'Fidel [Castro] nos ensinou que, sim, podemos', diz Raul Castro; veja íntegra de discurso em Santiago de Cuba
Rául discursa em último ato a Fidel junto às massas - Santigo de Cuba |
Em discurso realizado na noite deste sábado (03/12), durante o ato de massas que lotou a praça Antonio Maceo, na cidade de Santiago, como parte dos atos fúnebres para marcar a morte do líder revolucionário Fidel Castro, seu irmão e presidente de Cuba, Raúl Castro, disse que o grande ensinamento que Fidel deixou foi que “sim, se pode”.
A frase relembra palavras ditas por Fidel aos cubanos durante o período em que governou o país. O presidente cubano lembrou momentos importantes da vida de Fidel, como o apoio dado a Angola para debelar as forças racistas do apartheid no país, ou a ajuda médica enviada a diversos países, inclusive ao Brasil.
Raúl reforçou o papel de Fidel para a construção dos valores do modelo cubano de sociedade, baseado na solidariedade, humanidade e internacionalismo. Esse modelo levou Cuba a ter na saúde, educação e segurança públicas suas maiores realizações, tendo erradicado o analfabetismo em um ano, logo no início do governo revolucionário, e reduzido a taxas baixas a mortalidade infantil.
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Segundo Raul, a manutenção desses valores, mesmo ante ao bloqueio de mais de 50 anos imposto pelos EUA a Cuba, colocou a capacidade de resistência das cubanas e cubanos à prova. Mas, com a condução de Fidel, o país revelou que “sim, se pode” superar as adversidades e sustentar os ideias revolucionários.
Povo de Santiago de Cuba no último adeus a Fidel Castro - Foto: Ricardo Stuckert |
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Leia a seguir a íntegra do discurso do presidente Raul Castro:
“Estimados chefes de Estados e de Governos,
Destacadas personalidades que nos acompanham,
Compatriotas que se encontram hoje aqui em representação das províncias orientais e Camaguey,
Santiagueras e santiagueros,
Querido povo de Cuba,
Na tarde de hoje, trazido a esta cidade o cortejo fúnebre das cinzas de Fidel, que reeditou em sentido inverso a Caravana da Liberdade, de janeiro de 1959, realizaou um percurso por pontos emblemáticos de Santiago de Cuba, berço da Revolução, onde, como no resto do país, recebeu o testemunho de amor dos cubanos.
Amanhã, suas cinzas serão depositadas em uma simples cerimônia no cemitério de Santa Efigênia, muito perto do mausoleu do heroi nacional José Martí, de seus companheiros de luta do Moncada, do Granma, e do exército rebelde, da clandestinidade e das missões internacionalistas.
A poucos passos se encontram as tumbas de Carlos Manuel de Céspedes, pai da pátria, e da legendária Mariana Grajales, mãe dos Maceos, e me atrevo a improvisar neste ato, que também mãe de todos os cubanos e cubanas. Próximo também está o panteão com os restos do inesquecível Frank País García, jovem santiaguero, assasinado por capangas da tirania batistiana com apenas 22 anos, um mês depois em que caiu combatendo em uma ação nesta cidade seu pequeno irmão Josué.
A idade de Frank não o impediu de acumular uma exemplar trajetória de combate contra a ditadura, em que se destacou como chefe do levantamento armado de Santiago de Cuba em 30 de novembro de 1956, em apoio ao desembarque dos expedicionários do Granma, assim como a organização do decisivo envio de armamento e combatentes ao nascente exército rebelde na Sierra Maestra.
Desde que se conheceu, tarde da noite de 25 de novembro, a notícia do falecimento do líder histórico da Revolução Cubana, a dor e a tristeza se apoderaram do povo que, profundamente comovido com sua inesperada perda física, demonstrou fortaleza, convicção patriótica, disciplina e maturidade ao comparecer de forma massiva às atividades de homenagens organizadas e fazer o juramento de fidelidade ao conceito de revolução exposto por Fidel em 1º de maio do ano 2000. Entre os dias 28 e 29 de novembre, milhões de compatriotas estamparam suas assinaturas em respaldo à revolução.
Em meio à dor dessas jornadas, temos nos sentido reconfortados e orgulhosos uma vez mais com a impressionante reação das crianças e jovens cubanos, que reafirmam sua disposição de serem fiéis continuadores dos ideais do líder da revolução.
Em nome de nosso povo, do partido, Estado, governo e dos familiares, reitero o agradecimento mais profundo pelas incontáveis mostras de afeto e respeito a Fidel, suas ideas e sua obra, que continuam chegando de todos os confins do planeta.
Fiel à ética martiana, de que a glória do mundo cabe num grão de milho, o líder da revolução rejeitava qualquer manifestação de culto à personalidade. E foi consequentecom essa atitude até as últimas horas de vida, insistindo que, uma vez falecido, seu nombre e sua figura nunca fossem utilizados para denominar instituições, praças, parques, avenidas, ruas ou outros locais públicos, nem erguer em sua memória monumentos, bustos, estátuas ou outras formas similares de tributo.
Em correspondência com a determinação do companheiro Fidel, apresentaremos no próximo período de sessões da Assembleia Nacional do Poder Popular as propostas legislativas requeridas para que prevaleça sua vontade.
Com razão, o querido amigo [Abdelaziz] Bouteflika, presidente dz Argélia, expressou que Fidel possuia a extraordinária capacidade de viajar ao futuro, regressar e explicá-lo. Em 26 de julho de 1989, na cidade de Camaguey, o comandante em chefe previu, com dois anos e meio de antecedência, a desaparição da União Soviética e o campo socialista, e assegurou ante o mundo que se ocorressem essas circunstâncias, Cuba continuaria defendendo as bandeiras do socialismo.
A autoridade de Fidel e sua relação cativante com o povo foi determinante para a heróica resistência do país, nos dramáticos anos do período especial, quando o Produto Interno Bruto caiu 34,8% e se deteriorou sensivelmente a alimentação dos cubanos, sofremos apagões de 16 e até 20 horas diárias e se paralisou boa parte das indústrias e dos transportes públicos. Apesar disso, conseguiu-se preservar a saúde pública e a educação a toda nossa população.
Vêm à minha mente as reuniões do partido nos territórios oriental, na cidade de Olguín; central, na cidade de Santa Clara; e ocidental, na capital da República, Havana, realizadas em julho de 1994, para analisar como enfrentar com melhor eficiência e coesão os desafios do período especial, o crescente bloqueio imperialista e as campanhas midiáticas dirigidas a plantar o desânimo entre a cidadania. Dessas reuniões, incluindo as do ocidente presididas Fidel, saímos todos convencidos que com a força e a inteligência das massas coesas, sob a direção do partido, sim se podia e se pôde converter o período especial em uma nova batalha vitoriosa na história da pátria.
Nesse período, poucos no mundo apostavam em nossa capacidade de resistir e vencer ante a adversidade e o reforçado cerco inimigo; no entanto, nosso povo, sob a condução de Fidel, deu uma inesquecível lição de firmeza e lealdade aos princípios da revolução.
Ao rememorar esses difíceis momentos, acredito ser justo e pertinente retomar o que Fidel expressou em 26 de julho de 1994, um dos anos mais difíceis, na Ilha da Juventude, há mais de 22 anos. Cito:
“O mais nobre filho de Cuba neste século, aquele que nos demonstrou que sim, se podia tentar a conquista do quartel Moncada, que sim se podia converter aquele revés em vitória, que conseguimos 5 anos, 5 meses e 5 dias naquele memorável 1º de 1959, este último acrescentado às palavras textuais que disse naquela ocasião.
Demonstrou que sim, se podia chegar até Cuba no iate Granma, que sim se podia resistir ao inimigo, à fome, à chuva e ao frio, organizar um exército revolucionário na Serra Maestra, depois do desastre de Alegría de Pío; que sim, se podia abrir novas frentes guerrilheiras na província do oriente, com as colunas de Almeida e a nossa; que sim se podia derrotar com 300 fuzis a grande ofensiva de mais de 10 mil soldados que, ao serem derrotados, Che escreveu em seu diário de campanha que com essa vitória se havia partido a coluna vertebral do exército da tirania; que sim se podia repetir a epopeia de Maceo e Gómez, estendendo com as colunas de Che e Camilo a luta do oriente até o ocidente da ilha; que sim se podia derrocar, com o respaldo de todo o povo, a tirania batistiana, apoiada pelo imperialismo norteamericano.
Aquele que nos ensinou que sim, se podia derrotar em 72 horas e ainda menos a invasão mercenária de Playa Girón e prosseguir ao mesmo tempo a campanha de erradicar o analfabetismo em um ano, como aconteceu em 1961; que sim se podia proclamar o caráter socialista da revolução a 90 milhas do império, e quando seus navios de guerra avançavam até Cuba, após as tropas das brigadas mercenárias, que sim se podia manter com firmeza os princípios irrenunciáveis de nossa soberania, sem temer a chantagem nuclear dos Estados Unidos nos dias da crise dos mísseis, em outubro de 1962; que sim se podia enviar ajuda solidária a outros povos irmãos na luta contra a opressão colonial, a agressão externa e o racismo; que sim se podia derrotar os racistas sul-africanos, salvando a integridade territorial de Angola, forçando a independência da Namíbia e acertando um duro golpe ao regime do apartheid; que sim se podia transformar Cuba em uma potência médica, reduzir a mortalidade infantil às taxas mais baixas do terceiro mundo, primeiro, e do mundo rico depois, porque neste continente pelo menos temos menos mortandade infantil com menores de un ano de idade que o Canadá e os próprios Estados Unidos [aplausos] e, ao mesmo tempo, elevar consideravelmente a esperança de vida da nossa população.
Que sim se podia transformar Cuba em um grande polo científico, avançando nos modernos e decisivos campos de engenharia genética e de biotecnologia, nos inserir no meio fechado do comércio internacional de farmacêuticos, desenvolver o turismo apesar do bloqueio norteamericano, construir caminhos elevados no mar para fazer de Cuba cada vez mais um pólo atrativo, obtendo de nossas belezas naturais um ingresso crescente de divisas; que sim se pode resistir, sobreviver e desenvolver-nos sem renunciar aos princípios, nem às conquistas do socialismo no mundo unipolar e de onipotência das transnacionais que surgiu depois da queda do campo socialista da Europa e da desintegração da União Soviética.
O permanente ensinamento de Fidel é que sim se pode. Que o homem é capaz de sobrepujar as mais duras condições se não desfalece sua vontade de vencer, faz uma avaliação correta de cada situação e não renuncia a seus justos e nobres princípios”. Fim das aspas.
Essas palavras que expressei há mais de duas décadas sobre quem, depois do desastre do primero combate em Alegría del Pio, que depois de amanhã se completará 60 anos, nunca perdeu a fé na vitória e, 13 dias depois, já nas montanhas da Sierra Maestra, no dia 18 de dezembro do ano mencionado, ao reunir 7 fuzis e um punhado de combatentes, exclamou: “agora sim, ganhamos a guerra!”.
[Aplausos e gritos de “Fidel”, “Esse é o Fidel”]
Esse é o Fidel invicto que nos convoca com seu exemplo e com a demonstração que sim se pôde, sim se pode e sim se poderá.
[“Sim se pode”]
Repito que ele demonstrou que sim se pôde, sim se pode e sim se poderá superar qualquer obstáculo, ameaça ou turbulência em nosso firme empenho de construir o socialismo em Cuba, ou, o que é o mesmo, garantir a independência e a soberania da pátria.
[Aplausos]
Ante os restos de Fidel, na praça da Revolução Maior General Antonio Maceo Grajales, na heróica cidade de Santiago de Cuba, juremos defender a pátria e o socialismo [exclamações: Juramos!] e juntos reafirmemos todos a sentência do titã de bronze “quem tentar se apropriar de Cuba, recolherá o pó de seu solo regado em seu sangue, se não perecer na luta”.
Fidel, Fidel, até a vitória!"
[“Sempre!”, “Eu sou Fidel”, “Raul é Fidel!” e “Raul, tranquilo, o povo está contigo!”].
Veja como foi o ato completo:
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