sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fidel Castro: "o desastre do Japão e a visita de um amigo"

Hoje, tive o gosto de cumprimentar Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos entre 1977 e 1981 e o único, segundo minha opinião, com suficiente serenidade e valor para abordar o tema das relações de seu país com Cuba.

Carter fez quanto pôde para reduzir as tensões internacionais e promover a criação das repartições de interesses de Cuba e dos Estados Unidos. Sua administração foi a única que deu passos para atenuar o criminoso bloqueio imposto a nosso povo.

As circunstâncias não eram certamente propícias em nosso complexo mundo. A existência de um país verdadeiramente livre e soberano em nosso hemisfério não se conciliava com as ideias da extrema direita fascista dos Estados Unidos, que fez tudo para fazer fracassar os propósitos do presidente Carter, que o fizeram credor do prêmio Nobel da Paz. Ninguém lhe deu esse prêmio gratuitamente. 
A Revolução sempre apreciou seu gesto valente. No ano 2002 foi recebido calorosamente. Agora, lhe reiterou seu respeito e apreço.

Será que a oligarquia que governa essa superpotência poderá realmente abrir mão de seu afã de impor sua vontade ao resto do mundo? Poderá fazer jus a esse propósito um sistema que gera, com crescente freqüência, presidentes como Richard Nixon, Ronald Reagan e George W. Bush, cada vez com maior poder de destruição e menos respeito pela soberania dos povos?

A complexidade do mundo atual, não deixa muita margem a recordações que são relativamente recentes. A despedida de Carter, hoje, quarta-feira, coincidiu com notícias preocupantes do acidente nuclear desatado pelo sismo e o tsunami no Japão, que continuam chegando e não podem ser ignoradas, não só pela sua importância, mas também pela repercussão prática e quase imediata que delas deriva para a economia mundial.

Hoje, a agência de notícias AP informa do Japão que:

"A crise na usina nuclear japonesa, avariada pelo tsunami, se agravou na quarta-feira, depois que a água do mar próxima mostrasse os teores de radiação mais elevados até o momento".

"Em Fukushima, a radiação filtrada penetrou na terra e no mar e se introduziu em hortaliças, leite não pasteurizado e, inclusive, na água corrente, até Tóquio, 220 quilômetros para o sul".

"Entretanto, o imperador Akihito e a imperatriz Michiko visitaram durante uma hora um grupo de evacuados em Tóquio".

A Reuters, por seu lado, informa de Tóquio, que:

"O Japão atualizou, na quarta-feira, seus padrões para usinas de energia nuclear, o primeiro reconhecimento oficial de que suas normas eram insuficientes quando um terremoto avariou uma de suas instalações, desencadeando a pior crise atômica, desde Chernobil, em 1986".

"O anúncio foi tornado público depois de o governo ter reconhecido que não existe um final claro para o fim da crise e que um salto nos níveis de iodo radioativo na água do mar se acrescentou às evidencias de filtrações nos reatores em torno do complexo e mais para lá".

"Achados de plutônio no solo da usina fizeram disparar o alarme público sobre o acidente, que ocultou o desastre humanitário provocado pelo terremoto e o tsunami de 11 de março, que deixaram 27.500 mortos ou desaparecidos".

"Antes do desastre, os 55 reatores nucleares do Japão forneciam cerca de 30% da energia elétrica do país. Esperava-se que a porcentagem se elevasse para 50% em 2030, dentre as maiores do mundo".

"Novas leituras mostraram um salto no iodo radioativo de 3.355 vezes o limite legal, indicou a agência estatal de segurança nuclear, embora o organismo minimizasse seu impacto, dizendo que as pessoas haviam abandonado a área e que tinha sido parada a atividade da pesca".

"Centenas de engenheiros vêm lutando durante semanas para arrefecer os reatores da usina e evitar uma catastrófica fusão das barras de energia, embora a situação pareça ter deixado atrás esse cenário de pesadelo".

"O diretor de pesquisa de valores da JPMorgan Securities em Tóquio, Jesper Koll, disse que uma dilatada batalha para controlar a usina e parar as fugas de radioatividade perpetuaria a incerteza e agiria como um lastro para a economia".

"’O pior cenário possível é que o problema se alongue não um, dois ou seis meses, mas sim durante dois anos ou indefinidamente’, declarou".

"O plutônio, um subproduto das reações atômicas, que pode ser empregado nas bombas nucleares, é altamente carcinogênico e uma das substâncias mais perigosas do planeta", indicaram os especialistas".

Uma terceira agência, a DPA, de Tóquio, assinala que:

"Os técnicos japoneses continuam sem poder parar a crise nuclear, após três semanas depois dos acidentes na usina atômica de Fukushima. Portanto, o governo de Tóquio começa a estudar medidas extraordinárias para deter a emissão de radioatividade das instalações".

"A ideia é cobrir os reatores com uma espécie de tecido. As recentes altas medições de íodo 131 no mar são um sinalo de uma crescente radiação. A organização ecologista Greenpeace adverte, ainda, de sérios riscos para a saúde dos moradores após medições próprias".

"Peritos consideram que o processo para descartar definitivamente uma possível fusão do núcleo pode demorar meses. Tepco prometeu melhorar as condições trabalhistas dos técnicos, cada vez mais nervosos e esgotados".

Enquanto estes sucessos têm lugar no Japão, o presidente bolivariano da Venezuela visita a Argentina, Uruguai e viaja à Bolívia, promovendo acordos econômicos e estreitando laços com países de nosso hemisfério decididos a serem independentes. Na universidade de La Plata, onde a tirania promovida pelos Estados Unidos fez sumir, entre muitos milhares de argentinos, a mais de 700 estudantes — 40 deles da Escola de Jornalismo — Chávez recebeu o prêmio Rodolfo Walsh, que honra um dos heróicos jornalistas revolucionários assassinados.

Já não é só Cuba; são muitos os povos dispostos a lutar até a morte por sua Pátria.

Fidel Castro Ruz

30 de março de 2011

18h51.

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