sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Brasileira em Cuba: "Os cubanos amam Fidel"

Manifestante carrega retrato de Fidel Castro em ato em defesa da Revolução Cubana em 17 de julho de 2021 -
Foto:  Yamil Lage/AFP

Por Fabiana Cristina

Foi necessário um período de silêncio para assimilar a viagem a Cuba. Quem me conhece sabe que, desde minha adolescência, quando meus pais estiveram em Cuba em busca de tratamento médico para o vitiligo de minha mãe, conhecer Cuba era meu sonho. Mas, nunca quis viajar pra lá como uma turista qualquer, conhecer os principais pontos turísticos, tirar fotos e só. Eu queria conhecer Cuba e sua gente, de verdade! Entender o que realmente acontecia lá, para além dos preconceitos e distorções que nos chegam por aqui. 

Da adolescência pra cá, tantas vezes, sobretudo nos últimos tempos conturbados aqui no Brasil, não me chamaram de comunista e não mandaram ironicamente ir pra Cuba? Pois bem! Finalmente fui, vi com meus próprios olhos e guiada pelas mãos de um comunista de verdade, que viveu em Cuba, tanto as grandiosas conquistas da revolução, quanto as crueldades de um bloqueio que tenta, há décadas, sabotá-la. 

Sempre me perguntei: se o capitalismo e seu principal representante, a águia/abutre dos EUA, que se alimenta do que mata, têm tanta certeza do fracasso do socialismo, qual a necessidade de sabotá-lo? Sempre desconfiei que, por trás dessa aparente certeza, escondia-se um medo terrível do triunfo do socialismo em Cuba e que isso levasse ao colapso do sistema capitalista em outros países. 

A revolução não falhou! Pelo contrário! Há quase 60 anos, pesem todos os esforços dos EUA e seus asseclas em destruí-la, todas as dificuldades decorrentes do bloqueio e do fim da URSS e graças a um povo consciente, politizado e aguerrido, segue firme. 

As dificuldades com transporte, materiais para construção, tecnologia, entre outras, são todas frutos de um bloqueio cruel e covarde. E os cubanos têm plena consciência disto! 
Capitólio de Havana | Foto: Fabiana Cristina
O primeiro mito que veio por terra foi o de que Cuba vive sob uma ditadura. Piada pronta, vinda de brasileiros que vivem sob um governo ilegítimo [1], fruto de um golpe parlamentar ou de americanos, cujo presidente foi eleito sem ter a maioria dos votos. Cuba estava em processo de reforma constitucional e pude ver a convocação popular para o debate, por todos os lados. Reuniões sendo realizadas por todas as partes com a população para ideias e sugestões. A minuta da constituição sendo distribuída nas ruas para, o que é mais importante!, uma população que tem plenas condições de ler, compreender e apresentar propostas, graças à educação e cultura geral que possui! Tampouco há censura ou lavagem cerebral. 

Censura velada e lavagem cerebral nem tão velada assim, para quem desenvolveu um pouco de senso crítico, vivemos nós, que em nossos cinemas ou TV a cabo, por exemplo, só nos chegam, com raríssimas exceções, os enlatados americanos. Lá, chegam, além dos filmes americanos, filmes russos, chineses, checos, sul-americanos, dos quais nós jamais ouvimos falar. 

O segundo mito foi o do sectarismo, do fanatismo irracional por Fidel. Isso sempre foi algo que me preocupava um pouco. Essa coisa de idolatria. Mas, não foi o que vi. Os cubanos amam Fidel! Mas, não há nada de irracional nisso! Cada um deles sabe explicar exatamente o porquê desse amor, o porquê de serem, não exatamente comunistas, mas fidelistas! Esse amor nada tem de idolatria! Os cubanos têm profunda admiração, respeito e gratidão por um líder que foi capaz de garantir-lhes dignidade, uma educação e um sistema de saúde de qualidade, gratuitos e acessíveis a todos os cubanos, uma casa e um país onde não existe violência. Direitos básicos que, nos países capitalistas, só são garantidos a uma ínfima parte de seus cidadãos. A História não só absolveu Fidel, como lhe garantiu um lugar entre os grandes! Um homem que pertencia a uma família abastada e que, assim como Che, em vez de apenas usufruir das benesses da classe social à qual pertencia, optou por arriscar a própria vida lutando pelo triunfo de uma revolução e dos ideais nos quais acreditava (ao contrário dos “líderes” capitalistas, Fidel não enviou soldados para lutar sua guerra! Ele mesmo pegou em armas e lutou! Só isso já diz muito sobre ele!). Ouvi de vários cubanos histórias sobre Fidel, encontros pessoais que tiveram com ele, enquanto ele ia pessoalmente, de mangas arregaçadas, supervisionar obras, prédios, escolas, etc. Incluindo um simpático bêbado que se sentou na nossa mesa em um restaurante, embriagado em comemoração ao aniversário do Fidel (dia em que tivemos o privilégio de ir ao cemitério Santa Ifigênia, em Santiago de Cuba, visitar sua lápide e a de outros tantos heróis de Cuba, incluindo José Martí), que contou várias histórias sobre ele e relatou emocionado o dia em que, após um furacão, ele estava ajudando a limpar os destroços e Fidel apareceu pessoalmente, se juntou aos demais, como se fosse apenas mais um e ajudou no trabalho! O amor e a gratidão que ainda demonstram por Fidel é a prova cabal de que Cuba não viveu ou vive sob ditadura. 
Cemitério Santa Ifigênia onde está as cinzas de Fidel castro | Foto: Fabiana Cristina
Eu mesma tinha muitas dúvidas sobre o que seria de Cuba após a morte de Fidel. Mas, quase três anos depois, Cuba segue firme os passos da revolução! Se me fosse possível definir o povo cubano em apenas três palavras, eu escolheria garra, otimismo e, principalmente solidariedade. 

É um povo que conhece sua história, respeita seus heróis e sabe muito bem o que tem a preservar! Um povo que sabe enfrentar as dificuldades com um sorriso no rosto, muita criatividade e sempre com um fundo musical. Um povo que te abre as portas de sua casa e faz você se sentir mais à vontade do que na sua própria! 

Cuba é verde e azul! O mar mais azul, quente e de água cristalina que jamais havia visto na vida! E percorrer as estradas, quase de uma ponta a outra de Cuba, nos dá o privilégio de revesar entre a vista deste mar tão azul e todo o verde abundante que há por lá! 

Cuba é pura História! Em cada cidadezinha, um monumento a seus mártires e heróis! 

Cuba é cultura! Não há publicidade na TV ou no rádio nem nas ruas te convencendo o tempo todo a comprar o que quer que seja! Nos intervalos entre os programas, tanto na rádio quanto na TV, pequenas matérias sobre música, literatura, História, política! E nas ruas, outdoors com frases e fotos de seus líderes tanto da luta pela independência quanto da revolução, lembrando sempre a importância de manter a dignidade, a cabeça erguida e não permitir que tirem do povo cubano o que foi conquistado com muito sangue, esforço e sacrifício! 

O bloqueio americano até que representou para Cuba algumas vantagens: em 20 dias não comi uma única fruta que não fosse orgânica, não bebi um único suco que não fosse natural, não comi uma única carne que não fosse fresca. A escassez de ofertas de produtos variados em supermercados é um privilégio, na verdade! 
Restaurante cubano | Foto: Fabiana Cristina
Enquanto nos países capitalistas nos envenenamos diariamente com uma oferta quase infinita de produtos industrializados, frutas e hortaliças saturadas de agrotóxicos, carnes advindas de grandes criações, que destroem o meio ambiente, os cubanos vendem e compram de seus vizinhos que possuem pequenas criações de porcos ou frangos, que saem para pescar, que possuem árvores ou uma pequena horta em algum quintal. Tudo muito mais saboroso do que a variedade insossa que nos oferece o capitalismo! 

Cuba é impossível de se descrever com palavras ou com fotos. Para entender Cuba, é preciso viver Cuba. E, aos que me amam, já encontrei o pedaço de mar onde quero que minhas cinzas sejam jogadas quando eu partir desse mundo cão: Puerto Escondido, ali, na Cueva de los Pájaros, em Cuba!

Nota:

1- Artigo escrito em 2018.

Fabiana Cristina passou 20 dias em Cuba.

8 comentários:

  1. Realista mulher. Gostei de seu legado. Deu com tudo na cara dos que se deixam enganar com notícias fantoches. Parabéns

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  2. SOU UM VELHO COMUNISTA DE 76 ANOS, E, LI MARX AOS 17 ANOS. SEMPRE OUVI DA IMPRENSA BANDIDA DO OCIDENTE, E O PIOR É QUE SOU JORNALISTA, FORMA PELA UFC. NA ÉPOCA DA GUERRILHA DO ARAGUAIA, DEFENDI AQUI FORTALEZA, QUE FÔSSEMOS TREINAR EM CUBA, AO INVÉS DA AVENTURA SUICIDA DO ARAGUAIA. FUI VOTO VENCIDO. CUBA É O MEU SEGUNDO LUGAR; PRIMEIRO, É QUIXERAMOBIM, BERILANDIA, ONDE NASCI. AMO O BRASIL, AMO CUBA. POSSO DIZER QUE SOU UM PREVILEGIADO, POIS TENHO DOIS PAÍS MARAVILHOSOS PARA AMAR. BJS!

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