quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Cuba, potência mundial no setor biotecnológico

Biotecnologia é um setor fundamental para a saúde do povo cubano e para o desenvolvimento 
da economia socialista | Foto: Cuba Debate
Por Gretel Marrero no Brasil de Fato

O setor biotecnológico em Cuba começou a se fortalecer a partir da década de 1980. A Revolução Cubana entendeu desde cedo a importância da biotecnologia como um setor fundamental para a saúde do povo cubano e para o desenvolvimento da economia e, por isso, colhe hoje os frutos da criação do polo científico. Instalações como o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB), o Centro de Imunologia Molecular (CIM), o Centro de Imunoensaio (CIE) e o Centro de Neurociências (CNEuro) tornaram-se referências internacionais.

Quase quatro décadas de esforço aumentaram o portfólio de produtos biotecnológicos cubanos, voltados para as principais doenças. O país conta hoje com mais de 30 produtos contra doenças infecciosas, como o Heberviovac HB, a vacina pentavalente, Vax-Tyvi e a vacina de Bacilo de Calmette-Guérin (BCG), que é usada para tratamento preventivo contra hepatite B, difteria, coqueluche, tétano, febre tifóide, tuberculose, entre outras doenças, com um impacto substancial na diminuição da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida.

Cuba foi vanguarda também no diagnóstico e tratamento do câncer, doença que tem uma incidência cada vez maior no mundo. O emprego de medicamentos, como eritropoietina, filgrastim, nimotuzumabe, savax e racotumomab, melhorou a qualidade da saúde e de sobrevida dos pacientes. O câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer em todo o mundo. Cabe destacar que a vacina CIMAvax-EGF é primeira desse tipo contra o câncer de pulmão avançado e prolongou a vida de pacientes que tinham sido diagnosticados com expectativa de vida de seis meses a cinco anos.

A vacina é utilizada na atenção primária de saúde em Cuba. Em outras regiões, como Europa, China e Estados Unidos, ela está em diferentes fases de teste clínico. Em parceria com o Instituto do Câncer Roswell Park, dos Estados Unidos, foi concluído um teste clínico que demonstrou que “os pacientes estadunidenses estão reproduzindo os resultados encontrados em Cuba”, o que sustenta ainda mais a eficácia e a segurança da vacina.

Cuba também possui um programa avançado para o atendimento integral de diabéticos, que inclui biofármacos inovadores, como o epocim, para o tratamento de danos nos rins causados ​​pela doença e o Heberprot-P, o único produto no mundo disponível para tratamento da úlcera diabética do pé, reduzindo o risco de amputação desse membro e com mais de 95% de eficácia nos casos tratados.

Doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, como o Alzheimer, também têm sido alvo de produtos biotecnológicos inovadores. O peptídeo CIGB 500 mostrou resultados encorajadores na restauração do dano do miocárdio, enquanto o Neuroepo apresenta efeitos neuroprotetores e/ou neurogenerativos nos testes pré-clínicos realizados.

Paradoxalmente, esse crescente desenvolvimento da biotecnologia em Cuba foi acompanhado por um bloqueio econômico, comercial e financeiro cada vez mais sufocante imposto pelo governo estadunidense. As limitações no acesso a matérias-primas, equipamentos, peças de reposição e tecnologias constituem expressões concretas de danos a esse setor. Cuba precisa adquirir esses produtos em mercados distantes, com o consequente aumento das despesas. Essa política de bloqueio genocida não afeta apenas o desenvolvimento científico, mas também priva outros países, inclusive os Estados Unidos, de receberem os benefícios dos produtos biotecnológicos e farmacêuticos desenvolvidos em Cuba.

Apesar da pressão constante do governo estadunidense para frear o avanço do setor de biotecnologia em Cuba, a ilha continua desenhando novas alternativas e estratégias de mercado que permitiram não apenas apoiar, mas desenvolver esse setor em altos níveis. A utilização de matérias-primas e diagnósticos gerados pelas instituições cubanas, a busca de novos fornecedores na Europa e na Ásia e o uso do potencial de investimento estrangeiro da Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel permitiram o surgimento de medicamentos únicos no mundo, como Heberprot-P e a vacina CIMAvax-EGF, que, juntamente com a criação de terapias para o tratamento de doenças do sistema nervoso central, câncer, hepatite B ou meningoencefalite, tornaram nosso país uma potência mundial.

Gretel Marrero é graduada em Farmácia pela Universidade de Havana. Foi professora do Departamento de Imunologia e Biotecnologia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Havana. Hoje atua como Terceira Secretária no Serviço Exterior de Cuba, no Consulado Geral de Cuba, em São Paulo.

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