segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Cuba: o Partido Comunista é a vanguarda organizada do povo

Discurso do companheiro José Ramón Machado Ventura, segundo secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e vice-presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no ato pelo 50º aniversário da criação do Comitê Central do Partido e da fundação do jornal Granma.

Primeiro Congresso do Partido Comunista de Cuba
Companheiras e companheiros:

Em 3 de outubro de 1965, em um ato realizado no antigo teatro Chaplin, hoje Karl Marx, ocorreram vários fatos que fixaram indelevelmente esse dia na história pátria. O Partido tomava seu nome definitivo: Partido Comunista de Cuba; anunciava-se a decisão de contar com um órgão oficial que se chamaria Granma; apresentava-se seu Comitê Central e, para explicar a ausência do Che entre seus membros, Fidel lia a carta de despedida que aquele lhe dirigira.

Para entender na plenitude o significado desses acontecimentos, é imprescindível recordar que o Partido é fruto legítimo da Revolução. Sua raiz está no que Martí fundou em 1892 para organizar a guerra necessária, e seu antecedente mais imediato no que organizaram Mella, Baliño e Rubén, de cuja fecunda história o companheiro Jorge Risquet, falecido recentemente, fez um resumo brilhante em seu 90º aniversário, há apenas um mês e meio.

Aquele primeiro Partido Comunista se somou ao Movimento Revolucionário 26 de Julho e ao Diretório Revolucionário 13 de Março, na luta que conduziu à queda da sanguinária ditadura de Batista. Essas três organizações estruturalmente eram completamente distintas, cada uma tinha sua direção, sua tática, sua esfera de ação.

Era uma necessidade imperiosa a busca de uma aproximação entre os revolucionários que, com métodos diferentes, tinham um objetivo comum: consolidar a Revolução Cubana. Depois do triunfo, a ação independente dessas três forças políticas entorpecia a coordenação das atividades e a conjunção de esforços.


Nos primeiros momentos se realizavam encontros esporádicos entre as direções das três forças. Até que se produziu, como destacou o companheiro Fidel, uma fusão de fato, como resultado da aproximação, dos contatos que tínhamos desde antes da guerra, dos contatos ulteriores, do hábito que se criou de nos consultarmos sobre os problemas mais importantes.

Com sua visão da importância estratégica da unidade, Fidel encabeçou o processo de conformação das Organizações Revolucionárias Integradas (ORI), concebidas como organismo transitório para dirigir a sociedade e preparar as condições para a coesão completa de todos os revolucionários cubanos.

Em todas as províncias se consolidou o processo para formar as estruturas de direção das ORI com os dirigentes das três organizações, ao tempo em que se criavam células de base nos centros de produção industriais e agrícolas.

Contudo, este processo de unidade revolucionária não transcorreu isento de dificuldades. No labor de criar um novo partido, logo começaram a surgir sérias contradições, devido a algumas posições e erros sectários. Pois, como o próprio Fidel expressou, “nenhum processo desta índole se desenvolve idilicamente”.

Depois de superar os erros do sectarismo, constituiu-se oficialmente a Direção Nacional das ORI. Na reunião de 22 de março de 1962 foram adotados os acordos de nomear Primeiro Secretário o companheiro Fidel e Segundo Secretário o companheiro Raúl e integrar um secretariado; também, designar o experimentado dirigente comunista Blas Roca Calderío como diretor do jornal Hoy.

Com essas decisões e a partir das ideias de Fidel, o Partido começou a fortalecer-se pela via da reorganização dos núcleos na base.

Queremos destacar que, no enfrentamento às manifestações sectárias, Fidel fez um aporte extraordinário à teoria e à prática da organização de um partido revolucionário no poder. Uma das principais ideias de nosso Comandante em Chefe se transformou no guia da construção partidária ao longo daqueles anos até o dia de hoje. Ele mesmo a explicou, em 11 de abril de 1962, quando, acerca das relações entre o Partido e as massas, disse:

“A revolução se faz pelas massas e para as massas.  Essa é a razão de existir do Partido, e todo o seu prestigio, toda a sua autoridade estará em relação com a ligação real que tenha com a massa. Esse Partido não terá autoridade perante a massa por ser Partido, mas será Partido pela autoridade e o prestígio que tenha perante as massas. Se não tem conexão com as massas, nem prestígio e autoridade perante as massas, não é Partido; torna-se uma organização raquítica, pobre, e será cada vez menos Partido, porque sua razão de ser estava em sua vinculação com as massas”.

Também se transformou em pauta da construção partidária o que se referia à qualidade humana e revolucionária que devem ter aqueles que aspiram a ser membros do Partido. Sobre este princípio, Fidel assinalou:

“Temos que estabelecer verdadeiros requisitos para pertencer ao núcleo e, antes de mais nada, ser trabalhadores exemplares”.

A partir de então duas normas fundamentais se aplicaram para decidir o ingresso no Partido: primeiro, consultar com os trabalhadores sua opinião sobre os que podem ser considerados trabalhadores exemplares. Segundo, selecionar pelos organismos correspondentes do Partido, os que têm méritos suficientes para ser militantes.

Em maio de 1963, as Organizações Revolucionárias Integradas passaram a chamar-se Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba (PURSC). Não se tratava de uma simples mudança de nome: o conceito de organizações revolucionárias integradas já não correspondia ao que era o Partido nesse momento, a sua composição, à qualidade de seus militantes, à pureza de suas fileiras, a suas funções e a seus métodos de direção.

O PURSC começou, a partir de 1964, a desenvolver assembleias de renovação e ratificação de mandatos a partir das organizações de base até o nível provincial. Todo este processo marcou uma nova etapa no desenvolvimento do partido marxista-leninista cubano.

E, precisamente, há 50 anos, em primeiro de outubro de 1965, foi realizada uma transcendental reunião da Direção do PURSC com a participação de seus  dirigentes provinciais e regionais, na qual o  companheiro Fidel informou sobre os acordos referidos de mudar o nome do Partido, constituir o  Comitê Central, o Birô Político, o Secretariado, as comissões de trabalho e fundir os dois jornais da organização. Tinha-se decidido que o jornal Hoy, do Partido Socialista Popular, e o jornal Revolución, do Movimiento 26 de Julho, se uniriam sob o nome glorioso e histórico de Granma.

Em 2 de outubro ocorreu a primeira reunião do Comitê Central recém constituído. Nesse dia, na última edição do jornal Revolución foram publicados os nomes dos membros do Comitê Central, de seu Birô Político, do Secretariado e de suas cinco comissões: a das Forças Armadas Revolucionárias e Segurança do Estado; a Econômica; a de Estudos Constitucionais; a de Educação e a de Relações Exteriores.

A constituição do Comitê Central dotava o Partido de um Órgão que a partir de então atuaria como centro na condução da vida política do país, onde se analisariam e decidiriam as políticas que com sua execução foram cimentando o caminho socialista escolhido, o qual, em sua própria integração, era expressão da vontade unitária das forças revolucionárias.

Em 3 de outubro de 1965, foi apresentado o Comitê Central. Fidel, ao referir-se aos que o integravam, destacou:

“Não há episódio heroico na história de nossa pátria nos últimos anos que não esteja aqui representado; não há sacrifício, não há combate, não há proeza — tanto militar como civil — heroica ou criadora que não esteja representada; não há setor revolucionário, social, que não esteja representado […] neste Comitê Central”.

Acerca do acordo referido à denominação do Partido, Fidel precisava: “É necessário que o nome de nosso partido diga não o que fomos ontem, mas o que somos hoje e o que seremos amanhã”.

Ocorreu então o momento fundador e inesquecível, em que Fidel perguntou aos presentes no teatro “qual é, no juízo de vocês, o nome que deve ter nosso Partido?”, e em meio a grandes ovações, foi interpelando-os e de todas as partes do teatro foram escutando-se as exclamações de comunista! E vibrante Fidel proclamou: Partido Comunista de Cuba!!

“Este Partido nasceu de dois fatores essenciais, fundamentais, inestimáveis: a união de todos os revolucionários, e uma doutrina científica, uma filosofia político-revolucionária: o marxismo-leninismo. […] E por essas duas coisas teremos que velar sempre: pela unidade e pela doutrina, porque são nossos pilares fundamentais”, sentenciou Fidel.

Naquele instante de sua intervenção, Fidel esclareceu: “há uma ausência em nosso Comitê Central, de quem possui todos os méritos e todas as virtudes necessárias no mais elevado grau para pertencer a ele e que, contudo, não figura entre os membros de nosso Comitê Central”. Todos sabiam que se tratava do comandante Ernesto Che Guevara.

É impossível esquecer a voz quebrada pela emoção com que Fidel leu a comovedora carta de despedida do Guerrilheiro Heroico que já combatia em outras terras.

A primeira edição do jornal Granma conservou para a posteridade a essência do tratado em 3 de outubro de 1965.

Com essas históricas decisões concluía-se essencialmente o processo de formação do partido comunista, iniciado em abril de 1961. O Partido não se deteve, mas através dos anos enriqueceu seu arsenal ideológico como organização, demostrando que não se pode levar adiante uma revolução sem uma forte e disciplinada organização política; que a seriedade de um partido revolucionário se mede pela atitude que assume ante seus próprios erros; que o Partido não é prebenda mas sacrifício; que o Partido é o melhor fruto da Revolução.

Este é um Partido de vanguarda, que demanda de cada um de seus militantes pensar com a própria cabeça e expressar-se livremente no seio dos  órgãos partidários e atuar unidos; que educa e aprende em seu permanente contato com o povo  trabalhador; que tem como estilo de trabalho conhecer em todo momento as dificuldades, os critérios e as propostas das massas; que educou  várias gerações de cubanos; que conduziu com firmeza e inteligência a resistência do povo; que tem por ideologia os ensinamentos de Marx, Engels e Lênin, a doutrina martiana e as ideias criadoras e o exemplo de Fidel e de Raúl.

Um só Partido, como predicou Martí. Porque frente aos sonhos do imperialismo de fragmentar nossa sociedade, dividi-la em mil pedaços, nosso escudo principal é a unidade. E é o Partido, vanguarda organizada do povo, quem assegura, junto a este, a continuidade histórica da Revolução.

Companheiros e companheiras:

Em um dia de recordação como o de hoje, em que renovamos o compromisso com os fundadores do  Partido e de seu Comitê Central, em que nos orgulhamos de que centenas de milhares de cubanos tenham estendido o legado internacionalista do Che em honrosas missões militares e civis em outras terras do mundo, e seguimos aspirando a que as novas gerações se forjem como ele, rendemos também homenagem aos fundadores do jornal Granma e a todos aqueles que durante 50 anos fizeram possível que nosso Partido e nosso povo contem com esse insubstituível meio de informação, ensino, ideologia e cultura.

Sentimo-nos legitimamente orgulhosos de nosso órgão oficial, por tudo o que contribuiu para esclarecer a política do Partido, para mobilizar a militância e o povo, para forjar o consenso e fortalecer a unidade, para defender, enfim, a  Revolução.

Exortamo-los a seguir avançando na aplicação das mudanças de que o Granma necessita, para aproximá-lo cada vez mais do que as pessoas esperam e requerem dele, melhorar tanto o desenho como a profundidade de seus conteúdos, sua visibilidade na Internet e seu alcance nas redes sociais. Ao mudar o que deva ser mudado, mantendo-se fiel a suas raízes, podemos dizer que o Granma em plenitude é necessário hoje e seguirá sendo no futuro.

Queridos companheiros e companheiras:

O Partido esteve à frente das tarefas mais importantes e complexas da Revolução. Hoje, imerso na atualização de nosso modelo econômico-social e na implementação dos Lineamentos da Política Econômica e Social do Partido e da Revolução, aprovados no Sexto Congresso e os Objetivos traçados na Primeira Conferência Nacional.

Já estamos envolvidos no processo de realização de assembleias dos comitês municipais do Partido, antessala do Sétimo Congresso a realizar-se em abril do próximo ano.

O Partido Comunista de Cuba cresceu, se fortaleceu e perdurará eternamente. O Partido Comunista de Cuba será sempre a coluna vertebral da resistência da nação cubana.

Viva o Partido Comunista de Cuba!

Vivam Fidel e Raúl!

Muito obrigado

Publicado originalmente no Granma; tradução de José Reinaldo Carvalho/Blog da Resistência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário