sábado, 16 de junho de 2012

Cuba - “Este país é um laboratório de desenvolvimento social”

“Este país é um laboratório de desenvolvimento social”, afirmou representante da Unicef em Havana
por Lisandra Fariña Acosta
Fonte: GRANMA

OUTRO 1º de junho, Dia Internacional da Infância. Segundo as estatísticas, 20 mil crianças morrerão nesse dia, como qualquer outro, por causas evitáveis. As notícias sobre a infância continuam sem ser animadoras para uma humanidade que precisa repensar-se e fechar a brecha da desigualdade, se quiser sobreviver. A esses que são a esperança, o mundo ainda deve muito.

“Cuba comemora a data de modo diferente”, afirmou o representante em Cuba do Fundo das Nações unidas para a Infância (Unicef) José Juan Ortiz Brú, ao conversar com o Granma Internacional sobre os desafios que enfrentam as nações para garantir o cumprimento pleno dos direitos da criança.

Investir na infância e reduzir todo tipo de desigualdades continua sendo hoje uma disciplina pendente...


“Desde a Convenção sobre os Direitos da Criança do ano 1989, progrediu-se, mas a situação imperante continua gerando desigualdades. Sendo hoje mais desenvolvido o planeta, é radicalmente injusto que ainda haja milhões de crianças com carências gravíssimas. Se o sistema não gera essa igualdade, é necessário mudá-lo.

“É um direito de nossas crianças viver, e como direito temos que garanti-lo. A Convenção diz que é responsabilidade de todos os Estados e da Comunidade Internacional. Todas as nações ratificaram essa Lei, exceto os Estados Unidos e a Somália, e portanto é uma cessão de funções não cumpri-la. É um crime, tendo as possibilidades de que esses meninos e meninas não morram, deixá-los morrer.

“Nós na Unicef analisamos a situação da infância com os mesmos indicadores em todos os países. Qual é o fato paradigmático de Cuba? Sendo um país pobre, leva mais de 50 anos garantindo estes direitos. Então não é questão de dinheiro, senão de prioridade política. Se a infância fosse prioritária no mundo, os problemas que hoje sofrem as crianças teriam sido solucionados há anos, como fez Cuba”.

O ano 2015 foi o marcado, como um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, para eliminar a pobreza, garantir a internação escolar a todas as crianças e reduzir a mortalidade infantil. Em meados de 2012, acredita que se poderá cumprir essa meta?

“Sem dúvida os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio não serão cumpridos no mundo. Cuba, contudo, é um exemplo de que sim podemos. Se analisamos os gastos em armas e os gerados pela corrupção do sistema, vemos que dinheiro tem, sim, mas não é destinado à infância nem ao desenvolvimento humano, e a distância entre ricos e pobres é cada vez maior. O capitalismo nunca gerou igualdade nem o fará, não é seu objetivo”.

A América Latina e o Caribe é a região com maior desigualdade social do planeta. Como vislumbra o futuro da infância perante a conjuntura atual?

“Sou muito otimista com a América Latina. A Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) é uma nova esperança, entre outras coisas porque o povo virou também o olhar a governos sociais e progressistas que começam a priorizar os direitos da gente andes do benefício econômico dos ricos.

“Cuba sempre foi um exemplo no âmbito de desenvolvimento social, com níveis de igualdade similares aos dos países mais desenvolvidos. Seu grande desafio, como o de outras nações, é conseguir o consumo responsável. Cuba soube ensinar às pessoas a compartilhar, o risco é manter isso quando o mundo vai em outra direção. É preciso priorizar a educação em valores e potenciar as políticas familiares, saber que o que consumimos no norte faz com que o planeta não seja sustentável.

“O avanço fundamental, a equidade, já está feito. O ponto é sustentá-lo. É um tesouro que Cuba não pode perder. Aqui não há ninguém excluído e esses são os direitos humanos”.

Segundo o Gabinete da Unicef em Cuba, quais foram o avanços mais relevantes?

“Desde que se criou no ano 1992, trabalhamos com umas margens de liberdade e autonomia que permitiram um desempenho satisfatório. Nosso esforço foi sempre colaborar com as políticas públicas a favor da infância ou gerá-las. Existiu sempre transparência e confiança em nosso trabalho, e isso nos possibilitou a introdução em setores onde antes não colaborávamos porque não eram uma prioridade.

“O papel da mídia no desenvolvimento da infância é modélico, apesar das limitações, e foi para nós de grande apoio.

“Assim abrimos duas grandes áreas de trabalho. Uma é o âmbito da cultura como garantia plena de direitos. A melhor manifestação da equidade em Cuba é que a Unicef não precisa desenvolver uma área como a sobrevivência da criança, mas outras como o desfrute da cultura, que é o que nos faz livres.

“O outro âmbito foi a proteção de setores mínimos, como os menores em conflito com a lei, a violência intrafamiliar e sexual. O trabalho com crianças que cometeram atos tipificados como delitos — hoje outro desafio para a América Latina e o Caribe — em Cuba é exemplar. Aqui não há grades para as crianças.  O que existe é reabilitação para esses jovens que, por diversas causas, adotaram condutas não adequadas.

“Também não há uma só criança deficiente que não esteja atendida, inclusive em sua casa se não puder ir à escola. Isso é um avanço miraculoso”.

A ponto de concluir sua gestão, quais satisfações leva consigo?

“Este país é um laboratório de desenvolvimento social. Em 31 anos de trabalho conheci, em nível teórico, muitos projetos e programas de desenvolvimento social; aqui os vivi. É o único país que conheço onde se pode comemorar o Dia da Infância dançando. Por isso, é uma grande festa e têm que comemorá-lo”.

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