Conteúdo foi destacado pela imprensa oficial cubana; em 2013, governo sinalizou intenção de trocar prisioneiros “em bases recíprocas”
Do Opera Mundi
Ramón Labañino, Gerardo Hernández e Antonio Guerrero |
Em novo editorial favorável à melhoria das relações entre Cuba e os Estados Unidos, publicado neste domingo (02/11), o principal jornal norte-americano, The New York Times, defendeu que o governo dos Estados Unidos negocie uma troca de prisioneiros com a ilha governada por Raúl Castro. Essa seria, na visão do jornal, a única forma de Cuba libertar Alan Gross – preso na ilha por atividades subversivas – e uma maneira de três dos cinco agentes cubanos presos nos Estados Unidos por espionagem serem colocados em liberdade.
O conteúdo foi publicado com destaque pelo site do governo cubano, CubaDebate, que lembrou o fato de que, em outubro, o jornal publicou três editoriais favoráveis ao restabelecimento das relações diplomáticas entre os países.
Leia mais:
A possibilidade de trocar os prisioneiros foi considerada por Cuba em dezembro do ano passado quando, em comunicado, o Ministério de Relações Exteriores afirmou que “o país está aberto ao diálogo com os EUA para negociar uma solução para o caso do norte-americano Alan Gross, preso na ilha por crimes contra o Estado”. O acordo deveria se dar “em bases recíprocas” aos dos três antiterroristas cubanos detidos nos EUA, conhecidos como o “Grupo dos Cinco”.
A questão de troca de prisioneiros, no entanto, é delicada nos Estados Unidos. Isso porque, em maio, o país negociou a libertação de um soldado sequestrado no Afeganistão em troca de cinco líderes do Talibã, fato que gerou polêmica no país. À época, republicanos advertiram que essa decisão poderia colocar em perigo os EUA e enviar uma mensagem equivocada à Al Qaeda.
O jornal aponta, no entanto, que se trata de uma situação diferente e que vale a pena correr o risco político da ação e pondera que para efetuar a troca. “A ação seria justificável se for levado em consideração o longo período que ficaram presos e as críticas válidas que surgiram a respeito da integridade do processo judicial que enfrentaram”, por organismos internacionais, como a Anistia Internacional.
Para além da troca, o The New York Times considera que a administração Obama deve fazer mais para conseguir a libertação de Gross, cuja detenção foi realizada como consequência de “uma estratégia irresponsável” na qual a agência de ajuda internacional norte-americana, O texto conclui dizendo que o estado de saúde de Gross é débil e que, se ele morrer, “a possibilidade de estabelecer uma relação mais saudável com Cuba desaparecerá por vários anos. Obama tem que reconhecer que isso é inteiramente evitável, mas precisa atuar logo”.
Os casos
Gross foi preso em dezembro de 2009 enquanto trabalhava para uma empresa subcontratada pela agência norte-americana USAID, por suspeitas de trabalhar para a inteligência dos EUA. Ele foi processado em 2011 e acusado de crimes contra o Estado cubano por instalar um sistema de telecomunicações fora do controle das autoridades.
Leia também:
Os “cinco heróis”, como são conhecidos em Cuba, foram presos na Flórida em 1998 e, três anos mais tarde, condenados pela Justiça do país por espionagem e envolvimento no abatimento de dois aviões. Em um grupo de 14 pessoas, um conseguiu escapar e oito foram libertados mediante acordos. Os demais cinco foram acusados de fornecer informações do governo norte-americanos que resultaram na derrubada de dois aviões militares pelo governo cubano.
O governo da ilha sempre reconheceu que os cinco eram agentes de inteligência, mas que só investigavam grupos terroristas de exilados cubanos, em uma operação chamada de Rede Vespa - e não o governo dos Estados Unidos. Em 2011, um dos integrantes do grupo, René González, obteve liberdade condicional. Em fevereiro de 2014, Fernando González também foi libertado. Gerardo Hernández, por sua vez, está condenado à prisão perpétua e não pode receber visitas de sua mulher, acusada de ser agente de inteligência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário