As revoluções querem asas e os governos querem pés.
José Martí
A história de Cuba, por mais breve e concisa, não pode ser escrita sem referências ao papel desempenhado pelo seu herói nacional. José Martí (1853 -1895), nascido em La Habana, iniciou sua participação política escrevendo a jornais separatistas. Com a prisão de seu mestre Rafael Mendive, cristalizou-se a atitude de rebeldia contra a dominação espanhola. Em 1869, Martí foi condenado a seis anos de trabalhos forçados, mas passou somente seis meses na prisão, pois conseguiu permutar a pena pela deportação à Espanha. Dedicou-se ao estudo do Direito na Universidade de Zaragoza. Entre 1881 e 1895, viveu em Nova Iorque, porém foi no México, na Guatemala e na Venezuela que alcançou o mais alto grau de identificação com a autoctonia da América, até o momento desconhecido a um filho de espanhol. No comando de um contingente de cubanos, após breve encontro com tropas espanholas no vilarejo de Dos Ríos, Martí foi atingido, morto e seu corpo mutilado.
O ideário martiano impregnado de humanismo foi consolidado em1889, quando da publicação do primeiro número de La Edad de Oro, revista voltada às crianças do continente latino-americano. Nessa obra, escrita e editada por Martí, surge a proposta de criar nos meninos de Nuestra América – ameaçados pela perda de sua identidade cultural – uma consciência anticolonialista. O jornalismo, conjugado à atividade política, ocupou grande parte de suas atividades. Como professor, ganhou a vida nas fases mais difíceis, porém sua profissão foi a de advogado A trajetória de sua vida revolucionária o fez passar por vários países, proporcionando-lhe conhecimentos avançados para seu tempo e a busca de uma legítima cultura ajustada à realidade latino-americana, não mais a uma Educação com teorias importadas da América Anglo-Saxônica, ainda que alimentasse a abertura de Cuba ao mundo. Martí possuía um referencial teórico – que evoluiu historicamente – no qual a educação é concebida de forma integral e multifacetada, ultrapassando as fronteiras do utilitarismo.
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Como estudioso não apenas dos problemas da instrução em Cuba, mas de todos os países de continente americano, Martí elaborou um pensamento pedagógico, com a urgência da sonhada República. Convencido de que “Patria es humanidad”, a síntese de tal ideário constitui, até hoje, um paradigma.
Escola obrigatória, universal, gratuita e laica: a educação, como direito e dever de todos, assegurava a liberdade de consciência ao professor e ao aluno. “Un pueblo de hombres educados será siempre un pueblo de hombres libres”.
Educação científica e politécnica: o ensino das ciências e a Educação para o trabalho constituíam princípios básicos. “Y detrás de cada escuela un taller agrícola, a la lluvia y al sol, donde cada estudiante sembrase su árbol”.
Educação para a vida: o fim primordial da Educação consistia em educar o homem para seu momento e circunstância históricos. "La educación ha de ir a donde va la vida. Es insensato que la educación ocupe el único tiempo de preparación que tiene el hombre, en no prepararlo”.
Conteúdo da educação – democrático e popular: fazer partícipes as massas populares dos bens da educação. Para que os povos sejam realmente livres, a Educação deve refletir suas necessidades, numa postura crítica aos modelos escolásticos e dogmáticos. "Hay un sistema de educación que consiste en convertir a los hombres en mulos, en ovejas, -en deshombrarlos, en vez de ahombrarlos más. Una buena educación, ni en corceles siquiera en cebras ha de convertirlos. Vale más un hombre rebelde que un manso”.
Incorporação da mulher à educação: a educação da mulher anuncia os homens que dela hão de surgir. “Las campañas de los pueblos solo son débiles, cuando en ella no se alista el corazón de la mujer; pero cuando se estremece y ayuda, cuando la mujer, tímida y quieta en su natural, anima y aplaude, cuando la mujer culta y virtuosa unge la obra con la miel de su cariño, la obra es invencible".
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Em sua essência, a herança de Martí desmonta o mito histórico do eurocentrismo e todo o aparato da conquista colonial, rechaçando o argumento apologético, segundo o qual o colonialismo havia sido o propulsor da incorporação das Américas à História.
Maria do Carmo Luiz Caldas Leite é mestre e doutorando em educação.
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