domingo, 29 de abril de 2012

Outro depoimento acerca de Cuba...


 Enquanto em Cuba as pessoas trabalham para viver, nos Estados Unidos se vive para trabalhar.
Soy Cuba
Por Marcelo Lartigue
Fonte: OPERUMOLHADO
   
Se você nunca foi a Cuba, mas deseja conhecer a ilha caribenha aqui vai um conselho: vá a Cuba despido de estereótipos. Esqueça a política, o Fidel e tente olhar o  povo cubano de perto. Não vá para aqueles resorts caros e pasteurizados. Aquilo não é Cuba. São apenas cenários bem planejados. Para conhecer Cuba é preciso ouvir o povo simples.Homens e mulheres reais.

Mulheres como Ana, cubana de nascimento e moradora de Miami há 17 anos. Ela  volta à seu País quando quer porque saiu de maneira legal. Primeiro foi embora seu marido, em seguida foi ela.  Eles foram na verdade,convidados por um americano para trabalhar com cinema. Ana está de volta a Cuba por motivo de saúde. Quebrou a rótula e o custo da operação passava dos 35 mil dólares nos Estados Unidos. Em Cuba, a mesma cirurgia não custa mais de 3 mil.Os Cubanos não pagam pelo atendimento médico, mas que mora fora da ilha, mesmo sendo cubano tem que pagar. Pouco  é verdade, mas tem que pagar.

-O sistema de saúde de Miami é muito caro. Se o caso não é de muita emergência, a coisa complica. Eu cai e machuquei a rotula. Foi uma coisa simples, mas como não tenho Seguro Médico não pude ser operada.E não podia pagar. Temos que pagar a todos os médicos e todas as enfermeiras. Mesmo que elas não façam Ada por ti. Mesma coisa com os exames. Os médicos pedem e você não tem o poder de escolher sequer fazer ou não. Não tratei o problema e com o tempo foi piorando e tive que procurar uma solução. Então vim a Cuba e paguei como estrangeira apenas 3 mil dólares. Posso reclamar de muita coisa em Cuba, da saúde não posso reclamar.

Mesmo residindo em Miami há 17 anos, ela não gosta  da cidade. Acha o povo muito frio, sem calor humano, onde todos vivem apenas para o trabalho. Não existe tempo nem para a família. Enquanto em Cuba as pessoas trabalham para viver, nos Estados Unidos se vive para trabalhar. Em Miami, Martica têm dois empregos. Vende Seguros para casas a carros e trabalha numa empresa de advocacia. 

- Depois de um longo dia de trabalho, estamos todos cansados. Queremos apenas paz, descanso e comisso a gente vai se afastando das famílias, dos amigos. Trabalho muito para poder pagar as contas e poder viajar com a família. Tenho duas filhas que nasceram em Cuba mas agora são americanas. As duas amam  Cuba por suas raízes. Jamais vamos esquecer nossa história. Essa é a segunda vez que elas vêm a ilha. Acho que Cuba está mudando. Essa é a historia da humanidade. As sociedades sempre mudam.Pode demorar, mas as mudanças um dia chegam. Espero que mude para melhor. 

Martica aproveitou a viagem à Cuba para tratar também do cabelo.Escolheu o lugar pelo preço e pela amizade que tem com Janet, a proprietária do Salão de Beleza. Como estava em três (acompanhada das duas filhas) ainda teve um desconto. Pagou apenas 60 dólares por um pacote que incluía corte, pintura,sobrancelhas, buço, unhas, virilhas, banho de luzes, podólogo, massagem,depilação, etc. Em Miami um tratamento como este não sai por menos de 180dólares por pessoa.
Um pouco sobre mim
Sempre que viajo a Cuba, procuro tratar minha diabetes.Desta vez, fiquei num hospital chamado Hospital do Pé Diabético. Fiquei “ingressado” lá  a pedido da equipe do dr Fajet. Nesse tipo de sanatório, o paciente entra pela manhã, recebe uma refeição frugal( no primeiro dia me deram um copo de iogurte e um ovo cozido) faz todos os tipos de exames, conversa com os médicos, têm aulas sobre sua enfermidade( no meu caso enfermidades) aprende como elas se desenvolvem, como os remédios atuam sobre e como se prevenir. Na ala dos diabéticos, todas as tardes ficávamos( os doentes) cerca de duas hora conversando. Falando sobre coisas simples do dia-a-dia. É que o stress é um dos principais motivos para o descontrole do diabetes. Foi numa tarde desta que conheci Pilawto (mistura de Pipo, seu verdadeiro nome com Lawton, cidade em que nasceu), um DJ de 18 anos com pouca experiência no ramo mas com muita vontade de crescer. Ele na verdade é cantor e gosta de estilo house e reggaeton. 

- A juventude cubana gosta das músicas do país, mas escuta tudo que está no ar. Os gêneros urbanos,das ruas. Ouvimos de tudo: charangas, guaracha, rumbas, etc. Temos que ofereceras musicas que as pessoas pedem. O reggaeton tem um bom ritmo, alguns têm boas letras. O reggaeton cubano tem uma fusão com cumbia, merengue, etc. É diferente do reggaeton de Porto Rico que é misturado com o Hip-Hop e tem grande influência americana. 

Como contapropista (profissional liberal, que trabalha por conta própria)  Márcio ganha em média 50 CUC (dólar cubano convertível que vale 24 vezes o Peso cubano) por noite. Se acaso trabalhasse para o governo, ficaria com muito menos. Ganha mais que os médicos que cuidam de sua saúde. O CUC é apelidado de Chavito entre os cubanos. Márcio era o mais jovem interno do nosso hospital. Ao mesmo tempo era oque tinha a cabeça mais velha. Ele se surpreendeu com as idéias modernas dos enfermos mais idosos. Gente que tinha muito mais idade que ele, mas que pensavam de maneira moderna. 

-As vezes  as pessoas envelhecem por fora, mas não envelhecem por dentro. Se sentem jovens sempre. Nos cubanos somos assim,estamos sempre alegre, mostrando os dentes. Aqui mesmo entre tantas pessoas doentes, fiquei alegre o tempo todo. Aprendi um pouco mais sobre a diabetes, ater disciplina com a comida. Os cubanos são bastantes comilões. E para quem tem diabetes, a disciplina é fundamental. Eu adoro Cuba. É meu País e o defendo a todo custo.Sou livre e feliz em Cuba. Ando a noite, a qualquer hora da noite em qualquer rua e não acontece nada.

Além de DJ, Pilawton é mecânico graduado, Torneiro mecânico e fresador. Fez ainda um curso de Refrigeração.Filho de um marinheiro e de uma dona de casa, diz que está preparado para tudo. Até hoje, o DJ vive com seus pais. 

A verdade é que aprendi mais sobre Cuba nos 4 dias de internação, junto aos cubanos mais simples, que em todas minhas viagens anteriores. Foi uma experiência muito divertida e educativa. Desta vez conheci o povo cubano mais profundamente, pessoa simples como Armando Gomes, dono de um carro “ alambrico” , ou seja, um carro todo amarrado de alambre, ou arame, como chamamos no Brasil. O carro de Armando foi fabricado em 1949.Um Plymuth (no sei como se escreve) Tem pedaços de vários outros carros. Ventoinha de carro alemão, carburador russo, pneus japoneses, tanque de gasolina de plástico, bateria americana e caixa de câmbio russo e assim por diante. Quem vê acha que vai se desmanchar sozinho, mas basta ligar o motor para se mudar de idéia. O som do motor lembra uma Mercedes nova em folha. Armando não lamenta o estado do seu automóvel. Reclama apenas do consumo. O carro faz apenas 9 Km por litro. 

Domingo foi outro cubano simpático que conheci desta vez.Para ele, Raul Castro está sendo muito mais realista que Fidel. O fato de Raul ter liberado os cubanos para trabalhar por conta própria em barbearias, salões de belezas, bares e restaurantes, está mudando a economia da ilha. Esses pequenos negócios estão dinamizando a economia cubana. Antes, com Fidel no poder, o governo ficava com todo do faturamento. Para Domingo com o dinheiro solto na economia, todos vão ganhar um pouco. Até as terras, sagradas pelo governo e que sempre esteve nas mãos de Fidel, agora já estão sendo usadas por pessoas do campo para a produção de alimentos. Fidel sonhou muito, Raul é mais realista, mas tem que cumprir com a promessa de deixar o poder para pessoas de uma geração nova, , que acabasse esse boicote que não beneficia a ninguém e gritou “Viva Cuba Livre!!!”

- Vamos por um bom caminho. O que nos falta no momento é trabalho. Os cubanos estão comprando casas de 300 mil dólares. Cubanos que casarem com estrangeiros, que foram morar fora. O governo liberou a compra de imóveis pois tinha que controlar esse mercado. Antes, era tudo feito de maneira ilegal, com contratos de gavetas.Antes,quando você queria vender sua casa, tinha que oferecer primeiro ao governo.Caso ele não tivesse interesse, poderia vender a quem quisesse.  O ideal era liberar os cubanos para poder sair e voltar para a ilha. Estamos esperando essa Lei. Antes Cuba estava ameaçada constantemente. Agora não:as coisas mudaram. É necessário mudar as Leis, visto que a situação mudou, declarou Domingos.

A cultura africana resiste em Cuba 

Andrés Lázaro Neiva Martins é um cubano típico. Seguidor das religiões africanas. Santeiro (o mesmo que Pai de Santo no Brasil) Andrés Lazaro, descendente de Iorubás, é filho de Xangó e fabrica tambores. Para Andrés, todas as religiões são boas. A dele, diz que é. Os africanos trazidos para Cuba para trabalhar como escravos, eram obrigados a aceitar o catolicismo como religião. Para burlar a ordem Papal, eles mudaram os nomes de seus orixás, dando nomes católicos a eles, e  usando a música como resistência para a cultura e para a comunicação. 

Os Iorubas cubanos vão as missas católicas. Geralmente toda as semanas. Mas não esquecem suas tradições africanas. Andrés diz que quando toca o seu tambor, sente uma energia difícil de explicar. Uma ligação entre ele e seu santo. Perguntei se ele não queria vir ao Brasil, dar uma palestra na Universidade Veiga de Almeida, por exemplo, e de maneira surpreendente Andrés disse que não.

Que estava feliz da vida em sua casinha. Fazendo seus tambores. Tocando todos os dias seus ritmos africanos, se envolvendo com seus santos, com sua religião. Apesar dos cubanos santeiros irem as missas católicas, de adorarem seus santos africanos dentro dos templos católicos, os tambores não entram. Os tambores só são escutados nas casas chamadas ilê-ocha, as famosas Casas de Santos, ou Santerias.

- As pessoas confundem as coisas. Só porque praticam religiões distintas, acham que tudo não é a mesma coisa. Existe apenas um Deus supremo para todo mundo. Religião é uma coisa pessoal. Eu sou especialista em fabricação de tambores. Vivo disto. Adoro viver em Cuba. Agradeço o convite mas fico aqui. Estou tranquilo em meu país. Gracias pelo convite mas aqui estou rico. Mesmo com pouco. Estou muito bem aqui. Acostumar a outros costumes, a essa altura da vida seria muito difícil para mim.  Nos sentimos bem em Cuba. Aqui é nossa terra. Sei que muitas pessoas querem ir embora. Eu não! Pratico minha religião e aqui sou feliz.

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