A campanha dos EUA contra a cooperação médica de Cuba e o uso da guerra de 4ª geração.
Escutura de Che Guevara na Praça da Revolução, em Havana - Cuba | Foto: Alchetron |
Conforme foi advertido na Declaração do Ministério das Relações Exteriores de Cuba de 29 de agosto de 2019, o governo dos Estados Unidos realiza, desde o ano passado, uma campanha intensa e ofensiva contra a colaboração médica oferecida por Cuba, combinada com a ameaça de sanções e pressão contra os Estados receptores para que abram mão dela.
Dirigido em detalhes pelo Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, conta a participação ativa de senadores e congressistas associados à máfia anticubana da Flórida e a funcionários frenéticos do Departamento de Estado dos EUA, que cuida das relações exteriores.
Mike Pompeo, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), nomeado chefe do Departamento de Estado após a nomeação de Donald Trump, por ocasião do Mês Nacional de Prevenção da Escravidão e Tráfico, disse em seu Twitter "pedimos aos países anfitriões que ponham fim aos acordos contratuais com o regime de Castro que facilitam as violações dos direitos humanos que ocorrem nesses programas". Seguindo o roteiro da Organização dos Estados Americanos (OEA), encabeçada por Luis Almagro, atacou a colaboração médica internacional da ilha.
Eles acusam Cuba de uma suposta "escravidão moderna" e "tráfico de pessoas" daqueles profissionais que trabalham no sistema de saúde cubano, com a finalidade de exploração ou de suposta interferência nos assuntos internos dos Estados em que são nomeados e de "certas práticas exploração e trabalho coercitivo”.
Essas novas infâmias contra a colaboração médica cubana continuam aparecendo na mídia de direita com o claro objetivo de desacreditar e sabotar um programa no qual mais de 400 mil profissionais de saúde participaram, por quase seis décadas, no qual salvaram milhares de pessoas e preservaram a a saúde de milhões de pessoas nos 164 países em que trabalharam.
Johana Tablada, vice-diretora geral do Ministério de Relações Exteriores de Cuba nos Estados Unidos, definiu como vergonhosa a intenção de atacar uma atividade que beneficia milhões de seres humanos no mundo todos os dias e faz parte dos esquemas de cooperação Sul-Sul, protegido pelo Direito Internacional, pelos programas das Nações Unidas e da Organização Mundial da Saúde.
A diplomata lembra que, no final de julho passado, o Departamento de Estado dos EUA informou pela primeira vez que colocaria restrições de visto a funcionários cubanos vinculados ao programa de missões médicas no exterior, em outro ataque aberto a Cuba e sua cooperação internacional.
Apesar do reconhecimento global do trabalho dos profissionais de saúde cubanos nas mais variadas geografias do mundo, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) anunciou que estava oferecendo até três milhões de dólares a organizações que "investigassem, coletassem e analisassem informações" relacionadas a supostas violações dos direitos humanos dos funcionários de saúde de Cuba. O governo do presidente Donald Trump destinou mais de US$ 22 milhões [o equivalente a 99 milhões de reais] para projetos de subversão que hoje mantém contra Cuba.
Os caluniadores sabem muito bem o prestígio que Cuba tem, internacionalmente, em termos de recursos humanos em medicina devido à atuação de seus médicos em muitos países. Portanto, Washington persegue, com um ódio feroz, as missões médicas cubanas no exterior.
A realidade é que, superando climas adversos, barreiras linguísticas e geográficas, limitações materiais, diferenças culturais e vários perigos, sanitaristas de todos os cantos da ilha protagonizam essa longa história de cooperação, cuja página mais recente foi escrita por 50 mil mulheres e homens que atualmente prestam serviços em 65 países.
Hoje em dia não é raro encontrar uma brigada cubana de jaleco branco em qualquer lugar do mundo. Onde quer que haja uma emergência, onde quer que as pessoas mais vulneráveis sejam encontradas, é possível encontrá-la; esforçando-se e entregando conhecimento e amor. Essa atitude é inculcada naqueles que praticam a medicina cubana desde os primeiros momentos de sua formação e se consolida a cada missão.
Em qualquer canto do planeta onde seja necessário, os médicos cubanos vão ajudar as comunidades mais vulneráveis. É o exército de jalecos brancos que combate epidemias como a malária, a cólera ou o ebola, que atinge os afetados por um desastre natural e que vai aos lugares mais distantes levando consigo a esperança de uma maior qualidade de vida.
A colaboração médica cubana contribuiu ao longo dos anos para proteger setores pobres da população, melhorar os indicadores de saúde e concluir com sucesso campanhas de vacinação, promoção da saúde e prevenção de doenças em várias regiões.
São médicos que não julgam ninguém pela cor da pele, recursos econômicos ou ideologia política; ao contrário, prestam assistência médica e levam conhecimento a todos que precisam, com sua visão de entrega, humanismo e amor pela profissão.
Esta atual campanha contra a Revolução Cubana faz parte das múltiplas agressões imperialistas que já duram 60 anos. Mais de 600 tentativas de assassinato contra o comandante Fidel Castro, invasões militares (Playa Girón), atos terroristas (mais de 3 mil mortos e feridos), operações psicológicas (operação Peter Pan com a mentira da pátria potestade), guerra biológica (introdução da peste suína, entre outros), bloqueio econômico, comercial e financeiro genocida (com um impacto de mais de US$ 900 bilhões que impedem o desenvolvimento do país), com aplicação extraterritorial e subversão política e ideológica, são algumas das táticas e estratégias de agressão executadas contra a ilha do Caribe.
Ao imenso esforço imperialista para sufocar e destruir o processo cubano com esses mecanismos, junta-se o uso de métodos, procedimentos e meios muito sutis e elaborados, em que vale tudo a fim de confundir as pessoas em nível internacional e criar imagens ilusórias e critérios deturpados do trabalho da Revolução Cubana.
Por trás dessas obras, existem não só tecnologias informáticas, mas também décadas de estudos sociológicos e psicológicos de manipulação de massa que acabaram desenvolvendo tecnologias igualmente perversas para influenciar grupos humanos. Sem dúvida, novas por seu alcance, são as tecnologias na manipulação das imagens ou na mineração de informações, capazes de encontrar, quase instantaneamente, fotos falsas ou outras mais sutis que, tiradas do contexto, se adaptam à mensagem que querem levar aos leitores. É assim que vemos fotos de manifestações nas Filipinas de alguns anos atrás mostradas como manifestações na Venezuela hoje.
Existem centros de pesquisa especializados no estudo de processos de informação para revelar recursos ocultos que possibilitam aumentar a eficácia das mensagens transmitidas. A CIA e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional [Usaid] desempenham um papel importante neste trabalho e na coordenação dos centros ideológicos estabelecidos em fundações, universidades, centros especializados dedicados a estudos sociais e políticos; bem como na inteligência do Departamento de Estado.
É nesse contexto que lembramos que, há alguns anos, começou a ser discutido o conceito da chamada guerra de quarta geração (4GW na sigla em inglês), termo usado por analistas e estrategistas militares para descrever a última fase da guerra na era da tecnologia da informação e das comunicações globalizadas para manipular a opinião pública. Posteriormente, o conceito foi associado à Guerra Assimétrica, Guerra ao Terror e Guerra Híbrida.
A guerra de primeira geração (1GW) corresponde a confrontos com fileiras e colunas. A segunda geração (2GW) começa com o advento da Revolução Industrial e a disponibilidade, no campo de batalha, de meios capazes de deslocar grandes massas de pessoas e desencadear poderosos disparos de artilharia. A Primeira Guerra Mundial é seu exemplo paradigmático.
A guerra de terceira geração (3GW) foi desenvolvida pelo exército alemão no conflito mundial de 1939-1945 e é comumente conhecida como "guerra relâmpago" (Blitzkrieg). Essa etapa se identifica pelo uso de guerra psicológica e táticas de infiltração na retaguarda do inimigo durante a Segunda Guerra Mundial.
O desenvolvimento tecnológico e computacional da era das comunicações, a globalização da mensagem e as capacidades de influenciar a opinião pública mundial farão das operações da ação psicológica midiática a arma estratégica dominante da 4GW. Como na guerra militar, um plano psicológico de guerra visa aniquilar, controlar ou assimilar o inimigo.
A guerra militar e suas técnicas são reavaliadas dentro dos métodos científicos de controle social e se tornam uma estratégia eficiente de dominação sem o uso de armas.
Suas principais características são: táticas e estratégias de controle social, por meio de manipulação informativa e ação psicológica voltada para direcionar o comportamento social de massa;
o objetivo não aponta mais para a destruição de elementos materiais, mas para o controle do cérebro humano;
imensos dispositivos de mídia compostos por grandes redações e estúdios de rádio e televisão;
slogans e imagens substituem as bombas, mísseis e mísseis do campo militar;
o objetivo estratégico é o apoderamento e controle do comportamento social de massa;
a mídia (os exércitos de quarta geração) e as operações psicológicas são a arma estratégica e operacional dominante;
o campo de batalha não está mais lá fora, mas dentro da sua cabeça. Os soldados 4GW não são mais militares, mas especialistas em insurgência e contra-insurgência, que substituem operações militares por operações psicológicas;
slogans da mídia que não destroem seu corpo, mas anulam a capacidade do seu cérebro de decidir por si mesmo com slogans projetados para destruir o pensamento reflexivo (informação, processamento e síntese) e substituí-lo por uma sucessão de imagens sem resolução de tempo e espaço (alienação controlada);
eles não manipulam sua consciência, mas seus desejos e medos inconscientes. Todos os dias, durante as 24 horas, há um exército invisível que aponta para sua cabeça: ele não usa tanques, aviões ou submarinos, mas informações direcionadas e manipuladas por meio de imagens e manchetes;
os soldados psicológicos não querem que você pense, mas que consuma informações: notícias, títulos, imagens, que excitam seus sentidos e sua curiosidade, sem conexão entre si;
quando sua mente está fragmentada com as manchetes desconectadas, ela para de analisar (o que, o porquê e o par quê de cada informação) e se torna consumidor ade ordens psicológicas direcionadas por slogans;
as manchetes e as imagens são os mísseis de última geração que as grandes redes de mídia disparam com uma precisão devastadora em seus cérebros transformados no teatro de operações da guerra da quarta geração.
Em suma, quando a imprensa internacional é consumida sem que se analise o que e para quê, os interesses do poder imperial que estão por trás de todas as notícias ou informações jornalísticas, a guerra de quarta geração está sendo consumida. Enquanto a 4GW se desenvolve, as guerras “quentes” de agressão dos EUA e de seus aliados continuam matando com armamentos mais mortais e sofisticados todos os dias em qualquer canto do mundo onde seus interesses hegemônicos e expansionistas são afetados. E a experiência de Cuba eles continuam tentando sufocar com o bloqueio e a implementação da lei Helms-Burton, para que renuncie à construção do socialismo e da solidariedade internacionalista. No entanto, Cuba resistiu, resiste e resistirá.
Antonio Mata Salas é Cônsul de Imprensa no Consulado Geral de Cuba, em São Paulo.
Tradução: Luiza Mançano.
Edição: Camila Maciel.
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