quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Está na hora de um Nobel da Paz para os médicos cubanos!

Carta de indicação para o prêmio Nobel da Paz enviada, em janeiro deste ano, ao Comitê Nobel Norueguês em favor do Programa Internacionalista Médicos Cubanos
Médicos cubanos em Sierra Leoa combatendo o Ebola. Por Periódico Invasor/Ciego de Ávila
Endossamos de todo coração esta demanda!

DALHOUSIE
UNIVERSITY

Inspiring Minds
Faculty of Arts and
Social Sciences

The Norwegian Nobel Committee Henrik Ibsens gate 51,
0255 Oslo, Norway

19 de janeiro de 2015

Prezados membros do Comitê Nobel Norueguês

Meu nome é John Kirk. Sou professor de Estudos Latino-americanos na Universidade de Dalhousie em Halifax, província de Nova Escócia, Canadá, e escrevo para indicar o Programa Internacionalista Médicos Cubanos para o Prêmio Nobel da Paz.

No outono de 2014, o Oeste da África estava devastado pelo ebola, e a Organização Mundial de Saúde apelou por assistência médica de urgência numa luta (literalmente) de vida ou morte. O primeiro país a responder foi Cuba. Cerca de 15 mil trabalhadores da saúde se apresentaram como voluntários. No momento em que escrevo, há 256 especialistas cubanos em três países participando desta luta e mais 100 outros cubanos deverão somar-se àqueles primeiros voluntários. Trata-se do maior contingente de médicos, apesar do fato de Cuba ser apenas uma ilha relativamente pequena. Em janeiro de 2014, Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, resumiu essa contribuição em poucas palavras: “Eles são sempre os primeiros a chegar e os últimos a partir – e eles sempre permanecem depois das crises. Cuba tem muito a ensinar ao mundo inteiro”.

Cuba tem uma pequena população (11,2 milhões de habitantes) e um dos melhores sistemas de saúde do mundo, com estatísticas que rivalizam com aquelas de muitos países desenvolvidos. Mais importante ainda: Cuba tem uma impressionante história de internacionalismo médico – e sua contribuição no Oeste da África é apenas o capítulo mais recente de uma história que remonta a 1960, quando médicos cubanos responderam ao apelo por ajuda após o terremoto no Chile. Desde então, 325 mil profissionais cubanos da saúde prestaram assistência em 158 países e muitos deles participaram de duas ou três missões.

A grande mídia do mundo industrializado tem praticamente ignorado este fato. A história de cooperação médica de Cuba é algo extraordinário. O estudo dessa humilde história tem sido o foco de minhas pesquisas nos últimos dez anos. Entre os pontos-chaves que podem ser do interesse de vosso Comitê estão os seguintes:

a) Em janeiro de 2015, havia 51.847 profissionais da saúde cubanos (50,1% dos quais médicos) trabalhando em 67 países – principalmente nos países em desenvolvimento. Na Venezuela, há quase 30 mil profissionais médicos cubanos, no Brasil há 11.400 doutores cubanos e na África mais de 4 mil profissionais médicos cubanos estão trabalhando em 32 países. Para contextualizar, cerca de 20% dos médicos cubanos estão trabalhando no estrangeiro como internacionalistas. Comparativamente, isso equivaleria a 223 mil médicos estadunidenses servindo em países estrangeiros.

b) O pessoal médico cubano no Oeste da África é parte da Brigada Henry Reeve, formada em 2005, a qual tem prestado apoio médico emergencial do Paquistão ao Chile, da China à Bolívia. No total, 41 brigadas de emergência foram enviadas a 22 países. Nos últimos anos, grandes contingentes têm sido enviados para enfrentar desastres naturais em países como Guatemala, Paquistão, Indonésia, Bolívia, Peru, México, China, El Salvador, Chile, Haiti e nos três países mais afetados pelo Ebola.

c) Numa contribuição para garantir um sistema de saúde sustentável em muitos países em desenvolvimento, Cuba criou a Escola Latino-americana de Medicina (Elam) em 1999. Até o presente momento, 24.486 estudantes de 123 países se formaram médicos sem arcar com nenhum custo. Os professores-doutores cubanos formaram mais de 20 mil médicos graduados na Venezuela e formam atualmente o pessoal médico de 13 escolas de medicina em países como Timor Leste ou Gâmbia. Eles criaram faculdades de medicina em 15 países, a começar pelo Iêmen do Sul em 1975. Desde então, faculdades de medicina foram criadas na Guiana, Etiópia, Guiné Bissau, Uganda, Gana, Angola, Gâmbia, Guiné Equatorial, Haiti, Eritreia, Venezuela, Timor Leste, Bolívia e Tanzânia. 38.940 médicos (de 121 países da Ásia, das Américas e da África) receberam formação de professores-doutores cubanos. Atualmente, eles estão dando formação a estudantes de países como África do Sul, Gana, Djibuti, Moçambique, Congo, Uganda, Nicarágua e Equador, e médicos residentes estão sendo formados na Guatemala e no Haiti. Além disso, o pessoal médico cubano deu formação a mais de 80 mil parteiras, 3 mil enfermeiras e 65 mil promotores de saúde.

d) Desde 2004, a “Operação Milagre” devolveu a visão a 3,4 milhões de pacientes de mais de 30 países da América Latina e do Caribe, chegando a operar 2.667.000 pacientes. Todas as cirurgias foram realizadas sem custo para os pacientes em mais de 30 centros oftalmológicos.

e) Após o acidente com o reator nuclear de Chernobyl, Cuba aceitou tratar em Havana 25 mil pacientes (quase 100% de crianças) de 1989 a 2011. Todos os cuidados médicos e as acomodações foram fornecidos sem custos para os pacientes e membros da família.

f) A pedido dos governos da Venezuela, da Bolívia, do Equador e da Nicarágua, centenas de profissionais médicos cubanos, especialistas em doenças físicas e mentais, realizaram pesquisas nacionais, fazendo porta a porta para avaliar as necessidades médicas das comunidades e para indicar terapias de apoio individualizadas para cada paciente entre 2001 e 2003. Mais de 1,2 milhão de pessoas foram identificadas como portadores de necessidades especiais e foi implementado um programa de apoio a essas pessoas concebido em Cuba.

g) Cuba implementou o Programa Inclusivo de Saúde em dezenas de países pobres, principalmente em áreas remotas onde não há pessoal médico. Cuba está ajudando a criar o programa nacional de saúde do Haiti.

h) Esta longa tradição significa que ao longo dos anos o pessoal médico cubano realizou 10,8 milhões de operações cirúrgicas, 2,3 milhões de partos, 12,4 milhões de vacinações e salvou 5,5 milhões de vidas nos países em desenvolvimento.

Em suma, por mais de cinco décadas, Cuba forneceu cooperação médica a dezenas de países em todo o mundo – frequentemente dirigidos por governos que não têm nem tinham relações diplomáticas com Cuba. Inspirada na máxima do escritor e revolucionário do século 19 José Martí – “Pátria é humanidade” –, a contribuição de Cuba ao mundo em desenvolvimento tem sido exemplar. O importante papel que Cuba desempenha na África do Oeste na campanha contra o ebola é apenas o mais recente exemplo deste altruísmo. Contextualizando, Cuba – um país pobre, um país em desenvolvimento – tem mais pessoal médico trabalhando nos países do Hemisfério Sul do que todos os poderosos países do G7 juntos.

Senhores membros do Comitê Norueguês do Nobel, sou grato por vossa atenção. Espero que concordem comigo quanto ao fato de que este excepcional histórico de apoio médico dado por Cuba a diversos países em todo o globo merece o Prêmio Nobel da Paz. A doutora Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial de Saúde, assim resumiu o papel de Cuba em 2014: “Cuba tem reconhecimento mundial por sua capacidade em formar excelentes médicos e pessoal de enfermagem, e também por sua generosidade para com os países em desenvolvimento”.

Tenho assim o prazer de indicar o Programa Internacionalista Médicos Cubanos para o Nobel da Paz, e creio de todo coração que aqueles e aquelas que a ele se dedicam seriam dignos recipiendários. Se puder ser de alguma ajuda para fornecer dados suplementares, sintam-se à vontade para me contatar: kirk@dal.ca.

Desejando-lhes o melhor em vossas deliberações,

John W Kirk, Ph.D.
Catedrático e professor de Estudos Latino-Americanos

Segue à vossa atenção um breve resumo biográfico.

John M. Kirk, Biographical Sketch

Kirk é catedrático e professor de Estudos Latino-Americanos na Universidade Dalhousie, no Canadá, onde ele ensinou durante 37 anos. Graduado pela Universidade de Sheffield, Kirk fez seu mestrado na Universidade da Rainha, e seu doutorado na Universidade da Colômbia Britânica. Dedicou sua carreira acadêmica ao estudo da Cuba contemporânea, sendo autor/coeditor de 16 livros e de inúmeros artigos em publicações acadêmicas. Ao longo da última década, suas pesquisas lançaram luzes sobre a cooperação médica cubana. Ele acompanhou missões de pessoal médico cubano em El Salvador após o furacão e foi observador do trabalho dos médicos cubanos na Guatemala.

Ele entrevistou 270 profissionais médicos cubanos, bem como estudantes da Elam. Kirk é coautor de Cuban Medical Internationalism: Origins, Evolution and Goals (New York: Palgrave Macmillan, 2009) e autor de Healthcare Without Borders: Understanding Cuban Medical Internationalism (Gainesville: University Press of Florida, a ser publicado em junho de 2015). Ele também publicou artigos sobre a cooperação médica cubana em International Journal of Cuban Studies, New Internationalist, Temas, Counterpunch, Journal of Iberian and Latin American Studies, The Latin Americanist, Diplomacy and Statecraft, Bulletin of Latin American Research, Latin American Perspectives, e Canadian Journal of Infectious Diseases and Medical Microbiology.

Fonte: Solidariedade Canadá-Cuba.
Fonte em Português: Cuba Viva.

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