sábado, 20 de abril de 2019

Cuba não tem militares na Venezuela, mas os EUA tem mais de 250 mil pelo mundo

Governo cubanos emite nota contra sanções dos EUA contra à ilha | Foto: Praça da Revolução, Cuba
Por Wevergton Brito Lima no Internacionalismo 21

O Governo dos Estados Unidos da América anunciou, na última quarta-feira (17) que irá aplicar, contra Cuba, o Título III da Lei Helms-Burton a partir do dia 2 de maio, com o objetivo de endurecer sanções econômicas contra o país socialista. Não por coincidência, no dia 17 de abril de 1961 os EUA patrocinaram a invasão da Baía dos Porcos, em uma tentativa frustrada de derrotar a recém-nascida Revolução Cubana. Passados 58 anos deste episódio, os EUA deixam mais uma vez claro que o objetivo de derrocar a soberania cubana permanece inalterável.

As medidas anunciadas na última quarta-feira pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, são tão flagrantemente ilegais diante do direito internacional que vieram embaladas em um pacote de falsas acusações contra Cuba, na vã tentativa de justifica-las, o que não enganou nem fiéis aliados como a União Europeia e o Canadá, que protestaram.

No mesmo dia do anúncio, o governo cubano emitiu uma histórica declaração, digna da trajetória heroica de Sierra Maestra. 

“O atual governo dos Estados Unidos é reconhecido, em seu próprio país e internacionalmente, pela tendência inescrupulosa de usar a mentira como recurso de política interna e externa. É um hábito que está de acordo com antigas práticas do imperialismo”, diz o texto.

Uma das falsas acusações dos EUA refere-se à suposta presença de militares cubanos na Venezuela, mentira que Cuba, além de refutar, desmoraliza: 

“Aquele que acusa mantém mais de 250 mil soldados em 800 bases militares no exterior, uma parte deles em nosso hemisfério”.

Cuba reafirmou a solidariedade indeclinável à Revolução Bolivariana, e recorda com propriedade:

“Vale a pena lembrar que a ameaça e o ultimato ao estilo da máfia já foram usados no passado quando o esforço internacionalista de Cuba apoiou os movimentos de libertação na África, enquanto os Estados Unidos apoiavam o opressivo regime do apartheid. Pretendia-se que Cuba renunciasse aos seus compromissos de solidariedade com os povos africanos, em troca de promessas de perdão, como se a Revolução tivesse de ser perdoada pelo imperialismo. Naquela época, Cuba rejeitou a chantagem, como rejeita hoje, com o maior desprezo.”


Por fim, o governo cubano expressa sua confiança de que, assim em 1961, a vitória será dos revolucionários que derrotarão a escalada agressiva do império.

Declaração do Governo Revolucionário de Cuba

Hoje, 17 de abril, se completa mais um aniversário do início da agressão militar de Playa Girón (Baía dos Porcos), em 1961. A resposta decisiva do povo cubano em defesa da revolução e do socialismo, deu lugar, em apenas 72 horas, à primeira derrota militar do imperialismo na América.

Curiosamente, é a data escolhida pelo atual governo dos Estados Unidos para anunciar a adoção de novas medidas de agressão contra Cuba e reforçar a aplicação da Doutrina Monroe.

O Governo Revolucionário rejeita nos termos mais fortes a decisão de permitir que, doravante, sejam tomadas medidas em tribunais norte-americanos com ações judiciais contra entidades cubanas e estrangeiras fora da jurisdição dos Estados Unidos, e endurecer os impedimentos à entrada nos Estados Unidos de diretores - e familiares - das empresas que investem legitimamente em Cuba, em propriedades que foram nacionalizadas. São ações contempladas na lei Helms-Burton, que foram rejeitadas há muito tempo pela comunidade internacional e que a nação cubana condenou desde a sua promulgação e implementação em 1996, e cujo principal objetivo é impor o domínio colonial ao nosso país.

Repudia também a decisão de voltar a limitar as remessas que os cubanos que vivem nos EUA enviam aos seus parentes e amigos, de restringir ainda mais as viagens de cidadãos norte-americanos a Cuba, e aplicar sanções financeiras adicionais.

Cuba enfaticamente rejeita as referências ao fato de que aqui houve ataques contra diplomatas norte-americanos.

Eles fingem justificar suas ações, como é costume, com mentiras e chantagens.

O general-de-exército Raul Castro disse em 10 de abril: “Se culpa Cuba por todos os males, usando mentiras no pior estilo da propaganda de Hitler”.

Para esconder e justificar o evidente fracasso da sinistra manobra de golpe para designar, a partir de Washington, um “presidente” usurpador para a Venezuela, o governo dos Estados Unidos lança mão novamente das calúnias.

Cuba é acusada de ser responsável pela força e firmeza que demonstraram o governo chavista bolivariano e o povo daquele país e a união civil-militar que defende a soberania de sua nação. E mente descaradamente quando alegam que Cuba mantém milhares de militares e pessoal de segurança na Venezuela, influenciando e determinando o que está acontecendo naquele país irmão.

É cínico culpar Cuba pela situação econômica e social que enfrenta a Venezuela, após anos de sanções econômicas brutais, concebidas e aplicadas pelos Estados Unidos e vários aliados, apenas para sufocar economicamente e gerar sofrimento na população.

Washington chega ao ponto de pressionar os governos de países terceiros a tentar convencer Cuba a retirar esse suposto e implausível apoio militar e de segurança, e até a parar de prestar apoio e solidariedade à Venezuela.

O atual governo dos Estados Unidos é reconhecido, em seu próprio país e internacionalmente, pela tendência inescrupulosa de usar a mentira como recurso de política interna e externa. É um hábito que está de acordo com antigas práticas do imperialismo.

As imagens do presidente George W. Bush, com o apoio do atual Conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, ainda estão frescas, mentindo indecorosamente sobre supostas armas de destruição em massa no Iraque, uma falácia que serviu de pretexto para invadir esse país do Oriente Médio.

A história também registra a explosão do encouraçado Maine em Havana e o incidente auto-infligido no Golfo de Tonkin, episódios que serviram de pretexto para desencadear guerras de violência em Cuba e no Vietnã.

Não devemos esquecer que os Estados Unidos usaram a falsa insígnia cubana, pintada nos aviões que realizaram os bombardeios no prelúdio da agressão da Baía dos Porcos, para esconder que eram na verdade norte-americanos.

Deve ficar claro que as calúnias dos Estados Unidos se apoiam em uma mentira total e deliberada. Seus serviços de inteligência têm evidências mais do que suficientes, provavelmente mais do que qualquer outro Estado, para saber que Cuba não tem tropas ou participa de operações militares ou de segurança na Venezuela, embora seja um direito soberano de dois países independentes determinar como cooperar no setor de defesa, o que não corresponde aos EUA por em causa.

Aquele que acusa mantém mais de 250 mil soldados em 800 bases militares no exterior, uma parte deles em nosso hemisfério.

Seu governo também sabe que, como Cuba declarou publicamente e repetidamente, os cerca de 20 mil colaboradores cubanos, mais de 60% de mulheres, cumprem na nação latino-americana as mesmas tarefas que atualmente são realizadas por outros 11 mil profissionais de nosso país em 83 nações: contribuir para a prestação de serviços sociais básicos, principalmente de saúde, reconhecidos pela comunidade internacional.

Deve ficar também absolutamente claro que a firme solidariedade com a irmã República Bolivariana da Venezuela é um direito de Cuba como Estado soberano e é também um dever que faz parte da tradição e dos princípios inalienáveis da política externa da Revolução Cubana.

Nenhuma ameaça de represália contra Cuba, nenhum ultimato ou chantagem do atual governo dos EUA desviará o comportamento internacionalista da nação cubana, apesar dos devastadores danos humanos e econômicos causados pelo bloqueio genocida ao nosso povo.

Vale a pena lembrar que a ameaça e o ultimato ao estilo da máfia já foram usados no passado quando o esforço internacionalista de Cuba apoiou os movimentos de libertação na África, enquanto os Estados Unidos apoiavam o opressivo regime do apartheid. Pretendia-se que Cuba renunciasse aos seus compromissos de solidariedade com os povos africanos, em troca de promessas de perdão, como se a Revolução tivesse de ser perdoada pelo imperialismo.

Naquela época, Cuba rejeitou a chantagem, como rejeita hoje, com o maior desprezo.

O general-de-exército, Raul Castro, lembrou em 10 de abril: “Em 60 anos, diante das agressões e ameaças, os cubanos mostraram a vontade de resistir e superar as circunstâncias mais difíceis. Apesar de seu imenso poder, o imperialismo não possui a capacidade de romper a dignidade de um povo unido, orgulhoso de sua história e da liberdade conquistada por tanto sacrifício”.

O governo cubano apela a todos os membros da comunidade internacional e aos cidadãos norte-americanos para que parem com a escalada irracional e a política de hostilidade e agressão do governo de Donald Trump. Os Estados membros das Nações Unidas justamente ano após ano reivindicam quase por unanimidade o fim desta guerra econômica. Os povos e governos de nossa região devem fazer prevalecer os princípios da Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz para o benefício de todos.

O presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros Miguel Díaz-Canel Bermúdez declarou em 13 de abril: “Cuba continua confiando em suas forças, em sua dignidade e também na força e dignidade de outras nações soberanas e independentes. Mas continua acreditando também no povo norte-americano, na Pátria de Lincoln, que sente vergonha daqueles que agem fora da lei universal, em nome de toda a nação norte-americana”.

Mais uma vez, Cuba repudia mentiras e ameaças e reitera que sua soberania, independência e compromisso com a causa dos povos da América Latina e do Caribe não são negociáveis.

Dois dias antes de comemorar o 58º aniversário da vitória de Playa Girón, um ponto histórico da geografia nacional onde as forças mercenárias impulsionadas pelo imperialismo morderam o pó da derrota (1), a Revolução Cubana reitera sua firme determinação de enfrentar e prevalecer diante da escalada agressiva dos Estados Unidos.

Havana, 17 de abril de 2019.

Nota:

(1) A expressão "morder el polvo" originou-se do costume existente nos tempos medievais em que um soldado, quando ferido mortalmente, tomava um punhado de terra e colocava na boca, mordendo/beijando a "mãe terra" que o viu nascer, em que ele cresceu e viveu e onde seus restos finalmente descansariam após a morte.

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