segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Exército de jalecos brancos mudou a história da saúde no Brasil

Marcio Vitor Leite, brasileiro estudante de medicina em Cuba | Foto: Hugo García/Juventud Rebelde

Em entrevista ao diário cubano de notícias Juventud Rebelde, o nordestino Marcio Vitor Bringel Leite, que está se graduando em Medicina pela Universidade de Ciências Médicas Juan Guiteras Gener, em Matanzas, em Cuba, comentou as imposições do futuro presidente Jair Bolsonaro que levou ao encerramento da participação dos médicos da Ilha no programa Mais Médicos.

Bringel Leite, que é secretário de relações internacionais da Federação de Estudantes Universitários (FEU) da universidade, também falou das dificuldades de acesso a profissionais de saúde na cidade natal, a decisão de estudar em Cuba e suas perspectivas no retorno ao Brasil.

Confira trechos da entrevista ao Juventud Rebelde:

JR – Há médicos cubanos em sua cidade natal?

Marcio Vitor Bringel Leite – Na meu estado havia 437 médicos cubanos, que cuidavam de uma população de 11 milhões de pessoas. Santa Inês é uma cidade de 80 mil habitantes e oito médicos cubanos trabalharam lá. Dois na cidade e os outros seis nos municípios, isto é, nos campos como se diz em Cuba. Muitos deles precisam pegar barcos para atravessar rios e atender moradores de aldeias indígenas, lugares onde os médicos brasileiros não querem trabalhar.

JR – O que significa a retirada dos cubanos do ponto de vista social?

Quem perde é o povo brasileiro, por causa das declarações do presidente eleito, que duvida da capacidade e da qualidade da formação dos médicos cubanos. Em cinco anos, como parte do Programa Mais Médicos, mais de 11 mil médicos cubanos foram para o Brasil e, naquela época, o povo brasileiro demonstrou 98% de aceitação dos serviços prestados pelos médicos cubanos.

A mortalidade infantil diminuiu, um marco muito importante no programa Mais Médicos. Agora, de volta os mais de 8 mil médicos tenho certeza que vão deixar uma grande marca no meu povo, naqueles lugares onde os graduados médicos no Brasil não querem chegar, como a Floresta Amazônica, lugares onde doentes raramente tem acesso a médico, e que apenas médicos cubanos chegam. E é por isso que o povo brasileiro vai sofrer e sentir muito a ausência dos médicos cubanos.

JR – Por que você escolheu estudar aqui?

Eu sou do Partido Socialista Brasileiro e, através de um acordo que temos com a Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM) e com a revolução cubana, tive a oportunidade de uma bolsa para estudar medicina em Cuba.

Sabemos que a medicina cubana é preventiva e, academicamente, uma das melhores do mundo. Quando voltar, levarei ao meu país o espírito revolucionário e tudo que aprendi em Cuba, porque o povo cubano, embora humilde, compartilha o pouco que tem. Vou levar o nome de Cuba e a revolução cubana para onde for.

JR – Como você avalia o ensino cubano?

Eu considero a carreira de medicina de alta qualidade e no processo avaliação da carreira de medicina na Faculdade de Ciências Médicas acho que fui bem.

Estudei dois anos na ELAM, que tem ótimos professores, com prêmios internacionais. Aqui em Matanzas também temos excelentes professores.

As declarações do presidente eleito no Brasil não concordam com os resultados do trabalho dos médicos cubanos em meu país. Meu povo se entristece com a retirada dos médicos cubanos, que mudaram a história da saúde em meu país.

Aqui temos aulas práticas desde o terceiro ano. No Brasil em muitas universidades um estudante de medicina reconhecerá um paciente apenas no sexto ano. É uma diferença muito grande.

JR – Você conheceu um médico cubano durante suas férias?

Meu pai, que trabalha em uma prefeitura, me apresentou dois médicos cubanos, um de Villa Clara e outro de Cienfuegos, que acordou às cinco da manhã a bordo de um carro que os levou à margem do rio, onde eles iam de barco até uma pequena cidade chamada Castillo, de cerca de cinco mil habitantes.

Meu pai me contou que a população é muito triste porque não tem acesso a médicos, então, para qualquer cuidado tem que viajar de barco até a cidade, onde não há médicos, já que os outros dois cubanos também retornaram.

Conversei muito com esses médicos e eles me disseram que o povo brasileiro os acolheu com muito amor, porque sabiam que estavam lá para ajudar os mais vulneráveis.

Eu cheguei aqui em 2011 e o Mais Médicos é de 2013, então a mesma dificuldade que eu teria antes eu terei agora, que é revalidar o título [de médico].

JR – O que Fidel significa para você?

Sou muito grato ao comandante em chefe Fidel, aprendi a amar a revolução, esta terra e seu povo que me acolheu com muito amor. Graças a Fidel, poderei realizar meu sonho de ser médico, de ciência e consciência, como ele disse.

Fidel colocou Cuba em um lugar de prestígio no mundo. Por sua contribuição à teoria e prática revolucionárias e desenvolvimento humano e social, e demonstrou que um mundo melhor é possível. Eu não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, mas ele é um homem muito importante na minha vida, porque vou me formar como médico.

Em breve, voltarei ao Brasil onde levarei o espírito revolucionário que Fidel nos ensinou. O povo brasileiro aprendeu mais sobre a revolução cubana quando viu um exército de jalecos brancos mudar a história da saúde brasileira. Após cinco anos do programa Mais Médicos houve a redução da mortalidade infantil quase pela metade.

Os médicos cubanos estiveram nos lugares mais difíceis, como as favelas e a floresta amazônica. Eu gostaria de abraçar todos os médicos que retornam a Cuba, porque o governo cubano não está disposto a vender os princípios sagrados da Revolução Cubana.

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