Fonte: Reuters (aconselha-se cuidado na leitura)
A forte oposição de países da América Latina contra as sanções impostas a Cuba elevou o nível de pressão sobre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante a Cúpula das Américas, neste domingo.
Além de colocar em xeque a declaração final do encontro, os países ameaçam reduzir a influência dos EUA na região.
O ambiente da cúpula de Cartagena contrastou com o evento de 2009, em Trinidad e Tobago, quando Obama, lobo após ter sido eleito, foi recebido como uma estrela de rock. Dessa vez, o presidente norte-americana passou maus momentos nos dois dias do encontro na Colômbia, do qual participaram mais de 30 chefes de Estado.
Dezesseis integrantes da segurança pessoal da delegação dos EUA foram pegos em um embaraçoso escândalo de prostituição, o Brasil e outros países criticaram duramente o expansionismo monetário adotado pelos EUA. Enquanto Obama ficou na defensiva diante das demandas pela legalização de drogas.
A saga da prostituição foi um duro golpe para o prestígio dos guarda-costas do serviço secreto norte-americano e acabou se tornando o inesperado assunto do evento, realizado na cidade histórica de Cartagena. "Pessoas responsáveis por fazer a segurança do presidente mais importante do mundo não podem cometer o erro de se envolver com uma prostituta", afirmou o guia turístico de Cartagena, Rodolfo Galvis, 60.
Onze agentes foram enviados de volta aos EUA e cinco militares foram afastados de suas funções depois de tentarem levar pelo menos uma prostituta para o hotel onde estavam hospedados, um dia antes da chegada de Obama.
Um policial local disse à Reuters que o caso atingiu o ápice quando funcionários do hotel tentaram registrar a prostituta na recepção, mas agentes recusaram e mostraram seus documentos de identidade.
"Alguém encarregado de cuidar da segurança do homem mais importante do presidente do mundo não pode cometer o erro de se envolver com uma prostituta", disse o guia turístico Rodolfo Galvis, 60 anos, de Cartagena. "Isso prejudicou a imagem do Serviço Secreto (dos EUA), não a Colômbia."
VELHA DISPUTA
Pela primeira vez, nações aliadas dos EUA, como a Colômbia, reforçaram a demanda de que Cuba esteja presente na próxima reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Diplomatas disseram que a disputa poderia emperrar a declaração final planejada para este domingo no encerramento da cúpula. O texto a ser divulgado foi pensado com objetivo de demonstrar unidade no hemisfério.
"O isolamento, o embargo, a indiferença, olhar para o outro lado, vêm sendo ineficazes", disse o anfitrião do evento, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, sobre a questão cubana.
A Colômbia é um importante aliado dos EUA na região e conta com a ajuda militar e financeira norte-americana para o combate a guerrilhas e ao narcotráfico. Santos vem se manifestando sobre Cuba, apesar de suas fortes diferenças ideológicas com o governo cubano.
Cuba foi excluída da OEA anos depois da Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro, em 1959, e não toma parte das cúpulas americanas por causa da oposição dos Estados Unidos e do Canadá.
"Todos os países na América Latina e no Caribe apoiam Cuba e Argentina, embora dois países se recusem a discutir isso", afirmou o presidente boliviano, Evo Morales, que se referiu assim ao amplo apoio à reivindicação de soberania Argentina sobre as ilhas Malvinas, controladas pela Grã-Bretanha.
"Como é possível que Cuba não esteja presente na Cúpula das Américas?!", indagou Morales. "De que tipo de integração estamos falando se excluímos Cuba?"!
BOICOTE
O presidente do Equador, Rafael Correa, boicotou o evento por causa da questão cubana. O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, também não participou da cúpula.
Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua e algumas nações caribenhas afirmaram que não participarão de outras cúpulas se Cuba for excluída.
Obama não falou sobre Cuba durante o evento na Colômbia. Mas queixou-se de questões da Guerra Fria, algumas anteriores a seu nascimento, prejudicarem as perspectives de integração regional.
O Brasil, potência econômica regional, liderou as críticas contra a política de expansão monetária posta em prática pelos EUA e outras nações ricas, a qual está enviando uma enxurrada de dinheiro para as nações em desenvolvimento, forçando a alta das moedas locais e prejudicando sua competitividade.
"É muito preocupante (...) a forma pela qual esses países mais desenvolvidos, especialmente no último um ano e meio, a zona do euro tem reagido à crise através, sobretudo, da expansão monetária provocando um verdadeiro tsunami monetário", disse a presidente Dilma Rousseff ao lado de Obama no sábado.
(Reportagem adicional de Mario Naranjo e Pablo Garibian em Cartagena, Ivan Castro em Manágua)
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