Por Vanessa Martina Silva, no Portal Vermelho
O presidente de Cuba, Raúl Castro, inaugurou formalmente, nesta terça-feira (28), as atividades da 2ª Cúpula de presidentes da Celac. De forma contundente, Raúl citou estudos da Cepal para chamar atenção para os índices sociais que precisam ser superados pelos países da região e, rebatendo as críticas que se faz à comunidade, defendeu que “a Celac não é uma sucessão de reuniões e sim uma visão comum da pátria grande latino-americana e caribenha”.
Raúl Castro inaugura 2ª Cúpula da Celac| Foto: Ismael Francisco/ Cubadebate
Após um ato cultural que contou com a interpretação de diversos ritmos latino-americanos e caribenhos interpretados pela Orquestra da Escola Nacional de Arte de Cuba, Raúl Castro pediu um minuto de silêncio em homenagem ao ex-presidente Hugo Chávez – um dos principais idealizadores da Celac e impulsionadores da integração regional. Raúl também chamou atenção para o fato de que tal cúpula é realizada justamente no 161º aniversário de nascimento do libertador José Martí.
“Sabemos que entre nós há pensamentos diferentes, mas a Celac surgiu sobre 200 anos de luta pela independência e se faz em uma comunidade de objetivos. A Celac não é uma sucessão de reuniões e sim uma visão comum da pátria grande latino-americana e caribenha. Deve ser primordial a criação de um espaço político comum no qual avancemos para a paz. Somos capazes de superar obstáculos em que possamos dispor a capacidade técnica em função dos nossos povos, fazendo valer princípios irrenunciáveis: soberania e igualdade dos estados. Só assim conseguiremos que deixe de ser realidade que América Latina e Caribe é a região mais desigual do planeta.”
Ameaças mundiais
“Independentemente de nossos progressos, seguimos vivendo em um mundo regido por uma ordem internacional injusta e excludente, na qual as ameaças à paz e a ingerência externa na região continuam. Não podemos esquecer a longa história de intervenção, sangrentos golpes de estado. Os chamados centros de poder não se conformam de ter perdido o controle da rica região.”
O líder cubano destacou a descoberta do sistema mundial de espionagem em 2013 e saudou a iniciativa do Brasil de sediar a reunião multiglobal sobre governança na internet em abril deste ano.
Zona de Paz
“Vamos aprovar a declaração da América Latina e caribe como uma zona de paz que enterre para sempre a guerra. Que os desentendimentos entre nossos países se resolvam entre nós mesmos, com base no direito internacional”, disse Raúl, e lembrou que a região já foi declarada como livre de armas nucleares, com o Tratado de Tlatelolco.
Desigualdade na AL e Caribe
Mencionando dados dos cinco documentos que foram elaborados pela Cepal em cooperação com a Presidência cubana, Raúl criticou os elevados índices de desigualdade, a falta de acesso à educação universal e de qualidade, o analfabetismo e a concentração de renda que faz com que os 10% mais ricos detenham 32% dos recursos totais da região enquanto os 40% mais pobres fiquem com 15%. "O mais preocupante é a pobreza infantil que afeta 70 milhões de crianças." E acrescentou: “Os povos da América Latina e do Caribe demandam e requerem maior distribuição das riquezas”.
Para o mandatário cubano, “temos todas as condições para reverter a situação atual”. E criticou ainda o fato de que “não traduzimos os períodos dos altos preços dos recursos naturais que exportamos para reduzir a pobreza e elevar os recursos per capta. Temos que exercer a soberania sobre nossos recursos naturais”, defendeu.
Educação
Sobre a educação, Raúl foi enfático: “temos todas as possibilidades e metodologias para erradicar o analfabetismo da raiz da América Latina e do Caribe”. De acordo com os dados da Cepal, 50% dos jovens entre 20 e 24 anos não concluíram o ensino secundário na região. Quando se trata dos mais pobres, no mesmo grupo de idade, verifica-se que apenas 21,7% concluíram esta etapa. Em contrapartida, entre os mais ricos, 78,3% completaram.
Também com dados da entidade, Raúl mencionou os números da educação universitária. Em 2010, apenas 1/3 dos jovens entre 18 e 24 estavam matriculados em alguma universidade. De acordo com a Unesco, Cuba tem a maior taxa de estudantes universitários em todo o mundo: 109%. Entre os latinos, a ilha é seguida por Venezuela (83%), Argentina (67%), Uruguai (64%) e Chile (52%). O Brasil aparece na posição 21 com 30% dos jovens matriculados.
Atenção ao Caribe
Raúl pediu aos mandatários especial atenção aos países do Caribe “que requerem especial atenção para problemas particulares que se agravaram com a crise mundial” que os atingiu mais fortemente, além disso, também sofrem com o efeito devastador de desastres naturais. E pediu especial atenção ao Haiti: “É uma obrigação moral da comunidade internacional e de nossos países seguir contribuindo com o desenvolvimento do Haiti. Sobre a base de suas necessidades específicas e prioridades nacionais”.
“Reitero que nossa comunidade estará incompleta enquanto faltar Porto Rico. Nação irmã latino-americana que padece uma situação colonial”, asseverou Raúl ao defender a adesão do protetorado dos Estados Unidos como membro da Celac.
Solidariedade
“Reiteramos nossa plena solidariedade com a Argentina sobre a questão das ilhas Malvinas e seus mares adjacentes, rechaçamos toda tentativa de explorar os recursos naturais desse território, inclusive o subsolo. Pedimos que o Reino Unido aceite o chamado argentino para negociar”, pontuou Raúl antes de mencionar também a contenda do Equador contra a empresa Chevron que se nega a pagar o ônus pela destruição ambiental no país. “O Equador está sendo ameaçado por demandas de empresas transnacionais em tribunais internacionais onde prevalece a uma visão política neocolonial.”
“Agradecemos o apoio contra o bloqueio imposto a meu país há mais de 50 anos e a inclusão de Cuba na lista de países terroristas.”
Após tais palavras, inaugurou a 2ª Cúpula da Celac: “Meus desejos de êxito e tendo presente a enorme responsabilidade que compartilhamos, declaro inaugurada a 2ª Cúpula da Celac”.
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