O IMPÉRIO POR DENTRO
(Primeira parte)
Assombra-me a ignorância generalizada em torno de problemas vitais para a existência da humanidade, em uma época em que esta conta com fabulosos médios de comunicação que não eram inimagináveis há 100 anos, alguns deles tão recentes como a Internet.
Há apenas três semanas foi publicada a notícia sobre a próxima distribuição de um livro espetacular de Bob Woodward, jornalista de The Washington Post, cujos artigos compartilhados com Carl Bernstein, há 38 anos, deram cabo do governo de Nixon por atos de espionagem contra o Partido Democrata no mês de junho de 1972, que originaram o escândalo de Watergate, por violações de leis que a sociedade norte-americana não podia dar-se o luxo de ignorar.
Comuniquei-me com o nosso “embaixador em Washington” como qualifico Jorge Bolaños, chefe do Escritório de Interesses de Cuba na capital dos Estados Unidos, e lhe roguei que enviasse pelo menos dois exemplares do anunciado livro quando aparecesse nas livrarias. Bolaños me enviou quatro exemplares.
O texto, claro, está em inglês; passará – como é usual - muito tempo até que mais de 500 milhões de pessoas no mundo capazes de falar ou perceber o espanhol, incluindo os imigrantes latino-americanos nos Estados Unidos, possam lê-lo nessa língua.
Comuniquei-me com uma de nossas melhores tradutoras de inglês, rogando-lhe que fizesse um esforço especial para sintetizar o conteúdo do livro. O volumoso exemplar nessa língua, intitulado “As guerras de Obama” tem 33 capítulos e 420 páginas.
Devo assinalar que em apenas três dias me entregou uma síntese dos 33 capítulos, em 99 páginas com letra corpo 18.
Cumprirei com o dever de transmitir o conteúdo desse livro, utilizando textualmente as palavras diáfanas e precisas que me enviou a especialista de nosso serviço de tradução em inglês. Para tal, empregarei o espaço das Reflexões durante vários dias.
Não seria possível compreender nada da atual política dos Estados Unidos se é ignorado o conteúdo desse livro de Woodward, quem possui mais de um Prêmio Pulitzer; evidentemente, ele não tem a mais mínima intenção de liquidar o império.
Nosso país será o primeiro do mundo em conhecer de forma articulada o conteúdo essencial deste livro. Como é conhecido, em Cuba todos os cidadãos têm altos níveis de escolaridade e é o país com maior índice de jovens matriculados nas universidades.
A nossa principal força não está nas armas; está nas idéias.
“CAPÍTULO 1:
“Dois dias após ser eleito, o Presidente Obama convocou o diretor nacional de inteligência, Mike McConnell, para uma reunião em Chicago no intuito de conhecer detalhes sobre as mais secretas operações de inteligência do amplo sistema de espionagem dos Estados Unidos. Outros funcionários participariam do encontro, mas McConnell esclareceu que tinha instruções do ex-presidente Bush de não revelar esta informação vinculada aos espiões, às novas técnicas de infiltração de Al Qaeda, às guerras no Iraque e no Afeganistão e à proteção da nação, a ninguém mais que não fosse o presidente eleito.
“Michael J. Morell, chefe do Departamento de análise da CI, e Mc Connell sentaram-se a sós com Obama em um quarto de segurança. Foi-lhe informado, entre outros temas, que a principal ameaça para os Estados Unidos provinha do Paquistão, e que essa era a prioridade Nº 1 da DNI. Se os Estados Unidos se retirassem, a Índia e o Paquistão ocupariam o vazio de poder no Afeganistão. O melhor era que o Obama procurasse a paz entre estes dois países. Bush tinha ordenado os ataques de aviões não tripulados contra os acampamentos no Paquistão e deu instruções para que este país fosse notificado de maneira “concomitante”, isto é, enquanto se produzia o ataque ou, para maior segurança, alguns minutos mais tarde.”
Recomendamos aos leitores ir retendo os nomes de cada uma das personalidades citadas, bem como as teorias elaboradas para justificar os fatos incríveis que realizavam.
“Al Qaeda recrutava pessoas de 35 países cujos passaportes não precisavam de visto para entrar nos Estados Unidos, e isso era uma grande preocupação. Obama foi informado sobre as palavras chaves para os ataques dos aviões não tripulados (SYLVAN-MAGNÓLIA), apenas conhecidas pelas pessoas do mais alto nível de acesso aos temas de segurança, entre as quais se encontrava agora o novo presidente.
“Os principais sucessos provinham das fontes humanas, dos espiões no terreno, que lhe indicavam à CIA para onde olhar, onde caçar e onde matar. Os espiões eram os verdadeiros segredos que Obama levaria consigo a partir de agora. A CIA era muito cuidadosa com suas fontes.
“Cada uma tinha um codinome, como, por exemplo, MOONRISE. Quando muitas pessoas sabiam dele ou dela ou dos sucessos conseguidos, era liquidada. O oficial encarregado do caso informava que MOONRISE tinha feito o sacrifício máximo, mas a pessoa em questão, na verdade, não havia morrido. Apenas mudava o seu codinome e agora a CIA teria outra fonte chamada SOOTHING STAR, a mesma pessoa com um novo nome.
“Um segredo importante que nunca tinha sido noticiado pelos meios nem em nenhuma outra parte era a existência de um exército encoberto de 3 000 homens no Afeganistão, cujo objetivo era matar ou capturar os talibãs e, por vezes, adentrar-se nas zonas tribais para pacificá-las e conseguir apoio.
“McConnell e Morell falaram sobre o programa nuclear iraniano. Era conhecido que eles tentavam conseguir a arma nuclear e que existiam instalações ocultas. McConnell disse estar certo de que o Irão conseguiria uma arma nuclear tipo fuzil, provavelmente primitiva, mas que poderia ser detonada no deserto com um grande efeito e que na sua opinião isto aconteceria entre os anos 2010 e 2015.
“Outra grande ameaça era a Coréia do Norte, que tinha suficiente material como para fabricar seis bombas. Os coreanos iam conversar, iam mentir, iam ameaçar com retirar-se e mais tarde iam tentar renegociar.
“Os chineses tinham pirateado os computadores da campanha de Obama no verão de 2008 e também os de McCain, e tinham tirado arquivos e documentos a uma velocidade assombrosa. McConnell disse que os Estados Unidos eram vulneráveis aos ataques cibernéticos."
De imediato, o livro de Woodward reflete a primeira reação de Obama perante o enredo e a complexidade da situação criada pela guerra antiterrorista desencadeada por Bush.
“Obama comentou com um dos seus assessores mais próximos que tinha herdado um mundo que podia explodir em qualquer momento em mais de seis maneiras diferentes, e que contava com meios poderosos, mas limitados para evitá-lo. Obama reconheceu que, após as eleições, todos os problemas do mundo eram vistos como de sua própria responsabilidade e que as pessoas diziam: 'Você é a pessoa mais poderosa do mundo. Por que não faz algo a respeito? '
“CAPÍTULO 2
“Jonh Podesta, ex-chefe do gabinete de Bill Clinton, tinha a certeza de que a política devia ser desenhada, organizada e monitorada através de um sistema centralizado na Casa Branca. Mas, Obama pensava noutra pessoa para o cargo: Rahm Emmanuel, que se converteu no Nº 3 da Casa Branca. Ambos eram de Chicago, mas não se conheciam bem.
“Obama, em sua condição de candidato presidencial, tinha dito a David Petraeus no Iraque que lhe pedisse tudo quanto ele precisava se finalmente virava comandante-em-chefe do exército. Obama estava pronto para dizer 'não' ao que Bush tinha dito 'sim'.
“Petraeus quase redefiniu o conceito de guerra num novo manual de sua autoria (Counterinsurgency Field Manual) que pôs em prática no Iraque. A sua idéia principal era que os Estados Unidos não podiam sair da guerra. Eles tinham que proteger e ganhar a população, viver entre eles para que um governo estável e competente pudesse prosperar. O novo soldado, segundo ele, devia ser um trabalhador social, um planificador físico, um antropólogo e um psicólogo.
“Petraeus tinha poucos hobbys (não pescava, não caçava, não praticava golfe). Podia passar um homem de 35 anos. Podia correr 5 milhas em aproximadamente 30 minutos. Obteve o grau de Doutor na Universidade de Princenton. Seu pai morreu e ele decidiu permanecer no Iraque para supervisionar a guerra. Ele é chamado pelos iraquianos de "Rei Davi". Alguns dos seus colegas o chamam A Lenda do Iraque. Mas, a presidência de Obama iria mudar o status de Petraeus.
“CAPÍTULO 3
“O novo Diretor da CIA, Mike Hayden, viajou para Nova Iorque visando discutir com o Presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, sobre os ataques dos aviões não tripulados 'Predator' no interior desse país. A grande lição tirada da Segunda Guerra Mundial e do Vietnã era que os ataques desde o ar, inclusive os bombardeios maciços, não podem ganhar uma guerra.
“Os meios de imprensa paquistaneses se preocupavam pelo número de vítimas civis. Mas, a morte acidental de paquistaneses era apenas parte da história.
“Em uma reunião realizada entre Hayden e o presidente paquistanês, este último lhe disse: 'Matei os principais. Vocês, os estadunidenses, se preocupam pelos danos colaterais. A mim não me preocupam'. Zardari dava sinal verde à CIA e Hayden agradeceu seu apoio.
“Em uma de suas longas conversações, Obama abordou o tema de Hilary Clinton com David Axelrod, seu principal assessor político e o mais próximo dele. Este lhe perguntava a Obama como podia confiar em Hilary. Obama respondeu: “Acho conhecê-la bem. Se é parte da equipe, será fiel.” Ela continuou junto do seu marido durante o escândalo de Mônica Lewinsky e Obama ficou impressionado por sua resistência. Ele precisava de alguém com a estatura suficiente como para converter-se um ator principal na cena internacional.
“A Clinton não estava convencida de que esse cargo seria para ela. Não existia nenhuma reserva de confiança entre a equipe dela e a dele.
“Mais tarde surgiram os problemas com o seu marido e os contribuintes de grandes somas para a sua biblioteca presidencial, sua fundação e a Iniciativa Global Clinton. Os advogados de Obama disseram que estas empresas não podiam aceitar dinheiro se Hilary fosse nomeada Secretária de Estado. Ela reconhecia que isto era um grande obstáculo, mas que não enviaria Bill a viver em uma cova durante quatro ou oito anos. 'Não vou dizer-lhe que cancele as operações que tem em 26 países e que estão salvando vidas', disse ela. 'Não vale a pena'. Podesta lhe prometeu que trabalhariam nisso.
“Preparou-se um discurso em que ela agradeceria a Obama, por telefone, por tê-la tido em conta para o cargo, mas Podesta encarregou-se de que ambos não pudessem conectar-se.
“O 'não' de Hilary virava um 'talvez'. Marke Penn, o principal estrategista de sua campanha, achava que se permanecesse no Departamento de Estado durante oito anos, estaria na melhor posição para se candidatar como Presidenta novamente. Apenas teria 69 anos, a mesma idade de Reagan quando assumiu o poder.”
“CAPÍTULO 4
“James L. Jones, um General aposentado, pensava que o governo de Bush era espantosamente desorganizado e penosamente pouco sério no que se refere à paz no Oriente Médio. Jones afirmou que o Conselho de Segurança de Bush carecia de pessoal e não era funcional, e que o assessor para a segurança nacional tinha que aplicar medidas para garantir um avanço razoável no cumprimento dos objetivos.
“Um setor muito amplo da política estava em piloto automático, e o assessor de segurança nacional tinha que encontrar a maneira de conseguir resultados sem ter que controlar minuciosamente o que os diferentes departamentos e agências deviam fazer. Obama perguntava como se devia conseguir isso. Convença seus subordinados de que a visão deles é a sua, recomendava Jones. [...] Obama decidiu que Jones fosse o seu assessor para a segurança nacional.”
“Jones ficou surpreendido de ser nomeado por Obama para este cargo de tanta responsabilidade e que ele confiasse em alguém que apenas conhecia. Jones pensava que tudo estava baseado nas relações pessoais, e ele não mantinha tais relações com Obama."
“No dia 26 de novembro Bush convocou uma das últimas reuniões do Conselho de Segurança Nacional para analisar um relatório muito secreto sobre a guerra no Afeganistão, elaborado pelo tenente-general do Exército Douglas Lute, conhecido como o Czar da Guerra. O relatório concluiu dizendo que os Estados Unidos não poderiam manter-se no Afeganistão a menos que se resolvessem três grandes problemas: melhorar a governabilidade, diminuir a corrupção e eliminar os santuários dos talibãs no Afeganistão.”
Agora vem outro surpreendente episódio, por trás do qual estava a mão do governo dos Estados Unidos, demonstrando o risco de que nos falou hipoteticamente o autor da teoria do “Inverno Nuclear”. Seria suficiente – disse-nos – uma guerra entre o Paquistão e a Índia, os dois países que menos armas atômicas têm no Grupo dos 8 que pertencem ao “Clube Nuclear”. O que se revela no livro “As guerras de Obama” demonstra que qualquer irresponsabilidade da política dos Estados Unidos pode conduzir à catástrofe.
“Condolezza Rice não se sentiu satisfeita com o relatório. Bush decidiu que não o tornaria público. Mais tarde, 10 pessoas armadas começaram a vagar pela cidade indiana de Mumbai, criando um espetáculo de caos e de violência transmitido ao vivo pela televisão durante 60 horas. Seis cidadãos estadunidenses morreram. A operação foi organizada por um grupo conhecido pelas siglas LeT, que significa o Exército dos Puros, e estava sendo financiado pela agência de inteligência de Paquistão. Bush queria evitar tensões entre a Índia e o Paquistão. A base de seu mandato era zero tolerâncias para os terroristas e os seus aliados. O FBI horrorizou-se ao ver que uma operação de baixo custo usando a alta tecnologia tinha paralisado a cidade de Mumbai. As cidades estadunidenses tinham o mesmo grau de vulnerabilidade. Um funcionário do FBI expressou: 'Mumbai mudou tudo.'
“CAPÍTULO 5
“Ao assumir o cargo como diretor da CIA, Hayden tinha herdado uma organização que, segundo ele, sofria da síndrome da criança golpeada'.
“Obama o convocou para uma reunião de informação sobre as operações encobertas. Hayden achou que esta era a oportunidade de provar quão grave eram as ameaças e quão seriamente eram consideradas pela CIA. Referiu-se a 14 operações altamente secretas, cujo objetivo era levar a cabo operações clandestinas e letais contra o terrorismo, impedir que o Irão desenvolvesse armas nucleares, dissuadir a Coréia do Norte de não fabricar mais armas nucleares, levar a cabo operações contra a proliferação em outros países, operar de maneira independente ou em apoio aos Estados Unidos no Afeganistão, aplicar uma série de operações letais e outros programas no Iraque, apoiar os esforços clandestinos visando deter o genocídio na região sudanesa de Darfur, oferecer à Turquia informação de inteligência para que impeça que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão estabeleçam um enclave separatista dentro da Turquia.
“No dia e de janeiro de 2009 Hayden soube, através de um artigo publicado pela versão on line do jornal The Washington Post, que tinha sido substituído como diretor da CIA e em seu lugar foi nomeado Leon Panetta. Hayden achava que ser substituído por um político era uma humilhação pessoal. Panetta tem habilidades para construir relações pessoais. Hayden, em seu encontro com Panetta, o adverte: 1) Você é o comandante da nação na guerra global contra o terrorismo; 2) Conta com o melhor pessoal do governo federal; 3) Li alguns dos seus artigos; não volte a usar as palavras CIA e tortura no mesmo parágrafo. A tortura é uma felonia. Pode não te gostar, mas nunca digas que há tortura. Legalmente a CIA não torturou ninguém. McConnell advertiu a Panetta: 'Tens que compreender a batalha que vais ter que travar com a CIA, porque eles consideram você o seu inimigo.'
“CAPÍTULO 6
"Obama pede a Biden que viaje ao Afeganistão e ao Paquistão antes da sua posse como presidente e lhe pede que leve consigo um republicano. Lindsey Graham, da Carolina do Sul, foi o escolhido.
“Biden disse oficialmente ao Presidente paquistanês qual era a idéia de Obama: o Afeganistão seria sua guerra; em breve iria enviar mais tropas, mas, para isso, precisava trabalhar conjuntamente com o Paquistão.
“Zardari, por sua vez, reconheceu não ter tanta experiência como a sua falecida esposa, Benazir Bhutto, mas que sua missão não era diferente, e precisava que os Estados Unidos o ajudassem a ganhar um apoio suficiente no plano interno; que existia muito anti-americanismo no país...”
“Biden o advertiu que para isso era preciso que Zardari deixasse de jogar nos dois bandos, pois a CIA pensava que existia muita informação de inteligência que estava sendo utilizada para alertar os acampamentos de terroristas em contra dos ataques dos aviões não tripulados.
“BIden e Graham partiram para Cabul. Depois das eleições de 2004 as relações de Karzai com os Estados Unidos tornaram-se muito voláteis. Frequentemente criticava os estadunidenses pelo número de vítimas civis. As evidências de corrupção em seu governo e em sua família exacerbavam as tensões com os Estados Unidos.
“Bidem advertiu Karzai que não estava interessado em tornar sua vida difícil, mas que dele dependia em grande parte o sucesso dos Estados Unidos.
“Karzai convocou vários membros de seu gabinete para que informassem diretamente a Biden e Graham o que estavam fazendo. Disseram a Karzai que Obama queria ajudar, mas que essa idéia de pegar o telefone e ligar para o Presidente Obama, como ele fazia com Bush, já não aconteceria mais. Biden criticou a Karzai sua incapacidade de governar todo o país, sua negativa a percorrer o país para criar consenso entre as diferentes tribos, as casas suntuosas dos funcionários afegãos próximas ao palácio presidencial, sem dúvidas pagadas pelos Estados Unidos. 'Você é apenas o prefeito de Cabul', disse Biden a Karzai.
“Karzai os criticou pelo alto número de vítimas civis e Biden comprometeu-se a minimizá-las, mas o advertiu que tinha que estar com eles nesta guerra; que se esta não era uma guerra para eles, os Estados Unidos não enviariam mais efetivos. Karzai respondeu que não estava fazendo nenhuma crítica, senão informando-lhes que existia um problema.
“Biden sugeriu tratar o assunto em privado, não em uma coletiva de imprensa, e Karzai discordava disso. As vítimas civis eram um problema público e Biden o tinha ofendido perante os membros de seu gabinete.
Karzai advertiu que o povo afegão não ia tolerar isso; que os afegãos deviam ser seus aliados, não suas vítimas. O embaixador William Word interveio para dizer que a conversa tinha sido útil, mas que demonstrava que existiam frustrações de ambas as partes.
“Biden entrevistou-se com David McKiernan, o chefe das tropas estadunidenses no Afeganistão, quem lhe disse que para ganhar essa guerra era preciso o envio dos 30 mil efetivos ainda pendentes desde o governo de Bush. Biden indagou sobre Al Qaeda e David lhe respondeu que não tinha visto nem sequer um só árabe em dois ano lá. Isso confirmava as suspeitas de Biden: Al Qaeda, o motivo principal desta guerra, era um problema paquistanês.
“Biden recomendou a Obama afastar-se de Karzai. Graham confessou-lhe: 'Sr. Presidente, estamos perdendo esta guerra.' Graham estava convicto de que era impossível ganhar a guerra no Afeganistão se perdia a guerra no Iraque.
“CAPÍTULO 7
“A cerimônia de posse de Obama, em 20 de janeiro, esteve a ponto de ser suspensa. Informação de inteligência confiável indicava que um grupo de extremistas somalis planejava atacar Obama com explosivos. Entretanto, toda a atenção se concentrava no discurso de Obama e no que ele diria.
"O general Petraeus se encontrava novamente no Afganistão.
"Obama convocou uma reunião de seu grupo nacional de segurança em 21 de janeiro. A decisão chave era nomear Petraeus chefe do Comando Central. Obama pediu que lhe propusessem três opções a respeito da guerra no Iraque. Ordenou fazer um estudo em 60 dias para saber ‘como íamos chegar aonde queríamos chegar’. Uma das opções a ter em conta, por solicitação do presidente, era a retirada das tropas em um período de 16 meses.
"Uma equipe de 80 pessoas começou a estudar a situação do Afeganistão. Foram analisados os interrogatórios feitos aos prisioneiros, os relatórios do campo de batalha, os registros financeiros, a propaganda e os comunicados emitidos pelos talibãs.
"Ao Petraeus perguntar o que tinha sido encontrado, Derek Harvey, da Agência de Inteligência para a Defesa, respondeu que a situação era como a de um cego ajudando mais outro a caminhar; que os Estados Unidos tinham um grande desconhecimento quanto à insurgência afegã, quem era o inimigo e onde estava, como eles viam esta guerra e quais suas motivações. Sabia-se muito pouco a respeito do inimigo para traçar uma estratégia que conduzisse à vitória. Harvey tratava de revolucionar a obtenção de informação de inteligência e se dedicou totalmente a isso. Ele era da opinião de que a guerra podia ser ganha, mas que o governo dos Estados Unidos ia ter que fazer grandes compromissos durante muitos anos; que talvez não iam ter muita aceitação entre os eleitores. ‘Eu acho que a guerra no Afeganistão pode ser feita, porém não pode ser vendida’, expressou Harvey.
"Obama anunciou que o envio de novos efetivos teria que ser anunciado fazendo parte de uma nova estratégia. Petraeus indicou que os objetivos no seriam atingidos sem uma maior quantidade de tropas, que não se podia contar apenas com os ataques dos aviões não tripulados. Petraeus insistiu no envio dos 30 000 efetivos. Obama perguntou se era preciso enviar todas essas tropas de uma só vez, e advertiu que era necessário antes contar com uma estratégia e que o Presidente necessitava que lhe propusessem as decisões que deveriam ser tomadas. O Presidente parecia entender que esta guerra não seria ganha em um ou dois anos. O Presidente saiu da reunião para cumprir outros compromissos sem ter tomado decisão alguma a respeito disso."
Continua amanhã
Fidel Castro Ruz
10 de outubro de 2010
18h00
O IMPÉRIO POR DENTRO
(SEGUNDA PARTE)
(SEGUNDA PARTE)
Na reflexão de ontem aparece um parágrafo chave extraído do livro de Woodward: “Um segredo importante que nunca tinha sido revelado nos meios nem em nenhuma outra parte era a existência de um exército encoberto de 3 000 homens no Afeganistão, cujo objetivo era matar ou capturar os talibãs e em ocasiões adentrar-se nas zonas tribais para pacificá-las e obter apoio.” Tal exército, criado e manejado pela Agência Central de Inteligência (CIA), treinado e organizado como “força especial”, tem sido integrado sobre bases tribais, sociais, anti-religiosas e antipatrióticas; sua missão é o seguimento e a eliminação física de guerrilheiros talibãs e outros afegãos, qualificados como extremistas muçulmanos. Nada têm a ver com Al Qaeda e Bin Laden, um saudita recrutado e financiado pela CIA para lutar contra os soviéticos quando suas tropas ocuparam o Afeganistão. Quando o Vice-presidente Biden viajou a Kabul, a começos de 2009, David Mckiernan, chefe das tropas dos Estados Unidos no Afeganistão, disse-lhe quando perguntou por Al Qaeda: “que não tinha visto um só árabe em dois anos ali”. Apesar da relativamente breve e efêmera importância que os principais meios internacionais de imprensa deram “Às guerras de Obama”, estes, todavia, não deixaram de consignar esta reveladora notícia.
O governo dos Estados Unidos estava perante um problema insolúvel. Em uma das últimas reuniões do Conselho de Segurança Nacional durante a presidência de Bush, foi aprovado um relatório onde se afirmava: “que os Estados Unidos não poderiam se manter no Afeganistão a não ser que fossem resolvidos três grandes problemas: melhorar a governabilidade, diminuir a corrupção e eliminar os santuários dos talibãs…”
Poderia se acrescentar que o problema é ainda mais grave se forem tidos em conta os compromissos políticos e militares dos Estados Unidos com o Paquistão, um país dotado de armas nucleares, cuja estabilidade no meio de tensos equilíbrios de caráter étnico, tinha sido afetada pela aventureira guerra de Bush no Afeganistão. Centenas de quilômetros de fronteira montanhosa, com populações da mesma origem que estão sendo atacadas e massacradas por aviões sem piloto, são partilhados por Paquistão e Afeganistão. As tropas da NATO, cuja moral decresce dia a dia, não poderão ganhar esta guerra.
Sem enormes quantidades de combustível, alimentos e munições, nenhum exército se pode mover. A própria luta dos afegãos e paquistaneses, de um e de outro lado da fronteira, tem descoberto o ponto fraco das sofisticadas tropas dos Estados Unidos e da Europa. As longas rotas de abastecimentos se estão tornando em cemitério dos enormes caminhões e carros-pipas destinados a essa tarefa. Os aviões sem piloto, as comunicações mais modernas, as sofisticadas armas convencionais, radioelétricas e até as nucleares, sobram.
Porém, o problema é muito mais grave que o que estas linhas expressam.
Continuamos, não obstante, adiante com a síntese do espetacular livro de Woodward.
“CAPÍTULO 8
“Jack Keane, General retirado, muito próximo da Hillary Clinton, advertiu-lhe que a estratégia seguida no Afeganistão era incorreta, que o elevado número de vítimas não ia pôr término à insurgência, que isto tinha o efeito contrário, que a única saída era uma ofensiva contra-insurgente intensiva para proteger os afegãos. McKiernan não estava interagindo com os governadores das províncias. Keane lhe expressou que se recorria muito à luta anti-terrorista, e a estratégia contra-insurgente não marchava à par.
“Keane lhe propôs substituir McKiernan pelo Tenente-General Lloyd Austin III, segundo ao mando no Iraque; e também propôs McChrystal, acrescentando que este era, sem dúvidas, o melhor candidato.
“McChrystal tinha organizado boas campanhas antiterroristas no Iraque, mas os sucessos tácticos não se traduziam em vitórias estratégicas. Por isso a contra-insurgência era necessária.
“CAPÍTULO 9
“Na audiência de confirmação de Leon Panetta como Diretor da CIA perante o Comitê de Inteligência do Senado, este afirmou que a Agência já não enviaria os supostos terroristas a outro país para que fossem torturados, porque isso estava proibido segundo as ordens executivas do novo Presidente. Ele declarou que suspeitava que a CIA enviava pessoas a outros países para que fossem interrogadas utilizando técnicas que ‘violavam nossas normas’.
“Hayden o estava observando pela televisão e se perguntava, aborrecido, se Panetta ignorara a conversação que ambos tinham tido no mês anterior. Hayden contatou Jeff Smith, ex assessor geral da CIA, que estava ajudando na transição entre Hayden e Panetta e o ameaçou dizendo-lhe: ‘Ou ele retira o que disse em seu testemunho público amanhã ou teremos o espetáculo onde o atual Diretor da CIA lhe diga ao futuro Diretor da CIA que não sabe do que está falando. Hayden disse que o expressaria publicamente e que isso não ia beneficiar ninguém. No dia seguinte foi o Senador Kit Bond, de Missouri, o chefe republicano do Comitê de Inteligência, que lhe perguntou a Panetta se ele se retratava do que tinha dito no dia anterior e Panetta disse que sim.
“Hayden posteriormente se reuniu com Panetta e lhe disse que tinha lido seus escritos, onde dizia que o governo de Bush tinha escolhido a melhor informação de inteligência para alegar a existência de armas de destruição maciça no Iraque. Panetta tinha culpado disso a uma unidade especial do Pentágono criada por Rumsfeld. Panetta respondeu que não era verdade, que fora um erro deles, e aceitou que se tinha produzido nesse caso uma catastrófica falha de inteligência na agência da qual ia ser diretor.
“No dia 13 de fevereiro o presidente se reuniu de novo com o Conselho de Segurança Nacional para discutir quatro opções para o desdobramento de tropas no Afeganistão.
“1. Decidir só depois de definir uma estratégia.
“2. Enviar de imediato 17 000 efetivos.
“3. Enviar os 17 000 mas em duas partes.
“4. Enviar 27 000, com o que seria cumprida a solicitação do General McKiernan.
“Clinton, Gates, Mullen e Petraeus apoiaram o envio dos 17 000 de imediato. Esta também foi a recomendação de Jones. Richard Holbrooke, em um vídeo de segurança, advertiu que 44 anos atrás o Presidente Johnson debatia o mesmo com seus assessores para o caso do Vietnã. ‘Não se pode esquecer a história’, acrescentou. O Vietnã nos tinha ensinado que as guerrilhas ganham em uma situação de impasse, e, portanto, ele apoiava o envio dos 17 000. Obama finalmente notificou ao Pentágono que tinha decidido enviar 17 000.
“CAPÍTULO 10
“O objetivo para o governo de Obama estava claro: desmantelar e finalmente derrotar Al Qaeda e seus aliados extremistas, suas estruturas de apoio e seus santuários no Paquistão, e evitar seu regresso ao Paquistão ou ao Afeganistão. Jones, Gates e Mullen se perguntavam se podiam confiar nos paquistaneses. Biden propunha reforçar as operações anti-terroristas e concentrar-se em Al Qaeda e no Paquistão. Obama perguntou se o envio de 17 000 efetivos e posteriormente 4 000 mais fariam a diferença e a resposta foi sim. Obama perguntou quanto custaria esta operação e a resposta foi que não se sabia, que isso só era um estudo e que não se tinha feito um cálculo do orçamento, mas que o custo de colocar um soldado estadunidense no Afeganistão, incluídos os pagamentos como veterano de guerra, o seguro de saúde, o custo da atenção a seus familiares, a alimentação e o armamento, ascendia a aproximadamente 25 000 dólares por ano. O custo de um soldado afegão no terreno era de uns 12 000 dólares. Mais tarde Obama confirmou que Paquistão seria o centro de qualquer nova estratégia.
“Em uma reunião com o Conselho de Segurança Nacional, Obama disse que esperava contar durante pelo menos dois anos com o apoio popular para sua estratégia. Biden expressou que a sorte estava deitada, embora fazendo notar que dissentia, mas garantiu que apoiaria a estratégia do presidente.
“CAPÍTULO 11
“Petraeus se mostrava preocupado. Preocupava-lhe se tornar na vítima de seus sucessos anteriores no Iraque. Provavelmente uma contra-insurgência não era a estratégia correta no Afeganistão, mas Petraeus tinha designado a tarefa de estudar o tema a um grupo de peritos em operações e atividades de inteligência, quem tinham uma opinião contrária. Parecia que o Presidente não tinha aceitado seus argumentos em favor de uma operação contra-insurgente. O presidente anunciou em um discurso sua estratégia de desmantelar e derrotar Al Qaeda. Um editorial do jornal The Washington Post elogiou o plano com a seguinte manchete: ‘O preço do Realismo’. O discurso surpreendeu alguns. O presidente pessoalmente lhe fizera mudanças ao texto. Obama não se comprometera totalmente com o envio de todas as tropas solicitadas pelo exército. Obama disse que analisaria a questão de novo depois das eleições no Afeganistão.
“O Secretário de Defesa Gates parecia cômodo com a decisão: Dois dias depois declarou que não via a necessidade de pedir mais tropas ou pedir ao Presidente que as aprovasse até tanto não se visse o desempenho das mesmas.
“O Presidente do Paquistão se reuniu com Obama em seu gabinete. Obama lhe disse que não queria armar o Paquistão em contra da Índia. Reconheceu que tinham avançado em Swat mas que o cessar fogo tinha provocado que os extremistas subvertessem a legitimidade do governo paquistanês, e que o governo estivesse dando a impressão de que ninguém estava a cargo. Obama reconheceu que o Paquistão agora agia com mais decisão, o que se tinha tornado evidente por sua atuação em Swat e por ter permitido que a CIA lançasse como média um ataque com aviões não tripulados cada três dias no decurso do mês anterior. Os paquistaneses tinham lançado uma operação com 15 000 efetivos, uma das maiores até ao momento, contra os talibãs.
“O chefe do Estado-maior Conjunto se dava conta de que a solução do problema afegão estava justo à vista, vadiando pelos corredores do Pentágono. McChrystal já era uma lenda. Tinha trabalhado mais do que ninguém, solucionando problemas e sem espernear. Cumpria cabalmente todas as ordens. Gates finalmente anunciou que McChrystal seria o novo comandante das tropas no Afeganistão. ‘Nossa missão ali’, disse, ‘precisa de novas idéias e de novos pontos de vista por parte dos nossos chefes militares’. Posteriormente Obama expressou que ele tinha estado de acordo com esta decisão porque confiava nas opiniões de Gates e de Mullen, mas que não tinha tido a oportunidade de conversar pessoalmente com ele.
“Em 26 de maio de 2009 apareceu no relatório ao Presidente um dos mais sensíveis relatórios de inteligência profunda. Seu título era: Os recrutas de Al Qaeda na América do Norte poderiam fazer mudar os objetivos e as táticas nos Estados Unidos e no Canadá. Segundo o relatório, aproximadamente 20 partidários de Al Qaeda com passaportes estadunidenses, canadenses ou europeus se estavam treinando nos santuários do Paquistão para regressar a seus países de origem e perpetrar atos terroristas de alto perfil. Entre eles se incluíam meia dúzia do Reino Unido, vários canadenses, alguns alemães e três estadunidenses. Não se conheciam seus nomes. Dennis Blair pensava que os relatórios eram o suficientemente alarmantes e acreditáveis como para que o Presidente fosse informado. Porém Rahm Emmanuel não estava de acordo. Blair respondeu, como assessor de inteligência do Presidente, que se sentia realmente preocupado e Emmanuel o acusou de estar tentando responsabilizá-lo, a ele e ao Presidente.
“Ao sair da Casa Branca Blair estava convencido de que ambos viviam em planetas diferentes relativamente a este tema. Cada vez mais via uma falha no governo.
“CAPÍTULO 12
“O General Jones costumava viajar ele próprio ao Afeganistão para fazer suas próprias avaliações. Ele era da opinião de que os Estados Unidos não podiam perder essa guerra, porque a gente ia dizer que os terroristas tinham ganho e este tipo de ações se iam ver na África, América do Sul e em outros lugares. As organizações como a NATO, a União Européia e as Nações Unidas poderiam ficar relegadas à lixeira da história.
“Jones visita os soldados feridos, reúne-se com os coronéis e se entrevista com McChrystal. McChrystal lhe confessa que o Afeganistão estava muito pior do que ele esperava. Advertiu que tinha sobradas razões para preocupar-se e que se a situação não se revertia logo se tornaria irreversível. Jones pediu que lhe enumerasse os problemas e McChrystal começou a citar toda uma ladainha deles: o número de talibãs no país era muito superior ao que se pensava (25 000). Jones comentou que isso era o resultado do tratado assinado entre o Paquistão e suas tribos, visto que ali os novos talibãs podiam ser treinados sem interferências. O número de ataques talibãs se aproximava dos 550 semanais e nos últimos meses se tinha quase duplicado. As bombas à beira da estrada estavam matando aproximadamente 50 efetivos das tropas da coligação cada mês, a diferença da cifra de oito registrada no ano anterior.
“Jones insistia em que a nova estratégia tinha três etapas:
“1.- A segurança.
“2.- O desenvolvimento econômico e a reconstrução.
“3.- A governabilidade por parte dos afegãos sob o império da lei.
“Jones insistia em que a guerra não ia ser ganha só pelo exército, que durante o próximo ano a parte da estratégia que devia começar a funcionar era o desenvolvimento econômico, e que se isso não era bem feito não haveriam suficientes tropas no mundo para conseguir a vitória. Jones esclareceu que esta era uma nova época e que Obama não lhe daria aos comandantes do exército todas as forças que eles solicitavam, como costumava fazer Bush durante a guerra no Iraque. Jones acrescentou que o Presidente sabia que estava caminhando pelo gume de uma navalha, o que queria dizer que não só eram tempos difíceis e perigosos, mas que a situação podia avançar em uma ou em outra direção.
“Na província de Helmand, Jones esclareceu que a estratégia de Obama estava destinada a reduzir a participação e o compromisso dos Estados Unidos, que ele não pensava que o Afeganistão devia ser a guerra só dos Estados Unidos, mas que tinha existido uma tendência a americanizá-la.
“A seu regresso Jones informa a Obama que a situação era desconcertante; que não tinha relação alguma entre o que lhe tinham estado dizendo durante os últimos meses e o que o General McChrystal estava encarando. Obama lhe pergunta afinal quantas tropas se necessitavam e Jones lhe informa que ainda não tinha um número definido. Ele pensava que era necessário completar as duas primeiras etapas da estratégia —desenvolvimento econômico e governabilidade—, caso contrário o Afeganistão simplesmente ia engolir qualquer cifra adicional de tropas.
“No Pentágono a reação era bem diferente. Jones foi acusado de querer pôr limites à cifra de tropas. Ele alegava que não era justo que o presidente tomasse a decisão que tinha tido que tomar em março, e antes de completar os 21 000 efetivos ali, decidir que como a situação era tão má se necessitavam de 40 000 a 80 000 efetivos adicionais.
“Entre a Casa Branca e o Pentágono existia um abismo cada vez maior, e isso acontecia só quatro meses depois que o Presidente desse a conhecer sua nova estratégia.
“CAPÍTULO 13
“Alguns funcionários do governo estadunidense descreviam o governo de Obama utilizando a terminologia afegã, e diziam que a presidência estava povoada por ‘tribos’, o qual refletia suas divisões. A tribo de Hillary morava no Departamento de Estado; a tribo de Chicago ocupava os escritórios de Axelrod e Emmanuel; a tribo da campanha presidencial ocupava o Conselho de Segurança Nacional, que estava dirigido pelo chefe de gabinete Mark Lippert e o diretor de comunicações estratégicas Denis McDonough. Este grupo era chamado de ‘insurgência’.
“A derrota do Talibã requeria de mais tropas, dinheiro e tempo do que seu desmantelamento. A derrota significava uma rendição incondicional, uma capitulação total; a vitória, ganhar no mais amplo sentido da palavra, destruir completamente o Talibã.
“Richard Holbrooke se mostrava pessimista próximo das eleições de 20 de agosto no Afeganistão e expressou: ‘Se tivesse 10 resultados possíveis no Afeganistão, 9 deles são maus. Todos eles flutuam entre a guerra civil e as irregularidades’.
“Logo que fecharam os colégios de votação no dia 20 de agosto houve informações de fraude nas urnas. Muitos funcionários das Nações Unidas e do Departamento de Estado não abandonaram suas residências para visitar os locais de votação por razões de segurança.
“No dia posterior às eleições Hoolbroke e o embaixador estadunidense se reuniram com Karzai, ao qual perguntaram o que faria se houvesse uma segunda volta. Karzai disse que ele tinha sido reeleito e que não haveria uma segunda volta.
“Depois da reunião Karzai ligou para o centro de operações do Departamento de Estado e pediu falar com Obama ou com Hillary. O embaixador estadunidense recomendou ao presidente que não aceitasse a chamada, visto que Karzai se tinha colocado à defensiva dizendo que uma segunda volta era impossível. Obama esteve de acordo em não falar com ele.
“Os relatórios de inteligência descreviam Karzai como uma pessoa cada vez mais delirante e paranóica. Karzai lhes disse: ‘Vocês estão na minha contra. É um conluio entre os estadunidenses e os britânicos’.
“No mês de agosto foi criado um grupo no intuito de entrevistar os membros do grupo estratégico do General McChrystal que recém acabavam de regressar do Afeganistão, com o propósito de saber o que era o que estava acontecendo no terreno, como marchava a guerra, o que estava funcionando e o que não. McChrystal deu-lhe ao grupo três perguntas a modo de guia para seu estudo: é possível cumprir a missão?; e no caso afirmativo, o que é necessário mudar para que a missão seja cumprida?; Precisam-se mais recursos para cumprir a missão?
“McChrystal solicitou ao grupo que fosse pragmático e se concentrasse nas coisas que realmente funcionavam.
“O grupo chegou à conclusão de que o exército entendia relativamente pouco à população afegã. Não alcançava a compreender como as campanhas de intimidação lançadas pelos talibãs afetavam a população. A recolha de informação de inteligência era um desastre. O grupo descobriu que 70 por cento dos requisitos de inteligência se centravam no inimigo. Alguns membros do grupo pensavam que dentro de um ou dois anos a guerra estaria totalmente americanizada. Os estadunidenses preferiam que os aliados da NATO contribuíssem com dinheiro e assessores para as forças de segurança afegãs, em vez de que estivessem vadiando por todo o país pedindo apoio aéreo para atacar os afegãos de aparência suspeitosa.
“O grupo só tinha más notícias para McChrystal. Podia ser levada a cabo a melhor campanha de contra-insurgência na história do mundo, e mesmo assim fracassaria pela fraqueza e pela corrupção que existiam no governo afegão. McChrystal ficou como se tivesse sido atropelado por um trem. De qualquer dos modos, agradeceu ao grupo.
“McChrystal fez saber a Gates que necessitaria 40 000 efetivos mais. Após longas discussões, Gates lhe prometeu que lhe daria tantos efetivos como pudesse enquanto pudesse. ‘Você tem um campo de batalha lá e eu tenho um campo de batalha aqui’, disse-lhe.
“CAPÍTULO 14
“Biden passara cinco horas tentando formular uma alternativa para McChrystal, que chamou de ‘anti-terrorismo plus’. Em vez de uma quantidade intensiva de efetivos, o plano se concentrava no que ele acreditava era a ameaça real: Al Qaeda. Esta estratégia punha ênfase na destruição dos grupos terroristas mediante o assassinato ou a captura de suas lideranças. Biden pensava que era possível dissuadir Al Qaeda de regressar ao Afeganistão, e evitar assim debruçar-se na dispendiosa missão de proteger o povo afegão.
“Biden pensava que Al Qaeda tomaria pelo caminho onde encontrariam menor resistência e que não regressariam a seus antigos lugares de origem se:
“1. Os Estados Unidos mantinham pelo menos duas bases (Baram e Khandahar) para que as Forças Especiais pudessem operar em qualquer lugar do país.
“2. Os Estados Unidos contassem com forças suficientes para controlar o espaço aéreo afegão.
“3. As redes de inteligência humana dentro do Afeganistão lhe proporcionavam informação acerca dos objetivos que seriam atacados pelas Forças Especiais.
“4. A elite da CIA, uma força composta por 3 000 afegãos para operações anti-terroristas podiam movimentar-se livremente.
“Afeganistão devia tornar-se em um ambiente ligeiramente mais hostil para Al Qaeda do que o Paquistão para que eles decidissem não regressar.
“Obama necessitava alguém que o guiasse. Tinha estado no Senado só quatro anos, e Biden 35. O presidente pensava que os militares não podiam pressiona-lo, mas eles podiam esmagar um presidente inexperiente. Biden recorreu a Obama, e este lhe disse: ‘Você é que conhece essa gente. Avante. Pressiona’.
“Obama confessou depois que ele queria que seu vice-presidente fosse um detrator agressivo, e que dissesse exatamente o que pensava, que fizesse as perguntas mais difíceis, porque estava convencido de que essa era a melhor maneira de servir ao povo e às tropas, estabelecendo um forte debate sobre essas questões de vida ou morte.
“Obama convocou um pequeno grupo dos mais experimentados membros de sua equipe de segurança nacional para analisar o relatório classificado de
66 páginas elaborado por McChrystal, que em resumo dizia que se não eram enviados mais efetivos era provável que a guerra terminasse em um fracasso nos próximos
12 meses. O presidente acrescentou que as opções neste caso não eram boas e esclareceu que não aceitaria automaticamente a solução proposta pelo General nem por ninguém. ‘Temos que abordar isto com o espírito de desafiar nossas próprias presunções’.
“Peter Lavoy, vice-chefe de análise do gabinete do diretor da DIN, considerava que após os ataques com aviões não tripulados, Bin Laden e sua organização tinham sido golpeados, assediados, mas não acabados, que Al Qaeda se tinha convertido na sanguessuga do Talibã.
“Obama queria saber se era possível ou não derrotar Al Qaeda e como; se era necessário destruir o Talibã para destruir Al Qaeda; o que se podia conseguir nos próximos anos; que tipo de presença era necessário ter no Afeganistão para poder contar com uma plataforma anti-terrorista eficaz.
“O que não se disse e todos sabiam era que um presidente não podia perder uma guerra nem fazer ver que a estava perdendo. Obama disse que seria necessário trabalhar durante cinco anos e propunha considerar outras prioridades nacionais.”
Fidel Castro Ruz
11 de outubro de 2010
18h00
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