Discurso de Raúl Castro em destaque na capa do "Granma" |
O presidente de Cuba, Raúl Castro afirmou em discurso na sessão de encerramento da Assembleia Nacional do Poder Popular cubano na última sexta-feira (14/07) que o país sofre uma “manipulação” em relação ao tema dos direitos humanos e que não tem que “receber lições” dos Estados Unidos.
“Recusamos a manipulação do tema dos direitos humanos que é feita contra Cuba. O nosso país tem muito de que se orgulhar pelos progressos alcançados e não tem que receber lições dos Estados Unidos nem de ninguém”, disse o líder cubano.
Em seu primeiro pronunciamento público sobre a mudança da política norte-americana de reaproximação diplomática com a ilha, Castro avaliou as medidas de Donald Trump como um “grande retrocesso” e classificou o discurso do norte-americano como “retórica ultrapassada, agressiva e provocatória”.
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“As decisões do presidente Trump ignoram o apoio de amplos setores norte-americanos, incluindo a maioria da imigração cubana, à suspensão do bloqueio econômico e à normalização das relações [entre Washington e Havana]”, destacou Raúl.
O cubano também afirmou que “a administração dos Estados Unidos piorou o bloqueio ao impor novas restrições ao seu empresariado para limitar os investimentos e os negócios, para evitar que os cidadãos norte-americanos viajem a Cuba”.
Raúl Castro ainda comentou a aproximação iniciada no governo de Barack Obama, dizendo que, “com base no respeito”, acordos diplomáticos foram possíveis. “Dez governos passaram pelo poder até que Obama, com o mesmo propósito estratégico, mudou o rumo em 17 de dezembro de 2014. Com base no respeito, foram restabelecidas as relações diplomáticas e avançamos em alguns temas de interesse mútuo. Também se modificaram alguns aspectos limitados do bloqueio econômico, demonstrando que é possível conviver de maneira civilizada, apesar das profundas diferenças”, disse o presidente cubano.
Retrocesso
Pouco mais de dois anos após a reaproximação histórica entre Cuba e EUA, anunciada no fim de 2014 pelos governos de Raúl Castro e de Barack Obama, o atual mandatário norte-americano, Donald Trump, revogou em junho passado parte das medidas estabelecidas por Obama em relação à ilha.
Leia e assista discurso completo do presidente de Cuba:
Discurso do General Raúl Castro Ruz, Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no encerramento da 9ª sessão ordinária, da 8ª Legislatura, da Assembleia Nacional do Poder Popular, no Palácio das Convenções, em 14 de julho de 2017.
Companheiros,
Como de costume nesta época do ano, tivemos bastante atividade. Em 28 de junho efetuamos a reunião do Conselho de Ministros, onde, entre outras coisas, revemos as questões principais que seriam apresentadas a esta sessão ordinária da Assembleia Nacional do Poder Popular.
A partir da segunda-feira, 10 de julho, os deputados trabalharam nas respectivas comissões, analisando as grandes questões da vida nacional e receberam ampla informação sobre a implementação do Plano da economia no primeiro semestre e a liquidação do Orçamento do Estado de 2016.
Da mesma forma, nosso Parlamento foi atualizado sobre o Plano do Estado cubano para combater as alterações climáticas, identificado como ‘Tarefa Vida’, uma questão de particular importância estratégica para o presente e, sobretudo, para o futuro do nosso país, dada a sua condição insular, que contou com a participação do potencial científico e tecnológico nacional, ao longo de mais de 25 anos.
Intimamente ligada à ‘Tarefa Vida’, aprovamos hoje a Lei de Águas Terrestres, na qual se vem trabalhando desde 2013, com o apoio das agências e instituições de maior incidência na gestão integrada e sustentável da água, um recurso natural vital que deve ser protegido, no interesse da sociedade, a economia, a saúde e o meio ambiente, especialmente em circunstâncias de secas prolongadas e cada vez mais frequentes que enfrentamos, sobre o qual tem vindo a fornecer-se informações suficientes para o nosso povo que se deve continuar fazendo.
A partir da elaboração do plano e o Orçamento para este ano, advertimos que as tensões financeiras viriam a persistir, assim como desafios que poderiam complicar o desempenho da economia nacional. Ainda, previmos quaisquer dificuldades no fornecimento de combustível a partir de Venezuela, apesar da vontade invariável do presidente Nicolás Maduro e do seu governo de cumprir.
Mesmo em meio a essas circunstâncias complexas obteve-se um resultado encorajador mas discreto. O Produto Interno Bruto cresceu no primeiro semestre em 1,1%, o que indica uma mudança no sinal da economia em relação ao ano anterior. Contribuíram para este resultado a agricultura, o turismo e outras exportações de serviços, a construção, a produção de açúcar e no domínio dos transportes e as comunicações.
Registraram-se progressos nos programas de investimentos prioritários ou que estabelecem as bases para o desenvolvimento da nação.
Foram assegurados os serviços sociais gratuitos para todos os cubanos, como a educação e a saúde pública.
Melhorou o equilíbrio monetário interno, que se expressa em um crescimento mais lento dos preços de retalho, devido a maior oferta nos mercados.
O déficit orçamental já se apresentou abaixo do esperado.
Por outro lado, com grandes esforços, conseguiu-se preservar o estrito cumprimento das obrigações decorrentes da reorganização da dívida externa cubana com os nossos principais credores, embora, apesar dos muitos esforços feitos, ainda não pudemos recuperar o atraso nos pagamentos correntes aos fornecedores, aos quais eu reafirmo nossa gratidão por sua confiança em Cuba e a vontade de honrar todas e cada uma das contas vencidas.
A situação acima descrita nos obriga a continuar adotando as medidas necessárias para proteger ao máximo os ganhos das exportações, a produção de alimentos e os serviços à população, enquanto suprimimos todos os gastos não essenciais e garantimos o uso mais racional e eficiente dos recursos disponíveis para apoiar as prioridades aprovadas.
Tratando de outra matéria, em conformidade com as resoluções aprovadas no 6º e no 7º Congressos do Partido, foi aprovada a expansão do trabalho autônomo ou independente e a experiência das cooperativas não agrícolas, com o objetivo de irmos tirando gradualmente do controle do Estado algumas atividades não estratégicas, criar empregos, implementar iniciativas e contribuir para a eficiência da economia nacional no interesse do desenvolvimento do nosso socialismo.
Mais recentemente, em junho passado, na sessão extraordinária do Parlamento dedicada a analisar e apoiar os documentos programáticos do Modelo Econômico e Social, após a conclusão do processo de consultas com a militância do Partido e da Juventude Comunista, representantes das organizações de massa e amplos setores da sociedade, estas atividades foram reconhecidas como algumas das formas de propriedade que funcionam no seio da economia cubana.
Atualmente, temos mais de meio milhão de trabalhadores autônomos ou independentes e mais de 400 cooperativas não agrícolas, confirmando sua validade como uma fonte de emprego, permitindo, ao mesmo tempo, aumentar e diversificar a oferta de produtos e serviços, com níveis aceitáveis de qualidade.
No entanto, tal como discutimos na reunião do Conselho de Ministros, em 28 de junho, revelaram-se desvios da política definida nesta área e violações de normas legais vigentes, tais como o uso de matérias-primas e equipamentos de origem ilícita, declaração de renda abaixo do número real, para evadir as obrigações fiscais e inadequações no controle estatal em todos os escalões.
A fim de eliminar os fenômenos negativos detectados e assegurar o desenvolvimento posterior destas formas de gestão, no âmbito da legalidade, o Conselho de Ministros aprovou um conjunto de decisões que serão amplamente divulgados na medida em que sejam publicados os regulamentos atualizados.
Eu considero útil enfatizar que não desistimos da implantação e desenvolvimento do trabalho autônomo ou independente, nem continuar a experiência das cooperativas não agrícolas. Nós não vamos voltar atrás ou parar, nem permitir estigmas e preconceitos contra o setor não estatal; mas se torna imprescindível respeitar as leis, consolidar o que já se avançou, generalizar os aspectos positivos, que não são poucos e, enfrentar resolutamente as ilegalidades e outros desvios que se afastam da política estabelecida.
Estou certo de que neste esforço poderemos contar com o apoio da maioria dos cidadãos que honestamente trabalham nesse setor.
Não nos esqueçamos de que o ritmo e a profundidade das mudanças que devemos introduzir em nosso modelo devem ser condicionados pela capacidade que tenhamos de fazer as coisas bem e corrigi-las imediatamente perante qualquer desvio. Isso só é possível se houver garantias de uma preparação prévia e adequada — questão que não fazemos — a capacitação e domínio das normas estabelecidas em cada escalão e o acompanhamento e condução dos processos, aspectos nos quais não deixou de existir uma boa dose de superficialidade e um excesso de entusiasmo e desejos de avançar mais rápido do que somos realmente capazes.
Eu acho que é bem compreendida esta questão à que me acabo de referir. É preciso cumprirmos o que concordamos, o país precisa disso e também a Revolução. O desejo de fazer as coisas rápido, sem preparação adequada, em primeiro lugar por parte daqueles que têm de implementar as medidas, leva a estes erros, e depois criticamos os que não devemos criticar.
Foram cometidas infrações penais, há informações de casos em que a mesma pessoa já tem dois, três, quatro e cinco restaurantes. Não em uma província, mas sim em várias, uma pessoa que viajou mais de 30 vezes para diferentes países. Onde ele conseguiu o dinheiro? Como fez? Existem todos estes problemas; mas não devemos usá-los como uma desculpa para criticar uma decisão que é justa.
O que faz um Estado, especialmente se for um Estado socialista, administrando uma barbearia, com uma, duas ou três cadeiras, e em cada certo número de pequenas barbearias, não muitas, ter um administrador. E menciono este caso, pois foi um dos primeiros passos que tomamos.
Resolvemos fazer as cooperativas, testamos algumas e imediatamente começamos a fazer dezenas de cooperativas no ramo da construção. Alguém já analisou as consequências eu isso trouxe e os problemas que essa pressa criou? Vou citar um. E, como tal, existem outros. Isso é o que eu quero expressar em palavras simples e modestas. De quem são esses erros? De nós, principalmente dos líderes que elaboramos essa tal política, mas em consulta com as pessoas, com a aprovação do Parlamento, do último Congresso, da última reunião que tivemos aqui no mês passado para aprovar todos estes documentos que eu mencionei no início das minhas palavras. Essa é a realidade. Não vamos tentar esconder o sol com um dedo. Erros são erros e são erros nossos, e se medirmos pela hierarquia entre nós, os erros são meus, em primeiro lugar, porque eu sou parte dessa decisão. Essa é a realidade.
Acerca da nossa política externa, desejo expressar o seguinte:
Em 16 de junho passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a política do seu governo em relação a Cuba, nada de novo por sinal, pois retoma um discurso e nuances de confronto passadas, que demonstraram seu fracasso ao longo de mais de 55 anos.
Torna-se evidente que o presidente dos Estados Unidos não foi bem informado sobre a história de Cuba e as relações com os Estados Unidos, ou acerca do patriotismo e a dignidade dos cubanos.
A história não pode ser esquecida, como alguns sugeriram que devemos fazer. Por mais de 200 anos, os laços entre Cuba e os Estados Unidos foram marcados, em primeiro lugar, pelas pretensões do vizinho do Norte de dominação sobre o nosso país e; por outro lado, pela determinação do povo cubano de ser livre, independente e soberano.
Ao longo do século XIX, invocando as doutrinas e políticas do Destino Manifesto, Monroe e a Fruta Madura, diferentes governantes norte-americanos tentaram apropriar-se de Cuba, e apesar da heróica luta dos ‘mambises’, eles o conseguiram, em 1898, com a enganosa intervenção no final da guerra que há 30 anos os cubanos travaram pela independência, na qual as tropas norte-americanas entraram como aliados e, finalmente, tornaram-se ocupantes: negociaram com a Espanha, sem ter em conta Cuba, ocuparam militarmente o país por quatro anos, desmobilizaram o Exército Libertador, dissolveram o Partido Revolucionário Cubano, organizado, fundado e dirigido por José Martí e impuseram um apêndice à Constituição da nova República, a Emenda Platt, que lhes deu o direito de intervir em nossos assuntos internos e estabelecer, entre outras, a Base Naval de Guantánamo, que ainda usurpa parte do território nacional e cujo retorno Cuba vai continuar reivindicando.
O Estatuto neocolonial de Cuba, que permitiu aos Estados Unidos exercer a partir de 1899, um domínio total da vida política e econômica da Ilha, frustrou, mas não destruiu, o desejo de liberdade e independência do povo cubano. Exatamente 60 anos depois, em janeiro de 1959, com o triunfo da Revolução liderada pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro, fomos finalmente livres e independentes.
A partir dessa altura, o objetivo estratégico da política dos EUA em relação a Cuba tem sido a de derrubar a Revolução. Para fazer isso, ao longo de mais de cinco décadas, recorreram a variados métodos: a guerra econômica, rompimento das relações diplomáticas, invasão armada, atentados aos nossos principais líderes, sabotagens, bloqueio naval, criando e apoiando grupos armados, terrorismo de Estado, subversão interna, bloqueio econômico, político e da mídia e isolamento internacional.
Dez governos passaram por poder até que o presidente Barack Obama, em seu discurso de 17 de dezembro de 2014, sem abrir mão da intenção estratégica, teve o bom senso de reconhecer que o isolamento não funcionou e que era hora de uma nova abordagem para Cuba.
Ninguém pode negar que os Estados Unidos, em uma tentativa de isolar Cuba, finalmente estavam em um estado de profundo isolamento. A política de hostilidade e bloqueio contra nosso país havia se tornado um sério obstáculo para as suas relações com a América Latina e o Caribe e era rejeitada, quase por unanimidade, pela comunidade internacional; dentro da sociedade americana tinha se desenvolvido uma oposição importante e crescente a ela, incluindo grande parte da emigração cubana.
Na 6ª Cúpula das Américas, em Cartagena das Índias, Colômbia, em 2012, o Equador recusou-se a participar sem a assistência cubana e todos os países da América Latina e do Caribe expressaram seu protesto contra o bloqueio a Cuba e a exclusão de Cuba destes eventos. Vários países advertiram que não haveria uma outra reunião sem Cuba. Assim chegamos, em abril de 2015 — três anos mais tarde — à 7ª Cúpula do Panamá, quando fomos convidados pela primeira vez.
Com base no respeito e a igualdade, nos últimos dois anos, foram estabelecidas as relações diplomáticas e se registraram progressos na resolução de questões bilaterais pendentes; bem como cooperação em questões de interesse e benefício mútuos; foi modificada, de forma limitada, a aplicação de alguns aspectos do bloqueio. Ambos os países lançaram as bases para avançarem na construção de um novo tipo de relacionamento, mostrando que é possível conviver de forma civilizada, apesar das diferenças profundas existentes.
O presidente Obama terminou seu mandato e se manteve o bloqueio, a Base Naval de Guantánamo e a política de mudança de regime.
Os anúncios feitos pelo atual presidente, em 16 de junho passado, significam um retrocesso nas relações bilaterais. Assim consideram muitas pessoas e organizações nos Estados Unidos e ao redor do mundo que, predominantemente, expressam uma rejeição retumbante das mudanças anunciadas. Assim também expressaram nossas organizações de jovens e estudantes, das mulheres, trabalhadores, camponeses, os Comitês de Defesa da Revolução, intelectuais e grupos religiosos, em nome da grande maioria dos cidadãos desta nação.
O governo dos EUA resolveu acirrar o bloqueio, impondo novos obstáculos à sua comunidade de negócios para comerciar e investir em Cuba e restrições adicionais aos seus cidadãos para viajar ao nosso país, justificando estas medidas com uma retórica antiga e hostil da Guerra Fria, que está escondido atrás de uma suposta preocupação com o exercício e gozo do povo cubano de direitos humanos e democracia.
As decisões do presidente Trump ignoram o apoio de amplos setores dos EUA, incluindo a maioria da emigração cubana, ao levantamento do bloqueio e à normalização das relações e só satisfazem os interesses de um grupo de origem cubana do sul da Flórida, cada vez mais isolado e em minoria, que insiste em prejudicar Cuba e seu povo, por ter escolhido defender, a qualquer preço, seu direito de ser livre, independente e soberano.
Hoje reiteramos a denúncia do Governo Revolucionário às medidas de reforço do bloqueio e reafirmamos que qualquer estratégia para destruir a Revolução, seja através de coerção e a pressão ou usando métodos subtis vai falhar.
Da mesma forma, rejeitamos a manipulação da questão dos direitos humanos contra Cuba, um país que tem muito a se orgulhar das conquistas atingidas e que não tem que tomar lições dos Estados Unidos ou qualquer outro (Aplausos).
Quero repetir, conforme eu expressei na Cúpula da Celac, realizada na República Dominicana, em janeiro deste ano, que Cuba está disposta a continuar negociando as questões bilaterais pendentes com os Estados Unidos, com base na igualdade e o respeito pela soberania e independência do nosso país e continuar o diálogo respeitoso e cooperação em questões de interesse comum com o governo dos Estados Unidos.
Cuba e os Estados Unidos podem cooperar e conviver juntos, respeitando as diferenças e promovendo tudo aquilo que beneficie ambos os países e povos, mas não se deve esperar que para isso Cuba tenha que fazer concessões inerentes à sua soberania e independência. E hoje eu acrescento, que tenha que negociar seus princípios ou aceite condições de qualquer tipo, como nunca fizemos na história da Revolução.
Independentemente do que o governo dos EUA determine fazer ou não, continuamos avançando no caminho soberanamente escolhido por nosso povo.
Vivemos em um ambiente internacional caracterizado por uma crescente ameaça à paz e segurança internacionais, guerras de intervenção, perigos para a sobrevivência da espécie humana e uma ordem econômica internacional injusta e excludente.
Sabe-se que, desde o ano 2010, os Estados Unidos implementaram o conceito de «guerra não convencional», concebido como um conjunto de atividades que têm como fim a exploração das vulnerabilidades psicológicas, econômicas, militares e políticas de um país adversário, a fim de promover o desenvolvimento de um movimento de resistência ou insurgência para coagir, alterar ou derrubar o governo.
Isto já foi testado no norte da África e mesmo na Europa, e causou milhares de mortes, a destruição dos Estados, o dilaceramento das sociedades e o colapso das suas economias.
«Nossa América», que foi proclamada como Zona de Paz em 2014, agora enfrenta condições adversas.
A República Bolivariana da Venezuela sofre uma guerra não convencional — que não começou agora, começou muito antes — imposta pelo imperialismo e setores da oligarquia reacionária, que resultou em violência nas ruas e atos fascistas, como as cenas horríveis transmitidas de jovens queimados vivos.
A intervenção estrangeira contra a Revolução Bolivariana e Chavista deve cessar. A violência golpista e terrorista deve ser condenada de modo inequívoco. Todos devem se envolver no apelo do governo ao diálogo e se abstiverem de atos que contradigam as intenções que são proclamadas de maneira manipuladora e demagógica.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) e seu secretário-geral devem cessar sua agressão contra a Venezuela e a manipulação seletiva da realidade.
Deve ser respeitado o direito legítimo da Venezuela de resolver pacificamente seus assuntos internos, sem interferência externa alguma. Somente cabe ao povo venezuelano o exercício soberano da autodeterminação e encontrar soluções ele próprio.
Reiteramos nossa solidariedade com o povo venezuelano e sua união cívico-militar, liderada pelo presidente constitucional, Nicolas Maduro Moros.
A agressão e a violência golpista contra a Venezuela prejudicam toda a ‘Nossa América’ e só beneficiam os interesses daqueles determinados em dividir-nos, para exercer seu domínio sobre nossos povos, sem que lhes importe gerar conflitos com consequências incalculáveis nesta região, tal como os que estamos testemunhando em diferentes partes do mundo.
Advertimos hoje que aqueles que buscam derrubar por vias inconstitucionais, violentas ou com um golpe de Estado a Revolução Bolivariana e Chavista assumem uma grave responsabilidade perante a história.
Expressamos nossa solidariedade ao companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, vítima de perseguição política e de manobras de golpe, na tentativa de impedir sua candidatura às eleições diretas, mediante a desqualificação judicial. Lula, Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores e o povo brasileiro sempre terão Cuba do seu lado.
Companheiras e companheiros:
Em 14 de junho, o Conselho de Estado concordou em convocar eleições gerais, com as quais serão eleitos os delegados às assembleias (governos) municipais e provinciais e os deputados à Assembleia Nacional do Poder Popular, os quais depois elegerão o Conselho de Estado e o presidente do Parlamento.
Ao mesmo tempo, foram constituídas as comissões eleitorais para liderar o processo nos diferentes escalões e foram formadas as comissões de candidatura.
Vale a pena notar a importância política transcendente deste processo eleitoral, que deve ser um ato de reafirmação revolucionária do nosso povo, o que exige um trabalho forte por parte de todas as organizações e instituições.
Somos confiantes, como demonstrou este povo no passado, que as eleições serão um exemplo de verdadeiro exercício de democracia, baseada na ampla participação popular, a legalidade e transparência do processo eleitoral, onde não estão presentes partidos políticos nem se financiam as campanhas, mas a base para a proposta e nomeação dos candidatos é o mérito, a capacidade e o compromisso com o povo.
Por outro lado, e para concluir, companheiras e companheiros, restam apenas 12 dias para celebrar o 64º aniversário do ataque aos quartéis Moncada e Carlos Manuel de Céspedes. Desta vez, o evento será realizado na província de Pinar del Rio e o orador principal será o segundo secretário do Comitê Central, o companheiro José Ramon Machado Ventura (Aplausos).
Ao celebrarmos o Dia da Rebelião Nacional, pela primeira vez sem a presença física do Comandante-em-chefe da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz, vamos propor-nos enfrentar os novos desafios sob a orientação de seu exemplo, a intransigência revolucionária e a fé permanente na vitória.
Muito obrigado.
Presidente de Cuba durante o discurso - Foto: Estudios Revolución |
Discurso do General Raúl Castro Ruz, Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no encerramento da 9ª sessão ordinária, da 8ª Legislatura, da Assembleia Nacional do Poder Popular, no Palácio das Convenções, em 14 de julho de 2017.
Companheiros,
Como de costume nesta época do ano, tivemos bastante atividade. Em 28 de junho efetuamos a reunião do Conselho de Ministros, onde, entre outras coisas, revemos as questões principais que seriam apresentadas a esta sessão ordinária da Assembleia Nacional do Poder Popular.
A partir da segunda-feira, 10 de julho, os deputados trabalharam nas respectivas comissões, analisando as grandes questões da vida nacional e receberam ampla informação sobre a implementação do Plano da economia no primeiro semestre e a liquidação do Orçamento do Estado de 2016.
Da mesma forma, nosso Parlamento foi atualizado sobre o Plano do Estado cubano para combater as alterações climáticas, identificado como ‘Tarefa Vida’, uma questão de particular importância estratégica para o presente e, sobretudo, para o futuro do nosso país, dada a sua condição insular, que contou com a participação do potencial científico e tecnológico nacional, ao longo de mais de 25 anos.
Intimamente ligada à ‘Tarefa Vida’, aprovamos hoje a Lei de Águas Terrestres, na qual se vem trabalhando desde 2013, com o apoio das agências e instituições de maior incidência na gestão integrada e sustentável da água, um recurso natural vital que deve ser protegido, no interesse da sociedade, a economia, a saúde e o meio ambiente, especialmente em circunstâncias de secas prolongadas e cada vez mais frequentes que enfrentamos, sobre o qual tem vindo a fornecer-se informações suficientes para o nosso povo que se deve continuar fazendo.
A partir da elaboração do plano e o Orçamento para este ano, advertimos que as tensões financeiras viriam a persistir, assim como desafios que poderiam complicar o desempenho da economia nacional. Ainda, previmos quaisquer dificuldades no fornecimento de combustível a partir de Venezuela, apesar da vontade invariável do presidente Nicolás Maduro e do seu governo de cumprir.
Mesmo em meio a essas circunstâncias complexas obteve-se um resultado encorajador mas discreto. O Produto Interno Bruto cresceu no primeiro semestre em 1,1%, o que indica uma mudança no sinal da economia em relação ao ano anterior. Contribuíram para este resultado a agricultura, o turismo e outras exportações de serviços, a construção, a produção de açúcar e no domínio dos transportes e as comunicações.
Registraram-se progressos nos programas de investimentos prioritários ou que estabelecem as bases para o desenvolvimento da nação.
Foram assegurados os serviços sociais gratuitos para todos os cubanos, como a educação e a saúde pública.
Melhorou o equilíbrio monetário interno, que se expressa em um crescimento mais lento dos preços de retalho, devido a maior oferta nos mercados.
O déficit orçamental já se apresentou abaixo do esperado.
Por outro lado, com grandes esforços, conseguiu-se preservar o estrito cumprimento das obrigações decorrentes da reorganização da dívida externa cubana com os nossos principais credores, embora, apesar dos muitos esforços feitos, ainda não pudemos recuperar o atraso nos pagamentos correntes aos fornecedores, aos quais eu reafirmo nossa gratidão por sua confiança em Cuba e a vontade de honrar todas e cada uma das contas vencidas.
A situação acima descrita nos obriga a continuar adotando as medidas necessárias para proteger ao máximo os ganhos das exportações, a produção de alimentos e os serviços à população, enquanto suprimimos todos os gastos não essenciais e garantimos o uso mais racional e eficiente dos recursos disponíveis para apoiar as prioridades aprovadas.
Tratando de outra matéria, em conformidade com as resoluções aprovadas no 6º e no 7º Congressos do Partido, foi aprovada a expansão do trabalho autônomo ou independente e a experiência das cooperativas não agrícolas, com o objetivo de irmos tirando gradualmente do controle do Estado algumas atividades não estratégicas, criar empregos, implementar iniciativas e contribuir para a eficiência da economia nacional no interesse do desenvolvimento do nosso socialismo.
Mais recentemente, em junho passado, na sessão extraordinária do Parlamento dedicada a analisar e apoiar os documentos programáticos do Modelo Econômico e Social, após a conclusão do processo de consultas com a militância do Partido e da Juventude Comunista, representantes das organizações de massa e amplos setores da sociedade, estas atividades foram reconhecidas como algumas das formas de propriedade que funcionam no seio da economia cubana.
Atualmente, temos mais de meio milhão de trabalhadores autônomos ou independentes e mais de 400 cooperativas não agrícolas, confirmando sua validade como uma fonte de emprego, permitindo, ao mesmo tempo, aumentar e diversificar a oferta de produtos e serviços, com níveis aceitáveis de qualidade.
No entanto, tal como discutimos na reunião do Conselho de Ministros, em 28 de junho, revelaram-se desvios da política definida nesta área e violações de normas legais vigentes, tais como o uso de matérias-primas e equipamentos de origem ilícita, declaração de renda abaixo do número real, para evadir as obrigações fiscais e inadequações no controle estatal em todos os escalões.
A fim de eliminar os fenômenos negativos detectados e assegurar o desenvolvimento posterior destas formas de gestão, no âmbito da legalidade, o Conselho de Ministros aprovou um conjunto de decisões que serão amplamente divulgados na medida em que sejam publicados os regulamentos atualizados.
Eu considero útil enfatizar que não desistimos da implantação e desenvolvimento do trabalho autônomo ou independente, nem continuar a experiência das cooperativas não agrícolas. Nós não vamos voltar atrás ou parar, nem permitir estigmas e preconceitos contra o setor não estatal; mas se torna imprescindível respeitar as leis, consolidar o que já se avançou, generalizar os aspectos positivos, que não são poucos e, enfrentar resolutamente as ilegalidades e outros desvios que se afastam da política estabelecida.
Estou certo de que neste esforço poderemos contar com o apoio da maioria dos cidadãos que honestamente trabalham nesse setor.
Não nos esqueçamos de que o ritmo e a profundidade das mudanças que devemos introduzir em nosso modelo devem ser condicionados pela capacidade que tenhamos de fazer as coisas bem e corrigi-las imediatamente perante qualquer desvio. Isso só é possível se houver garantias de uma preparação prévia e adequada — questão que não fazemos — a capacitação e domínio das normas estabelecidas em cada escalão e o acompanhamento e condução dos processos, aspectos nos quais não deixou de existir uma boa dose de superficialidade e um excesso de entusiasmo e desejos de avançar mais rápido do que somos realmente capazes.
Eu acho que é bem compreendida esta questão à que me acabo de referir. É preciso cumprirmos o que concordamos, o país precisa disso e também a Revolução. O desejo de fazer as coisas rápido, sem preparação adequada, em primeiro lugar por parte daqueles que têm de implementar as medidas, leva a estes erros, e depois criticamos os que não devemos criticar.
Foram cometidas infrações penais, há informações de casos em que a mesma pessoa já tem dois, três, quatro e cinco restaurantes. Não em uma província, mas sim em várias, uma pessoa que viajou mais de 30 vezes para diferentes países. Onde ele conseguiu o dinheiro? Como fez? Existem todos estes problemas; mas não devemos usá-los como uma desculpa para criticar uma decisão que é justa.
O que faz um Estado, especialmente se for um Estado socialista, administrando uma barbearia, com uma, duas ou três cadeiras, e em cada certo número de pequenas barbearias, não muitas, ter um administrador. E menciono este caso, pois foi um dos primeiros passos que tomamos.
Resolvemos fazer as cooperativas, testamos algumas e imediatamente começamos a fazer dezenas de cooperativas no ramo da construção. Alguém já analisou as consequências eu isso trouxe e os problemas que essa pressa criou? Vou citar um. E, como tal, existem outros. Isso é o que eu quero expressar em palavras simples e modestas. De quem são esses erros? De nós, principalmente dos líderes que elaboramos essa tal política, mas em consulta com as pessoas, com a aprovação do Parlamento, do último Congresso, da última reunião que tivemos aqui no mês passado para aprovar todos estes documentos que eu mencionei no início das minhas palavras. Essa é a realidade. Não vamos tentar esconder o sol com um dedo. Erros são erros e são erros nossos, e se medirmos pela hierarquia entre nós, os erros são meus, em primeiro lugar, porque eu sou parte dessa decisão. Essa é a realidade.
Acerca da nossa política externa, desejo expressar o seguinte:
Em 16 de junho passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a política do seu governo em relação a Cuba, nada de novo por sinal, pois retoma um discurso e nuances de confronto passadas, que demonstraram seu fracasso ao longo de mais de 55 anos.
Torna-se evidente que o presidente dos Estados Unidos não foi bem informado sobre a história de Cuba e as relações com os Estados Unidos, ou acerca do patriotismo e a dignidade dos cubanos.
A história não pode ser esquecida, como alguns sugeriram que devemos fazer. Por mais de 200 anos, os laços entre Cuba e os Estados Unidos foram marcados, em primeiro lugar, pelas pretensões do vizinho do Norte de dominação sobre o nosso país e; por outro lado, pela determinação do povo cubano de ser livre, independente e soberano.
Ao longo do século XIX, invocando as doutrinas e políticas do Destino Manifesto, Monroe e a Fruta Madura, diferentes governantes norte-americanos tentaram apropriar-se de Cuba, e apesar da heróica luta dos ‘mambises’, eles o conseguiram, em 1898, com a enganosa intervenção no final da guerra que há 30 anos os cubanos travaram pela independência, na qual as tropas norte-americanas entraram como aliados e, finalmente, tornaram-se ocupantes: negociaram com a Espanha, sem ter em conta Cuba, ocuparam militarmente o país por quatro anos, desmobilizaram o Exército Libertador, dissolveram o Partido Revolucionário Cubano, organizado, fundado e dirigido por José Martí e impuseram um apêndice à Constituição da nova República, a Emenda Platt, que lhes deu o direito de intervir em nossos assuntos internos e estabelecer, entre outras, a Base Naval de Guantánamo, que ainda usurpa parte do território nacional e cujo retorno Cuba vai continuar reivindicando.
O Estatuto neocolonial de Cuba, que permitiu aos Estados Unidos exercer a partir de 1899, um domínio total da vida política e econômica da Ilha, frustrou, mas não destruiu, o desejo de liberdade e independência do povo cubano. Exatamente 60 anos depois, em janeiro de 1959, com o triunfo da Revolução liderada pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro, fomos finalmente livres e independentes.
A partir dessa altura, o objetivo estratégico da política dos EUA em relação a Cuba tem sido a de derrubar a Revolução. Para fazer isso, ao longo de mais de cinco décadas, recorreram a variados métodos: a guerra econômica, rompimento das relações diplomáticas, invasão armada, atentados aos nossos principais líderes, sabotagens, bloqueio naval, criando e apoiando grupos armados, terrorismo de Estado, subversão interna, bloqueio econômico, político e da mídia e isolamento internacional.
Dez governos passaram por poder até que o presidente Barack Obama, em seu discurso de 17 de dezembro de 2014, sem abrir mão da intenção estratégica, teve o bom senso de reconhecer que o isolamento não funcionou e que era hora de uma nova abordagem para Cuba.
Ninguém pode negar que os Estados Unidos, em uma tentativa de isolar Cuba, finalmente estavam em um estado de profundo isolamento. A política de hostilidade e bloqueio contra nosso país havia se tornado um sério obstáculo para as suas relações com a América Latina e o Caribe e era rejeitada, quase por unanimidade, pela comunidade internacional; dentro da sociedade americana tinha se desenvolvido uma oposição importante e crescente a ela, incluindo grande parte da emigração cubana.
Na 6ª Cúpula das Américas, em Cartagena das Índias, Colômbia, em 2012, o Equador recusou-se a participar sem a assistência cubana e todos os países da América Latina e do Caribe expressaram seu protesto contra o bloqueio a Cuba e a exclusão de Cuba destes eventos. Vários países advertiram que não haveria uma outra reunião sem Cuba. Assim chegamos, em abril de 2015 — três anos mais tarde — à 7ª Cúpula do Panamá, quando fomos convidados pela primeira vez.
Com base no respeito e a igualdade, nos últimos dois anos, foram estabelecidas as relações diplomáticas e se registraram progressos na resolução de questões bilaterais pendentes; bem como cooperação em questões de interesse e benefício mútuos; foi modificada, de forma limitada, a aplicação de alguns aspectos do bloqueio. Ambos os países lançaram as bases para avançarem na construção de um novo tipo de relacionamento, mostrando que é possível conviver de forma civilizada, apesar das diferenças profundas existentes.
O presidente Obama terminou seu mandato e se manteve o bloqueio, a Base Naval de Guantánamo e a política de mudança de regime.
Os anúncios feitos pelo atual presidente, em 16 de junho passado, significam um retrocesso nas relações bilaterais. Assim consideram muitas pessoas e organizações nos Estados Unidos e ao redor do mundo que, predominantemente, expressam uma rejeição retumbante das mudanças anunciadas. Assim também expressaram nossas organizações de jovens e estudantes, das mulheres, trabalhadores, camponeses, os Comitês de Defesa da Revolução, intelectuais e grupos religiosos, em nome da grande maioria dos cidadãos desta nação.
O governo dos EUA resolveu acirrar o bloqueio, impondo novos obstáculos à sua comunidade de negócios para comerciar e investir em Cuba e restrições adicionais aos seus cidadãos para viajar ao nosso país, justificando estas medidas com uma retórica antiga e hostil da Guerra Fria, que está escondido atrás de uma suposta preocupação com o exercício e gozo do povo cubano de direitos humanos e democracia.
As decisões do presidente Trump ignoram o apoio de amplos setores dos EUA, incluindo a maioria da emigração cubana, ao levantamento do bloqueio e à normalização das relações e só satisfazem os interesses de um grupo de origem cubana do sul da Flórida, cada vez mais isolado e em minoria, que insiste em prejudicar Cuba e seu povo, por ter escolhido defender, a qualquer preço, seu direito de ser livre, independente e soberano.
Hoje reiteramos a denúncia do Governo Revolucionário às medidas de reforço do bloqueio e reafirmamos que qualquer estratégia para destruir a Revolução, seja através de coerção e a pressão ou usando métodos subtis vai falhar.
Da mesma forma, rejeitamos a manipulação da questão dos direitos humanos contra Cuba, um país que tem muito a se orgulhar das conquistas atingidas e que não tem que tomar lições dos Estados Unidos ou qualquer outro (Aplausos).
Quero repetir, conforme eu expressei na Cúpula da Celac, realizada na República Dominicana, em janeiro deste ano, que Cuba está disposta a continuar negociando as questões bilaterais pendentes com os Estados Unidos, com base na igualdade e o respeito pela soberania e independência do nosso país e continuar o diálogo respeitoso e cooperação em questões de interesse comum com o governo dos Estados Unidos.
Cuba e os Estados Unidos podem cooperar e conviver juntos, respeitando as diferenças e promovendo tudo aquilo que beneficie ambos os países e povos, mas não se deve esperar que para isso Cuba tenha que fazer concessões inerentes à sua soberania e independência. E hoje eu acrescento, que tenha que negociar seus princípios ou aceite condições de qualquer tipo, como nunca fizemos na história da Revolução.
Independentemente do que o governo dos EUA determine fazer ou não, continuamos avançando no caminho soberanamente escolhido por nosso povo.
Vivemos em um ambiente internacional caracterizado por uma crescente ameaça à paz e segurança internacionais, guerras de intervenção, perigos para a sobrevivência da espécie humana e uma ordem econômica internacional injusta e excludente.
Sabe-se que, desde o ano 2010, os Estados Unidos implementaram o conceito de «guerra não convencional», concebido como um conjunto de atividades que têm como fim a exploração das vulnerabilidades psicológicas, econômicas, militares e políticas de um país adversário, a fim de promover o desenvolvimento de um movimento de resistência ou insurgência para coagir, alterar ou derrubar o governo.
Isto já foi testado no norte da África e mesmo na Europa, e causou milhares de mortes, a destruição dos Estados, o dilaceramento das sociedades e o colapso das suas economias.
«Nossa América», que foi proclamada como Zona de Paz em 2014, agora enfrenta condições adversas.
A República Bolivariana da Venezuela sofre uma guerra não convencional — que não começou agora, começou muito antes — imposta pelo imperialismo e setores da oligarquia reacionária, que resultou em violência nas ruas e atos fascistas, como as cenas horríveis transmitidas de jovens queimados vivos.
A intervenção estrangeira contra a Revolução Bolivariana e Chavista deve cessar. A violência golpista e terrorista deve ser condenada de modo inequívoco. Todos devem se envolver no apelo do governo ao diálogo e se abstiverem de atos que contradigam as intenções que são proclamadas de maneira manipuladora e demagógica.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) e seu secretário-geral devem cessar sua agressão contra a Venezuela e a manipulação seletiva da realidade.
Deve ser respeitado o direito legítimo da Venezuela de resolver pacificamente seus assuntos internos, sem interferência externa alguma. Somente cabe ao povo venezuelano o exercício soberano da autodeterminação e encontrar soluções ele próprio.
Reiteramos nossa solidariedade com o povo venezuelano e sua união cívico-militar, liderada pelo presidente constitucional, Nicolas Maduro Moros.
A agressão e a violência golpista contra a Venezuela prejudicam toda a ‘Nossa América’ e só beneficiam os interesses daqueles determinados em dividir-nos, para exercer seu domínio sobre nossos povos, sem que lhes importe gerar conflitos com consequências incalculáveis nesta região, tal como os que estamos testemunhando em diferentes partes do mundo.
Advertimos hoje que aqueles que buscam derrubar por vias inconstitucionais, violentas ou com um golpe de Estado a Revolução Bolivariana e Chavista assumem uma grave responsabilidade perante a história.
Expressamos nossa solidariedade ao companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, vítima de perseguição política e de manobras de golpe, na tentativa de impedir sua candidatura às eleições diretas, mediante a desqualificação judicial. Lula, Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores e o povo brasileiro sempre terão Cuba do seu lado.
Companheiras e companheiros:
Em 14 de junho, o Conselho de Estado concordou em convocar eleições gerais, com as quais serão eleitos os delegados às assembleias (governos) municipais e provinciais e os deputados à Assembleia Nacional do Poder Popular, os quais depois elegerão o Conselho de Estado e o presidente do Parlamento.
Ao mesmo tempo, foram constituídas as comissões eleitorais para liderar o processo nos diferentes escalões e foram formadas as comissões de candidatura.
Vale a pena notar a importância política transcendente deste processo eleitoral, que deve ser um ato de reafirmação revolucionária do nosso povo, o que exige um trabalho forte por parte de todas as organizações e instituições.
Somos confiantes, como demonstrou este povo no passado, que as eleições serão um exemplo de verdadeiro exercício de democracia, baseada na ampla participação popular, a legalidade e transparência do processo eleitoral, onde não estão presentes partidos políticos nem se financiam as campanhas, mas a base para a proposta e nomeação dos candidatos é o mérito, a capacidade e o compromisso com o povo.
Por outro lado, e para concluir, companheiras e companheiros, restam apenas 12 dias para celebrar o 64º aniversário do ataque aos quartéis Moncada e Carlos Manuel de Céspedes. Desta vez, o evento será realizado na província de Pinar del Rio e o orador principal será o segundo secretário do Comitê Central, o companheiro José Ramon Machado Ventura (Aplausos).
Ao celebrarmos o Dia da Rebelião Nacional, pela primeira vez sem a presença física do Comandante-em-chefe da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz, vamos propor-nos enfrentar os novos desafios sob a orientação de seu exemplo, a intransigência revolucionária e a fé permanente na vitória.
Muito obrigado.
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Fonte: Granma.
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