Capa do livro: "A história não contada". Por Cuba Hoy. |
A guerra biológica desencadeada contra Cuba pelo governo dos Estados Unidos e seus serviços de inteligência afetou diretamente às pessoas, os animais e os cultivos, causando danos humanos irreparáveis e perdas milionárias à economia nacional.
Os enormes danos causados pela guerra biológica desencadeada contra Cuba pelo governo dos Estados Unidos e seus serviços de inteligência, dirigida a afetar programas de saúde, e frustrar planos de desenvolvimento focados no aumento da produção agrícola, o incremento da capacidade exportadora, e o fortalecimento da base alimentar do povo cubano, não podem ser apagados da memória histórica da nação.
Em 18 de janeiro de 1862, em um documento secreto intitulado "Projeto Cuba", onde foram expostas as 32 tarefas originais da Operação Mangosta, apareceu a seguinte formulação: Tarefa 21: "Para 15 de fevereiro a CIA tem que submeter à aprovação um plano para induzir erros no cultivo dos alimentos em Cuba" [1]. A Tarefa 33 que não foi incluída naquele momento planejava: "(...) um plano para incapacitar os trabalhadores açucareiros cubanos durante a safra mediante o emprego de meios químicos bélicos" [2].
Posteriormente, o chefe de Operações do Plano Mangosta, general Edward Lansdale redatou um rascunho com as missões a serem executadas pela CIA, onde enunciou: "(...) colocar o submundo cubano contra Castro, fraturar o regime por dentro, sabotar a economia, subverter a polícia secreta, destruir os cultivos com armas biológicas ou químicas, e trocar o regime antes das próximas eleições para o Congresso em novembro de 1962" [3].
Em 2 de junho de 1964, o Comandante em chefe Fidel Castro expressou a probabilidade de que o governo estadunidense estivesse utilizando a guerra biológica contra Cuba [4]. Durante os anos seguintes atingiram o território nacional a peste suína, a dermatose nodular bovina, a brucelose do gado, o carvão e a ferrugem da cana, o mofo azul do tabaco, a ferrugem do café, o new castle e a bronquite infectuosa das aves domésticas, a conjuntivite hemorrágica, a disenteria, e o serotipo 2 da dengue que provocou 158 mortes, incluindo 101 crianças, o maior dano causado a nosso povo por este tipo de agressões.
Em 15 de setembro de 1981, durante a inauguração da 68ª Conferência Mundial da União Interparlamentar, celebrada no Palácio de Convenções de Havana, Fidel insistiu em que os Estados Unidos estavam utilizando armas biológicas contra Cuba.
Em 1984, Eduardo Arocena Pérez, líder da organização terrorista Omega-7 – conhecido por seus vínculos com a CIA – foi declarado culpado pelo assassinato do diplomata cubano Félix García Rodríguez, e de outros atos violentos cometidos dentro do território norte-americano. Durante o julgamento, o jurado federal não fez menção às suas declarações no sentido de que a missão de seu grupo era "obter certos germes e introduzi-los em Cuba" [5].
Em julho de 1987, quando Cuba começou a desclassificar um grupo de agentes da Segurança do Estado, se conheceu que oficiais dos serviços de inteligência norte-americanos lhes haviam perguntado pelas doenças que afetavam os cubanos e os programas para adquirir medicamentos no exterior. Um dos males pelos quais mais se interessaram foi pela dengue hemorrágica e seu impacto na população [6].
Após o desaparecimento do campo socialista europeu no outono de 1989 e a desintegração da União Soviética no final de 1991, a economia cubana se viu afetada, porque 85% de seu intercâmbio comercial era com aquela nação. Começou para o povo cubano o denominado período especial em tempos de paz, o Governo norte-americano recrudeceu o bloqueio econômico, comercial e financeiro, e se desencadearam novas agressões.
Em outubro de 1990, quando se desenvolveram os planos de produção agrícola para apoiar o programa alimentar e dar resposta às necessidades básicas da população, apareceu a sigatoka-negra nas plantações de banana de várias províncias. Alguns meses depois foi detectada a acariose, uma doença que reduz o ciclo de vida das abelhas.
Entre 1990 e 1994, a neuropatia se converteu em uma epidemia com a declaração de uma média de 2.000 casos anuais. Os estudos realizados demonstraram o papel desempenhado na aparição desta doença pelo estado nutricional da população por causa do bloqueio, cujo um dos objetivos é render pela fome o povo cubano. O problema foi solucionado ao se distribuir gratuitamente suplementos vitamínicos.
Em 10 de fevereiro de 1995, no Aeroporto Internacional José Martí, foram encontrados no equipamento de um cientista estrageiro vários tubos de ensaio com o vírus da tristeza do cítrico. Em 21 de fevereiro apareceu a broca-do-café em zonas rurais de Santiago de Cuba, coincidindo com a visita de um grupo de norte-americanos pertencentes a uma Organização Não-Governamental. Depois se detectaram em Havana vários focos do aedes albopictus ("Tigre Asiático"), transmissor da dengue. Em 18 de dezembro de 1996 apareceram os primeiros indícios da presença da praga Thrips palmi karny sobre cultivos de batata na Empresa de Cultivos Varios, em Jovellanos, Matanzas.
Em 8 de outubro de 1997, durante o encerramento do V Congresso do Partido Comunista, Fidel expressou: "Um especialista, membro de um organismo internacional [...] e suposto oficial da CIA, em 1975 havia ralizado estudos sobre a doença da dengue (sorotipo 1), que afetou nosso país em 1977 e obteve informação sobre a não existência de anticorpos sorotipo 2 da doença em Cuba. Por isso são tão importantes, inclusive, os dados relacionados com os anticorpos que o cubano têm, porque podem ser utilizados para um tipo de guerra bacteriológica [...] estamos seguros de que durante um longo período de tempo o Governo dos Estados Unidos era responsável por esses acontecimentos, [...] porque eles inventaram tudo: como contaminar o açúcar transportado pelos barcos, como afetar o comércio, como afetar tudo. [...] São muitas pragas seguidas contra cultivos essenciais: arroz, cítricos, batata, carne, banana, cana, café, tabaco, [...] Temos ou não temos direito de denunciar quando ocorre algo assim?" [7].
Em 1999, no inciso sétimo da Demanda do Povo de Cuba ao Governo dos Estados Unidos por Danos Humanos aponta-se: "Que durante todos estes anos de Revolução, as ações agressivas do Governo dos Estados Unidos têm afetado de maneira significativa a saúde de nosso povo. Esta política criminosa esteve dirigida a entorpecer e obstaculizar as impressionantes conquistas que a política social cubana conquistou. Para isso se empregou, entre outros caminhos, a agressão biológica, que custou valiosas vidas humanas, incluindo crianças e mulheres grávidas" [8].
Até dezembro de 2000 o Governo Revolucionário cubano se viu obrigado a gastar 2 bilhões e 158 milhões de dólares, com gastos adicionais a cada ano de cerca de 59 milhões de dólares para enfrentar as agressões biológicas [9].
Em 6 de maio de 2002 o presidente George W. Bush teve o cinismo de acusar Cuba de desenvolver armas biológicas ofensivas, e de oferecer seus conhecimentos sobre estas a países inimigos dos Estados Unidos. Quatro dias depois, em uma coletiva de imprensa, Fidel respondeu: "No que se refere às armas de destruição em massa, a política de Cuba tem sido inquestionável. Nunca ninguém apresentou uma só prova de que em nossa pátria se tenha concebido um programa de desenvolvimento de armas nucleares, químicas ou biológicas. Para os que não entendem de ética, apego à verdade e transparência na conduta de um governo como o de Cuba, poderiam compreender ao menos que fazer o contrário teria constituído uma colossal estupidez. [...] Qualquer programa dessa índole arruína a economia de qualquer pequeno país; Cuba nunca teria estado em condições de transportar tais armas; cometeria adicionalmente o erro de introduzi-las em combate contra um adversário que conta com milhares de vezes mais armas desse caráter, o qual receberia, como um presente, o pretexto de usá-las" [10].
Cuba tem sido agredida com uma guerra biológica que afetou diretamente as pessoas, os animais e os cultivos, ocasionando em danos humanos irreparáveis e perdas milionárias à economia nacional. A firme decisão e a vontade política do Governo Revolucionário, ao destinar os recursos necessários para combater essas pragas e doenças, a dedicação dos especialistas de prestigiadas instituições científicas e o apoio dos CDR [Comités de Defensa de la Revolución], a FMC [Federación de las Mujeres Cubanas] e a ANAP [Asociación Nacional de Agricultores Pequeños], possibilitaram o enfrentamento exitoso de nosso povo a estas agressões.
Notas:
[1] Foreign Relations of the United States, 1961-1963, Volume X 1961-1963, CUBA 1961-1962, Department of State, Washington, 1997, The Cuba Project, p. 717.
[2] Documentos desclassificados pelo Governo dos Estados Unidos sobre a Operação Mangosta. Arquivos do CIHSE.
[3] Legado de Cinzas. A História da CIA, Tim Weiner, Double Day, Nova Iorque, 2007, p. 184-185.
[4] Declaração de Fidel denuncia provável emprego pelos ianques da guerra bacteriológica contra nosso povo, jornal Revolución, 2 de junho de 1964, p. 1.
[5] Declaração do terrorista de origem cubana Eduardo Arocena Pérez diante do Tribunal Federal da cidade de Nova Iorque, p. 2 189, 1984, Exp. 2 FBINY p. 185-1 009.
[6] Zaldívar Diéguez, Andrés, Bloqueo, o assédio econômico mais prolongado da história, Editorial Capitán San Luis, Havana, 2003, p. 148-150.
[7] Discurso do Comandante em chefe Fidel Castro Ruz em 8 de outubro de 1997 durante o encerramento do V Congresso do Partido, jornal Granma, 29 de outubro de 1997, p. 11 e 12.
[8] Demanda do Povo de Cuba ao Governo dos Estados Unidos por Danos Humanos, Editora Política, Havana, 2001, p. 26-32.
[9] Dados fornecidos pelo doutor Humberto Vázquez, diretor-geral de Saúde Vegetal, na Tribuna Aberta da Revolução em mesa redonda instrutiva, transmitida pela Televisão Cubana em 8 de dezembro de 2000.
[10] Resposta do Presidente da República de Cuba às declarações do Governos dos Estados Unidos sobre armas biológicas, 10 de maio de 2002.
Pedro Etcheverry Vázquez é investigador do Centro de Investigações Históricas da Segurança do Estado de Cuba.
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