sexta-feira, 19 de maio de 2017

Martí vive e a luta continua: 122 anos do desaparecimento físico do apóstolo de Cuba


Por Maria Leite

Nenhum povo é dono do seu destino se antes não é dono de sua cultura (JOSÉ MARTÍ)

Estas significativas palavras de Martí apareceram no documento elaborado ao término do II Encontro Nacional de Alfabetização e Cultura Popular, realizado em Recife, no ano de 1963, quando a burguesia, aliada ao capital estrangeiro, e o latifúndio, impenetrável às mudanças sociais, armazenavam uma crise latente. As forças populares desarticuladas não foram suficientes para resistir à barbárie. Em pouco tempo, as condições mudaram radicalmente e, mais do que nunca, o Brasil ficou distante de Cuba; “um fruto proibido” aos brasileiros. 

Hoje, passados 122 anos de sua morte de Martí, o seu ideário ainda provoca aguçadas reflexões sobre a formação dos valores societários de Nuestra América. O fato do ideário ético-político martiano, impregnado de humanismo pedagógico, privilegiar os valores tornou-se evidente, a partir 1889, quando da publicação do primeiro número de La Edad de Oro, revista voltada para crianças do continente latino-americano. Essa obra, inteiramente escrita e editada por Martí, demonstrou o seu trabalho multiforme de autor e a iniciativa para criar nos meninos da América Latina – ameaçada pela progressiva perda de sua identidade cultural – uma consciência anticolonialista e um alto sentido de solidariedade humana. José Martí iniciou sua participação política escrevendo a jornais separatistas. Com a prisão de seu mestre Rafael Mendive, cristalizou-se a atitude de rebeldia contra a dominação espanhola. Em 1869, Martí foi condenado a seis anos de trabalhos forçados, mas passou somente seis meses na prisão, pois conseguiu permutar a pena pela deportação à Espanha. Dedicou-se ao estudo do Direito, obtendo, em 1874, o diploma na Universidade de Zaragoza. Entre 1881 e 1895, viveu em Nova Iorque, porém foi no México, na Guatemala e na Venezuela que alcançou o mais alto grau de identificação com a autoctonia da América, até o momento desconhecido a um filho de espanhol. No comando de um contingente de cubanos, após breve encontro com tropas espanholas no vilarejo de Dos Ríos, em 19 de maio de 1895, Martí foi atingido, morto e seu corpo mutilado. 

A trajetória de sua vida revolucionária o fez passar por vários países, proporcionando-lhe conhecimentos avançados para seu tempo nos temas da Educação. Como estudioso não apenas dos problemas da instrução e ensino em Cuba, mas de todos os países de continente americano, onde teve a oportunidade de viver e adquirir informação, Martí elaborou um pensamento pedagógico, com a urgência da sonhadas Repúblicas. A síntese desse ideário constitui, até hoje, um paradigma para a educação de nossos povos. Indiscutivelmente, Martí possuía um referencial teórico – que evoluiu historicamente – no qual a educação é concebida como uma estratégia para o desenvolvimento do homem. Na sua concepção, era um fato grave a Educação latino-americana seguir os padrões ou modelos dos sistemas europeus e norte-americanos, desvinculados das realidades socioeconômicas em que se aplicavam. Convencido de que “Patria es humanidad”, Martí reafirmou o imperativo para Nuestra América de um espírito diferente da América Anglo-Saxônica, na busca de uma legítima cultura ajustada à realidade latino-americana.

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