sexta-feira, 3 de maio de 2013

Neto de ex-presidente brasileiro se forma este ano na Escola de Medicina de Havana

João Marcelo (mais alto) entre colegas na ELAM
Foto: Arquivo pessoal 
João Goulart está prestes a conquistar o diploma de médico em Cuba. Não se trata, é claro, do João Goulart que foi deposto da Presidência da República pelo golpe militar de 1964 e morreu de infarto* em 1976.

Quem logo vai receber o canudo é João Marcelo Goulart, 24 anos, neto do líder trabalhista brasileiro que inicia sua vida profissional justamente em um dos símbolos da esquerda mundial: no país de Fidel Castro.

As semelhanças entre avô e neto vão muito além de nome e sobrenome. Os dois não se conheceram, mas nasceram no mesmo dia: 1º de março. A queda de Jango marcou o início de um dos momentos mais conturbados do país, quando os brasileiros perderam o direito de escolher os governantes. Num desses acasos que ninguém explica, João Marcelo nasceu no ano em que a população voltou a votar para presidente, em 1989. Jango era gaúcho de São Borja. João Marcelo é maranhense de São Luiz. Nasceu longe do Rio Grande do Sul porque os pais viajaram para o Maranhão para cuidar de uma das fazendas da família. — Apesar de ser de São Luiz, me considero um autêntico gaúcho: minhas tradições e valores estão todos no Rio Grande do Sul — fala João Marcelo, que toma seu chimarrão todos os dias em Havana.

Aos dez anos, João Marcelo se mudou com a família para o Rio de Janeiro, onde virou remador do Botafogo. Ainda na adolescência, passou a acompanhar o pai João Vicente (filho mais velho de Jango) nas reuniões do PDT, filiou-se à legenda e conseguiu dela a indicação para uma das vagas na Escola Latino Americana de Medicina de Havana (Elam). Passou pelas provas e entrevistas e embarcou em 28 de fevereiro de 2007. Completou 18 anos no avião. E lá se vão seis anos.

João Marcelo nega que ser neto de um ex-presidente brasileiro que tinha simpatia pelo governo cubano tenha lhe aberto portas. Vive sem grandes luxos, come o tradicional arroz e feijão. Para ir e voltar do hospital onde faz residência, pedala cerca de oito quilômetros por dia. Quando chove, usa o ônibus. Nem pensar em táxi. Talvez a única regalia seja a casa onde vive. Para ter um pouco mais de conforto, trocou o alojamento da Elam pelo piso térreo da casa de um ex-militar em El Vedado, bairro de classe média-alta de Havana. Divide o espaço com a namorada equatoriana.

A exemplo do avô, João Marcelo vê com bons olhos o regime socialista implantado em Cuba. Os irmãos Castro, do outro lado, sempre viram em Jango um dos líderes de esquerda na América Latina, apesar de no governo dele (de 1961 a 1964) não ter havido nenhum grande gesto pró-Cuba. — A melhor parte do socialismo existe neste país, que é a socialização da educação, da saúde, acesso a cultura, trabalho, esporte — avalia João Marcelo. Mesmo com o discurso politizado e de ainda ser filiado ao PDT, João Marcelo não tem pretensões políticas. Quer trabalhar com medicina humanitária, viajar pelo mundo levando assistência a carentes. Esta deveria ser a vontade do avô. — Jango sempre teve os objetivos muito claros, lutou pelo que acreditava, tanto que morreu. Eu sempre imaginei como seria conhecer meu avô. Aprender dele. Vejo meu vô como alguém muito sábio e coerente. Falta um pouco de Jango hoje em dia — afirma.

João Marcelo volta ao Brasil no final de julho. A formatura, que deve levar boa parte da família Goulart a Cuba, está marcada para 16 de julho.

João Belchior Marques Goulart [Jango] nasceu em São Borja (RS) em 1º de março de 1919. Depois de uma carreira parlamentar, foi nomeado, em 1953, ministro do Trabalho de Getúlio Vargas. Em 55, já considerado principal nome trabalhista do país depois do suicídio de Getúlio, foi eleito vice-presidente do Brasil. Em 1960, foi novamente eleito vice-presidente. Em 7 de setembro de 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, assumiu a Presidência. Em 1° de abril de 1964, foi deposto pelo Golpe Militar e deixou o país imediatamente. Exilou-se no Uruguai. Morreu em Mercedes, na Argentina, em 6 de dezembro de 1976. A causa da morte foi infarto.

Fonte: Página 64/DC.

* Nota do Solidários - há suspeitas de que a causa da morte não seja infarto e sim envenenamento, por isso o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (MPF/RS) e a Comissão Nacional da Verdade (CNV) decidiram exumar o corpo do ex-presidente João Goulart.

Um comentário:

  1. FELICITACIONES JOAO MARCELO...LA REPUBLICA ARGENTINA TE RECIBE DE BRAZOS ABIERTOS, DE LA MISMA FORMA QUE TU ABUELO JANGO, EL TAMBIEN NOS PERTENECE...FUERTE ABRAZO MERCOSUREÑO. EDUARDO ALFREDO GALEANO...

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