sábado, 11 de julho de 2009

Fidel Castro: Ou morre o golpe, ou morrem as constituições


Os países latino-americanos lutavam contra a pior crise financeira da história dentro de uma relativa ordem institucional.

Quando o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de viagem em Moscou para abordar temas vitais em matéria de armas nucleares, declarava que o único presidente constitucional de Honduras era Manuel Zelaya, em Washington, a extrema direita e os falcões manobravam para que Zelaya negociasse o humilhante perdão pelas ilegalidades que lhe atribuíam os golpistas.

Era óbvio que tal ato significaria diante dos seus e diante do mundo seu desaparecimento da cena política.

Está provado que, quando Zelaya anunciou que iria regressar, no dia 05 de Julho, estava determinado a cumprir sua promessa de partilhar com o seu povo a repressão brutal dos golpistas.

Com o presidente viajava Miguel d'Escoto, o presidente pro tempore da Assembleia Geral da ONU, Patricia Rodas, chanceler de Honduras, bem como um jornalista da Telesur e outros, até 9 pessoas. Zelaya manteve sua decisão de aterrissar. Consta-me que em pleno vôo, quando se aproximava de Tegucigalpa, foi informado, pelas imagens da Telesur, do momento em que a enorme massa que estava esperando por ele, no perímetro do aeroporto, estava sendo atacada pelos soldados com gás lacrimogêneo e tiros de fuzis automáticos.

Sua reação imediata foi denunciar os fatos pela Telesur e demandar aos chefes dessas tropas para pôr fim à repressão. Depois, informou-lhes que iria proceder a aterrissagem. O alto comando ordenou então obstruir a pista. Dentro de segundos veículos motorizados bloqueavam-na.

Três vezes o jato Falcon passou em baixa altitude, acima do aeroporto. Os especialistas explicam que o mais tenso e perigoso para os pilotos é quando naves rápidas e de pouco porte, como a que conduzia o Presidente, reduzem a velocidade para fazer contato com a pista. Por isso, penso que foi audaz e valente aquela tentativa de regresso a Honduras.

Se desejavam julgá-lo por supostos delitos constitucionais, porque não permitiram que ele aterrissasse?

Zelaya sabe que estava em jogo não apenas a Constituição de Honduras, mas também o direito dos povos da América Latina de eleger seus governantes.

Honduras é hoje não só um país ocupado pelos golpistas, mas também um país ocupado pelas forças armadas dos Estados Unidos.

A base militar em Soto Cano, conhecida também pelo seu nome de Palmerola, localizada a menos de 100 quilômetros de Tegucigalpa, reativada em 1981 sob a administração de Ronald Reagan, foi utilizada pelo coronel Oliver North, quando este liderou a guerra suja contra a Nicarágua, e o governo dos Estados Unidos dirigiu desde lugar, os ataques contra os revolucionários salvadorenhos e guatemaltecos, que custaram dezenas de milhares de vidas.

Ali se encontra a "Força Tarefa Conjunta Bravo” dos Estados Unidos, composta pelos três elementos das armas, que ocupa 85% da área da base. Eva Golinger revela o seu papel em um artigo publicado no site Rebelión, de 02 de julho de 2009, intitulado "A base militar dos Estados Unidos em Honduras no centro do golpe". Ela explica que "a Constituição de Honduras não permite legalmente a presença militar estrangeira no país. Um acordo “de mão” entre Honduras e Washington autoriza a importante e estratégica presença de centenas de militares estadunidenses na base, por um acordo "semi-permanente". O acordo foi feito em 1954 como parte da ajuda militar oferecida pelos Estados Unidos a Honduras [...] o terceiro país mais pobre do hemisfério”. Ela acrescenta que “[...] o acordo permite que a presença militar dos Estados Unidos, no país da América Central, possa ser retirada sem aviso prévio”.

Soto Cano é também sede da Academia de Aviação de Honduras. Parte dos componentes da força tarefa militar dos Estados Unidos é composta por soldados hondurenhos.

Qual é o objetivo da base militar? Dos aviões, helicópteros e da força tarefa dos Estados Unidos em Honduras? Certamente que serve unicamente para empregá-la na América Central. A luta contra o tráfico de droga não exige esse tipo de armas.

Se o Presidente Manuel Zelaya não for reposto em seu cargo, uma onda de golpes de Estado ameaça varrer muitos governos na América Latina, estes estarão à mercê dos militares de extrema-direita, formados na doutrina de segurança da Escola das Américas, especialista em torturas, guerras psicológicas e no terror. A autoridade civil de muitos governos da América do Sul e Central seriam enfraquecidas. Não estão muito distantes aqueles tempos tenebrosos. Os militares golpistas nem sequer prestariam atenção na administração civil dos Estados Unidos. Pode ser muito ruim para um presidente, como Barack Obama, que pretende melhorar a imagem desse país. O Pentágono obedece formalmente ao poder civil. Todavia as legiões, como em Roma, ainda não assumiram o controle do império.

Não seria compreensível que Zelaya admita agora manobras dilatórias que corroem as significativas forças sociais que o apóiam e só conduzem a um desgaste irreparável.

O presidente deposto ilegalmente não procura o poder, mas defende um princípio, e como disse (José) Marti: "Um princípio justo do fundo de uma cova pode mais que um exército".

10 de julho de 2009.

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