Segundo diretor de “Todo Guantánamo é nosso”, base militar em Cuba serve como recordação de que os EUA está por perto
Monumento em homenagem a Ramón Peña e Luis López em frente à Base Naval em Guantánamo, território ilegalmente ocupado pelos Estados Unidos em Cuba - Foto: Pablo Soroa/ACN |
Na última segunda-feira (5), aconteceu o lançamento oficial do documentário "Todo Guantánamo é nosso” no Brasil. O filme, dirigido por Hernando Calvo Ospina, trata sobre Guantánamo a partir das falas dos cubanos que moram perto da fronteira da base militar norte-americana em Cuba. A sessão de estreia lotou o cineclube Silvio Tendler, no Museu da República, no Catete. A atividade foi realizada pelo Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Rio de Janeiro.
Após a sessão, o Brasil de Fato conversou com o diretor Hernando Ospina (foto), jornalista e escritor colombiano, refugiado político na França. Atualmente é colaborador do jornal Le Monde Diplomatique e não pode voltar a seu país, por conta das ameaças de morte que recebeu depois de publicar o livro “Terrorismo de Estado na Colômbia”.
Brasil de Fato - Quais foram as suas principais motivações para fazer um documentário sobre Guantánamo?
Hernando - Conheço Cuba e sua revolução há muitos anos. Porém, há uns dois anos, me dei conta de que Cuba tinha uma fronteira terrestre com os Estados Unidos. Foi como uma grande descoberta. Pode parecer bobo, mas foi assim. Então, quis saber o que pensam e como vivem os cubanos que moram perto dessa fronteira. Não foi necessário procurar figuras como Fidel, Raul Castro ou altos dirigentes para que me explicassem essa situação: em cada dia de filmagem os cidadãos me diziam tudo, com palavras muito simples.
Brasil de Fato - O que mais chamou sua atenção no discurso dos cubanos que você conversou sobre Guantánamo?
Hernando - Há alguns anos, os cubanos que vivem nessa zona fronteiriça, convivem com a base militar. Já é parte da “paisagem”. Eles sabem que lá estão os militares estadunidenses e, por isso, assumem como algo quase normal da vida diária. Mas, quando são perguntados, todos respondem que esse território é cubano e deve voltar a Cuba. É unânime. Porém, não existe nenhuma atitude agressiva dos cubanos em direção à base, nem em palavras e menos ainda em ações.
Brasil de Fato - Aconteceu alguma mudança neste cenário, representado no documentário, depois da aproximação dos EUA e Cuba?
Hernando - Respondo de forma direta: nesta aproximação diplomática, EUA aceitou falar de tudo, tudo, menos do retorno do território ilegalmente ocupado de Guantánamo à Cuba. Isso, Washington não permitiu na agenda de negociações. Foi a única coisa.
Brasil de Fato - E o que você pensa do processo de aproximação depois da eleição de Donald Trump?
Hernando - O próximo presidente fez uma fala muito dura contra Cuba há pouco tempo, e contra o processo de aproximação iniciado pelo presidente Obama. Porém, há interesses políticos e econômicos que ele não pode desconhecer. Assim disse a ele a Casa Branca, há 15 dias. Esperemos que o processo de aproximação continue.
Brasil de Fato - Em sua opinião, como ficará Guantánamo com Trump como presidente dos EUA?
Hernando - Se com o presidente Barack Obama, discutir sobre a recuperação de Guantánamo para os cubanos não foi aceito nas negociações, imagino que com Donald Trump isso continuará. Essa base não é estratégica para os Estados Unidos, e quase foi convertida em uma base de descanso para seus oficiais que participam de guerras no Oriente Médio. Porém, serve como recordação à Cuba e à revolução que eles estão por perto. Por isso, tornou-se um “punhal no coração dos cubanos”, como eles mesmos diziam para mim.
Edição: Vivian Virissimo.
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