quarta-feira, 28 de novembro de 2018

"O povo cubano não dá o que sobra, compartilha o que tem", diz médica cubana ao deixar o Brasil

Marílyn (cabelos claros), se despede ao lado das amigas médicas | Foto: Lucas de Souza/RBA
Por Gabriel Valery na Rede Brasil Atual 

Cuba mantém 50 mil médicos espalhados por 67 países. Eles se despedem temporariamente de suas famílias para trabalhar nas áreas mais carentes, muitas vezes em conflito. Em terras estrangeiras, compartilham conhecimento e solidariedade.

Deixam marcas nas vidas dos pacientes e, ao retornar para a ilha caribenha, são recebidos como heróis. Geralmente, levam anos para cumprir suas missões. No Brasil, algumas dessas histórias, trazidas pelo Programa Mais Médicos, foram interrompidas de forma precoce.

É o caso de Marílyn Gonzalez Galloso, que deixou o país na madrugada desta terça-feira (27), depois de menos de um ano de trabalho em São Paulo. “Vou chorando e outros choram comigo. Deixei muitas pessoas que precisavam de nós”, conta. Ela atuou no município paulista de Andradina, a mais de 600 quilômetros da capital. Uma das primeiras a chegar no aeroporto, de uma leva de mais de 200 cubanos que deixaram o país, Marílyn mostrou pesar por partir e chegou a perder a voz, emocionada, ao lembrar de seus pacientes brasileiros.

“Vou embora agora com muita dor. Deixamos uma população carente de médicos. Mais do que médicos, humanistas. Médicos que precisam posar as mãos nos ombros das pessoas, conhecer suas dificuldades, suas necessidades, e não apenas suas doenças.”

Durante a formação em medicina, os cubanos têm treinamentos específicos para um cuidado mais próximo do paciente. Eles passam por experiências em medicina comunitária, familiar. “A diferença é muito grande”, afirma Marílyn sobre o trato dos profissionais cubanos.

“Não falo só do Brasil. O médico cubano é humanista, pergunta pela necessidade do paciente (…) No tempo em que trabalhei com a população brasileira, notaram a diferença.”

Homenagens brasileiras:


A médica lembra com carinho e pesar de uma paciente em especial. “Ontem, me ligou uma mulher que está grávida de 35 semanas. Ela tem data provável de parto para o Natal, dia 25 de dezembro. É a terceira gravidez dela. Nas outras duas, perdeu a criança. Ela sofre de um processo clínico que a leva ao aborto. Depois que começamos a cuidar dela, ela melhorou, está muito bem. Ela vai colocar meu nome em sua filha.”
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Ao lamentar que não deve conhecer a criança que ajudou a viver, Marílyn alterna entre a emoção de partir e o sorriso de dever cumprido. O caso também a faz lembrar de sua filha, que mora em Havana e tem 15 anos. “Ela está me esperando”, diz ao mostrar fotos da menina. “Ela está estudando e também quer ser médica”, completa.

O Brasil não foi o primeiro país em que Marílyn cumpriu com sua missão. Em sua bagagem, a experiência de passar por países como Bolívia, Nicarágua e Venezuela. “Saio sempre com a satisfação de ter dado o melhor de mim”, afirma. Sobre a saudade de sua filha, sua família, durante suas jornadas, a médica afirma que eles entendem e ela assim faz por responsabilidade.

“Minha família sabe da minha responsabilidade e eles podem esperar por meu abraço, meu carinho. Minha família está consciente da minha razão de ser, de meu amor pela minha profissão. Mesmo longe, eles têm todo o meu carinho e amor.”

Marílyn ressalta a solidariedade do povo cubano e a importância disso para a construção da identidade daquele povo. “Tive o prazer de ter o melhor presidente do mundo, Fidel Castro. Tive a oportunidade de abraçá-lo três vezes. Ele ensinou a todo o povo cubano que precisamos dar carinho. O mundo está carente de médicos e Fidel me formou para isso. O povo cubano não dá o que sobra, compartilha o que tem.”

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