Não ao bloqueio midiático contra Cuba. Foto: Nocaute |
Dino Valesi era um assaltante de bancos na década de 70, em plena vigência da ditadura militar. Dotado de uma força física descomunal assaltava agências bancárias no estado de Minas Gerais, em pequenas cidades, aqueles cofres antigos, pesados, que colocava sobre um carrinho com rodas de rolimã e depois, longe dos olhos alheios abria o cofre e raspava o dinheiro.
Valesi não tinha vínculo com nenhuma organização política e foi processado e condenado com base na lei de Segurança Nacional. A ditadura militar resolveu entender que assaltos a bancos deveriam ser enquadrados naquela lei de exceção, já que muitos grupos de resistência à boçalidade desfechada em 1964 se valiam desse tipo de operação.
E afinal, Millôr Fernandes reiteradas vezes repete a frase de Lenine – “o que é um assalto a um banco diante de um banco?”
Orlando Zapata, morto semana passada depois de uma prolongada greve de fome, foi transformado em “mártir” da luta contra o governo popular de Cuba. Como Valesi era um criminoso comum e resolveu transformar sua pena em instrumento de pressão, auto rotulando-se “dissidente”.
Al Capone era mais prático. No Natal distribuía cestas aos pobres de Chicago e Frank Sinatra chegou a estrelar um filme ironizando esse tipo de comportamento. Tinha Bing Crosby como um dos companheiros. Ajudavam o Exército de Salvação Nacional, formação de senhoras e senhores abstêmios em nome da moral e dos bons costumes.
Numa política de alianças, em alguns momentos, à época de Capone, o grupo chegou a aceitar servir de fachada para cassinos que vendiam bebida ilegal (lei seca), com o objetivo de angariar doações do gangster para combater o álcool.
Em 1979 Margareth Tatcher partiu para cima dos movimentos de libertação da Irlanda do Norte. Os resistentes irlandeses, integrantes do IRA (IRELAND REVOLUCIONARY ARMY) presos em Maze, próxima de Belfast, deflagraram, em 1981, uma greve de fome contra a brutalidade das políticas colonialistas da Grã Bretanha. Dez presos morreram após longo período de inanição.
Mickey Devine um dos últimos presos a morrer, entrou em greve de fome em julho e seria solto em setembro. O Partido Republicano Socialista Irlandês propôs a Devine, para salvar sua vida, que encerrasse a greve e outro companheiro seria indicado para substituí-lo no protesto. Devine não aceitou conversar sobre o assunto e começou a discutir seu próprio funeral.
Bobby Sands, preso e um dos primeiros a participar do movimento contra a brutalidade britânica na Irlanda do Norte, o primeiro a morrer, 66 dias após a greve, elegeu-se, mesmo preso, deputado no parlamento britânico. Era a resposta popular ao governo “democrático” de Tatcher. Não tomou posse e uma lei foi aprovada proibindo candidaturas de pessoas presas.
A primeira-ministra inglesa era a típica psicopata.
Não se tem notícia que à época ou em qualquer tempo a mídia tenha tratado esse fato da forma como distorce a morte de Orlando Zapata um criminoso comum numa prisão cubana.
No vídeo há uma gravação dos Wolfe Tones, realizada em 2008 em que é mostrada a reação do público à menção dos mártires mortos na prisão de Maze. A greve de fome na Irlanda do Norte só foi encerrada por intervenção direta de figuras da Igreja Católica que liberaram as famílias dos presos, esses sim, políticos, de negar tratamento médico quando entrassem em coma.
A distorção dos fatos pela mídia brasileira não é necessariamente só distorção. É mau-caratismo puro, exemplo de sem vergonhice de jornalistas como Miriam Leitão. Não têm o menor compromisso com a verdade, sequer resquícios de dignidade. Vendem-se à primeira mala de dinheiro que aparecer e não fazem do seu trabalho “jornalístico” outra coisa que não isso, venderem-se.
Aquele jeito de quem está condenando o fato ao ler a notícia, a morte de Zapata e a visita de Lula, com que William Bonner se apresenta no JORNAL NACIONAL é apenas a face visível da hipocrisia absoluta de um robô sem qualquer escrúpulo ou princípio.
O que rotulou seus telespectadores de Homer Simpson. Um pacato cidadão cumpridor de seus deveres, sem o menor senso crítico.
Esse tipo de mídia está acostumada a Big Brother Brasil. A Boninho jogando água suja em transeuntes numa das ruas de Copacabana, classificando-os, ele e sua assessora Narcisa Tamborindeguy (misto de Ana Maria Braga com pastel de vento) de vadios ou não.
Ou a Pedro Bial inventando mentiras em caravanas chamadas da cidadania e sentando em cima quando o governador Requião mete-lhe o dedo no nariz e define-o – mentiroso –.
Está aí uma sugestão para Fernandinho Beira-mar. Entrar em greve de fome, afinal, segundo a mídia ele não é cúmplice das FARCs no tráfico de drogas?
Caso o faça e venha a morrer a GLOBO o transforma em resistente e libertador dos pobres e oprimidos, desde que, antes, ele declare apoio a José Collor Arruda Serra. Faz até um GLOBO REPÓRTER sobre sua “trajetória heroica”.
E ainda ganha discurso de FHC no funeral com direito a salva de vinte e um tiros.
A culpa disso tudo deve ser do MST e do presidente do Irã. No mínimo.
Já sobre Pablo Escobar ter sido o grande caixa dois de Álvaro Uribe atual presidente da Colômbia (uma das colônias dos EUA na América Latina), nem uma palavra, é aliado.
Vá distorcer assim no raio que o parta.
Laerte Braga é jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário