quarta-feira, 26 de junho de 2019

Cuba não dá o que sobra, reparte o que tem; veja como foi a Convenção de Solidariedade a Cuba - 2019

Abertura da XXIV Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba - 20/06/19 - Santos/SP | Foto: Site Oficial
Por Ailton Martins no Frequência Caiçara

Organizada pela Associação Cultural José Martí BS, a cidade de Santos recebeu entre os dias 19 e 22 de junho, a XXIV Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, em comemoração os 60 anos de revolução.

Sediada no Sindicato dos Petroleiros do Litoral de São Paulo, a convenção contou com a presença de organizações, movimentos e partidos de diversas partes do país, além da participação de uma delegação de autoridades cubanas. 

Seis mesas temáticas, três lançamentos de livros, três oficinas literárias, exibição de três filmes inéditos e uma atividade na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo - Campus BS) compuseram a convenção que teve como ponto central de discussão o bloqueio econômico à Cuba promovido pelos Estados Unidos que, em 4 de junho de 2019 reforçou medidas restritivas que dificultam as relações comerciais de Cuba; restringindo que cidadãos estadunidenses viagem para Cuba, proibindo que embarcações (cruzeiros turísticos) oriundas dos Estados Unidos visitem o país, dentre outras medidas que tramitam pelos tribunais norte-americano que restringem, por exemplo, que empresários estadunidenses estabeleçam parcerias com Cuba.

Cerimônia de abertura:


O bloqueio econômico à Cuba é um medida que persiste desde a revolução de 1959. (leia matéria neste link para entender melhor esse processo). 

Soberania, independência e liberdade

Yanisey Cruz Carreño, deputada cubana em participação durante mesa de debate na Unifesp, reafirmou que os valores da revolução cubana iniciadas por Fidel Castro, se mantém vivos, e que nesses 60 anos de revolução, o país segue defendendo sua soberania, independência e liberdade, tendo o desenvolvimento humano como prioridade, deste modo, os laços de solidariedade com os povos do mundo são fundamentais para a construção de um novo mundo. 

“Cuba, tem passado por restrições econômicas, a partir do triunfo da revolução [...] mas, graças a Fidel, o povo cubano tem essa grande revolução socialista e esse grande projeto social [...] a principal violação de direitos humanos, há mais de meio século é o bloqueio econômico, comercial e financeiro, imposto a nossa ilha, que os Estados Unidos não consegue suportar, que Cuba é uma ilha livre, soberana e independente. E que o estado tem mantido a unidade de um povo indestrutível, e graças a essa unidade do povo revolucionário cubano, indestrutível, temos conseguidos avançar nesse processo de 60 anos de revolução, e eu trouxe alguns dados muito interessantes que explicam porque o imperialismo ianque quer se apoderar de Cuba. Se me permitem explicar com números, porque Cuba é uma potência social, e porque temos que seguir apostando em um socialismo [...] Cuba é o único país da América latina, do terceiro mundo que aparece entre as dez nações com o melhor índice de desenvolvimento humano, sobre três critérios: esperança de vida, educação [...] tem erradicado a desnutrição infantil [...] Cuba é um exemplo de proteção da infância, conta com mais de sete médicos por cada mil habitantes [...] uma das nações mais desenvolvidas do mundo, com um sistema de saúde universal e gratuito para toda a população cubana, conta com taxa de mortalidade infantil mais baixa da América latina, quatro por cada mil nascidos vivos [...]" 


A deputada também afirmou que o parlamento serve ao povo cubano e, é bastante heterogêneo, ou seja, possui 54% de mulheres, 40% de negros e mestiços, 15% de estudantes e 70% do orçamento de Cuba é destinado as necessidades populares, saúde, educação, cultura… Além de, políticos em Cuba, não possuirem salários, seus vencimentos tem relação com suas formações, ou seja, políticos em Cuba estão para servir à população e não interesses de corporações, diferente do que ocorre com outros países. 

Questionada sobre como Cuba tem conseguido manter a revolução por mais de meio século, tendo em vista o bloqueio e uma série de impedimentos que poderiam afetar drasticamente o socialismo cubano, a deputada disse que em Cuba só existe um partido, e a unidade é o que mantém a força motriz da revolução, ademais, todas as questões que influenciam na vidas das pessoas, são discutidas exaustivamente e nada é decidido sem ter passado por discussão junto à população, no mais, todo cubano aprende desde criança sobre a história da revolução, o que ela significa, seus valores e a importância de defender o socialismo, o bem estar social.
Aula sobre a Revolução Cubana, dia 19 na UNESP/Santos | Foto: Site oficial
Na mesma mesa de debate, o professor e doutor em revolução cubana, José Rodrigues Mao, explanou sobre o que era Cuba antes de Fidel, dos processos históricos da independência, onde os Estados Unidos sempre buscou interferir na autonomia do país, instalando bases de exploração da economia. Contudo, após a revolução essa espoliação foi encerrada por Fidel, que buscou consolidar a soberania nacional, logo, os Estados Unidos, se vendo prejudicado, impôs o embargo, mas, Cuba resistiu, demonstrando, inclusive, um modelo exemplar de solidariedade internacionalista a ser seguido. Para Mao, entender esse processo de uma república neocolonial que foi Cuba antes de 1959, e as mudanças que vieram com a revolução pode contribuir para entender o Brasil contemporâneo. 

Cuba não dá o que lhe sobra, mas reparte o que tem 

Cuba é reconhecida mundialmente por levar ajuda humanitária para diversas partes do mundo, assim como sempre contribuiu em muitos momentos históricos para a libertação de povos, Angola, por exemplo, que teve seu processo de independência consolidado com a decisiva ajuda cubana. (link de um documentário sobre) (e de outro aqui).

A Convenção 

Para Gabriela Ortega, da Associação Cultural José Martí, organizadora, cerca de 600 pessoas passaram pela convenção no primeiro dia, as atividades que ocorreram foram fundamentais para fortalecer a solidariedade com o povo cubano e denunciar o bloqueio criminoso contra Cuba. “É muito importante ver todas essas pessoas aqui, pra podermos falar do bloqueio, as consequências nefastas do bloqueio, e pra gente se unir e fazer ações que denunciem isso, internacionalmente, para termos uma Cuba soberana, é isso que a gente quer [...] como todo país deve ser; soberano, livre e independente". 
Público durante a Convenção | Foto: Site oficial 
O que aprender com a revolução cubana?

Em todos os debates que ocorreram foram colocados a importância de produzir conteúdo crítico e informativo que combata as mentiras que são produzidas em relação à Cuba por meio da mídia oficial. Da necessidade de fortalecer ferramentas de comunicação compromissadas com a verdade. Outra questão bastante colocada à reflexão, foi o que a revolução cubana pode ensinar para as esquerdas brasileiras que têm dificuldades de encontrar uma unidade. 

Desenvolvimento científico/medicina

O médico e ex-vereador de Santos, Evaldo Stanilau Afonso de Araújo, fez uma apresentação detalhada de como Cuba é um país, cujo desenvolvimento científico e da medicina preventiva é tratado com o devido rigor e seriedade, que mesmo o país passando por diversas dificuldades nos 60 anos de revolução, com pressões econômicas externas, nunca deixou de lado o que é essencial para a qualidade de vida das pessoas, de modo que, Cuba, hoje, é exemplo na América latina e no mundo.

Cuba, hoje

De acordo com as autoridades cubanas, Cuba conhece o caminho da resistência e prepara-se para essa nova investida de bloqueio, contudo, essa resistência perpassa pela solidariedade entre os povos de contribuir denunciando o crime que configura a Lei Helms-Burton, citada na abertura da convenção na primeira mesa pelo mediador Douglas Martins, advogado e jornalista que citou o texto do portal Vermelho, “Por que Cuba se recusa a negociar com os Estados Unidos?”

Assista - Debate: Solidariedade com Cuba e bloqueio dos EUA:


Como no texto, os cubanos na convenção reafirmaram: “Fidel nos ensinou: a honra não se negocia, a Pátria não se negocia, a dignidade não se negocia, a independência, a soberania, a história, a glória não se negociam!” 
Rolando Gómez, Embaixador de Cuba no Brasil durante a Convenção | Foto: Site oficial
Trecho do texto:

“Mais uma vez, o governo dos Estados Unidos está errado com Cuba. Ele não a conhece apesar dos 60 anos de bloqueio injusto e ilegal”, disse Dávalos. 

“A Lei 80ª declara a Lei Helms-Burton como ilegal e sem qualquer efeito. Não é possível tentar executar uma sentença estrangeira ditada pelo seu teor. Também não há possibilidade de embargar bens cubanos no exterior”, explicou o professor. 

Segundo ele, os juízes dos Estados Unidos enfrentam um dilema. Por um lado, uma monstruosidade jurídica, contrária ao direito internacional, com vícios de inconstitucionalidade e que viola várias instituições de seu próprio sistema legal. Por outro lado, sua falta de competência para reconhecer reivindicações sobre propriedades fora do seu território. 

As demandas recentes nos tribunais norte-americanos só procuram criar um clima de perigo para quem quer investir em Cuba, diante da possibilidade de ser processado e ter que assumir indenizações milionárias. O objetivo é sufocar o investimento estrangeiro nos momentos em que é concebido, não como um complemento, mas como uma necessidade para o desenvolvimento da economia do país. Da mesma forma, prejudica gravemente os empreendedores privados, um setor ativo da economia nacional. 

“A ilegalidade do bloqueio vai além das violações da Carta das Nações Unidas e das regras mais elementares do direito internacional. Também transgride as normas do comércio, as do direito do mar, as da aplicação da lei no espaço e o poder legislativo dos Estados”, finalizou o advogado cubano.

Assista - Debate: As conquistas da Revolução Cubana e nova constituição:


Feira do MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra) 

A feira de alimentos orgânicos produzidos pelo MST também compôs a convenção.

Ortega, organizadora, disse que foi fundamental trazê-los para o encontro, principalmente neste momento de perseguições políticas.
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra na Convenção | Foto: Site oficial
Recentemente o governador, João Dória de São Paulo, proibiu a 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária realizada no Parque da Água Branca, na zona oeste da capital, onde o conjunto de atividades econômicas, sociais e culturais faziam integração entre a cidade e o campo, além de promover discussões sobre segurança alimentar e sustentabilidade.

O resultado

Para Anibal Ortega, comunista há mais de cinquenta anos, preso e torturado pelo regime militar, a convenção foi um momento impar na cidade, aglutinou diferentes correntes de pensamentos à esquerda, uma consagração para a Associação Cultural José Martí e um passo à frente de uma unidade organizacional. 

Sua solidariedade e admiração pelo povo cubano vem desde jovem. Com o sucesso da convenção, resultado de esforços coletivos, principalmente das mulheres da José Martí, acredita que sementes foram plantadas para um futuro, porvindouro, melhor, principalmente diante de um cenário desolador que atravessa o país.

"É preciso preparar o povo pra revolução".

Registro videográfico da convenção:


Edição: Sturt Silva.

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