quarta-feira, 23 de março de 2011

Sob as barbas de Fidel, por Pedro Salim Júnior

Por Pedro Salim Júnior
Crônica publicada no jornal "O Norte Fluminense", de Bom Jesus do Itabapoana (RJ), a respeito de sua viagem a Cuba, em janeiro, durante a 2 Caravana Cultural à Ilha


Confesso que não escolheria Cuba como lugar para minha primeira viagem internacional. E não me arrependi. Não esperem aqui um libelo ao País ou uma ode aos sucessos alcançados pelo Regime. Na verdade, Cuba é mais uma viagem para dentro de nós mesmo e uma revisão de nossos conceitos estabelecidos e sacramentados. Cuba é um lugar para ir desarmado, até porque já se passaram mais de 50 anos da revolução. Um conselho, se você for para lá somente para chegar a conclusão que você
gosta mesmo é de hambúrguer e loja de 1.99; fique por aqui. Você será mais um turista chato e impertinente. Junte seus dólares e vai encontrar com o Mickey.


Eu não fui para fotografar guerrilheiros ou ficar sabatinando as pessoas se elas gostam ou não de viver no país. Foi uma opção minha. Não quis levantar bandeiras socialistas nem quis ficar buscando detalhes para críticas ao regime cubano (apesar delas existirem e merecerem discussão). É que todas as informações que tinha sobre Cuba eram tão definitivas, que quando me deparei com coisas encantadoras, eu
não sabia se podia simplesmente gostar sem a ausência da culpa. Coisas que às vezes o sagrado e o imperialismo tenham retirado da minha retina durante minha formação. Aprendi que o que vale mesmo é abrir a Muralha para as coisas belas, como o diz o poeta cubano Nicolas Guillen. Vi um povo alegre, simpático, agradável e devoto das telenovelas brasileiras. Era então o fim de “A Favorita”. Vi uma capital limpa e sem poluição visual, Livre do aviltamento dos out doors e da propaganda invasiva.

Admirei os carros antigos pelas ruas e um clima retrô anos 50 impregnado nos hotéis e cafés de Havana. Não tenham a ilusão de que tudo lá é um “mar de rosas”,
mas tenham certeza; lá o mar é do Caribe. Lamento, não optei pelos tradicionais charutos, questão de escolha. Cuba é mais que isso. Não carregar pelas ruas o peso da violência de uma capital já é uma grande vantagem. Não encontrei o medo, nem o arroz cubano como se faz por aqui. Andar de Coco Táxi é no mínimo divertido. A presença de Gino é bastante significante no grupo, que com seu entusiasmo contagia até os mais desavisados. Cuba oferece tudo que os turistas buscam; comida,
diversão e arte. E na mesma linha da poesia dos Titãs encerro: “Solo
quiero saber lo que puede dar cierto no tengo tiempo a perder” . E muita
coisa deu certo.

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