terça-feira, 27 de maio de 2014

"Cuba me ensinou a ser melhor pessoa", afirma médico


Por Nuria Barbosa León no Granma

De falar baixo e mensurado, o jovem médico equatoriano Fernando Cruz Quishpe, considera-se filho de Cuba, embora tenha nascido na cidade de Cayambe, no norte de Quito.

Como você soube da bolsa para estudar Medicina?

"Eu descobri Cuba ainda sendo estudante no colégio, através da música de Silvio Rodríguez e da Nova Trova. Isso começou a alimentar meu desejo de conhecer a Ilha, sua história, o tipo de sociedade e suas pessoas. Envolvi-me nos grupos de solidariedade do meu país e participei de várias atividades. Nesse âmbito, soube da convocatória para estudar Medicina em Havana. Eu tinha estudado essa carreira, durante dois anos, no Equador, mas ao conhecer a possibilidade de vir a Cuba, pus todo meu empenho e vim no ano 2004".

A que se dedicam seus pais?


"Meus pais são professores em escolas de ensino primário. Somos seis filhos e eu sou o segundo. Meus quatro irmãos mais novos ainda estudam, pelo qual o custo educacional para minha família é muito alto".

Como correu a vida em Cuba durante os primeiros anos?

"Morei na Escola Latino-americana de Medicina durante dois anos, rodeado de jovens de mais de trinta nacionalidades, cada um deles com sua idiossincrasia, costumes, portadores de culturas diferentes. Meus companheiros no quarto eram centro-americanos e sul-americanos. Nós todos aprendemos a conviver entre nós e hoje penso que construímos uma família. Nesse tipo de ambiente, a gente acaba compreendendo que nos temos enriquecido como seres humanos. Também o fato de compartilhar com os cubanos, inicialmente com os professores, trabalhadores da escola e pessoal de serviço, atenderam-nos com grande amabilidade e valorizo isso como uma grande experiência porque nos ensinaram a amar, apesar da diferença".

Ao terminar os dois primeiros anos na ELAM, onde continuou os estudos?

"A partir do terceiro ano, os programas docentes cubanos contemplam o aprendizado diretamente com o paciente. Fui levado para a Faculdade das Ciências Médicas Carlos J. Finlay, de Camaguey. Dessa província cubana lembro muito bem a participação nas atividades convocadas pelas organizações de jovens e estudantes. Fizemos mutirões na agricultura, comemorando datas históricas ou celebrando algum acontecimento".

"Pudemos dar nossa contribuição nos municípios afetados pelo furacão Paloma, em 2008, principalmente no território de Santa Cruz del Sur. Ajudamos na evacuação das pessoas, na recolha de entulhos, no saneamento da cidade. Com essas atividades, a gente sente que faz parte do projeto social cubano".

Em que ano recebeu o título?

"Em 2010, trabalhei um ano no meu país, na Missão Manuela Espejo, para o diagnóstico de doenças em zonas rurais e de difícil acesso. Deparamo-nos com muitas pessoas com diferentes tipos de deficiências físicas sem nenhum tratamento médico, nem educação. Trabalhei junto a especialistas cubanos nesse programa. Então, obtive a informação para vir novamente a Cuba, para estudar a especialidade de Medicina Geral Integral. Quando estava em Cuba ocorreu o terremoto no Haiti e pedi minha incorporação à brigada médica cubana que prestou serviços nesse empobrecido país".

Que ganhou com a experiência de ter trabalhado no Haiti?

"Haiti ajudou-me imenso a moldurar meu caráter e meu espírito. Conheci pessoas muito pobres, sem nenhum recurso para viver, falo de teto, água ou sapatos. Estive nos anos 2012 e 2013, durante uns quinze meses, na cidade de Mibalè, no centro do país. Nossa missão consistiu em visitar as comunidades de haitianos e explicar-lhes como prevenir a epidemia de cólera. Ainda, fizemos trabalho assistencial nos hospitais. Viver nesse país faz com que a gente se torne mais sensível diante das calamidades".

"Minha maior experiência foi o número de partos em que trabalhei. Em Cuba, na etapa de estudante, nós participamos desse proceder ginecológico, acompanhados de um médico residente e um especialista, momento no qual eles nos transmitem suas experiências. No Haiti estive sozinho. Dos haitianos lembro muito bem o grande espírito dos populares de se sobreporem às adversidades. Sabem assumir a dor perante o açoite das doenças, pela pobreza derivada do colonialismo e, contudo, continuam trabalhando, sonhando, rindo e cultivando sua cultura."

"Ao concluir a missão no Haiti, solicitei estudar a especialidade de Genética Clínica e esse é o motivo pelo qual estou em Cuba no ano 2014".

O que fará ao concluir a especialidade de Genética Clínica?

"Penso trabalhar na genética comunitária. O estudo da Missão Manuela Espejo no Equador deve continuar. Este tipo de pesquisa mostrou a necessidade de implementar programas sociais para solucionar problemas, especificamente nos ramos médicos. Cabe-nos articular adequadamente o sistema de saúde equatoriano para poder oferecer melhores e maiores serviços. Lá vemos resultados recentes no atendimento nas clínicas e hospitais públicos, mas devemos iniciar um sistema de prevenção das doenças muito parecido com o sistema cubano, que eleva os anos de vida da população. Hoje trabalhamos na Associação Plurinacional de Estudantes e Graduados Equatorianos em Cuba Eloy Alfaro, com uma vida jurídica própria desde o ano 2013. Nossas atividades andam em torno de três eixos primordiais: a capacitação, a solidariedade e o trabalho comunitário".

"Com o primeiro promovemos cursos e trocamos bibliografias, para a atualização constante no conhecimento científico".

"Trabalhamos a solidariedade para ajudar Cuba e todos os países que assim requeiram. Aprendemos a ser solidários e desejamos continuar sendo".

"No terceiro eixo ensinamos a muitas pessoas o aprendido na carreira quanto à prevenção das doenças, a pesquisa nas zonas rurais, conversas de promoção de saúde e, inclusive, de engenharia, cultura física, pedagogia e outras de caráter multidisciplinar para, de alguma maneira, patentear nossos conhecimentos".

Que significado tem para você ter vivido nesta ilha do Caribe?

"Sinto muita admiração pelo povo cubano. Admiro sua cultura, seu valor ao enfrentar as hostilidades de um império e de um mundo capitalista dilacerante, sua luta para se converter em um paradigma para os demais países. Realmente, Cuba nos tem mostrado que um mundo melhor é possível."

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