domingo, 23 de agosto de 2015

A hipocrisia das boas intenções estadunidenses com Cuba

Por Ilka Oliva Corado no Diário Liberdade

De um país como os Estados Unidos, o qual tem uma política externa de exterminação para todo o país que não se submeta à perfídia do saqueio e ao despotismo e que propaga guerras inventadas para invadir e devastar, não se pode acreditar em nada em matéria de Direitos Humanos e justiça. As suas aproximações com Cuba não podem ter boas intenções com a existência de Guantánamo e o bloqueio. Que classe de dupla moral é essa? Bom... Será que os EUA sabem o que é a integridade?

A sua hipocrisia é latente, é um regime que procura constantemente a extração da vida de todos os povos que procuram crescer independentes. Não se pode esquecer as invasões que realizaram em mais de 70 países, deixando pelo caminho tortura, saqueio, violações, genocídios, desaparecimentos forçados, miséria e marcas inesquecíveis no tecido social que jamais voltará a ser o mesmo.

A hipocrisia das boas intenções sobre as quais faz alarde ultimamente quando fala de Cuba é desmascarada com o genocídio palestino que realiza Israel com o apoio absoluto que os EUA lhes brinda. É delatada com os infinitos golpes fracassados que tentou realizar na América do Sul, na América do Sul socialista que emerge, se levanta, se reconstrói com todo afinco, consciência, identidade, memória histórica e justiça.

Como é possível acreditar em um país que diz querer se aproximar de Cuba, mas que tem Porto Rico encadeado?

Como é possível acreditar em um país que criminaliza os imigrantes sem documentos que ele mesmo obrigou a sair dos seus países como consequência dos estragos das invasões? Como consequência da sua atual política exterior? Como é possível acreditar neles se desejam construir muros na fronteira com o México? Se tem a Rússia rodeada de bases militares porque não descansa imaginando que a invade e a deixa na miséria? De qual aproximação fala esta hipocrisia de política exterior se está enchendo de bases militares territórios latino-americanos que mina com o afã de fazer com que expludam em qualquer momento para invadi-los novamente? Se fez correr rios de sangue na África? Com qual cara viaja Obama à Kênia, para dizer o que para a África? Se é negro por gosto, é a vergonha de todos nós, afrodescendentes. Que meta o rabo entre as pernas por continuar assinando "tratados" e "decretos" que só procuram manter a superioridade deste império mesquinho. 

Os Estados Unidos não admitem a dignidade com a qual presidentes sul-americanos defendem a soberania dos povos que foram manchados por traidores obedientes ao império que corrompe, comprar e elimina ao seu bel prazer. Para eles, não foi fácil "ter" um Lula, uma Dilma, um Mujica, um Evo, um Correa, um Maduro nem uma Cristina e, na América Central, o Pepe que dá a cara pela região e Ortega, quem agora está na mira deles pela sua ousadia do Canal da Nicarágua e a sua sociedade com a China. A América Central, o México e o Caribe estão atados, não têm por onde reagirem, melhor dito desfruta quando brigam entre si (a República Dominicana se sente superior ao Haiti, o México criminaliza os imigrantes centro-americanos etc.). Unidade? Onde?

Celebraram o desaparecimento físico de Cháves como o de Evita, pensando que líderes como estes eram mortais, jamais imaginaram que transpassariam as fronteiras do tempo e que as suas vozes continuariam sendo o sangue vermelho que ferve mais vivo que nunca no coração latente dos povos em rebelião que defendem com a sua vida soberania e o florescimento da democracia verdadeira. Pensaram que cortando as mãos do Che apagariam as suas marcas da história, o que fez foi convertê-lo em milhões que nascem de novo em cada geração. 

Não há diferença entre o sujo e o mal lavado quando se trata dos Estados Unidos. A mesma velha estratégia de manipulação massiva através dos meios de desinformação, desfilam nos canais: CNN en Español, Telemundo e Univisón com o bombardeio constante às mentes das massas que acreditam em tudo. Na América Latina, a mídia da oligarquia ataca pelo rádio, pela televisão e pela imprensa escrita, lavando o cérebro da classe média que sempre quis ser "gringa". Do Peru só chegam notícias de Sendero Luminoso, jamais sobre as bases militares que os EUA colocaram nesse território para estarem ainda mais próximos aos países em rebelião. E o que dizer sobre a Colômbia, que já é uma colônia estadunidense? Aí está La Escombrera. O Paraguai, território estratégico para qualquer ataque estadunidense, também abre as suas portar para as bases militares, dando as costas aos seus irmãos sul-americanos. No Chile, continuam protegendo através da direita recalcitrante os perpetradores de Direitos Humanos.

Cuba sabe disso, sabe que triunfou a Revolução contra o capitalismo (todos sabemos) e também os EUA sabem disso. Nova estratégia para planejar outra invasão desde o coração da ilha com a nova embaixada? Por acaso escrever desde lá o plano para invadir tal e como o fez com a Venezuela de Maduro há alguns meses atrás? Quando eliminará Guantánamo e se preocupará pelos Direitos Humanos dos presos que tem mortos em vida ali? Quando eliminará o bloqueio? Por acaso o primeiro a fazer não era retirar o bloqueio antes de abrir embaixadas? Quando o mundo julgará os EUA em matéria de Direitos Humanos? Quando pagará pelos genocídios e pelas ditaduras militares que implementou em tantos países? Quando a OEA estará fora deste império? Quando devolverá aquilo que foi roubado? Quando fechará a Escola das Américas (School of the Americas, em inglês)? Não queremos que mudem o seu nome, queremo que seja fechada.

Os EUA, um país democrático? Jamais. Os EUA são o absolutismo das ditaduras que propagam pelo mundo com a ajuda dos que vendem a sua pátria e das sociedades amorfas que, apáticas, preferem não despertarem nunca para não saírem do seu mundo de comodidade e continuarem acreditando que os EUA é um país onde os sonhos se tornam realidade. Morrerão enganados.

Não perdoam a Dilma por formar parte do BRICS. Como também não perdoarão a associação de Ortega com a China. Estão até aqui de Cristina, nunca imaginaram que ela cumpriria com as palavras de Evita e que defenderia o seu povo. A direita que ataca Correia está como uma empregada doméstica a tempo completo dos EUA. Não acreditam que um indígena dos povos milenários tenha inteligência, capacidade e amor pela sua terra. Evo colocou o coração.

Devemos nos manter acordados porque os abutres e os condors também tomam forma de boas intenções com a única finalidade de extinguir qualquer tentativa de independência. Não abramos mão quando se trata de defender a nossa dignidade e a nossa soberania. Defendamos o que nos corresponde. Defendamos pela memória histórica para que "nunca mais!" Acreditar nas boas intenções dos Estados Unidos? Jamais!

Ilka Oliva Corado é escritora e poetisa guatemalteca. Imigrante indocumentada nos Estados Unidos com mestrado em discriminação e racismo. É autora de dois livros: 'História de uma indocumentada, travessia no deserto de Sonora-Arizona' e 'Post Frontera'.

Tradução de Camila Lee.

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