Por mais que você receba recomendações de pessoas de diversas idades e convicções políticas, Cuba surpreende de várias maneiras.
Quando fiz minha primeira visita, lia "A Ilha" de Fernando Morais, e o país em que eu estava não poderia ser mais diferente daquele descrito nas páginas do livro. A começar, ninguém me chamou de companheiro, tampouco vi um cubano chamar outro compatriota por esta alcunha.
Apesar de algumas pessoas ainda chamarem Fidel de "nosso comandante", ele não é mais uma unanimidade. O senhor que me alugou um carro ficou espantado ao saber que Caros Amigos reproduzia alguns textos de Castro publicados no Granma: "Então deve ser uma grande revista".
Alberto era o nome dele.
Presente
Alberto me presenteou com um belo CD de salsa, mas a melhor banda que eu ouvi por lá, sem querer, foi no Café Paris que estava completamente vazio quando eu entrei para comprar uma garrafa d'água. Todos os instrumentos amplificados, e eles começaram a tocar. Peraí, mas cadê o microfone? Os Manos Libres, nome da banda, cantavam em harmonia, e a voz do vocalista era tão potente que não precisava de amplificação.
Eles me venderam um CD e fizeram questão de autografar, todos eles, "Puro Sabor", essa foi a música que me pegou (ouça abaixo ou no canal de Caros Amigos no YouTube). A pedidos, eles ainda tocaram "Oye como va", de Carlos Santana, uma pérola.
A Música e os Cubanos
A música é parte importantíssima dos cubanos, e apesar de terem uma cultura muito forte nessa área, canções internacionais também são muito bem vindas. Fernando Morais, em seu livro, fala da popularidade de Roberto Carlos e da decepção de um rapaz quando soube que o "Rei" não era negro.
Não é fácil arrumar discos internacionais, mas eles existem. Minha "guia turística" disse que até algum tempo antes do fim da União Soviética o rock era proibido, mas, como todo o resto, dava-se um jeito no mercado negro. Após discutir a eterna dualidade Beatles e Stones, e falar da adoração de um amigo por Jimmy Page, ela me disse que é grande fã de Soundgarden, mas, por não saber qual a aparência de Chris Cornell, ela perdeu a chance de conhecê-lo quando ele esteve na Ilha com o Audioslave, a primeira banda estadunidense a se apresentar em Cuba desde a revolução.
Os olhos dos cubanos brilham quando encontram alguém com quem podem conversar sobre música.
Tom Jobim e Chico Buarque
Quando visitei o bar Gato Tuerto, uma dupla que se apresentava ia perguntando para os turistas de onde eles vinham e, tirando o australiano que sinucou os músicos, para todos os outros presentes, eles tocavam uma música do país natal dos frequentadores. Tocaram Paulinho da Viola, Tom Jobim, e quando tocaram Chico Buarque, o rapaz que tocava violão (o outro tocava violino), anunciou olhando pra mim: "isso é Chico Buarque", como se fosse possível um brasileiro não conhecer o compositor carioca. Agradeci comprando um disco da dupla, e quando começou a tocar uma banda de pop latino, voltei para o hotel.
O taxista tinha me cobrado 10 CUCs pra me levar até o bar, na volta, outro motorista me pedia 20. Tem esse negócio curioso, lá não existe taxímetro. Como bom brasileiro pechinchei até que ele fizesse os mesmos 10 CUCs da ida.
A TV do hotel passava um documentário dos Rolling Stones, fiquei ali esperando o sono chegar pensando no que aconteceria no dia de amanhã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário