terça-feira, 17 de junho de 2014

Cinco Cubanos: O que disse e faltou dizer o The Washington Post


Por Deisy Francis Mexidor na Prensa Latina

O jornal diário estadunidenses The Washington Post publicou recentemente em sua edição digital um artigo sobre a jornada de apoio a três antiterroristas cubanos que cumprem longas e arbitrárias penas em prisões dos Estados Unidos.

Não é a primeira vez que isso acontece, pois em outubro de 2013 o periódico difundiu um trabalho do escritor canadense Stephen Kimber, que escreveu sobre diversos aspectos de um caso que se choca contra um muro de silêncio no decorrer desses anos. Nesta oportunidade, o material do jornal abordou o tema a partir do concerto de hip hop da dupla Dead´Prez, parte da programação da 3ª Jornada de denúncia e solidariedade Cinco dias pelos Cinco.

"São conhecidos como os Cinco Cubanos, apesar de que apenas três continuam presos (Gerardo Hernández, Ramón Labañino e Antonio Guerrero). Conquistar sua liberdade é uma causa de prioridade nacional" para o povo da nação caribenha, afirmou o texto, intitulado Rapping and Rallying for the Cuban Five.

Mas também é "uma cruzada emocional para muitas pessoas progressistas" dentro dos Estados Unidos, afirmou o texto, ao mencionar a presença no evento do ator Danny Glover (foto).

Levava um boné de beisebol que dizia "Cuba" - informou o The Washington Post - e "tinha lágrimas nos olhos quando se dirigiu à audiência em Calvary Baptist Church", um dos lugares onde aconteceram parte dos eventos do encontro solidário, realizado entre 4 e 11 de junho na capital estadunidense.

Glover pediu - acrescentou o repórter - que ao sair da jornada, todos os participantes deviam levar consigo a ideia de fazer mais pela causa dos lutadores cubanos que continuam presos.

Foi, disse o Post, "um programa de cinco dias repleto de painéis de advogados e especialistas em política" que debateram sobre o futuro das relações entre Estados Unidos e Cuba e o intercâmbio cultural durante a atual administração democrata.

Segundo o artigo, em Washington, Distrito de Colúmbia, se reuniram "artistas e ativistas de 31 países (...) para pressionar a favor da libertação dos cidadãos cubanos condenados por espionagem em Miami em 2001".

Mas neste aspecto, o Post se equivoca, ao seguir a mesma matriz de opinião dos grandes meios de imprensa, porque nem Hernández Labañino e Guerrero, nem mesmo Fernando González e René González, os outros dois membros do grupo, prejudicaram e nem colocaram em risco a segurança nacional dos Estados Unidos.

Várias testemunhas e especialistas, alguns levados pelo próprio governo daquele país, testemunharam sob juramento que neste caso não existiu sequer tentativa de espionagem.

Isso foi afirmado por generais, almirantes e outros altos oficiais da reserva das forças armadas estadunidenses, entre eles o general James Clapper, atual Diretor Nacional de Inteligência, mas estes importantes detalhes não foram abordados pelo jornalista em seu artigo.

Faltou explicar que inclusive em 2008 a Corte de Apelações anulou "as sentenças com respeito ao Cargo Dois" (conspiração para cometer espionagem) e ordenou o ressentenciamento de Ramón, Antonio e Fernando, que foi realizado em 2009.

Mas Hernández (dupla prisão perpétua, mais 15 anos) foi excluído arbitrariamente da possibilidade de ir a uma nova audiência da sentença, apesar de se reconhecer que a ordem era também aplicável a ele.

O documento do Tribunal reafirmou mais de uma vez que nesse caso, não houve nada que ameaçasse a segurança estadunidense e que, portanto, as penas ditadas resultaram excessivas e contrárias à lei.

O jornal comentou que a jornada - organizada pelo Comitê Internacional pela Liberdade dos Cinco - coincidiu com uma semana na qual se acirrou o debate sobre a decisão do presidente Barack Obama de trocar cinco presos talibãs por um soldado estadunidense.

Precisamente nesse aspecto, tanto Stephen Kimber, autor do livro "Lo que hay al otro lado del mar, la verdadera historia de los Cinco cubanos" (O que há no outro lado do mar, a verdadeira história dos Cinco cubanos, em espanhol) e outros comentaristas expressaram que "a troca de (Bowe) Bergdahl demonstra que esse tipo de acordos são possíveis", acrescentou o artigo.

As pessoas presentes no encontro analisaram o impacto que este fato teria sobre o pressuposto - enfatizou a publicação - de que a Casa Branca contemplaria uma solução ao caso de Alan Gross, um trabalhador contratado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), condenado a 15 anos de privação de liberdade em Cuba.

O repórter disse que Gross, preso desde 2009, foi "acusado por atentados contra a integridade do Estado devido à distribuição de equipamentos de comunicação dentro da comunidade judaica em Cuba".

Aqui o jornalista teve que explicar que esse especialista em tecnologia da comunicação à longa distância, que tinha trabalhado em mais de 50 países, violou as leis cubanas e sua soberania e cometeu delitos que nos Estados Unidos são castigados severamente, como expressou Ricardo Alarcón, então presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular (Parlamento).

As provas demonstraram a participação direta de Gross em um projeto do governo dos Estados Unidos para tentar subverter a Revolução cubana com o uso de sistemas de info-comunicação fora do controle das autoridades da ilha.

Uma porta-voz do Departamento de Estado garantiu à imprensa - destacou o artigo - que o governo estadunidense mantém sua postura contra um eventual intercâmbio dos três antiterroristas cubanos por Gross.

Os Cinco foram condenados em 2001. "Um deles, Gerardo Hernández, foi declarado culpado de conspiração para cometer assassinato em relação à derrubada em 1996 de jatinhos (...) pilotados por membros da organização Irmãos ao Resgate", lembrou o material.

Teria sido interessante que o jornalista se referisse ao voto dissidente da juíza Phillys Kravitch, porque ela argumentou de modo irrefutável contra o Acusação Três (conspiração para cometer assassinato em primeiro grau).

Para a magistrada, o governo dos Estados Unidos não apresentou nenhuma prova de que Hernández tivesse tido qualquer relação com o incidente dos aviões.

No final de maio de 2001, quando quase concluía o julgamento dos Cinco, a Promotoria admitiu que estava dando um passo sem precedente na jurisprudência estadunidense, pois pedia que o cargo três fosse modificado substancialmente.

Apesar disso, Gerardo Hernández foi declarado culpado e foi imposta a máxima pena possível por um delito que ele não cometeu e pelo qual ele não estava sendo acusado naquele momento.

O artigo também mencionou que durante o evento anual "Cinco dias pelos Cinco" foi projetado o documentário inconcluso "A Revolução sexual em Cuba", do cineasta Saúl Landau, falecido em 2013.

Além disso, mencionou a manifestação que seria realizada em frente à Casa Branca, da qual participaram mais de 500 pessoas, bem como as atividades no Capitolio para levar a mensagem deste caso aos congressistas.

O jornalista lembrou que Fernando González e René González são os únicos do grupo dos Cinco que estão fora da prisão em sua pátria depois de cumprir completamente suas penas.

O jornalista insistiu que "em várias ocasiões durante o processo de apelação, pelo menos um juiz federal colocou em dúvida as provas contra Hernández e se de fato os cinco receberam um julgamento justo em Miami".

E disse que o advogado de Hernández, Martin Garbus, falou no evento sobre alguns repórteres de Miami pagos pelo governo dos Estados Unidos para fomentar a cobertura parcializada, impedindo que o júri emitisse um veredito justo.

Quase no final do artigo, José Ramón Cabañas, chefe da Seção de Interesses de Havana em Washington, é citado em referência a que "significam os Cinco para os cubanos".

Nesse sentido, o artigo inclui palavras do diplomata em relação à informação que Cuba ofereceu às autoridades dos Estados Unidos para colaborar com a luta contra o terrorismo.

O jornalista não inclui esse fato no texto, mas o governo da ilha entregou a uma delegação estadunidense do Birô Federal de Investigação (FBI), que visitou Havana em junho de 1998, um dossiê com ampla documentação e testemunhos.

A lista de arquivos era de 64 pastas que contribuíam com elementos a respeito de 31 ações e planos terroristas contra Cuba, ocorridos entre 1990 e 1998.

Foram entregues gravações de 14 conversas telefônicas do criminoso Luis Posada Carriles, autor da explosão em pleno vôo de um avião civil cubano com 73 pessoas a bordo perto da costa de Barbados em 1976.

Além disso, os oficiais do FBI receberam 60 pastas com as fichas de 40 terroristas de origem cubana, a maioria residentes em Miami, entre outros dados.

No entanto, longe de agir consequentemente, as autoridades estadunidenses decidiram prender os mensageiros.

No dia 12 de setembro de 1998, os Cinco foram detidos em Miami e quase 16 anos depois deste fato, Hernández, Labañino (30 anos) e Guerrero (21 anos e 10 meses, mais cinco anos de liberdade supervisionada) permanecem presos em cárceres federais, muito distantes entre si.

Os três estão à espera de que a juíza Joan Lenard – a mesma que os sentenciou inicialmente na Corte de Miami – se pronuncie sobre as apelações extraordinárias ou habeas corpus, o último recurso legal do qual dispõem.

Enquanto isso, a pressão política cresce sobre Washington para gerar um movimento de tal proporção, que seja impossível à administração Obama manter os Cinco presos, como convocou a ativista pela paz Cindy Sheehan.

Deisy Francis Mexidor é jornalista da redação América do Norte da Prensa Latina.

Um comentário:

  1. Estados Unidos. Êste é o país que quer ensinar ao mundo lições de democracia. Estados Unidos, uma grande farsa.

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