Em finais da década de 1950, no Brasil e demais países latino-americanos, os grandes meios de comunicação estavam em mãos de oligarquias tradicionais. De uma maneira geral, todos os meios olhavam o mundo através dos olhos de umas poucas agências de notícias que se desenvolveram em função dos interesses dos países coloniais, ou do emergente império estadunidense.
No primeiro caso, as agências Reuters, com sede no Reino Unido, e France Press, com sua matriz na França. No segundo, disputando a hegemonia mundial, as agências estadounidenses Associated Press e United Press.
Materiais dessas agências ocupavam 90 por cento, em alguns casos até o 100 por cento do noticiário internacional, inclusive os textos de opinião, e em certos casos, até notícias sobre acontecimentos nacionais, o que era proibido.
É incrível, porém realidade: os meios de propriedade das oligarquias em Nossa América se comportavam (e continuam) como porta-voz oficiais dos países colonialistas e imperiais.
Essa desinformação ajudou o desenvolvimento de uma consciência distorcida sobre a realidade mundial e a própria realidade de nossos povos. Ontem como hoje, a imprensa hegemônica prisioneira de um pensamento único contrario aos interesses nacionais.
No Brasil, como em toda Nossa América, a saga heroica dos guerrilheiros e a vitoriosa Revolução Cubana, libertária e socialista, encheu de entusiasmo os corações dos democratas, socialistas e comunistas, principalmente da juventude. Era possível, não apenas um sonho, libertar-se do jugo imperialista.
Rompendo o monopólio
Fidel Castro, tão pronto assumiu o poder, consciente de que uma revolução não teria apoio mas sim inimigos nos meios, proclamou a necessidade de uma imprensa que defendesse os povos em sua luta pela democracia, contrapartida às campanhas diversionistas empenhadas em desfigurar a verdade.
Nos Estados Unidos, Eisenhower e logo Kennedy consideravam os países latino-americanos como seu pátio traseiro. Falar de independência, desenvolvimento integrado, planejamento da economia, soava como alinhar-se à União Soviética, país de economia planificada, antagônica aos de economia de mercado, liberal.
Em 1958, em um mundo polarizado entre Estados Unidos e a então União Soviética, o presidente brasileiro Juscelino Kubischek propõe a criação da OPA – Operação Pan-americana -, com o objetivo de unir os países da América em um projeto de desenvolvimento com mecanismos de financiamento.
Ele tinha rompido com o FMI por não concordar com o arrocho econômico e diminuição da dívida externa. Há uma sequência de fatos muito importantes e impactantes no calendário das Américas desse tempo.
Em 1960, foi inaugurada a cidade de Brasília para ser a nova capital do país. Nesse mesmo ano se cria o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Associação Latino-americana de Livre Comercio (ALALC). Em abril de 1961 Estados Unidos promove a invasão contra Cuba derrotada pelo povo e o exercito revolucionário em Playa Girón (Bahia de Cochinos).
Os brasileiros pudemos conhecer a realidade dessa vergonhosa derrota estadunidense através do trabalho (quase clandestino) de Prensa Latina (PL). Inconformado Washington, em lugar da OPA cria a Aliança para o Progresso e na sequencia consegue a expulsão de Cuba do Sistema Interamericano e obriga os governos submissos a romper relações com a ilha caribenha.
Os 20 bilhões de dólares em dez anos da Aliança significou que de cada dólar entrante saíram quatro para os Estados Unidos.
Prensa Latina no Rio
Prensa Latina chegou ao Brasil no início de 1960 e se instalou no Rio de Janeiro, no Edifício Avenida Central, na avenida Rio Branco, principal rua do centro. Rio já não era a capital do país. Era uma cidade-estado com o nome de Guanabara, governada por Carlos Lacerda, um furibundo direitista americanófilo. Prensa Latina começou ali sob o comando do jornalista cubano José Prado que logo se fez acompanhar do brasileiro Aroldo Wall.
Em 1o de janeiro de 1961, Jânio Quadros tinha assumido a Presidência da República. O jornalista argentino Jorge Ricardo Masetti, ele havia fundado, em junho de 1959, ha poucos meses do triunfo da Revolução, com o apoio de Fidel Castro e Che Guevara, a Agência Informativa Latino-americana Prensa Latina, junto com jornalistas e intelectuais ilustres da região.
Masetti veio ao Brasil e realizou a primeiro entrevista com o novo presidente, no dia 5 de março, que teve uma grande repercussão.
Em meados de 1960, não me lembro da data nem da circunstância, encontro-me em São Paulo com Alberto Granados. Um tipo humano fascinante que tinha percorrido parte de Nossa América em bicicleta acompanhando o jovem médico argentino Ernesto Guevara de la Serna.
Conversamos muito e me perguntou se não gostaria de colaborar com a Revolução Cubana e me ofereceu trabalhar com Prensa Latina. Disse que falaria com Prado no Rio pois sabia que ele necessitava de quem lhe desse apoio em São Paulo.
Viajei a Rio e conheci a José Prado e Aroldo Wal. Regressei à casa com duas tarefas: fazer cobertura jornalística típica de agência: revisar os jornais do dia, fazer o primeiro cast com resumo dos principais acontecimentos, entrevistas, receber e propor temas para reportagens. Outra, levar material de Prensa Latina aos meios de comunicação, tentar conseguir a instalação de teletipos nas redações.
Tarefa difícil. O único contrato que se conseguiu em São Paulo foi com Ruy Mesquita, um dos proprietários do conservador diário O Estado de São Paulo. Publicava especiais, principalmente os firmados por intelectuais. Outros diários, como Diário de São Paulo, Última Hora (de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Curitiba e Porto Alegre) e Folha de São Paulo, além de Terra Livre e outros do Partido Comunista, adquiriam especiais de PL, as reportagens ilustradas.
O Diário de São Paulo, de Assis Chateaubriand, dono da maior cadeia de jornais, revistas, emissoras de radio e televisão jamais vista, tinha jornais e rádios em vinte Estados. Seus veículos mostravam o mundo visto pelas agências AP, UPI e France Press.
A publicação de materiais de Prensa Latina em São Paulo teve grande repercussão nos demais jornais. Essa rede entrou em decadência a partir dos anos 1970.
Com mais intensidade depois de Girón, os jornalistas e intelectuais, líderes dos movimentos estudantil e sindical, queriam saber mais sobre Cuba e buscavam informação com os correspondentes de PL. E isso foi se generalizando ao mesmo tempo que nomes importantes do jornalismo nacional começaram a colaborar com seus textos.
Renúncia de Jânio Quadros
Menos de oito meses da posse, em 25 de agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros renunciou provocando um grande trauma nacional que foi aproveita pela direita para perpetrar um golpe de Estado. Dez dias antes, o presidente tinha recebido e condecorado o ministro da Indústria de Cuba, Ernesto Che Guevara, que representara a ilha na reunião Comitê Interamericano Econômico e Social (CIES) celebrada em Punta del Este, Uruguai.
O histórico discurso do Che, denunciando as intenções dos Estados Unidos, divulgado pela PL teve um grande impacto e colou a direita brasileira contra o novo presidente
Em 28 de agosto, Carlos Lacerda com suas tropas e polícia e seus mercenários, provocaram o caos no Rio, com invasão de sindicatos, prisão ilegal de comunistas e líderes populares. Prensa Latina ficou sem comunicação e Prado teve que se esconder e voltar à La Habana para não ser preso.
Aroldo Wall, com a ajuda de Ruy Mauro Marini, do Rio, me instruiu a conectar-me com os companheiros de PL em Montevidéu e me encontrei informando passo a passo os acontecimentos que culminaram com a sublevação de população do Rio Grande dod Sul e do III Exército, que liderada pelo governador Leonel Brizola frustrou a tentativa de golpe e garantiu a posse do vice-presidente eleito, João Goulart, carinhosamente chamado por seu povo de Jango.
A democracia de Jango
Goulart tomou posse sob o regime parlamentarista imposto pelos golpistas e um Congresso tradicionalmente conservador. Não demorou muito para regressar ao regime presidencialista aprovado por Plebiscito nacional.
A democracia de Jango durou pouco, mas garantiu grande avanço e fortalecimento do movimento sindical, operário e camponês. Radicalizam-se as reivindicações pelas Reformas Estruturais e também deu tempo para a reorganização da direita, patrocinada pelos Estados Unidos e empresários e políticos submissos.
Em novembro de 1963, na Reunião Ministerial do CIES em São Paulo, a posição brasileira se opunha a dos Estados Unidos. Um único jornal, A Nação, defendeu a delegação brasileira. Esse jornal e a rede de televisão do grupo Simonsen, por ser democrático, foram destruídos pela ditadura assim como o diário Última Hora, de Samuel Wainer, aliado dos trabalhistas.
Todos os demais jornais do país apoiaram os golpistas e se enriqueceram e cresceram protegidos pela ditadura de 1964 a 1988.
A visão que o mundo tinha do Brasil era dada por uma oligarquia frustrada e vendida que se opunha à emergência dos movimentos populares e as transmitidas pelas quatro agências internacionais de notícias.
A única versão correta e ética dos fatos era dada pelos jornalistas comprometidos ou afins com Prensa Latina ou pequenos meios alternativos sem expressão nacional.
Este recontar da história é importante porque hoje se repete o mesmo roteiro em outros cenários. Porém, com os mesmos os personagens: as oligarquias submissas, as potencias coloniais decadentes e o império hegemônico que se opõem aos avanços em favor da democracia e do bem-estar do povo.
Quando a direita militar se impõe e desfecha o golpe contra o governo de Goulart, nesse mesmo 1o de abril de 1964, Prensa Latina no Rio é de novo empastelada. A sanha direitista, civil e militar, começa uma implacável perseguição a tudo o que lhes cheirasse a comunista ou nacionalista, trabalhista ou antiestadunidense.
Simultaneamente, rompem relações com Cuba e expulsam a delegação da República Popular da China.
Prado, que tinha retornado ao Rio em 1963, ficou pouco tempo e saiu antes do auge da repressão. Aroldo Wall se refugiou em minha casa em São Paulo e começa o longo e árduo trabalho de organizar sua saída do país.
Prensa Latina regressa ao Brasil, depois da Constituinte de 1988, com um correspondente no Rio de Janeiro e mínimos recursos para trabalhar. Agora está instalada em Brasília. A agência está melhor estruturada, com correspondentes em mais de 30 países do mundo e panos de expansão. Oferece uma cobertura única sobre os avanços dos povo que conquistaram e têm governos progressistas, democráticos e antimperialistas.
Com 55 anos de existência, Prensa Latina é fonte indispensável para os meios de comunicação alternativos, publicações na Internet e redes sociais que ganham grande impulso em todo o mundo, particularmente na América Latina.
Não obstante, PL continua enfrentando, no Brasil, as mesmas dificuldades para se impor no que agora se conhece como mercado da informação, antes propriedade de famílias oligárquicas e agora em mãos de grandes corporações que têm como principal objetivo o lucro e a defesa da economia liberal de mercado.
A informação deixa de ser serviço público para atender a um direito humano e passa a ser vendida como commodities.
Os meios de comunicação independentes, alternativos, sobrevivem com grande dificuldade, mas, cresce na população a consciência de que são vítimas do monopólio midiático, de pensamento único e alienante.
Essa consciência resultou na realização da Conferência Nacional de Comunicação –Confecon- que sistematizou e organizou a luta pela democratização das comunicações.
Pela primeira vez na história, no governo de Luís Ignacio Lula da Silva, criou-se um Sistema Nacional de Comunicação. Porém, ainda falta muito que fazer para avançar.
Materiais dessas agências ocupavam 90 por cento, em alguns casos até o 100 por cento do noticiário internacional, inclusive os textos de opinião, e em certos casos, até notícias sobre acontecimentos nacionais, o que era proibido.
É incrível, porém realidade: os meios de propriedade das oligarquias em Nossa América se comportavam (e continuam) como porta-voz oficiais dos países colonialistas e imperiais.
Essa desinformação ajudou o desenvolvimento de uma consciência distorcida sobre a realidade mundial e a própria realidade de nossos povos. Ontem como hoje, a imprensa hegemônica prisioneira de um pensamento único contrario aos interesses nacionais.
No Brasil, como em toda Nossa América, a saga heroica dos guerrilheiros e a vitoriosa Revolução Cubana, libertária e socialista, encheu de entusiasmo os corações dos democratas, socialistas e comunistas, principalmente da juventude. Era possível, não apenas um sonho, libertar-se do jugo imperialista.
Rompendo o monopólio
JK e Fidel Castro |
Nos Estados Unidos, Eisenhower e logo Kennedy consideravam os países latino-americanos como seu pátio traseiro. Falar de independência, desenvolvimento integrado, planejamento da economia, soava como alinhar-se à União Soviética, país de economia planificada, antagônica aos de economia de mercado, liberal.
Em 1958, em um mundo polarizado entre Estados Unidos e a então União Soviética, o presidente brasileiro Juscelino Kubischek propõe a criação da OPA – Operação Pan-americana -, com o objetivo de unir os países da América em um projeto de desenvolvimento com mecanismos de financiamento.
Ele tinha rompido com o FMI por não concordar com o arrocho econômico e diminuição da dívida externa. Há uma sequência de fatos muito importantes e impactantes no calendário das Américas desse tempo.
Em 1960, foi inaugurada a cidade de Brasília para ser a nova capital do país. Nesse mesmo ano se cria o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Associação Latino-americana de Livre Comercio (ALALC). Em abril de 1961 Estados Unidos promove a invasão contra Cuba derrotada pelo povo e o exercito revolucionário em Playa Girón (Bahia de Cochinos).
Os brasileiros pudemos conhecer a realidade dessa vergonhosa derrota estadunidense através do trabalho (quase clandestino) de Prensa Latina (PL). Inconformado Washington, em lugar da OPA cria a Aliança para o Progresso e na sequencia consegue a expulsão de Cuba do Sistema Interamericano e obriga os governos submissos a romper relações com a ilha caribenha.
Os 20 bilhões de dólares em dez anos da Aliança significou que de cada dólar entrante saíram quatro para os Estados Unidos.
Prensa Latina no Rio
Edifício Avenida Central |
Em 1o de janeiro de 1961, Jânio Quadros tinha assumido a Presidência da República. O jornalista argentino Jorge Ricardo Masetti, ele havia fundado, em junho de 1959, ha poucos meses do triunfo da Revolução, com o apoio de Fidel Castro e Che Guevara, a Agência Informativa Latino-americana Prensa Latina, junto com jornalistas e intelectuais ilustres da região.
Masetti veio ao Brasil e realizou a primeiro entrevista com o novo presidente, no dia 5 de março, que teve uma grande repercussão.
Em meados de 1960, não me lembro da data nem da circunstância, encontro-me em São Paulo com Alberto Granados. Um tipo humano fascinante que tinha percorrido parte de Nossa América em bicicleta acompanhando o jovem médico argentino Ernesto Guevara de la Serna.
Conversamos muito e me perguntou se não gostaria de colaborar com a Revolução Cubana e me ofereceu trabalhar com Prensa Latina. Disse que falaria com Prado no Rio pois sabia que ele necessitava de quem lhe desse apoio em São Paulo.
Viajei a Rio e conheci a José Prado e Aroldo Wal. Regressei à casa com duas tarefas: fazer cobertura jornalística típica de agência: revisar os jornais do dia, fazer o primeiro cast com resumo dos principais acontecimentos, entrevistas, receber e propor temas para reportagens. Outra, levar material de Prensa Latina aos meios de comunicação, tentar conseguir a instalação de teletipos nas redações.
Tarefa difícil. O único contrato que se conseguiu em São Paulo foi com Ruy Mesquita, um dos proprietários do conservador diário O Estado de São Paulo. Publicava especiais, principalmente os firmados por intelectuais. Outros diários, como Diário de São Paulo, Última Hora (de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Curitiba e Porto Alegre) e Folha de São Paulo, além de Terra Livre e outros do Partido Comunista, adquiriam especiais de PL, as reportagens ilustradas.
O Diário de São Paulo, de Assis Chateaubriand, dono da maior cadeia de jornais, revistas, emissoras de radio e televisão jamais vista, tinha jornais e rádios em vinte Estados. Seus veículos mostravam o mundo visto pelas agências AP, UPI e France Press.
A publicação de materiais de Prensa Latina em São Paulo teve grande repercussão nos demais jornais. Essa rede entrou em decadência a partir dos anos 1970.
Com mais intensidade depois de Girón, os jornalistas e intelectuais, líderes dos movimentos estudantil e sindical, queriam saber mais sobre Cuba e buscavam informação com os correspondentes de PL. E isso foi se generalizando ao mesmo tempo que nomes importantes do jornalismo nacional começaram a colaborar com seus textos.
Renúncia de Jânio Quadros
Jânio Quadros e Ernesto Che Guevara |
O histórico discurso do Che, denunciando as intenções dos Estados Unidos, divulgado pela PL teve um grande impacto e colou a direita brasileira contra o novo presidente
Em 28 de agosto, Carlos Lacerda com suas tropas e polícia e seus mercenários, provocaram o caos no Rio, com invasão de sindicatos, prisão ilegal de comunistas e líderes populares. Prensa Latina ficou sem comunicação e Prado teve que se esconder e voltar à La Habana para não ser preso.
Aroldo Wall, com a ajuda de Ruy Mauro Marini, do Rio, me instruiu a conectar-me com os companheiros de PL em Montevidéu e me encontrei informando passo a passo os acontecimentos que culminaram com a sublevação de população do Rio Grande dod Sul e do III Exército, que liderada pelo governador Leonel Brizola frustrou a tentativa de golpe e garantiu a posse do vice-presidente eleito, João Goulart, carinhosamente chamado por seu povo de Jango.
A democracia de Jango
Goulart tomou posse sob o regime parlamentarista imposto pelos golpistas e um Congresso tradicionalmente conservador. Não demorou muito para regressar ao regime presidencialista aprovado por Plebiscito nacional.
A democracia de Jango durou pouco, mas garantiu grande avanço e fortalecimento do movimento sindical, operário e camponês. Radicalizam-se as reivindicações pelas Reformas Estruturais e também deu tempo para a reorganização da direita, patrocinada pelos Estados Unidos e empresários e políticos submissos.
Em novembro de 1963, na Reunião Ministerial do CIES em São Paulo, a posição brasileira se opunha a dos Estados Unidos. Um único jornal, A Nação, defendeu a delegação brasileira. Esse jornal e a rede de televisão do grupo Simonsen, por ser democrático, foram destruídos pela ditadura assim como o diário Última Hora, de Samuel Wainer, aliado dos trabalhistas.
Todos os demais jornais do país apoiaram os golpistas e se enriqueceram e cresceram protegidos pela ditadura de 1964 a 1988.
A visão que o mundo tinha do Brasil era dada por uma oligarquia frustrada e vendida que se opunha à emergência dos movimentos populares e as transmitidas pelas quatro agências internacionais de notícias.
A única versão correta e ética dos fatos era dada pelos jornalistas comprometidos ou afins com Prensa Latina ou pequenos meios alternativos sem expressão nacional.
Este recontar da história é importante porque hoje se repete o mesmo roteiro em outros cenários. Porém, com os mesmos os personagens: as oligarquias submissas, as potencias coloniais decadentes e o império hegemônico que se opõem aos avanços em favor da democracia e do bem-estar do povo.
Quando a direita militar se impõe e desfecha o golpe contra o governo de Goulart, nesse mesmo 1o de abril de 1964, Prensa Latina no Rio é de novo empastelada. A sanha direitista, civil e militar, começa uma implacável perseguição a tudo o que lhes cheirasse a comunista ou nacionalista, trabalhista ou antiestadunidense.
Simultaneamente, rompem relações com Cuba e expulsam a delegação da República Popular da China.
Prado, que tinha retornado ao Rio em 1963, ficou pouco tempo e saiu antes do auge da repressão. Aroldo Wall se refugiou em minha casa em São Paulo e começa o longo e árduo trabalho de organizar sua saída do país.
Prensa Latina regressa ao Brasil, depois da Constituinte de 1988, com um correspondente no Rio de Janeiro e mínimos recursos para trabalhar. Agora está instalada em Brasília. A agência está melhor estruturada, com correspondentes em mais de 30 países do mundo e panos de expansão. Oferece uma cobertura única sobre os avanços dos povo que conquistaram e têm governos progressistas, democráticos e antimperialistas.
Com 55 anos de existência, Prensa Latina é fonte indispensável para os meios de comunicação alternativos, publicações na Internet e redes sociais que ganham grande impulso em todo o mundo, particularmente na América Latina.
Não obstante, PL continua enfrentando, no Brasil, as mesmas dificuldades para se impor no que agora se conhece como mercado da informação, antes propriedade de famílias oligárquicas e agora em mãos de grandes corporações que têm como principal objetivo o lucro e a defesa da economia liberal de mercado.
A informação deixa de ser serviço público para atender a um direito humano e passa a ser vendida como commodities.
Os meios de comunicação independentes, alternativos, sobrevivem com grande dificuldade, mas, cresce na população a consciência de que são vítimas do monopólio midiático, de pensamento único e alienante.
Essa consciência resultou na realização da Conferência Nacional de Comunicação –Confecon- que sistematizou e organizou a luta pela democratização das comunicações.
Pela primeira vez na história, no governo de Luís Ignacio Lula da Silva, criou-se um Sistema Nacional de Comunicação. Porém, ainda falta muito que fazer para avançar.
Paulo Cannabrava Filho é Editor da revista digital bilíngue Diálogos do Sul, presidente honorário da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual dos Jornalistas e membro do Conselho da Associação Brasileira de Anistiados Políticos. Trabalhou em Prensa Latina de 1960 a 1964 e em Radio Havana Cuba entre 1968 e 1969. Foi editor e correspondente em La Paz, Bolívia entre 1970 e 1972, editor no diário Expreso, de Lima, Peru, de 1973 a 1977 e responsável pela comunicação na Bureaux Panamenho da Comissão de Negociação dos Novos Tratados do Canal do Panamá entre 1977 e 1980.
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