segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cuba 2012


Por Mário Augusto Jakobskind

Cuba é realmente uma caixa de surpresas. Nestes dias renovando as baterias fiquei distante cerca de 180 quilômetros do Eliakim. Eu em Havana (foto),  Eliakim no sul da Flórida estávamos a 25 minutos de avião. Mas se por acaso o Eliakim quiser ir a Cuba não poderá fazê-lo desta forma, porque o governo dos Estados Unidos proíbe residentes e de nacionalidade norte-americana de viajar para Cuba. Eliakim, portanto sofreria represálias e pagaria multa. É uma das facetas do bloqueio. Barack Obama só permite que familiares visitem Cuba quantas vezes quiserem por ano e levando a quantidade de dólares que acharem necessário. O hediondo W. Bush filho tinha restringido esse deslocamento.

Cuba vive há mais de 50 anos sob um bloqueio sem precedentes na história contemporânea. Os prejuízos totalizavam 975 bilhões de dólares em fins de 2010, segundo o governo cubano. Raúl Castro, que a mídia de mercado se refere apenas como o “irmão de Fidel”, como se ele não tivesse vida própria e ocupasse o cargo de presidente em função dos laços familiares, está conduzindo o processo revolucionário cubano, que na fase atual tenta se inserir no mercado mundial. Segundo analistas, Cuba se adapta ao mundo e não como era antes, quando Cuba queria que o mundo se adaptasse a Cuba.

Independente do bloqueio de mais de 50 anos, hoje Cuba enfrenta também outro perigo, tão ruim ou pior, nas palavras do Presidente Raúl Castro, do que o criminoso bloqueio estadunidense.

Raul Castro está preocupado com a corrupção do tipo colarinho branco, que provoca grandes danos ao Estado, consequentemente ao povo cubano. Burocratas de colarinho branco agem de forma perniciosa e acumulam grana em detrimento do povo. O próprio Fidel Castro, que continua a acompanhar os acontecimentos em Cuba e no mundo com suas reflexões, mesmo não ocupando mais a Presidência, já havia advertido em discurso para estudantes em 2005 que fenômenos internos negativos ameaçam a revolução socialista cubana.

Agora, ao discursar no encerramento do VIII Período Ordinário de Sessões da Assembleia Popular, no último dia 23 de dezembro, Raul Castro foi incisivo e não deixou dúvidas ao afirmar que “estou convencido que a corrupção é hoje um dos principais inimigos da revolução, muito mais perniciosa do que a atividade subversiva e de ingerência do governo dos Estados Unidos e seus aliados dentro e fora do país”.

Nesse sentido, vale lembrar o que se passou em determinado momento no Vietnã, quando dirigentes socialistas advertiam sobre os malefícios que a corrupção provocava ao povo. Indignados com o que acontecia nessa matéria alertavam que se os vietnamitas tinham conseguido derrotar militarmente o imperialismo da potência hegemônica estadunidense, não poderiam perder a batalha contra a corrupção praticada até mesmo por alguns “companheiros” colocados em postos importantes.

No discurso de fim de ano, Raul Castro citou o exemplo das “fraudes nos produtos agropecuários nos mercados da capital, que não existiram, nem se cultivaram, gerando um desfalque de mais de 12 milhões de pesos devido à atuação de diretores, funcionários e outros trabalhadores de empresas estatais que praticam o comércio, bem como de pequenos agricultores que se prestaram como testas de ferro”. E a todos eles, acrescentou Raúl Castro, “serão exigidos responsabilidades administrativas e penais, de acordo com a gravidade dos fatos”.

Cuba, em suma, não é nenhum paraíso, como entendem os áulicos e acríticos da revolução socialista. Não é nenhum inferno como dizem os setores radicais de direita cubano-americana. É apenas um país da face da terra com qualidades e defeitos. Quando a chamada mídia de mercado ataca o regime cubano,  o motivo de um modo geral é mais pelas qualidades do regime do que por seus defeitos.

A ilha caribenha tem um grande capital que nos dias de hoje vale muito mais do que qualquer cotação na bolsa de Wall Street. É a questão da segurança. Ao contrário do que acontece no México, no Brasil, na Venezuela e agora mesmo em países europeus que enfrentam grave crise, em Cuba o visitante circula com a maior tranquilidade, mesmo por ruas pouco iluminadas. Não corre riscos como nos países mencionados.

À noite, nas ruas pouco iluminadas de Havana,  o visitante pode ter a certeza que nada lhe acontecerá em matéria de assalto à mão armada ou sem arma. Pode até tropeçar ou cair numa falha do asfalto imperceptível no escuro. E só. Dirigindo automóvel pode parar em sinal a qualquer hora, pois estará certo que nada lhe acontecerá. E isso hoje em dia na América Latina é de grande valor.

As reformas estão presentes e merecem análise mais aprofundada.   Para muitos os resultados não tardarão. E tudo está sendo feito com a máxima cautela, para evitar que amanhã ou depois Cuba se veja atropelada pelos fatos.

Muita coisa que era proibida em décadas anteriores, hoje é absolutamente legal. Por exemplo, cubanos possuírem moedas estrangeiras e assim sucessivamente. Recentemente, o governo cubano permitiu a compra e venda de moradias e veículos. O número de trabalhadores por conta própria já supera os 350 mil, sendo que 80% deles optaram por se associarem a Central dos Trabalhadores Cubanos (CTC).

Assim, em síntese, caminha a ilha caribenha nesta nova fase de adaptação ao mundo atual. A direita golpista e terrorista em vários quadrantes continua furiosa e utilizando os valores da época da Guerra Fria quando diziam que Cuba era satélite da URSS. Como a URSS já era, a direita velhaca passou a utilizar outros adjetivos, que tentam induzir a opinião pública a repudiar o regime cubano.  Querem Cuba como nos velhos tempos de prostíbulo do Caribe. Este tempo acabou em 1 de janeiro de 1959.

(A foto que ilustra a coluna é de Elza N. Moraes)

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