terça-feira, 23 de julho de 2019

26 de julho: dia da rebeldia nacional em Cuba

Ato pela comemoração do dia da rebeldia cubana em Santiago de Cuba | Foto: Yaciel Pena
Por Maria Leite 

“O que foi sedimentado em sangue, deve ser edificado com ideias”

A revolução cubana começou em 26 de julio, quando do assalto ao Quartel Moncada? Ou no dia primeiro de janeiro de 1959, depois a fuga do tirano Batista? Ou teve início nos vários levantes ocorridos na primeira metade do século XX, - as revoluções inacabadas -, que não atingiram seus objetivos, mas contribuíram para a construção da identidade dos cubanos? Uma corrente de historiadores defende que a revolução cubana começou em 1511, quando o cacique Hatuey, o primeiro rebelde das Américas, pegou em armas contra os colonizadores. 

Fidel Castro havia manifestado em diferentes ocasiões o rechaço à inoperância da oposição legal ao regime de Batista, que se limitava, em plena guerra fria, às denúncias no âmbito do congresso. Foi a partir deste contexto que Fidel e um pequeno destacamento, autodenominado Generación del Centenario, de diversas procedências geográficas e sociais, adotaram a estratégia insurrecional. Cem anos após o nascimento de Martí, para o grupo de jovens, atacantes de Moncada, era inaceitável tolerar passivamente que reinasse o despotismo e a entrega das riquezas da pátria cubana, sem atos de rebeldia, que o próprio Apóstolo da Independência demonstrara desde sua juventude. 

Dada a tradição de lutas anticolonialistas, que sempre caracterizou a parte oriental da Ilha, os insurgentes decidiram tomar os quartéis de Santiago. Do grupo, composto por 135 atacantes, 65 deles foram mortos, a maioria feitos prisioneiros e torturados. Fidel e um punhado de homens lograram alcançar as montanhas, porém em primeiro de agosto de 1953 foram presos pelo exército de Batista. Depois de dois meses de confinamento em solitárias, o jovem advogado de 27 anos decide assumir sua própria defesa, no manifesto conhecido como “A história me absolverá”.

A unidade entre as forças opostas à tirania, a partir da desvinculação dos grupos reformistas, a necessidade de organizar os setores populares e brindar-lhes um programa que atendesse primordialmente aos reclamos de justiça social (terra, trabalho, educação, saúde, verdadeira igualdade de oportunidades e orgulho nacional), eram os elementos chaves do caráter martiano e fidelista de então. No texto da autodefesa, proferido em 16 de outubro de 1953, no Hospital Saturnino Lora, situado na cidade de Santiago de Cuba, Fidel Castro caracterizou a desastrosa situação do povo de Cuba e a vinculou diretamente ao estado socioeconômico, de paupérrima exploração em que a maior parte da população cubana vivia. Esse manifesto se resumia a seis pontos relativos aos seguintes temas: uso da terra, industrialização, moradias, emprego, educação e saúde. Em uma síntese, Fidel escreveu desde o cárcere na antiga Ilha de Pinos: “O que foi sedimentado em sangue, deve ser edificado com ideias”, confirmando que no Programa de Moncada estavam fundamentadas as bases da revolução. 

Esses fatos não foram apenas uma expressão da consciência geracional, mas sobretudo a forma de sustentar a postura crítica acerca da sociedade e da necessidade de subverter os traços de decadência moral, de dependência externa, do estancamento econômico sobre uma base monoprodutora e monoexportadora, com crescente polarização social e aumento da miséria entre as classes trabalhadoras. 

Desde o presídio na antiga Isla de Pinos, no início de 1954, onde cumpria a pena de 15 anos pelo assalto ao Quartel Moncada, Fidel escreveu uma carta, narrando a sua experiência sobre as injustiças, que vislumbrava na vida cotidiana em Cuba, e de maneira particular sobre uma visita, que fez no início do ano de 1953 a uma escola rural, onde começou a estudar, quando ainda não havia completado 5 anos. Como ele apontou, tudo o que se fizesse relativo a técnica e a organização do ensino, nada valeria a pena sem a alteração de forma profunda do status quo econômico da nação ou seja, desde a massa popular onde encontrava-se a raiz da tragédia. Preso, Fidel Castro cumpriu apenas dois anos da pena e ao ser libertado, exilou-se no México, de onde organizou a resistência de vocação guerrilheira. É no exílio que a ele se une a Che Guevara e Camilo Cienfuegos, que juntamente com a Raúl Castro, conformariam os quatro maiores comandantes da etapa de libertação. Durante este período começou a construir-se a figura do lutador invencível. 

Para os setores progressistas do mundo, o Movimento 26 de Julho representou muito mais do que uma luta armada. Como afirmou Florestan Fernandes, “a sociedade cubana vivia um clímax revolucionário – ela parecia muito frágil, mas era imbatível, porque se tornava a herdeira e a parteira de uma guerra civil que se atrasara no tempo, mas não em seu potencial revolucionário”. 

Maria Leite é, professora, mestre em educação, militante do movimento brasileiro de solidariedade a Cuba em Santos/SP.

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