quinta-feira, 1 de abril de 2010

Cuba: um valor humano que o capitalismo desconhece.


Por Mair Pena Neto


Existe um excelente filme chamado Edukators, que expõe de forma interessante o conflito entre o capitalismo e seus adversários e que deixa muito claro, ao final, a maneira de agir de cada um. O empresário seqüestrado involuntariamente se revela simpático, com as histórias de seu passado rebelde semelhantes às de seus algozes, mas uma vez livre age dentro do script de destruir, sem condescendência, o inimigo que o libertou.

Este filme me veio à mente por tudo que se tem visto nos meios de comunicação sobre o que se passa em Cuba. As pessoas ficam até comovidas com as Damas de Branco, pobres mães que só querem defender seus filhos contra as injustiças de um "sistema cruel e assassino".

Mas o que se esconde por detrás disso é a máquina de manipular consciências novamente a todo vapor em mais uma tentativa de destruir Cuba. A ilhazinha a poucos quilômetros da costa dos Estados Unidos continua incomodando, embora não represente nenhuma ameaça militar ou econômica ao grande império vizinho ou ao capitalismo em geral.

Mas assim como os Edukators, ela toca na ferida pela denúncia constante do modelo excludente do capitalismo e suas conseqüências. Ela dá o exemplo da solidariedade com o seu sistema de saúde universal e internacionalista, enquanto Obama pena para aprovar emenda que inclui milhões de americanos no sistema de saúde, embora continuem precisando pagar planos.

A personagem de Edukators que levará oito anos de sua vida para pagar o conserto da Mercedes do empresário após um acidente na rua da ultracapitalista Alemanha, é como o cidadão americano entregue à própria sorte por não poder pagar um plano de saúde. Pouco importa que seja um semelhante. A sociedade capitalista não foi feita para os incapazes. Ela é excludente por natureza.

Não foi a toa que para enfatizar a questão, Michael Moore, em seu filme Sicko, levou para Cuba americanos que não conseguiam se tratar em seu próprio país. Lá, a saúde não é mercadoria e cada pessoa é considerada na sua individualidade. E isso num país pobre, bloqueado há 40 anos, com dificuldades extremas de obter material hospitalar, cirúrgico e medicamentos. Para Cuba, tudo é mais caro e mais difícil. Simplesmente porque não pode comprar quase nada do seu enorme vizinho e precisa trazer as coisas de muito mais longe.

Cuba, com todos os seus defeitos, é a prova de que um outro mundo pode ser possível, e é justamente isso que incomoda. Para tanto é preciso derrotá-la no campo das idéias, do imaginário coletivo mundial. Por isso a nova ofensiva e a construção das Damas de Branco, algumas talvez manipuladas em sua ingenuidade, outras pagas pela turma de Miami que saiu à rua em solidariedade, revelando o caráter do movimento.

Mas ao contrário das Mães da Praça de Maio, que marchavam por seus filhos desaparecidos e torturados e eram reprimidas pelas forças da ditadura argentina, essas são cercadas pela população de Havana que não tolera manipulações baratas.

Essa avalanche de informações sobre dissidentes como vítimas e as inocentes Damas de Branco não passam de mais uma tentativa de preparar terreno para promover uma mudança em Cuba, como as muitas já tentadas ao longo das últimas cinco décadas com os mais diferentes métodos. Só que a ilha, como a aldeia gaulesa de Asterix diante do império romano, não se deixa derrotar e continua contando com grande solidariedade internacional.

Um valor humano que o capitalismo desconhece.

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