quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Livro dá voz para que personalidades cubanas defendam modelo político e social adotado por Cuba


Por Roger Grévoul na Cuba Coopération/Tradução:ADITAL

O acadêmico francês Salim Lamrani (foto), estudioso de Cuba, publica um novo livro intitulado "Cuba, parole a la defense!”, com um prólogo de André Chassaigne, presidente do grupo França-Cuba da Assembleia Nacional e membro de honra da associação Cuba Coopération.

Salim Lamrani, você acaba de publicar um livro com o título "Cuba, parole a la defense!” O que pode nos dizer a respeito?

Salim Lamrani: Tudo começou a partir da seguinte constatação: Cuba é um tema midiático que suscita debates e controvérsias. Isto é particularmente certo, sobretudo, agora, com o processo de normalização entre Washington e Havana desde dezembro de 2014, e a visita histórica do presidente francês, François Hollande, à ilha, em maio de 2015. Não obstante, convém apontar que só o pensamento único sobre Cuba é aceitável. A ilha se encontra regularmente no banco dos acusados e regularmente surge a tradicional retórica sobre a democracia, os direitos humanos e a liberdade de expressão. Todo o mundo tem direito à palavra, pode expressar sua opinião e compartilhar seu ponto de vista, desde logo, sempre que aponte com o dedo Cuba e seu sistema, e emita críticas negativas. Os cubanos da ilha, particularmente seus dirigentes, nunca têm direito à palavra e, por conseguinte, não pode ser partícipe de sua verdade e responder aos ataques, quando são os principais atores do destino de Cuba. Por isso decidi dar a palavra à defesa composta por 10 personalidades cubanas e internacionais, que puderam expressar seu ponto de vista nestas conversações francas.

Quem são essas personalidades?

SL: Conversei com sete figuras cubanas e três personalidades internacionais para que compartilhassem sua visão sobre Cuba, sua história e seu futuro. 

Trata-se de Mariela Castro Espín, diretora do Centro de Educação Sexual e filha do presidente Raúl Castro; Ricardo Alarcón, presidente do Parlamento cubano de 1993 a 2013; Max Lesnik Menéndez, diretor da Rádio Miami e fundador da revista La Nueva Réplica [A Nova Réplica]; Miguel Barnet Lanza, presidente da União Nacional de Escritores e Artistas de Cuba; Eusebio Leal Spengler, historiador de Havana; Abel Prieto Jiménez, ministro da Cultura por cerca de 15 anos e, atualmente assessor do presidente da República; Alfredo Guevara Valdés, pai do cinema cubano e do Novo Cinema Latino-Americano; Wayne S. Smith, último embaixador dos Estados Unidos em Cuba; Jean-Pierre Bel, presidente do Senado francês de 2011 a 2014 e atualmente assessor especial do Eliseo para a América Latina; e Álvaro Colom, presidente da Guatemala de 2008 a 2012.

Quais são os temas abordados?

SL: A ideia do livro era dar a palavra aos cubanos e aos partidários da soberania das nações e da autodeterminação dos povos. Não obstante, o principio fundamental era realizar conversações não complacentes. Por isso são abordados os temas mais polêmicos em todas as entrevistas, seja a democracia, os direitos humanos, a liberdade de expressão, as figuras de Fidel Castro e Raúl Castro e sua presença no poder, os episódios obscuros da Revolução Cubana, as discriminações, o espaço reservado ao debate plural ou à dissidência.

São abordados também outros temas, como as relações com os Estados Unidos, as sanções econômicas, a atualização do modelo econômico, a diversidade sexual, o papel da comunidade cubana dos Estados Unidos, a importância da cultura, a preservação do patrimônio arquitetônico de Havana, o auge do turismo, a solidariedade de Cuba com os deserdados do planeta, o cinema em Cuba, a renovação geracional no comando do país, o futuro de Cuba e a integração latino-americana.

Salienta em seu livro o paradoxo de ver Cuba vítima das pretensões hegemônicas estadunidenses e assediada há mais de meio século situar-se no banco dos acusados.

SL: Efetivamente, Cuba vive sob estado de sítio há mais de meio século. Não se livrou de nada: algumas sanções econômicas anacrônicas, cruéis e injustas, que afetam todos os setores da sociedade e as categorias mais vulneráveis da população desde 1960; uma sangrenta invasão militar, que orquestrou a CIA em 17 de abril de 1961 e que causou centenas de vítimas civis; uma ameaça de desintegração nuclear durante a crise dos mísseis, em outubro de 1962; a campanha terrorista mais longa da história, com mais de 10.000 atentados planejados a partir dos Estados Unidos, que custaram a vida a 3.478 pessoas e infligiram sequelas permanentes a outras 2.099, bem como danos materiais em torno de várias centenas de milhões de dólares; sem esquecer uma implacável guerra política, diplomática e, sobretudo, midiática contra seu povo, seus dirigentes e, sobretudo, contra seu sistema político e social.

Contudo, a vindita midiática assinala Cuba como culpada. Que constatação mais estranha! Como explica estas reações contra Cuba?

SL: O crime imperdoável de Cuba é ter escolhido o campo dos deserdados e ter colocado o ser humano no centro do seu projeto nacional, procedendo a uma repartição equitativa das riquezas. O povo cubano propõe à humanidade uma alternativa de sociedade eficiente, apesar dos limites inerentes a todo projeto edificado por mulheres e homens, que mostra que os mais humildes não estão condenados à indiferença e à humilhação.

André Chassaigne, presidente do grupo parlamentar Esquerda Republicana e Democrata e do grupo França-Cuba da Assembleia Nacional, é também membro de honra da Cuba Cooperación. Redigiu um bonito prólogo para sua obra.

SL: André, um grande amigo da Revolução Cubana, me deu a imensa honra de associar sua escrita fina e incisiva ao meu livro. É um homem que tem a causa dos humildes e dos humilhados no coração. É sensível à necessidade imperiosa de uma melhor repartição das riquezas e de oferecer aos mais vulneráveis uma vida digna. Como muitos de nós, vê em Cuba um símbolo de resistência e de generosidade.

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