segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Dialogo com Elizabeth Palmeiro e Olga Salanueva, esposas de dois dos Cinco Heróis Cubanos

Por Carlos Aznárez
Fonte: PCB
“Há que converter a onda solidária em um tsunami que acabe com essa injusta situação”

Resumen Latinoamericano manteve em Havana um encontro com Elizabeth Palmeiro e Olga Salanueva, esposas de Ramón Labañino e René González, respectivamente. O primeiro continua junto com Gerardo Hernandez, Fernando e Antônio González, já cumprindo mais de 14 anos de prisão, enquanto que René, segundo sua companheira Olga,  em liberdade supervisionada, mora em uma prisão maior, mas ainda prisão.

Falamos com as duas de seus esforços para continuar a batalha pela liberdade dos Cinco e da solidariedade internacional e suas possibilidades futuras. Além da necessidade de seguir redobrando a aposta para que o mundo inteiro se sensibilize e pressione o presidente dos Estados Unidos a fim de que conceda a liberdade definitiva a esses homens que fizeram da defesa de sua querida Cuba a razão de suas vidas.

- Como tantas vezes antes, acabam de regressar depois de um tempo no exterior, onde agradeceram e conquistaram mais solidariedade com os Cinco.

Elizabeth: Isso mesmo. Estivemos em Toronto junto à Adriana, a esposa de Gerardo. Ali se realizou o evento “Quebrando o silêncio”, coordenado pelos sindicatos canadenses que vêm fazendo um trabalho intenso pela causa. Há muitos anos que vamos ao Canadá para mobilizar a opinião pública e contatar lideranças. Isso se frutificou pouco a pouco, em contatos com sindicatos, e alguns de seus dirigentes vieram à Cuba para se inteirar mais sobre o tema. Foi assim que surgiu esse evento no qual estivemos para denunciar a injustiça do caso dos Cinco e também trazer à superfície as diversas ações terroristas que o império realizou contra o povo cubano.

Depois viajamos à Otawa, onde nos reunimos com a direção da Central dos Trabalhadores do Canadá. Essa organização enviou, no último 9 de julho, uma carta ao presidente Obama, em nome de 3,5 milhões de filiados, exigindo justiça para os Cinco. Por isso, fomos agradecer junto a Raimundo García, o secretario de Relações Internacionais da CTC cubana.

Também conversamos com o sindicato dos trabalhadores públicos e com o dos professores, com alguns deputados do partido Nova Democracia, principalmente sobre o tema da apresentação de um novo habeas corpus, que está nas mãos da juíza de Miami, que ainda não se pronunciou. Em todos os casos, reafirmamos que, apesar de cumprir toda a exigência do sistema legal estadunidense, a nossa esperança está na solidariedade internacional, em ações que transformem esse caso em algo incômodo para o governo dos Estados Unidos, e que não deixe a Obama outra alternativa senão colocar esses homens em liberdade.

Olga: Estive na Bélgica, que sempre se caracterizou por sua solidariedade conosco. Ali existe um grupo histórico dos Amigos de Cuba, que em seu momento incorporou a causa dos Cinco, e também o grupo de Iniciativa Socialista, cuja líder, muito aguerrida a essa batalha, quando se casou disse a seus amigos que não lhe dessem presentes, mas dinheiro que ela incorporou aos fundos da luta dos Cinco.

Nessa viagem, visitamos várias províncias e cidades, em encontros com prefeitos, grupos de solidariedade, quando conseguimos que cinco artistas de muito prestígio apadrinhassem a nossa luta e tivemos boa cobertura midiática.

Também participei de um acampamento em frente da embaixada estadunidense e depois estive com o arcebispo, principal liderança religiosa do país, que é de direita, mas nos recebeu muito bem. Ele se ofereceu para escrever uma carta sobre o tema ao papa e também a Obama.

Aproveitei essa viagem para ir à França e participar da festa L’Humanité. Ali o ambiente era festivo e de esquerda. Inclusive comentei com René que ali todos sabiam sobre os Cinco.

Nesse mesmo país, nos reencontramos com quem hoje é o presidente do Senado francês, que casualmente está casado com uma cubana e tem uma filha cubana. Ele conhece nosso caso muito bem, já que costuma viajar à ilha, e nos disse que todos os políticos aos quais fala sobre o caso dos Cinco estão de acordo de que se trata de uma grande injustiça, mas o mais trabalhoso é levar essa sensibilidade a uma declaração ou a uma ação concreta.

O que nós fizemos se multiplicou por outros países. Nós, os familiares, nos repartimos por distintos países multiplicando essas jornadas que foram de 12 de setembro a 8 de outubro, para que as pessoas saibam de cada aniversário. Mas todos os dias do ano fazemos atividades e os dias que não temos algo nos parece que não estamos fazendo nada por eles. Tudo o que fazemos não parece suficiente, do contrário eles já estariam em casa.

Estamos esperando a definição do habeas corpus por parte da juíza, e também moções de regresso de René a sua casa, mas não confiamos na parte legal. Se antes tínhamos uma ideia do que era a justiça estadunidense, hoje temos a certeza de que nas Cortes desse país não há justiça, muito menos quando se trata de Cuba.

Portanto, cada vez valorizamos mais a solidariedade, que é  o que nos vai dar a possibilidade de influir na opinião pública, nas autoridades dos EUA e no próprio Obama, quem finalmente é o que tem em suas mãos a solução favorável ou não desse tema.

- Como está a situação com seus familiares quanto à comunicação com eles? Recebem suas cartas e mensagens?

Olga: Eu tenho uma situação diferente das outras famílias. René  está em liberdade supervisionada. Reside em uma casa, mas eu não posso enviar cartas ao seu correio postal, já que tratamos que esse endereço fique anônimo por motivos de segurança. Mas, sim, temos facilidade para mensagens ou comunicações telefônicas.

Outros companheiros seguem em um regime de chamadas telefônicas limitadas (300 minutos), que aos familiares sempre acaba sendo pouco pelo fato de que são repartidas com nossos funcionários e advogados.

Além disso, seguem os castigos, o isolamento, o corte da comunicação. Coisa que poderia ser suportável por meses ou um ano, mas já são 14 anos dessa prisão injusta.

- Há momentos, nos marcos da solidariedade com os Cinco, que parecia que não se faz o suficiente, que se corre o perigo de cair na rotina, que sempre falta algo mais. Como é percebido isso desde o mundo dos familiares?

Elizabeth: Analisando friamente, sempre fica a ideia de que deveria se fazer mais, já que nossos familiares estão presos ainda. Entretanto, creio que todas as ações que se realizaram por todos os amigos no mundo afora foram positivas e servem para nossa causa. Todas essas pessoas solidárias fazem um trabalho imprescindível. Mas nós temos um inimigo fundamental, que são as corporações midiáticas, que inviabilizaram o tema dos Cinco e toda a nossa luta. Dentro desse esquema, obviamente quem mais suja o caso é a imprensa estadunidense. Paradoxalmente, nossos familiares são acusados com palavras como terroristas, espiões, sabotadores etc. Mas a grande imprensa dos EUA não fala disso, oculta o processo todo e dessa maneira atua como se o caso não existisse. Construiu-se um grande muro de silêncio, que ampara todas as violações dos direitos humanos contra eles, como prisioneiros, e contra os familiares.

Isso é o que às vezes nos enche de pessimismo e nos leva a pensar que não se está fazendo todo o necessário. Em realidade, se faz o que se pode, sabendo que é muito difícil gerar grandes campanhas publicitárias, porque todos os que nos ajudam não contam com grandes recursos. Entretanto, nós temos muito que agradecer aos que se solidarizaram conosco. Nada, por menor que seja, é pouco. Desde o lugar mais longínquo à capital do país menos conhecido, tudo o que se faça, por pequeninho que pareça, serve. Pior que isso é não fazer nada. E acho que hoje estamos melhor que há dez anos. Temos a esperança de que pouco a pouco possamos romper esse muro de silêncio. E que muitas pessoas se sensibilizem nos EUA, para que pressionem seu governo a fim de libertar a esses cinco homens que não deveriam estar nem um minuto na prisão.

- Qual é atualmente a situação de segurança de René, já  que ainda que “livre” reside em um território hostil?

Olga: René continua na mesma condição desde o dia 7 de outubro de 2011. Não tem segurança alguma. Sua segurança depende dele, precauções que possa tomar. Tudo isso é insuportável desde o ponto de vista humano. A lei da liberdade supervisada está bem concebida para as pessoas que saem da prisão e vão continuar vivendo em seu próprio domicílio, com suas famílias. Isso é o primeiro que se viola no caso René, ele não está em casa nem com sua família, muito menos na sociedade na qual ele elegeu viver.

A lei serve para que aquele que sai da prisão possa se reincorporar no trabalho pouco a pouco, mas isso não serve para René, já  que ele não tem documentos, nem pode ter carteira de motorista, já  que se tentasse deveria aparecer publicamente seu endereço residencial. Foi pedido que isso não se aplicasse para preservar a sua segurança, e foi negado já que dizem que é só para testemunhas protegidas.

René não pode voltar a tirar sua licença de piloto. A todos que entram em contato com ele, ele deve informar imediatamente que é um ex-presidiário em liberdade condicional e, se a pessoa pergunta o que aconteceu, ele não pode entrar nesse mérito. Na verdade, é uma prisão um pouco maior.

É totalmente absurdo que René siga ali, já que não pensa incorporar-se a essa sociedade, ele é cubano e tem todo o direito de voltar a seu país. Quando apresentamos o pedido para ele, o governo dos EUA disse que ele não está em condições de voltar, já que “não demostrou arrependimento”. Ou seja, não basta que a pessoa cumpra as penas, precisam que elas estejam de joelhos e manifestam todo seu ódio se não conseguem.

Frente a isso, não nos resta mais que redobrar a solidariedade. E esta tomou força de tal maneira que, na Corte de Antonio Guerrero, ficou bem clara a importância da solidariedade. A fiscal teve que reconhecer frente à juíza que o que impulsionava o governo a pedir um acordo para rebaixar ou tirar as cadeias perpétuas era, segundo eles, um onda de desinformação que estava desvirtuando a imagem da justiça estadunidense. Essa onda, indiscutivelmente, não tem outro nome que a solidariedade, e tem que seguir aumentando até se converter em um tsunami que acabe de uma vez com essa situação injusta.

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