Em manifestação em Havana, menina cubana levanta cartaz: "Sou Cuba, sou Fidel, sou revolução" |
O Partido da Causa Operária (PCO), como um partido comunista e revolucionário, sempre se manteve na luta contra o imperialismo e seus ataques aos países oprimidos. Diante do endurecimento do bloqueio criminoso contra Cuba, o PCO está levando a cabo uma campanha nacional e internacional contra tamanha agressão.
Como parte disso, o Diário Causa Operária entrevistou o cônsul-geral de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón, que denunciou os efeitos do bloqueio contra o povo da ilha. Além disso, ele falou sobre como era Cuba antes da Revolução de 1959, as conquistas da revolução, a histórica solidariedade que o país oferece aos povos oprimidos do mundo e o avanço imperialista sobre toda a América Latina.
Confira os principais pontos da entrevista, nas palavras de Pedro Monzón:
Cuba antes da Revolução
Desde a época em que era colônia espanhola até o triunfo da revolução, em 1959, Cuba esteve submetida aos EUA como uma espécie de neocolônia. Os EUA tinham o controle da economia de Cuba, a sociedade cubana estava viciada e deteriorada devido à relação dos EUA com uma burguesia que não era realmente nacional. Poderíamos dizer muitas coisas dessa nefasta etapa da história de Cuba. Por exemplo, o ínfimo desenvolvimento da saúde pública. Ela atendia aos capitalistas, enquanto o grosso da população não tinha acesso seguro à saúde pública; a educação era muito pobre, também com muitas limitações porque era privada em sua maior parte e quase 40% da população era analfabeta e muitos outros eram analfabetos funcionais. Havia uma grande desigualdade na riqueza, com um grupo minoritário – como ocorre em muitos países da América Latina e do mundo – mantendo o controle essencial da economia e a maioria do povo era miserável, tanto nas cidades como no campo. A criminalidade era alta devido ao desemprego e também ao uso de drogas, que era comum na Cuba pré-revolucionária.
Os EUA eram proprietários dos hotéis, dos casinos (que normalmente estavam nas mãos das máfias norte-americanas), os marines dos EUA habitualmente permaneciam nas costas da baía cubana e ao redor disso se desenvolveu a propagação do crime, das drogas, da prostituição. Enfim, Cuba era um país, nesse sentido, desastroso, e seus problemas tinham muitíssimo a ver com os EUA. Cuba não era nada senão um grande antro de vício para que os EUA os desfrutassem e os norte-americanos se divertissem, e não o povo.
Solidariedade de Cuba
Quando fez a Revolução, Cuba passou a ser respeitada por todo o mundo, inclusive pelos inimigos. Cuba tem uma política exterior firme, de solidariedade, de cooperação sem precedentes na história da humanidade. Da humanidade. Não é deste século ou de outro, na história da humanidade nunca houve nação nenhuma que tenha projetado uma política de solidariedade tão ampla e tão intensa como Cuba. E isso é centro da política exterior de Cuba. Nossa política tem ido desde o apoio a Angola na guerra de independência e contra a África do Sul – que levou ao fim do Apartheid – até o envio de centenas de médicos a dezenas de países. Bem como de educadores, o que levou a alfabetização a mais de 9 milhões de pessoas através do método cubano de alfabetização. José Martí (líder da independência de Cuba) dizia que pátria é humanidade, e esse conceito é base do trabalho solidário de Cuba para o mundo.
Nós seguiremos apoiando a Venezuela e todas as causas justas do mundo. Não negociamos nossos princípios. Os EUA ultimamente estão pressionando muito Cuba para que deixe de colaborar com a Venezuela a partir de mentiras, de que somos o sustentáculo de Maduro, isso não tem nenhum respaldo na realidade. Mas sabemos que isso é apenas uma desculpa: o que eles querem é acabar com a Venezuela e acabar com Cuba.
E Cuba vem fazendo campanhas e discursos pela liberdade de Lula, porque Cuba sempre esteve lutando pela justiça e ao lado das lutas progressistas em geral.
Avanço do imperialismo na América Latina
Estamos convencido que hoje é imprescindível a unidade para poder enfrentar essa ofensiva, por isso apoiamos diversos organismos como o Foro de São Paulo, o Movimento dos Países Não-Alinhados, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba). Porque o objetivo dos EUA é desunir as forças de esquerda e desunir os países da América Latina e do mundo para poder avançar e aumentar sua influência. Temos que unir todas as forças de esquerda, as forças progressistas, as forças anti-imperialistas. Há que determinar qual a contradição fundamental hoje em dia: é enfrentar o imperialismo, e ele deve ser enfrentado de maneira unida.
Conquistas da Revolução
Hoje em Cuba não há analfabetismo, os níveis de educação são muito altos e todo o povo tem um alto nível de educação, o nível de desenvolvimento científico é muito alto (como a biotecnologia). Cuba tem medicamentos muito importantes que nem sequer os países do primeiro mundo têm, entre eles remédios contra o câncer, contra a diabete, contra muitas doenças. Em outros terrenos da ciência, Cuba também tem um desenvolvimento e isso tem a ver com os critérios de justiça social: a grande maioria dos nossos cientistas, dos estudantes universitários e inclusive de nossos políticos é mulher, coisa que não ocorre em muitos países onde nem sequer a mulher ganha o mesmo salário que o homem – o que, para um cubano, é simplesmente absurdo. Em Cuba todos têm acesso à cultura a preços risíveis – um espetáculo que custa 400 dólares no Japão, você pode ver por 50 centavos em Cuba ou sem pagar. As escolas artísticas proliferam em Cuba. E assim em todos os terrenos. A justiça social em Cuba é um princípio que predomina desde o início da revolução.
Bloqueio
Outro dos pilares da revolução é a independência nacional. A posição de Cuba é absolutamente soberana, não se submete a nenhum país do mundo, por mais forte que seja. Nossa posição diante dos EUA é que falamos de igual para igual, essa é uma condição sine qua non.
Quando Cuba era subordinada aos EUA, nunca houve bloqueio, nunca houve sanções e Cuba era um desastre. O próprio ex-presidente dos EUA, John Kennedy, se pronunciou depois da derrota na Baía dos Porcos, que o governo de Batista havia sido atroz e que os EUA o tinham apoiado.
Depois, iniciou-se o bloqueio e a medida mais cruel é a aplicação da Lei Helms-Burton em sua totalidade, que é a aplicação do bloqueio com características extraterritoriais.
Segundo o título 3 dessa lei, os norte-americanos ou cubanos que tiveram propriedade em Cuba e que vivem nos EUA podem processar nos tribunais norte-americanos qualquer empresa do mundo inteiro porque têm negócios com empresas que eram de sua propriedade. Cuba antes era propriedade privada, as praias eram propriedade privada – os negros tinham que ir às piores praias.
Mas para nós, a Lei Helms-Burton não é lei e não é nada. Como dizemos em Cuba, “nos limpamos com a Lei Helms-Burton”. Cuba não aceita isso, repudia e ignora. Não tem nenhum valor para Cuba. Mas para muitos outros países, ela é uma agressão, uma intromissão em sua soberania e um ataque às empresas de seus países. Essas empresas são sancionadas porque têm relação com empresas que antes pertenciam a cidadãos que hoje vivem nos EUA.
Sem dúvida que isso nos prejudica, porque pode afastar potenciais investidores. No Brasil, por exemplo, hoje há um navio apreendido devido a essa lei e outros dois que podem ser detidos. Ou seja, a lei dos EUA predomina nesses países. Onde está a soberania, quando uma lei estrangeira determina o que você pode ou não fazer?
Outros efeitos do bloqueio são prejuízos em todos os terrenos: no setor da educação – não podemos adquirir livros, papel, lápis ou utensílios imprescindíveis; na saúde, há remédios ou equipamentos produzidos pelos EUA ou por companhias alemãs que fazem parcerias nos EUA que não podemos obter, há remédios para o câncer infantil que em Cuba não se pode comprar porque as patentes pertencem aos EUA; no turismo, suspenderam os cruzeiros e navios de pesca, têm tentado impedir as viagens a Cuba de norte-americanos ou de navios de outros países com negócios nos EUA. Em geral, temos que importar muitos insumos para a alimentação, e o bloqueio impede que empresas ou governos de outros países vendam para Cuba ou que vendam a um preço muito mais alto devido ao risco de sofrer sanções.
Passamos muita dificuldade para sobreviver devido ao bloqueio. Se o bloqueio dos EUA desaparecesse, o desenvolvimento de Cuba seria vertiginoso, se converteria em um dos países mais desenvolvidos da América Latina, sem nenhuma dúvida. Por causa do compromisso do povo com o projeto revolucionário e do nível de educação geral, técnica, política, cultural, específica do povo cubano.
Vamos resistir apesar das medidas de asfixia criminosa dos EUA. É uma perda de tempo no terreno da política, porque Cuba não vai se render, isso não vai acabar com a Revolução Cubana. O que ocorre é que isso provoca o sofrimento do povo. Embora estejamos dispostos a seguir passando por isso, é algo criminoso e que o mundo inteiro dê as costas a um fenômeno como esse e que pode ocorrer em qualquer lugar do mundo. Quando você cede em um terreno, está cedendo em todos os terrenos. Por isso Cuba, mais do que um país em particular, e um projeto social, econômico e político em particular, é um símbolo. É necessário defender, porque quando você está defendendo Cuba, essa ilhazinha com 12 milhões de habitantes, está defendendo princípios de independência, de solidariedade, de justiça, que são universais.
Seguiremos oferecendo solidariedade ao mundo inteiro e esperamos, como está acontecendo, que o mundo estenda uma mão solidária a Cuba.
Reportagem do Causa Operária entrevista Cônsul de Cuba (à direita) |
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