O texto, a seguir, faz uma interessante análise da situação da agricultura cubana atual, elenca problemas e aponta possíveis soluções. Para entender os desafios da Revolução nesta área tão importante.
Qualquer projeção sobre a forma de aumentar a produção agrícola - núcleo central dos propósitos alimentares da província e do país - deve levar em conta, entre outros, três fatores de ordem sociológica:
O primeiro se refere à estrutura populacional e suas áreas de residência, predominando hoje a população urbana – com tendência sempre crescente de esses centros receberem mais pessoas, na medida que a urbanização melhorar – produzindo um êxodo incontrolável, que deixa sem recursos humanos os campos do país.
Em segundo lugar, a universalização da educação, realizada pela Revolução, contribuiu – sem ser este o objetivo – com o fator supramencionado. A sociedade, por essa questão de ordem educacional, começou a ver e sentir o campo, como um símbolo de atraso, de marginalização profissional e de desenvolvimento.
E, em terceiro lugar, não se pode deixar de levar em conta a atual e futura situação demográfica do país, com uma população que não se reproduz e envelhece vertiginosamente. Onde os jovens não sentem motivação para o trabalho na agricultura – que, juntamente com a deterioração da base econômica, agravada nas zonas rurais –provoca uma mudança de 180 graus na cultura agrária de outrora. Isto repercute e repercutirá na mente das gerações atuais e futuras, se não se frear as causas que criam a tendência para êxodo rural, como forma de buscar maior desenvolvimento e realização pessoal.
Neste sentido, observa-se com preocupação que, em um lapso de 40 anos, a densidade populacional mudou a posição da pirâmide e isso implica que 80% da população vive agora, na zona urbana. Pelas razões que forem, violentou-se a lei do desenvolvimento harmonioso e proporcional da economia. E, diante de uma massa de população com grande acesso à educação e uma estrutura agrícola enfraquecida, a dinâmica do senso comum apontam que as perspectivas para o desenvolvimento individual deve ser procurado nas regiões de maior crescimento econômico. Foi isso que aconteceu.
A vontade política, que inclui uma justa necessidade de que a população rural seja maior em número e em interesse de trabalhar e fazer a terra produzir, tem conseguido menos do que a reação natural das pessoas em busca da realização que consideram lhes pertencer. É simplesmente o ser social determinando a consciência. Somos ou não marxista? ... Somos!
A cultura agrária, vista como um conjunto de costumes e modos das diferentes formas de propriedade, refletidos em sua forma de ocorrer, sofreu com o resultado do acima exposto. Sofreu, também, pela não integração coerente e sistemática aos ramos da economia relacionados com a indústria, a construção, e, principalmente, os serviços. Um processo de enfraquecimento que levou a uma situação de perda de consciência e, portanto, de cultura, enquanto que a vitalidade de um país ou região só é possível se você criar e fortalecer a base material e produtiva orientada para facilitar a alimentação da população, principalmente por seus próprios esforços e resultados.
Na década de 50, por ser a mais próxima da revolução, predominava na cultura doméstica das pessoas do campo, apenas para citar um exemplo, a necessidade de contar com uma criação de aves poedeiras - garantia de ovos e carne -. Igualmente, ocorria com a criação de porcos, segurança de carne, gordura e poupança para atender às necessidades de um campo abandonado, pobre e sem perspectivas de então. Esta tendência, feita cultura, foi transformada anos mais tarde, quando o desenvolvimento da Unión de Empresas Combinado Avícola Nacional abastecia mercados e açougues, provocando - sem ser o propósito - um amordaçamento mental e o abandono dessas práticas antigas.
Sem economia não há país, diz um velho ditado, e dentro desta, a agricultura é a fonte e base de desenvolvimento. Parar de importar o que poderia ser produzido no país em matéria de alimentos, tem uma dupla vantagem: em primeiro lugar a economia de divisas (claro, se a produção ocorrer de forma eficiente, ou seja, com menor custo e mantendo a qualidade de padrão internacional, caso contrário é um engano). Por outro lado, parar de gastar, pode melhorar e, em alguns casos, criar a base material e técnica para a produção de alimentos em maior escala, pois, devemos estar convencidos que com meios rudimentares de lavoura, apenas manteremos uma agricultura de subsistência, não de desenvolvimento sustentável.
Para gerenciar uma fazenda, ouvi de um velho campesino, precisamos de outra fazenda (entenda-se por outra, recursos financeiros e materiais). As intenções, mesmo que sejam nobres, por si só não são suficientes. Para revitalizar um setor tão estratégico, como o da agricultura, é necessário para um país como o nosso (perdido em um período especial - que ainda não ultrapassamos - e influenciado agora, não só pelo bloqueio dos EUA, mas pela crise econômica mundial gerada pelo capitalismo), a combinação harmoniosa, digamos, equilibrada, de uma agricultura onde operem de forma eficiente os pequenos produtores - com métodos artesanais (de subsistência), com a aplicação de métodos intensivos (de desenvolvimento), onde estejam presentes a introdução de novas tecnologias, equipamentos e, especialmente, de sementes e o uso racional de fertilizantes.
A terra não produz por decreto, nem mesmo a mais fértil e com maior vocação orgânica para fazê-lo. Antes de tudo, requer uma força de trabalho comprometida e consciente, que atinja este estágio impulsionado por motivação, onde é necessário que se vincule - sem preconceitos ou preocupações ideológicas - o papel que joga nesta construção do modelo socialista, o estímulo material e seu correspondente moral. O trabalho só se tornará em um elemento vital e necessário a vida dos cidadãos, com direitos e oportunidades para o exercê-lo, se este traga benefícios materiais e morais, que lhe permitam satisfazer essas necessidades, e a economia agrícola, não é exceção.
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