sábado, 8 de fevereiro de 2020

Não temos pobreza extrema em Cuba, afirma diplomata cubano no Brasil

Leia discurso de Pedro Monzon Barata, Cônsul de Cuba em São Paulo, durante as comemorações do 167º aniversário de nascimento de José Martí, do herói da independência cubana.
Discurso do diplomata em São Paulo no dia 31 de janeiro, em São Paulo | Foto: Consulado de Cuba
Estimado e honorável auditório, amigos,

Impossível ser exaustivo em nossos agradecimentos pela Vossa presença nesta recepção cubana, porém tentarei. Correndo o risco de tomar mais tempo do que gostaria.

Agradecemos a Presidência e trabalhadores da Casa de Portugal e em especial ao amigo Durval Goyos de Noronha por seu apoio;

Ao Luiz Alvaro Salles de Menezes, Secretário de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo e sua equipe de trabalho;

Ao Presidente do Grupo Consular Latino-americano e do Caribe, Marco Larrea Monard e ao Corpo Diplomático presente;

Ao Presidente da Câmara Empresarial Brasil-Cuba, Vladimir Guilhamat:

Aos empresários e representantes de linhas aéreas brasileiras, a Havanatour, Sanchat Tours e CVC;

Ao Deputado Alexandre Padilha e Sra Monica Valente, Diretora Executiva do Foro de São Paulo;  representantes do MST; e empresários brasileiros;

Ao Presidente de TV Cultura, Jose Roberto Maluf, aos jornalistas e editoras;

Às Diretorias dos indispensáveis Comitês de Solidariedade a Cuba;

Aos dirigentes da Associação de Cubanos Residentes no Brasil; ao Presidente da Ordem de Parlamentares de São Paulo, Leonel Aguiar, aos partidos e políticos amigos representados;

Ao Presidente da Câmara de Comércio do Mercosul, Miguel Lujan Paletta;

Ao Presidente da União Brasileira de Escritores, Ricardo Ramos Filho; aos Presidentes do Sindicato da Construção e da CTB;

Aos representantes de universidades, intelectuais, escritores e religiosos;

Aos indispensáveis Comitês de Solidariedade a Cuba, aos lideres da Associação de Cubanos Residentes no Brasil e sua Presidente Maria Magdalena Torbisco;

Ao representante da Policia Civil e aos bons amigos que não estão presentes fisicamente como Frei Betto e Fernando Morais;

A Isaura Guzmán, que organizou hoje um pequeno espetáculo cultural, aos bailarinos que ganharam o Concurso de dança cubana e a meus colegas do Consulado Geral de Cuba em São Paulo.

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Estimados convidados:

O 1 de janeiro de 1959 triunfou a Revolução Cubana. Tudo em Cuba mudou radicalmente seguindo os princípios éticos, políticos, de justiça social, independência nacional e solidariedade humana derivados do pensamento e ação do apostolo da independência cubana, Jose Martí, que foram a guia de todos nossos Heróis e, especialmente, o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro.

Hoje no 167 aniversário de seu natalício, nossa melhor homenagem são os frutos obtidos por Cuba durante mais de 60 anos de governo revolucionário no qual a resistência e o desenvolvimento se apoiou em uma férrea unidade e na máxima de Jose Martí de que “Trincheiras de ideias valem mais que trincheiras de pedras”.

Cuba, antes do 1 de janeiro de 1959, se caracterizava por uma extrema polarização da riqueza; baixos níveis de educação e níveis altos de analfabetismo; um sistema de saúde que não era realmente público, senão que privilegiava às elites minoritárias; o racismo e a discriminação da mulher, profundamente enraizados; o predomínio de latifúndios improdutivos e a exploração e pobreza do camponeses; o desemprego crônico; a proliferação de cidadelas insalubres e miseráveis, que constituíam as moradias e o âmbito de vida de uma parte importante da população; a repressão policial e militar asfixiantes; a falta de independência nacional; a existência de uma economia não diversificada, subordinada aos Estados Unidos e as máfias que se infestavam neste país, cultivando um insano vicio aos jogos de azar, as drogas e o desenvolvimento da prostituição. A penosa imagem de Cuba era essa que, naturalmente, salpicavam com as virtudes de sempre, como as lindas praias e natureza, o rum, o tabaco cubano e nossas belas mulheres.

O triunfo da Revolução modificou esta triste realidade. Por isso, agora, depois de mais de meio século de uma política consistente e consequente, Cuba se distingue por uma imagem digna e respeitável (mesmo entre inimigos) e por desfrutar de direitos humanos tangíveis, cuja existência pode comprovar se através de organismos internacionais especializados. Fatos não palavras. Martí disse sempre “fazer é a Melhor Maneira de Dizer”

Quadros do presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, do líder da Revolução, Fidel Castro, de José Martí, herói da independência e  do ex-presidente de Cuba, Raul Castro | Foto Consulado de Cuba
Mencionarei sinteticamente algumas dessas conquistas:

• Alto desenvolvimento educacional da população em pleno, que assegura que, absolutamente, todos os cubanos tenham acesso gratuito a todos os níveis de ensino, incluindo à especial, para crianças com deficiência, e a pós-graduada.

• Um sistema também gratuito de saúde, altamente sofisticado, que abrange a toda a população nacional e é suficiente para ajudar a muitos países do mundo, já que temos vontade e o mais alto indicador de médicos por cidadãos do mundo. Precisamente, não há precedentes históricos que se comparem com o esforço solidário que Cuba presta ao planeta em diferentes esferas sociais, especialmente na medicina. Esta benfeitoria política descansa no conhecido pensamento martiano que rejeita visões egoístas, nacionalistas e materialistas, ao assumir a convicção de que “Pátria é Humanidade” e que “Ajudar quem precisa não só parte do dever, mas também da felicidade”.

• Temos um dos mais baixos indicadores de HIV no mundo e mantemos a condição de pais livre da transmissão materno-infantil de HIV e a sífilis congênita, outorgada a Cuba em 2015, como primeiro país do mundo a alcançar esta importante meta, o que foi ratificado recentemente pela Organização Mundial da Saúde.

• Nossa ilha tem um desenvolvimento cientifico muito notável, que está a nível dos países mais desenvolvidos, e deu lugar ao crescimento de um setor biotecnológico de ponta, que produz medicamentos, vacinas e tratamentos únicos para doenças comuns e contra o câncer de pulmão, próstata, pescoço e cabeça, entre outros. Criou outros muitos produtos e sistemas para o benefício da saúde que garantem, por exemplo, a inexistência critica de doenças tropicais em Cuba e a cura do vitiligo. Cuba desenvolve produtos contra o Parkinson e o Alzheimer. É o primeiro país de América com controle sobre a diabetes prolongada e o desenvolvimento exitoso do medicamento para o tratamento do chamado pé diabético, evitando amputações, que são subprodutos da diabetes.

• Temos uma taxa de mortalidade infantil mantida abaixo de cinco por cada mil nascidos vivos, indicador que ratifica a Cuba entre as primeiras 20 nações do mundo e em primeiro na região das Américas.

• A mortalidade por malformações congênitas é de 0, 9 falecidos por cada mil nascidos vivos, como resultado do desenvolvimento e aperfeiçoamento de uma abrangente Rede de Genética.

• No mundo em desenvolvimento existem uns 146 milhões de crianças menores de cinco anos com baixo peso, o que contrasta com a realidade dos bebes cubanos, reconhecidos mundialmente por estar a parte desse mal social. Foi declarado por instituições oficiais internacionais que em Cuba há 0% de desnutrição infantil.

• A expectativa de vida ao nascer do cubano é de 78,45 anos; uma das mais altas do mundo.

• Em Cuba se respeita o direito ao emprego, se extirparam as raízes do racismo e se colocou fim à discriminação à mulher. Nossa segurança social é justa e protege especialmente os menos favorecidos.

• Não temos pobreza extrema. Não há pessoas vivendo nas ruas, muito menos crianças. Todas as crianças vão a escola diariamente, limpos, alimentados e devidamente uniformizados.

• Em Cuba as drogas e a prostituição não constituem problemas sociais há muitos anos.

• Apesar de que nosso povo têm uma historia de rebeldia permanente, em Cuba não há manifestações públicas significativas contra o sistema e o governo; muito menos repressão, como existia antes da Revolução e como se a visto em outros países do mundo. A causa é que a grande maioria do povo apoia o sistema e o Governo. E se não fosse assim, a Revolução haveria caducado há muito tempo. O único lugar onde ainda há tortura em Cuba, depois do triunfo revolucionário, é na Base Naval de Estados Unidos situada no usurpado território cubano de Guantánamo.

• Por todo o anterior, Cuba é um dos países mais seguros do mundo, com um nível de delinquência mínimo, onde as crianças brincam livremente nas ruas e os adultos caminham a qualquer hora por lugares públicos, sem perigo. Somos também um dos países mais estáveis do planeta. Esta realidade é comprovada e aproveitada diariamente por turistas que nos visitam, incluindo os brasileiros.

• E por tudo isso, que nosso ilha têm o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano Sustentável do Planeta, reconhecido internacionalmente.

Repito: “Fazer e a melhor maneira de dizer”
Embaixador Pedro Monzón Barata | Foto: Consulado de Cuba
Agora bem, estimados convidados, amigos,

Não estamos, nem muito menos, satisfeitos. Conhecemos nossas deficiências e estamos introduzindo com muita velocidade mudanças na sociedade para ser mais eficientes, menos burocráticos, mais modernos e mais democráticos.

Os efeitos destas mudanças já são observadas, porém tem um teto, um limite fundamental, no bloqueio econômico, comercial e financeiro mantido pelos EUA contra Cuba, que dura já 60 anos e que se foi endurecido brutalmente depois do inicio do governo Donald Trump, quem reverteu as, ainda pálidas, transformações políticas que começou a introduzir o ex-presidente Obama. Nos dois últimos anos deste governo foram aprovadas mais de 240 novas sanções inéditas contra a Ilha que buscam asfixiar nossa economia e castigar ao povo cubano. Na pratica é aprovada uma medida anti-cubana semanalmente, que têm incidência grave sobre nossa economia.

Parece, simplesmente, incrível que Cuba tem alcançado as conquistas relacionadas antes, e outras que não mencionei, apesar deste assédio que têm um alcance francamente extraterritorial. Parece também surpreendente que, apesar disso, o orçamento do nosso país continue dando absoluta prioridade aos benefícios sociais nacionais.

Nossa única alternativa é continuar resistindo e progredir tudo o que seja possível, porque há muito tomamos nossa decisão, segundo a alternativa que nos deu o apóstolo José Martí, e cito: “a liberdade custa muito cara e, ou nos resignamos a viver sem ela, ou nos decidimos a pagar seu preço”. Temos a satisfação de que a imensa maioria dos países do mundo, com exceção de 3 governos (eram 2, se agregou mais um na última sessão da Assembleia Geral desta organização), se pronunciaram ano a ano contra esta nefasta política estadunidense, que se justifica com mentiras atroz, que impunemente e sem princípio ético algum se promovem pelos meios de comunicação. Temos também o apoio de muitos povos que se expressam através de organizações de solidariedade e a eles se junta dignamente o Brasil.

Estimados convidados

Os cubanos e os brasileiros se parecem muito. Temos quase a mesma genética histórica, étnica, cultural e religiosa, simpatias mútuas e as poucas diferenças não fazem mais que enriquecer nossas relações. Cuba desfruta em promover, ainda mais, estes vínculos que incluem a atenção e o apoio a talentosa migração cubana no Brasil. Esse é o propósito do trabalho de nossas missões diplomáticas neste colossal país da América do Sul.

O intercâmbio cultural, esportivo, científico, na medicina, na biotecnologia, na educação e outros setores sociais, mutuamente benéficos, continua e continuará, saltando armadilhas. Nossas relações com instituições, funcionários do Governo e Estados são fraternais, avançam e trabalhamos para que cada vez tenham mais resultados concretos. No âmbito econômico nos congratulamos por haver intercâmbios com muito mais de 200 empresas privadas brasileiras, que negociam ou desenvolvem investimentos em Cuba, onde contam com segurança, estabilidade, compromisso, uma força de trabalho disciplinada, instruída e culta, e cada vez maiores oportunidades.

Público durante o evento | Foto: Consulado de Cuba
O turismo brasileiro para Cuba é uma via muito sedutora e convincente para conhecermos ainda mais. Nos últimos anos seu crescimento foi fulminante, mesmo quando devido a problemas econômicos locais e restrições do bloqueio dos cruzeiros que viajam a Cuba, decaiu relativamente em 2019. No entanto, neste terreno, os espaços que estão abertos são muito grandes. Cuba é um país mágico, com uma historia riquíssima, belezas humanas, naturais, arquitetônicas e serviços de saúde, em um ambiente muito amistoso e seguro, que são atrativos difíceis de resistir para o mundo e, especialmente, para os irmãos brasileiros.

Os cubanos, embora que estejamos preparados para tudo, somos otimistas e vivemos convencidos de que os obstáculos atuais terminarão e por enquanto, encontraremos alternativas para continuar avançando, tanto em geral como nas relações bilaterais com Brasil.

Esse é o nosso espírito martiano, queridos amigos.

Muito Obrigado.

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