Por Sturt Silva
O programa "Sem Fronteiras" da Globo News tentou abordar a vinda dos médicos cubanos ao Brasil além das posições ideológicas e corporativistas que dominaram a questão durante os últimos dias.
Algumas questões cabem respostas:
a) Questão humanitária - a vinda dos médicos não seria devido às questões humanitárias e sim econômicas. O programa usa a afirmação de um médico de Niterói, no caso sua experiência com as vacinas cubanas, para mostrar que o relacionamento, na área de saúde, entre Cuba e o mundo é comercial, destruindo assim, o argumento que a vinda dos médicos seria devido ao internacionalismo cubano. O entrevistado ainda compara a posição “dura” de Fidel Castro naquela oportunidade, dizendo que a metodologia deve continuar atualmente, com a posição das multinacionais.
Seria injusto e “burro” se o estado cubano fosse apenas solidário nesta questão, não? Apesar de que Cuba é muito solidária. O que ficou fora do ar, e cabe levantar, é que as multinacionais são duras por que tem como objetivo final o lucro, já o estado cubano, talvez seja “duro” por que tem uma demanda social muito grande. Mesmo assim, como Jorge Pontual vai colocar mais adiante, o internacionalismo cubano está presente em países pobres. Cuba presta serviços gratuitos ao Haiti e aos países da África. No Haiti ainda teria 700 profissionais trabalhando de maneira solidária e internacionalista depois do desempenho dos cubanos pós terremoto. Em relação aos países ricos ou emergentes, como o caso do Brasil, o governo cubano aproveita a oportunidade para diminuir o déficit da balança comercial que por sua vez é resultado das condições naturais e econômicas desfavoráveis que Cuba apresenta ao longo de toda sua história e que é agravado pelo bloqueio mande in EUA.
b) O protagonismo dos médicos cubanos no programa “Mais Médicos” - Segundo os argumentos de Emmanunel Cavalcanti, do Conselho Federal de Medicina (CFM), o programa “Mais médicos” foi feito para colocar dinheiro em Cuba e ajudar o regime a sobreviver. Segundo ele “dos 250 milhões de dólares ao ano, os cubanos ficaria com 200 milhões”.
Nesse sentido o programa pisa na bola e desvia para o plano político e ideológico nas abordagens. De imediato dá a palavra ao advogado geral da União que responde que não trata-se de trabalho escravo, no entanto, não responde a questão dos números. Mais isso é simples. Não é de Cuba que vem a maioria dos médicos? Tirando Cuba, onde estariam os médicos, com esta formação e com disponibilidade de trabalhar? Os médicos do CFM e dos Conselhos Regionais de Medicina adoram dizer que o programa envolve trabalho escravo, mas patrocinam campanhas para deixar os mais necessitados sem médicos e ainda são contra a remuneração ao povo cubano?
c) Remuneração e condições de trabalho para os médicos cubanos - um terceiro ponto é a questão da remuneração e das condições de trabalho em relação aos médicos cubanos. O Eric Nepomuceno, um dos entrevistados, assim como a socióloga estadunidense usa a questão dos subsídios, não pagamentos de impostos, direito do estado cubano de não ficar no prejuízo com os investimentos sociais de longa duração, entre outros para justificar o não pagamento direito para os médicos cubanos. No entanto, Nepuceno não consegue responder a questão da não vinda das famílias dos médicos cubanos para o Brasil. Por mais que faltam informações sobre a questão pra mim seria questão de ajustes nos gastos. Se o governo brasileiro vai arcar com a alimentação e moradia, quem arcaria com os gastos das famílias? Podia ter entrado nessa questão e não somente deixar a dúvida no ar. Podia também levantar a questão de que em Cuba tem pleno emprego, nesse sentido se as famílias viessem para o Brasil não ficariam desempregadas?
Além desses três elementos apontados o programa trabalha com o termo “importação de médicos” o que reforça a argumentação de exportação de seres humanos. O correto seria a exportação de serviços de saúde, como colocou a vice-ministra cubana na aula inaugural do curso “Mais Médicos” no Brasil.
Para fechar, em relação à entrevista com Paulo Capucci e também com a socióloga estadunidense fala-se sobre as dificuldades e desafios que temos no Brasil e os avanços e qualidade da medicina e da saúde em Cuba. No entanto, o programa não faz um paralelo entre Cuba e o Brasil. Evita-se dizer, apesar de colocar argumentos que leva o telespectador mais atento a concluir, que os médicos cubanos só encaixaram tão bem no “Mais Médicos” por que ô que o Brasil necessita já, em Cuba está pronto. Ou seja, o sistema de saúde cubano prioriza o médico da comunidade, o atendimento básico e a medicina preventiva e este básico é que o povo das periferias e dos “sertões” brasileiros precisa urgentemente. Isso responde a crítica do representante do Conselho Federal de Medicina citado - fraternidade ao estado cubano - e sim da qualidade do serviço, tão necessário no Brasil, que os cubanos têm a oferecer.
Sturt Silva é professor de história, blogueiro, membro do movimento brasileiro de solidariedade a Cuba e editor do blog Solidários.
Interesante artículo, aunque uno se queda pensando por qué los médicos cubanos generan tan singular debate, si sabemos que hay médicos, ingenieros y otros profesionales extranjeros realizando su labor en Brasil, en cifras elevadas, sin provocar tal revuelo y doy por sentado que brasileños se desempeñan profesionalmente en disímiles países del mundo.
ResponderExcluirLo que da pie a presuponer las verdaderas razones, enraizadas en patrones ideológicos preconcebidos que responden a una visión de clase, bien vista por las habituales patrocinadores de la “línea dura”, con todo lo que provenga de Cuba, que ya lleva 5 décadas de ferro bloqueo, afectando a la familia cubana.