Presidente de Cuba, Raúl Castro | Foto: Cuba Debate |
O texto, a seguir publicado, é bastante duro, principalmente para românticos e idealistas. A realidade de uma ilha socialista isolada e as alternativas propostas podem causar ojeriza para defensores cegos e/ou negação para defensores débeis.
Contudo, não concordo com todas as opiniões expressas, principalmente quando descreve uma Cuba onde nada funciona. Ora, fosse assim a Revolução não estaria no seu 52º ano.
A partir desta premissa concreta discordante, penso que a alternativa "privativista" deve ser encarada com maior cuidado. Muito mais do que a "confiança" subjetiva na direção do partido, dos sindicatos e do "povo".
Cuba é uma escola de socialismo
Por Rómulo Pardo Silvano no blog Malpublicados
Sua revolução ensina o quanto pode ser feito e também as tarefas que são muito lentas e difíceis. Mostra que é muito diferente tomar o poder e construir o país dos cidadãos socialistas.
É inegável que a revolução obteve sucessos notáveis, saúde, paz, justiça, cultura, solidariedade internacional, a unidade e a coragem para enfrentar 50 anos de ataques do império e seus aliados. Na educação um grande triunfo, mas incompleto.
O discurso de Raúl Castro, na Assembleia Nacional do Poder Popular, possuí uma espécie de política franca e corajosa que deve refletir-se. (1)
Cuba tem graves problemas econômicos, que em parte são de responsabilidade de seus trabalhadores e de uma limitação da educação.
O regime cubano, ao contrário da democracia capitalista, garante alimentação, segurança social, trabalho para todos, serviços gratuitos.
Infelizmente, como resultado negativo, se produziu um déficit que ameaça tornar-se incontrolável se não forem tomadas medidas de forma decisiva.
Seria preciso renegociar a dívida externa; a produtividade e a eficiência do trabalho são baixas; as exportações fracas; a substituição de importação insatisfatória; a produção de alimentos requer fortes importações; os gastos sociais, próprios do socialismo, são enormes e de consideráveis gastos improdutivos.
Como causas, há políticas ressultantes de décadas anteriores e desacertos.
No setor estatal, é excessivo o número de funcionários; o tratamento laboral e salarial paternalista não incentiva para o trabalho; pessoas que não trabalham têm longos anos de salários garantidos; no plano do açúcar e outras produções agrícolas foram cometidos erros.
Somam-se, o comportamento irresponsável dos cidadãos que não poderam ser corrigidas pela sua excelente educação, a melhor dos países em desenvolvimento. No país difundiu-se a noção de que poderia-se viver sem trabalhar. Falta disciplina laboral e social. Apesar da crise global, o consumo residencial de energia elétrica cresce acima do previsto. Pode-se adicionar - não disse Raul, desta vez - o roubo de combustíveis, materiais de construção, alimentos, do Estado; a existência de um mercado negro; postos de trabalho vagos por falta de interessados. E as pessoas, nestas condições, sentem que se deve aumentar os salários.
Uma política quase mundial pressiona, conspirara, para que a economia se transforme até uma política capitalista e se desmonte o socialismo.
A resposta revolucionária é declarar o socialismo irrevogável; perfeccionar o modelo com o povo, de forma responsável e com rapidez suficiente. Superar os problemas, unidos os revolucionários, a maioria do povo e as direções. Encontrar as medidas adequadas, ouvindo e discutindo as discrepâncias, honesta e colegiadamente.
Uma política quase mundial pressiona, conspirara, para que a economia se transforme até uma política capitalista e se desmonte o socialismo.
As medidas acordadas são duras.
Despedir funcionários públicos excedentes; colocar fim ao paternalismo das despesas improdutivas; alterar o pagamento igualitário do trabalho.
Expandir a economia privada, autorizá-la a contratar força de trabalho; criar para ela um sistema de impostos sobre vendas e receitas. Isso poderia ser uma alternativa para os trabalhadores despedidos.
"É preciso apagar para sempre a noção de que Cuba é o único país no mundo que se pode viver sem trabalhar", disse Raul, mas haverá assistência social para aqueles que não são capazes de trabalhar e suas famílias.
Trata-se, disse, de uma mudança estrutural e conceitual, para preservar e desenvolver o sistema social e torná-lo mais sustentável no futuro.
Idéias queridas da Ilha mundam e surgem questões e riscos.
Para o sucesso do plano, o governo confia na gestão política do Partido; na Central de Trabalhadores de Cuba; nos sindicatos e na maioria da povo; em especial, no apoio decisivo da classe trabalhadora, juntamente com os camponeses e no resto do setores da sociedade; de aplicar com equidade e transparência as medidas.
Pode-se pensar que se afronta perigos: a imitação do modelo chinês; um descontentamento interno; condições melhores para a subversão dirigida e financiada pelos Estados Unidos. Raul, em seu discurso, lembrou que Bush, em 2003, anunciou a mudança do regime em Cuba e nomearia um interventor para administrar o país depois de ter sido ocupado.
Os socialistas devem ser firmes para defender o sistema e dar a face às dificuldades, sem simulação. A Revolução se ganha sem lamentações.
Nota:
(1) Veja um discurso por Exército Raúl Castro Ruz, na Assembleia Nacional do Poder Popular em 1º de Agosto de 2010. Clique aqui.
Tradução: Robson Luiz Ceron - Blog Solidários.
Robson Ceron é advogado.
É melhor renovar o sistema ou deixá-lo cair para ir direto para as mãos dos capitalistas de Miami?
ResponderExcluirEssa frase de que a limitação da educação em Cuba é responsável pela crise que Cuba passa só pode ser uma piada de mau gosto. Claro que concordo que Cuba teve uma queda na educação devido ao baixo crescimento econômico e falta de dinheiro de 90 para cá, porém a limitação em educação é uma conseqüência negativa desse baixo crescimento aliado a fatores externos. O desenvolvimento social jamais pode ser culpado pela ineficiência econômica.Isso está parecendo discurso de liberal-reacionário.
Em relação às soluções que o texto apresenta claro que eu concordo com elas, porém uma coisa é a teoria e outra coisa é a pratica. A nova reforma econômica que Cuba adotou, semanas atrás, talvez possa levar ilha a mais próximo ainda do socialismo cientifico que encontramos nos livros. Para entender melhor minha posição leia o texto do Alex no blog do PCB de São João Del rei: http://saojoaodelpueblo-pcb.blogspot.com/2010/08/sobre-as-reformas-economicas-anunciadas.html#comments. Mais tem que se tomar cuidado em relação até onde pode ir com essas medidas, para não distanciar do sistema socialista existente. Até por que o objetivo é permanecer dentro dele, como disse Raul em seu discurso, com link nesse texto.
Concordo!
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