saber também que eu não acredito que você possa ganhar esta guerra. Acho que deve continuar lutando, algo assim como no Iraque. O Iraque é quase uma metáfora para esta situação. Sim, no Iraque houve um progresso enorme, mas ainda acontecem ataques horríveis e é preciso que a gente se mantenha vigilante. Este é o tipo de guerra na qual você se enrola pelo resto de sua vida, e provavelmente pelo resto da vida de seus filhos.'
"Obama proferiu seu discurso no Teatro Eisenhower da Academia Militar de West Point.
"No dia seguinte, Clinton e Gates compareceram perante o Comitê de Serviços Armados do Senado para falar sobre o novo plano.
"Muitos republicanos se sentiam contrariados pela data limite de julho de 2011, quando supostamente começaria a retirada das tropas do Afeganistão.
"Petraeus disse depois que o progresso da estratégia podia adotar muitas formas, que tudo quanto ele precisava era demonstrar que tinham existido avanços, e que isso seria suficiente para acrescentar tempo ao relógio e que eles pudessem obter o que necessitavam.
"Lute lhe advertiu que isso era uma grande má interpretação do que tinha dito o Presidente, que Obama se opunha à idéia de um compromisso a longo prazo.
CAPÍTULOS 30 e 31
"No dia 3 de abril Petraeus se reuniu com Derek Harvey, seu assessor de inteligência de confiança. Harvey lhe mostrava uma das imagens mais pessimistas da guerra. Advertiu que a estratégia política e diplomática não estava ligada à estratégia militar. 'Não vai funcionar', disse. 'Não vamos atingir os objetivos que nos temos proposto.' Harvey previa um retorno total à situação de antes de 11 de setembro. Petraeus perguntava quais eram as opções e Harvey considerava que apoiar o governo de Karzai era contraproducente.
"Disse que os resultados das eleições tinham fortalecido Karzai, e que ele já estava recebendo tudo o que queria.
"As tropas de McChrystal não tinham conseguido despejar as zonas chaves. 'O inimigo começou a se adaptar, acrescentou Harvey.
"No dia 16 de abril o Presidente se reuniu com o Conselho de Segurança Nacional para analisar a informação atualizada sobre o Afeganistão e o Paquistão.
"O Presidente começou a perguntar pela situação de zonas específicas; em todas elas as tropas se encontravam resistindo e em nenhuma delas fora transferida a responsabilidade às forças locais.
"O padrão que fora estabelecido estava claro: resistir, resistir durante anos sem avanços nem transferências.
"Ninguém na reunião se atreveu a perguntar quando começaria a transferência.
"Donilon e Lute tinham preparado umas perguntas para que o Presidente se concentrasse na situação em Khandahar.
"O Presidente recomendou a McChrystal que pensasse em como íamos saber se estávamos tendo sucesso e quando o saberíamos.
"O resultado da reunião foi um primeiro strike para o General.
"O general de brigada Lawrence Nicholson visitou Jones e Lute na Casa Branca. A Nicholson foi-lhe lembrado o prazo de 12 meses que tinha para mostrar os avanços alcançados e começar a transferência. Quando os marines iam ficar prontos para fazer mais alguma coisa, entrar, por exemplo, em Khandahar, ou regressar a casa e ser parte dos que regressariam em 2011?
"Nicholson disse que necessitava pelo menos outros 12 meses; isso só para os distritos que tinham as melhores condições. Lute lembrou-lhe que esse não tinha sido o compromisso, que ainda não se tinham adentrado nos subúrbios de Khandahar, o lugar aonde os talibãs iam se estabelecer. O importante era Khandahar.
"Nicholson disse que talvez se pudesse chegar ali em 24 meses, se era eliminado o problema dos cultivos de papoula, que era o que nutria a insurgência.
"Lute se perguntava como ia se conseguir isso. Apesar de que uma praga tinha dado cabo de 33 por cento desses cultivos, as perspectivas de uma redução no financiamento da insurgência eram remotas. Apesar das teorias conspiradoras dos afeganes, a CIA ainda não tinha desenvolvido um inseto que atacasse as papoulas.
"McChrystal informava de certos abanicos, mas quando Lute aprofundava nas cifras, a realidade era bem diferente.
CAPÍTULOS 32 e 33
"Tinham decorrido 16 meses muito difíceis para Dennis Blair. Tinha fracassado em suas tentativas para nomear um chefe de inteligência em cada uma das capitais no exterior. A CIA ganhara e a controvérsia se tornara pública. Em sua opinião a CIA estava utilizando o relatório diário para o Presidente para que Obama soubesse das suas vitórias.
"Blair se sentia tão frustrado que em uma ocasião disse: 'Acho que a CIA é essencialmente uma organização que é como um animal perigoso, não muito inteligente, mas realmente bem treinado, que precisa ser controlado bem de perto pelos adultos.'
"Em maio de 2010 Obama lhe perguntara a Jones e a outros se já não era hora de livrar-se de Blair. Houve muitas discussões com a CIA, e Blair tinha pressionado muito para a assinatura de um acordo de não espionagem com os franceses, ao qual se opuseram Obama e o resto do gabinete.
"Obama ligou para ele e lhe comunicou sua decisão de demiti-lo, e lhe pediu que lhe apresentasse qualquer desculpa pessoal.
"Blair se sentiu profundamente ofendido. Não estava doente, sua família estava bem, e tinha dito ao público que se manteria como chefe da Direção Nacional de Inteligência durante quatro anos, porque parte dos problemas com o escritório eram as contínuas substituições ao mais alto nível.
"No dia 21 de junho Gates lhe informa a Jones sobre o artigo publicado na revista Rolling Stones sobre McChrystal. McChrystal dizia que Jones era um 'palhaço' que tinha ficado estagnado no ano 1985; que a estratégia de Obama pretendia vender uma posição invendível.
"McChrystal ligou para Biden e reconheceu que tinha comprometido a missão. Desculpou-se com Holbrooke e apresentou sua renúncia a Gates.
"Gates propus a Obama que criticasse McChrystal nos dois primeiros parágrafos de sua declaração, dizendo: 'acho que o General cometeu um grave erro e que sua percepção é errada.'
"Obama aceitou a renúncia de McChrystal e propus Petraeus para esse cargo.
"Obama se reuniu com Petraeus durante 40 minutos.
"Na quarta-feira 23 de junho o Presidente anunciou as mudanças. Reconheceu a longa folha de serviços de McChrystal e disse que o entristecia perder um soldado a quem chegara a respeitar e admirar. Acrescentou que Petraeus 'tinha dado um exemplo extraordinário de serviço e patriotismo ao assumir esta difícil tarefa'. E concluiu dizendo: 'Em minha equipe aceito o debate, mas não tolerarei a divisão.'
"Na entrevista que Obama teve com o autor do livro, o Presidente falou de suas idéias relativamente ao caráter da guerra e seus esforços por limitar e posteriormente finalizar a missão combativa dos Estados Unidos no Afeganistão.
"Perguntaram-lhe com que cena começaria ele um livro ou um filme sobre como ele tinha manejado o problema do Afeganistão, e respondeu que talvez começaria pelo ano 2002 quando se discutia o incremento de tropas no Iraque. Se calhar esse tinha sido o primeiro discurso sobre política externa que atraiu muito a atenção.
"Obama concordou com que o caráter da guerra eram o custo, o tempo e as conseqüências, não definidos, e citou um estadunidense famoso que em uma ocasião disse: 'A guerra é o inferno.' Referiu-se a frase expressada pelo general da União, William Tecumseh Sherman, quando disse: '...e uma vez que se soltam os cães da guerra, não se sabe aonde vai parar tudo.'
"'Quando cheguei ao cargo tinha duas guerras em curso', disse Obama. 'Tentei esclarecer o caos.'
"'Seria muito fácil imaginar uma situação em que, perante a ausência de uma estratégia clara, terminássemos por ficar no Afeganistão durante outros cinco, oito, dez anos, e que o fizéssemos só por inércia.'
"No fim da entrevista, o Presidente se apercebia de que quase todo o trabalho jornalístico versaria sobre as relações entre os líderes civis e os militares, e pensou que devia expressar suas próprias opiniões.
"'Provavelmente eu seja o primeiro Presidente o suficientemente jovem como para que a guerra no Vietnã tivesse sido o centro do meu desenvolvimento. Tinha 13 anos em 1975 quando os Estados Unidos se retiraram do Vietnã.'
"'De modo que cresci sem a carga que emanava das disputas sobre a guerra no Vietnã. Também confiava em que no nosso sistema os civis tomavam as decisões políticas e os militares as acatavam. Não vejo isto da maneira em que me parece que o vêem muitas pessoas que tiveram a experiência do Vietnã, como uma contradição entre civis e militares. Não o vejo como uma luta entre falcões e pombas. De modo que muitos dos marcos políticos através dos quais são vistos estes debates, não têm nada a ver comigo do ponto de vista geracional. Nem me intimidam os militares nem estou pensando que em certo modo eles estão tentando socavar minha posição como Comandante-em-Chefe'."
Neste parágrafo final da conversa de Obama com Woodward, o Presidente dos Estados Unidos pronuncia palavras enigmáticas que são reveladoras: "...confiava em que no nosso sistema os civis tomavam as decisões políticas e os militares as acatavam. [...] não o vejo como uma luta entre falcões e pombas. [...] Nem me intimidam os militares nem estou pensando que em certo modo eles estão tentando socavar minha posição como Comandante-em-Chefe."
Tem momentos em que a pressão dos militares é forte, persistente e reiterativa. Percebe-se a imagem de um presidente resistido e desafiado, como acontecia na antiga Roma quando o império dependia já quase unicamente do poder das Legiões.
Mas na época da antiga Roma, o planeta era totalmente desconhecido em sua dimensão, características físicas e localização espacial. Careciam então de armas de fogo; não tinha comércio e investimento global, bases militares, forças navais e aéreas a nível planetário, centenas de satélites, comunicações instantâneas; dezenas de milhares de armas nucleares às que se juntam as radioelétricas, eletromagnéticas e cibernéticas; fortes rivalidades entre potências com armas nucleares, cujo emprego, inclusive por parte das que menos possuem, seria suficiente para dar cabo da vida humana; e quase sete bilhões de pessoas que precisam dos recursos naturais do planeta Terra.
É um quadro relativamente dramático. Por um lado Barack Obama, advogado com sucesso, intelectual instruído e de palavra fácil, e por outro, militares altamente profissionalizados, educados durante toda sua vida no uso da força e a arte da guerra, dotados com armas que podem pôr término em questão de horas a vida dos seres humanos que habitam o planeta.
Que esperança para a humanidade pode derivar-se desse quadro?
Lembro o discurso de Bush em West Point, no qual, como instrumento da extrema direita desse país, afirmou que os oficiais deviam estar prontos para atacar imediatamente e sem prévio aviso a sessenta ou mais escuros cantos do mundo.
Em dois desses escuros cantos, o Afeganistão e o Iraque, estão estagnados os soldados dos Estados Unidos, depois de ocasionar milhões de vítimas.
Nas reuniões do Conselho de Segurança Nacional com Obama se expressava o temor a dificuldades ainda mais sérias provenientes de um terceiro país: o Paquistão.
As relações entre a CIA e o chefe do "grupo árabe", Bin Laden, se mantiveram até o mesmo dia em que aconteceu o ataque às Torres Gêmeas de Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001.
O que informou o Serviço de Inteligência do Paquistão, ISI, à cadeia norte-americana de rádio e televisão CBS? Que no dia 10 de setembro Osama Bin Laden foi submetido a diálise do rim no hospital militar de Rawalpindi no Paquistão. "Deve ter-se em conta que o hospital está sob a jurisdição das Forças Armadas do Paquistão, que têm vínculos estreitos com o Pentágono... não se fez tentativa alguma de apreender o fugitivo mais conhecido nos Estados Unidos, portanto, poderia ser que Bin Laden servisse a outro propósito melhor."
Essa informação foi publicada no programa estelar de Dan Rather no dia 28 de janeiro de 2002, quatro meses e meio depois do atentado terrorista com que Bush justificou sua guerra anti-terrorista.
Conhecer isto facilita compreender por que nos diálogos com Obama na Casa Branca se afirmasse que o problema mais difícil podia proceder do Paquistão.
A pessoa que com mais respeito intercambiou com Obama foi o general Colin Powell, que pertence ao Partido Republicano que se opôs a sua eleição como Presidente dos Estados Unidos. Como se sabe, Powell pôde ser o primeiro Presidente negro dos Estados Unidos. Preferiu não aspirar. Mais tarde Bush o nomeou Secretário de Estado. Sei que houve pessoas próximas que se opuseram firmemente a sua aspiração. Mas não possuo suficientes elementos de juízo para opinar sobre as motivações de Colin Powell.
Espero que a síntese do livro "As guerras de Obama" tenha sido útil para os leitores das Reflexões.
Fidel Castro Ruz
14 de outubro de 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário