Em discursos na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (21/9), Cuba e Irã resgataram o apelo pelo estabelecimento de uma "nova ordem mundial" na próxima década. O lema, que esteve em evidência nos anos 1970 e início dos 1980, foi promovido pelo Movimento Não-Alinhados (do qual ambos os países fazem parte) mas caiu em esquecimento no fim da Guerra Fria. Agora, as delegações de Havana e Teerã decidiram retomar a questão, ainda que com visões políticas bem distintas.
Tanto para cubanos quanto para iranianos, só assim será possível alcançar as chamadas Metas do Milênio até 2015. No entanto, enquanto o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, relacionou a "nova ordem mundial" a questões religiosas, pedindo a todos que “retornem à mentalidade divina”, o ministro do Exterior de Cuba, Bruno Rodríguez, atribuiu essa ordem à rejeição do capitalismo e ao desenvolvimento de profundas políticas sociais.
“As estruturas injustas e pouco democráticas das instituições internacionais, políticas e financeiras mundiais estão por trás da maioria das desgraças da humanidade. Precisamos de um governo justo e imparcial, baseado na mentalidade divina”, disse Ahmadinejad na Assembleia Geral, em Nova York.
Já Rodríguez, que representou o presidente cubano, Raúl Castro, afirmou que em seu país as metas previstas na Declaração do Milênio "foram cumpridas praticamente em sua totalidade, e em alguns casos superadas amplamente”. Além disso, reiterou que os avanços no desenvolvimento em Cuba são "um êxito conseguido apesar do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto ao povo cubano, durante meio século, pelo governo dos Estados Unidos".
O chanceler cubano citou ainda "significativos progressos" nas metas de desenvolvimento em países como Bolívia, Nicarágua, Equador e Brasil e ressaltou que nenhum deles dependeram da ajuda internacional dos países desenvolvidos. “A ajuda internacional é quase inexistente”, disse. Rodríguez denunciou que os mercados das economias mais avançadas permanecem restringidos para as exportações dos países pobres e que a dívida externa continua multiplicando-se.
A ONU “trairá sua razão de ser se não tomar consciência destas realidades e atuar como agora", argumentou o cubano.
Irã x EUA
Em entrevista coletiva após a Assembleia Geral, Ahmadinejad afirmou que, se os EUA comandarem ou apoiarem um ataque contra as instalações nucleares de Teerã, haverá uma guerra "sem limites".
Para o líder iraniano, uma agressão militar por parte de Israel com o apoio de Washington seria considerada um ato de guerra e daria início a um conflito para o qual os americanos não estão preparados. Apesar disso, ele reiterou a disposição para se reunir com o presidente dos EUA, Barack Obama, caso haja alterações na política norte-americana para seu país. Teerã não tem relações com os EUA desde 1979.
A presença de Ahmadinejad em Nova York causou polêmica e centenas de pessoas manifestaram-se junto à sede da ONU contra a situação dos direitos humanos e a repressão da oposição iraniana. As autoridades nova-iorquinas fecharam as ruas e impediram o acesso ao hotel onde o presidente ficará hospedado até quinta-feira (23/9).
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