terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Chefe da diplomacia cubana no Brasil: Em Cuba construímos uma sociedade humana e solidária

Em 2020 Cuba manterá o caráter eminentemente social da revolução, garantindo os serviços básicos universais e gratuitos de educação, saúde, cultura e esportes.
Rolando Gómez Gonzáles, Encarregado de Negócios da Embaixada de Cuba no Brasil | Foto: Embassy
Do Vermelho

Em discurso no último dia 28, em Brasília, na solenidade promovida pela embaixada cubana em comemoração ao 61° ano da Revolução e ao 167° aniversário de José Martí, Rolando González, encarregado de negócios da embaixada de Cuba no Brasil, fez uma ampla denúncia do bloqueio promovido pelos EUA, rechaçou as “mentiras e calúnias” sobre seu país.

González, chefe da missão diplomática cubana (desde o golpe contra a presidenta Dilma, em 2016, Cuba não mantém um embaixador em território brasileiro) reafirmou, durante sua fala, a importância dos laços que unem cubanos e brasileiros: “nenhum propósito obscuro e servil poderá prejudicar a infinita amizade que une os povos de Cuba e do Brasil. Poderão vir etapas e desencontros que serão momentâneos, mas jamais se imporão os anseios minoritários de nos ver distantes e separados”.

Rolando informou que, apesar do bloqueio, Cuba busca meios para avançar: “Não nos interessa só resistir, o desafio é conquistar a maior prosperidade e bem-estar possíveis”.

O diplomata revelou que Cuba destinará, em 2020, 72% do orçamento nacional “à educação, à saúde, à assistência e previdência social, à cultura e ao esporte” e revelou plena confiança de que o imperialismo não atingirá seus objetivos: “Se o império pretende denegrir o socialismo afogando qualquer esforço de desenvolvimento de Cuba, nossa nação está, justamente, demonstrando o contrário: graças ao socialismo, ao planejamento socialista, ao ideário socialista, construímos um país onde a sorte de todos importa a todos, uma sociedade humana, educada, solidária e justa na medida em que pode sê-lo uma nação do terceiro mundo que tem escassos recursos naturais e cercada pelo mais poderoso império da história”.

 Leia, abaixo, a íntegra do discurso.

Estimados convidados,

Comemoramos hoje, com muito entusiasmo e otimismo, o aniversário 61 da Revolução Cubana e o aniversário 167 do natalício de nosso herói nacional José Martí.  Constitui para nosso país um extraordinário privilégio ter podido contar em sua história com homens como Martí e Fidel, seu mais ilustre discípulo. A ética, a moral, a decência, a bondade e os valores e princípios incorporados por ambos, devem ser a cada dia mais conhecidos, pelo bem e pela sobrevivência da humanidade.

Encerramos um ano 2019 muito difícil, com o bloqueio e a escalada norte-americana contra Cuba recrudescidos a níveis criminosos com ações inéditas que causaram muitos prejuízos e limitações a nosso povo.

Não passa uma semana sem uma medida do mandatário norte-americano para asfixiar nossa economia. Não há uma área livre da perseguição, prejudicando, inclusive, a terceiros, como uma prática de verdadeiro terrorismo econômico. Essa prática genocida acompanha-se de ameaças, calúnias, acusações falsas e pretextos absurdos à maneira e uso do nazismo e de Goebbels, que nestes dias vem sendo muito mencionado no Brasil.

Procuram sabotar o comércio exterior, os pagamentos e as cobranças de Cuba e atrapalhar o comércio nacional. Outra conduta sem precedentes foi a ameaça contra empresas que transportam petróleo para Cuba tentando nos deixar sem combustível.

Trump interrompeu a chegada de cruzeiros a Cuba, fez novas proibições das remessas para famílias cubanas e deteve os voos dos Estados Unidos às províncias do país, com exceção de Havana. Nossos inimigos alegam que “o bloqueio é dirigido ao governo” e isso é uma mentira, pois prejudica todos os atores da economia e da sociedade Cubana.

As medidas adotadas pelo governo dos EUA prejudicaram o serviço de transporte público e provocaram uma diminuição no ritmo de investimentos em algumas atividades como a agricultura. O bloqueio atrasa o progresso de nosso país, dói, insulta e irrita. mas um império que isola, é um império que termina isolado e derrotado.

Como disse, recentemente, nosso presidente Miguel Díaz-Cañel e, cito: “no auge da maldade e na tentativa de fechar a Cuba qualquer via de acesso aos recursos financeiros, lançaram uma cínica e criminosa cruzada contra a cooperação médica internacional, acusando nosso país de suposta escravidão moderna e tráfico de pessoas, que trabalham em nosso sistema de saúde – dizem eles –  com fins de exploração ou de alegada ingerência desse pessoal, nos assuntos internos dos estados com os quais é mantida essa colaboração. Ao mesmo tempo, eles tentam restabelecer o denominado programa de parole para profissionais médicos cubanos, com o aberto objetivo de sabotar nossos convênios bilaterais, privar às nações desses serviços e desprover-nos de recursos altamente qualificados em um país bloqueado há seis décadas”. Fim da citação.

Tentam semear uma matriz goebeliana, ao pior estilo dos anos do nazismo alemão, no caso de Cuba para manter a política genocida de bloqueio, condenada por 187 estados, a esmagadora maioria do planeta, no passado 6 de novembro na assembleia geral das nações unidas. Apenas 3 países apoiaram essa genocida política, os Estados Unidos, Israel e depois de uma mudança de 29 anos, o governo Bolsonaro.

Criticar, mentir, denegrir o trabalho de nossos médicos, dos quais mais de 400 mil prestaram seus serviços qualificados e altamente avaliados em mais de 100 países, incluindo o povo brasileiro, ao qual não podem enganar, em particular aos que deles se beneficiaram, é só concebível em mentes doentes de ódio e vileza. Como foi possível atacarem programas que salvaram tantas vidas e curaram tantas doenças, nos mais remotos, difíceis e perigosos lugares, como fizeram aqui, no Brasil?

Por outro lado, é publicamente reconhecido que a administração estadunidense financia 120 milhões de dólares para levar avante os planos subversivos contra a ilha.

Em razão desta guerra contra Cuba há 6 décadas, ilegítima e imoral, que contravém todos os acordos internacionais da relação entre países soberanos, decidimos resistir e defender-nos, manter nossas conquistas sociais e avançar no terreno econômico, a despeito do bloqueio, da crescente subversão, da adversidade e desastres provocados por fenômenos naturais como furacões e tornados, cada vez mais devastadores.

José Martí dizia que: “nem povos nem homens respeitam a quem não se faz respeitar (…) homens e povos vão por este mundo enfiando o dedo na carne de outrem para ver se é mole o se resiste, e tem que pôr a carne dura, de jeito a jogar fora os dedos atrevidos”.

Toda a nossa história foi construída sobre firmes pilares de resistência contra tentativas anexionistas e contra a intromissão imperial, não apenas em nosso próprio destino, senão nos destinos de toda nossa américa e de todos os povos que lutam por sua soberania.

Fomos educados por Fidel e por Martí na solidariedade e no internacionalismo sem fronteiras, na máxima martiana de que pátria é humanidade.

Díaz-Cañel, recentemente apontava e, cito: “para Cuba, o desafio é colossal. A hostilidade desproporcionada do atual governo norte-americano viola o direito internacional e as normas de navegação e comércio obrigando-nos a enfrentar sérias dificuldades no abastecimento de combustível. O bloqueio é recrudescido com a ativação do título III da lei Helms-Burton, através do qual o governo norte-americano incorre em massivas violações dos direitos humanos dos cubanos, prejudica simultaneamente empresas internacionais e de países terceiros soberanos. Contudo, tais ameaças não nos paralisam nem nos desviam de nosso curso. Estamos prontos a encarar as consequências de uma campanha eleitoral nesse país, que possa provocar a intensificação do curso de confronto com Cuba e com mais outros países irmãos”. Fim da citação.

Na batalha que travamos e trava a humanidade por um mundo melhor, o que Fidel sempre repetiu como um objetivo prioritário, prossegue sendo fundamental: semear ideias e valores, criar consciências e mobilização popular, unir forças. Acima de tudo, ficar unidos; em toda nossa diversidade.

Em 2019 também houve muitas razões importantes para festejo e celebrações em Cuba, como a nova constituição cubana, debatida com o povo e submetida a um referendo nacional em um exercício democrático digno de ser imitado. O triunfo acima mencionado na ONU com uma votação quase unânime contra o bloqueio e a celebração dos 500 anos de Havana com grande alegria e entusiasmo. Além disso, como disse nosso presidente, em 2019 “nos atiraram para matar e estamos vivos“. Cuba cresceu seu PIB em 0,5%, modesto, mas sustentado e temos previsto crescer 1% neste ano com grandes desafios. Temos como prioridade a reordenação monetária do país, que está numa avançada fase de estudo e aprovação.

O ano 2020 será igualmente duro para Cuba, mas apesar das restrições, manteremos o caráter eminentemente social da revolução, garantindo os serviços básicos universais e gratuitos de educação, saúde, cultura e esportes, bem como a defesa e a ordem interna do país. Será igualmente assegurada a continuidade do aumento parcial do salário no setor orçamentado e das aposentadorias da previdência social. Nosso orçamento crescerá 10,5% e, dele 72% será dedicado à educação, à saúde, à assistência e previdência social, à cultura e ao esporte. Os investimentos serão destinados essencialmente aos programas de moradia, às infraestruturas, em particular às fontes renováveis de energia, ao setor turístico, ao combate à seca, à educação e à saúde.  Não nos interessa só resistir, o desafio é conquistar a maior prosperidade e bem-estar possíveis.

Se o império pretende denegrir o socialismo afogando qualquer esforço de desenvolvimento de Cuba, nossa nação está, justamente, demonstrando o contrário: graças ao socialismo, ao planejamento socialista, ao ideário socialista, construímos um país onde a sorte de todos importa a todos, uma sociedade humana, educada, solidária e justa na medida em que pode sê-lo uma nação do terceiro mundo que tem escassos recursos naturais e cercada pelo mais poderoso império da história.

Em nome de Cuba lhes ratificamos que seguiremos sendo firmes e leais revolucionários, dignos de nossos pais e que não cederemos um milímetro na defesa da independência, da soberania e da justiça social, nem renunciaremos à solidariedade com os povos que lutam e resistem.

Nada, nenhum propósito obscuro e servil, poderá prejudicar a infinita amizade que une os povos de Cuba e do Brasil. Poderão vir etapas e desencontros que serão momentâneos, mas jamais se imporão os anseios minoritários de nos ver distantes e separados.

Neste novo aniversário do nascimento de nosso herói nacional, José Martí e de nosso aniversário 61 do triunfo da revolução, lembramos e homenageamos o apóstolo com mais compromisso e firmeza ideológica, como bússola permanente orientando-nos o caminho, a luta e o dever para com a pátria e a humanidade. Martí e Fidel constituem a alma moral e a guia para levar-nos a um mundo melhor, mais justo, mais humano, mais ético e mais solidário, pelo qual Cuba, com profunda convicção, continuará lutando com total determinação e até as últimas consequências.

Muito obrigado.
Embaixador discurso durante evento | Foto: Vermelho 
Estiveram presentes na solenidade promovida pela embaixada cubana o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senador Fernando Collor de Mello bem como diversos embaixadores, diplomatas e convidados de países e organizações amigas de Cuba. 

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