terça-feira, 1 de maio de 2012

Revolução cubana: Da fome à agricultura orgânica sustentável e lucrativa


Fonte: OLHAR DIRETO
De Havana, Cuba - Lucas Bólico

O agrônomo Miguel Samines, com mais de 20 anos de
 experiência no Ministério da Agricultura preside a cooperativa UBPC.
Em meados da década de 1990, pouco ainda se falava em sustentabilidade, conceito que entraria em voga no mundo nos anos 2000, na esteira da preocupação ambiental. Mesmo assim, em Havana a agricultura orgânica e sustentável já dava seus primeiros passos, não por motivos ecológicos ou para melhorar a qualidade da alimentação eliminando agrotóxicos. A necessidade era muito mais urgente, produzir alimentos em um país estagnado e isolado.

A cooperativa UBPC começou tímida, com cinco trabalhadores operando em 800 metros quadrados de terra, em 1997, na zona urbana de Havana. Sem acesso a agrotóxicos e a qualquer tipo de insumo industrializado, o agrônomo Miguel Samines, com mais de 20 anos de experiência no Ministério da Agricultura cubano, começou o projeto cultivando frutas e hortaliças. Hoje a UBPC conta com 155 trabalhadores e 11,8 hectares.

“O Kama Sutra já dizia que o que é bom para o corpo é bom para o sexo. Química não faz bem para o corpo. Até quando vocês vão comer agrotóxicos?”, provoca Samines. Além de alimentos saudáveis, a cooperativa desenvolveu um negócio que, se não dá grandes margens de lucro, é viável e vem crescendo gradativamente. 

O modelo se espalhou pela Ilha e está sendo copiado em outros países sem grandes áreas agricultáveis. Hoje em Cuba, 70% de tudo que é produzido é feito nos moldes da cooperativa UBPC e apenas 30% do que é feito no país ainda contém agrotóxico.

“O que temos de mais valioso aqui são os recursos humanos. Hoje, infelizmente, os jovens não querem mais ser agricultores. Querem é ter Iphone, querem outra vida”, queixa-se o pioneiro na agricultura orgânica da ilha. Os membros da cooperativa trabalham sete horas diárias, mas apenas seis no verão. Ganham café da manhã e almoço. 

As mulheres recebem gratuitamente serviço de manicure e os homens de barbeiro. Os trabalhos alternam-se nos sábados e domingos. Também ganha-se uma folga a cada 15 dias e um mês de férias anual. Os membros da cooperativa também têm participação nos lucros, que leva em conta produção e anos de trabalho na hora da divisão. 

Contexto histórico

A produção da cooperativa é diversificada. A terra é cultivada com minhocas produzidas no local e esterco das vacas criadas pela UBPC.

“Não é fácil superar 400 anos de colônia com monocultura”, argumenta a agrônomo. A ilha sempre produziu cana-de-açúcar. Quando a revolução triunfou, em 1959, o destino da produção nacional deixou de ser os Estados Unidos e passou a ser a União Soviética, que financiava a ilha. 

Com o fim da URSS, nos anos 1990, o país entrou em colapso e não tinha comida para todos. 

“Cuba produzia alimento para 40 milhões de pessoas, mas apenas em forma de açúcar”, brinca Samines. “Tudo o que é produzido na UBPC é vendido para a população a preços solidários”, explica o presidente da UBPC. “Mas tem de ser vendido. É um negócio que precisa ser viável”, pondera.

Política eleitoral


“Sou presidente da cooperativa desde 1997, [Hugo] Chavez é [presidente da Venezuela] desde 1998, então sou presidente há mais tempo que ele”, brinca Miguel. A UBPC tem um regime presidencialista, as eleições são feitas por voto secreto, ferramenta pela qual Samines vem se reelegendo.



















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