segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cuba, um país nem melhor, nem pior; diferente (Relato do brigadista Márcio Freccia)

Márcio Freccia / Médico Veterinário / Sindaspi-SC/Brigadista da XIX Brigada Sul Americana realizada em Cuba de  21/01 a 05/02/2012

Como representante do Sindaspi/SC, sindicato que representa  várias categorias profissionais, e entre elas os funcionários da Cidasc e Epagri, fiz  parte de uma delegação brasileira em viagem a Cuba. Estas delegações recebem o nome de brigadas. Neste caso,“ XIX Brigada sul-americana de solidariedade a Cuba”. Participaram: Brasil (99 membros), Argentina, Uruguai e Chile, totalizando 240 participantes. Várias entidades compuseram o plantel dos brigadistas e entre estas outros sindicatos, associações de classe, professores, engenheiros, médicos veterinários, representantes de partidos políticos, turistas em geral.
As brigadas tem como objetivo fornecer uma maior compreensão da realidade cubana. A realização de jornadas de trabalho voluntário propiciam um aporte de tecnologias indispensáveis ao desenvolvimento agrícola do país. Também conhecer como é um país socialista, pequeno, mas que brinda com a solidariedade internacional, inclusive com o Brasil.

Geografia

A república de Cuba é um arquipélago constituído pala ilha de Cuba, ilha da Juventude   e de mais outras 4000 pequenas ilhas. É a l5ª maior ilha do mundo. Maior que países como a Bélgica, Dinamarca, Hungria e Holanda. Possui 1200 Km em sua maior extensão, do oriente ao ocidente. Situada à entrada do Golfo do México em pleno mar do Caribe, ocupa uma superfície total de 110.922 Km2 e 5.000 km de costa. Possui um clima tropical, apaziguado por ventos alísios do nordeste e brisas marinhas. Segundo os geólogos a intensa atividade vulcânica durante milênios, formou os ilhotes que se uniram conferindo a atual aparência. 
Uma curiosidade de Cuba é a que na realidade são duas ilhas: uma emersa e outra submersa formando um mar interno pouco profundo transformando-se num santuário natural para a criação de camarões e lagostas principalmente. Em suas costas possui centenas de baias e praias entre as mais famosas do mundo como Varadero e Arenas Negras. Amáveis e hospitaleiros, os cubanos são a síntese de vários povos e culturas, que coincidiram por razões históricas e migratórias na maior ilha do Caribe. A música e a dança formam a parte inseparável da vida dos cubanos. Assumem com paixão a defesa dos ideais e suas convicções. Com a fusão de africanos, europeus, asiáticos e índios originou-se a nacionalidade cubana, com perfil único e definida universalidade. Tem uma população de 11,5 milhões de habitantes. Fala o idioma espanhol e adota como moeda o peso cubano. Possui 16 províncias entre elas Guantanamo em sua parte mais oriental.

Breve história

O arquipélago de Cuba foi descoberto por Cristóvão Colombo em 27 de outubro de 1492, que acreditava ter chegado ao Japão. Os conquistadores espanhóis submeteram os aborígenes à escravatura na exploração de ouro e nos trabalhos agrícolas, atividade que os exterminou em poucas décadas. Para substituir esta mão de obra os espanhóis iniciaram a importação de escravos negros africanos para trabalhar na indústria açucareira. Os africanos constituíram os principais elementos étnicos que ao mesclar com os espanhóis deu lugar ao crioulo cubano, com sua peculiar psicologia expansiva, gregária e sensual. Esses crioulos iam perdendo cada vez mais os contatos com a Espanha, na mesma medida em que ganhavam proeminência no comércio e na política local Este sentimento nacionalista cresce até alcançar a máxima expressão com as guerras pela independência do sec. XIX.

Até o século XVII, Cuba se dividia entre o sossego de uma vida pastoril e as tensões provocadas pelos piratas e corsários da França, Inglaterra e Holanda, que disputavam com a Espanha as colônias ultramar.

Em 1762, Espanha e França se aliam contra a Inglaterra, motivo que faz com que os ingleses tomem de assalto a cidade de Havana.Utilizam um contingente de 200 barcos, 2000 canhões e 20.000 homens, batalha nunca vista antes em terras americanas. O curto período de dominação inglesa deixou na ilha cerca de 1000 barcos carregados de escravos negros e mercadores. Com este desenvolvimento a Espanha teve grandes dificuldades em toma-la de volta, motivo que obrigou os espanhóis a empreender numerosas reformas de todas as ordens.

Durante mais de quatro décadas, a ilha permaneceu como colônia espanhola, etapa em que foram forjadas as características da Nação Cubana. Neste período a colônia construiu sua história, cultura e tradições. Este processo se consolidou com as lutas pela independência que começaram em 10 de outubro de 1868. E durou mais de 30 anos, tendo como protagonistas Carlos Manuel de Cespedes(Pai da Pátria e iniciador da luta), Antonio Maceo(1845-1896), Maximo Gomez(dominicano) e José Martí(1868-1895- herói nacional e mentor intelectual da nação cubana).

Diante da iminência do triunfo cubano em 1898, os Estados Unidos declararam guerra contra a Espanha e frustraram os mais caros sonhos de independência do povo cubano.
A guerra terminou com o tratado de Paris, em 10/12/1898, no qual os Estados Unidos receberam o controle absoluto de Porto Rico e Filipinas e ocuparam Cuba militarmente.

Em 20 de maio de 1902, foi concedida a Cuba uma independência formal, que, de fato, fez do país uma neocolônia dos Estados Unidos, com a instituição da Emenda Platt (Senador Orville Hitchcock Platt)– dispositivo legal inserido na Carta Constitucional de Cuba que dava aos EUA o direito de intervir em Cuba sempre que julgasse necessário e também o direito de estabelecer bases militares permanentes na ilha.

Assim os Estados Unidos se apropriam imoralmente, mesmo que legalmente de 117,6 Km2 do território cubano, convertido na base militar de Guantanamo. Sucessivos governos corruptos e alienados aos Estados Unidos se sucedem durante a primeira metade do sec. XX, até o ano de 1959. Muitos líderes tombaram durante este período na tentativa de tornar Cuba uma nação independente e soberana.
Fulgêncio Batista, de origem humilde ingressa no exercito em 1921 e em 1933 dirige um golpe de estado. Assim mantém o controle do país através de vários governos.

Eleito presidente em 1940, amplia seu poder, cria a constituição de 1940 e realiza algumas reformas sociais. Em 1944 seu candidato é derrotado. Mesmo assim ele continua no poder até 1952. Em 1952 encabeça um novo golpe de estado e imprime uma nova ditadura sanguinária, com o apoio dos Estados Unidos.

Assalto ao Quartel de Moncada:
Em 26/07/1953,122 jovens liderados por Fidel Castro, tomam de assalto o quartel de Moncada em Santiago de Cuba. Nesta tentativa frustrada morrem entre 50 e 80 entre guerrilheiros e soldados. Os sobreviventes são rendidos e presos em uma fortaleza militar na Ilha da Juventude distante 120 Km da principal ilha cubana. O governo cubano inicia uma sanguinária repressão aos movimentos de oposição. Fidel e os principais líderes são exilados no México. Durante o exílio, Fidel conhece Ernesto Guevara. Entre os demais membros do grupo de Fidel, estava Raul Castro O grupo estabelece estratégias para derrotar o governo cubano. 
Os guerrilheiros liderados por Fidel, organizam uma expedição utilizando um pequeno iate denominado Granma para o transporte dos 82 guerrilheiros do futuro assalto. Cuba. Entre o desembarque em Cuba e os primeiros combates morrem 18, outros 21 são presos e Fidel se refugia na Sierra Maestra com um pequeno grupo de 17 restantes. A guerra revolucionária se estende por 25 meses. As colunas rebeldes tomam Santiago de Cuba, Santa Clara e em 08/01/1959 Fidel ingressa na capital Havana. O combate decisivo ocorreu em Santa Clara onde Che Guevara liderando a população civil, descarrila um trem com centenas de soldados fiéis ao regime de Batista e os faz reféns.
Impressões pessoais sobre Cuba
Minha visita fez parte de um projeto da diplomacia cubana de aproximação com povos amigos ao arquipélago de Fidel. Quando falamos povos falamos das pessoas e não dos regimes, sejam eles, capitalistas, socialistas ou social capitalistas. Os consulados de Cuba presentes em muitos países efetuam esta aproximação entre sindicatos, associações, partidos políticos, entidades de classe, escolas universitárias, organizando caravanas chamadas brigadas com o intuito de conhecer a realidade cubana despida de preconceitos imperialistas. Como de costume as informações são sempre dirigidas por uma mídia de extrema direita. Quando fui convidado as opiniões de meus amigos divergiam entre ir para um pais para passar fome, medo,insegurança, ausência de transporte , conhecer favelas ou até mesmo andar sob escolta do serviço de espionagem.Outros amigos mais entusiasmados, faziam-me acreditar  ser lá o jardim do édem.
Posso assegurar que nada disso aconteceu e posso confirmar com imenso registro fotográfico, onde as imagens falam por si só. Mas explicando em detalhes digo que fome não vi em ambos os países: Brasil e Cuba. Porem lá tudo é racionado. É um país pequeno e com limitados recursos naturais entre eles o petróleo. Quanto a insegurança seja no trânsito ou na cidade,  com assaltos a mão armada praticamente todos os dias, não precisamos sair do Brasil. Tudo isso já temos em Tubarão. Aqui temos um péssimo cartão de visitas: na entrada da cidade somos abordados por prostitutas e travestis disputando seus pontos comerciais. Nada disso vi por lá.
O progresso acelerado daqui tem nos cobrado um tributo muito caro, gerando uma desordem social.
Destacando alguns pontos interessantes: Cuba é dos cubanos realmente. Eles têm suas próprias marcas de cerveja, bebidas alcoólicas, refrigerantes, sucos naturais, cigarros e charutos, sem ter que pagar royalties sobre produtos que eles detêm toda a tecnologia. Aqui nós tomamos água, sucos naturais com as marcas Nestlé e Coca-Cola. Plantam suas próprias sementes sem ter que importar híbridos, e, por conseguinte os herbicidas Praticam uma agricultura com cultivo mínimo imprimindo pouca degradação ao meio ambiente.
Não vi shopping centers, marcas estrangeiras de fast-food ou grandes redes de lojas, que formam seus oligopólios.Mas quero elencar aqui os pontos senão os mais fortes , os mais importantes para uma nação que são a saúde pública  e educação gratuita para todos. 
A saúde da nação é amparada por uma rede de 23 faculdades de medicina .Educação em tempo integral, com ensino de artes, música, dança, teatro nas escolas é o normal. Nenhuma escola depredada ou pichada observei por lá. Impressionou-me ver o respeito das crianças quando do canto do hino nacional. Comerciais de televisão incentivam as crianças à prática dos esportes. Permanecer grudados todo o dia na internet.é missão impossível Museus e praças públicas são lotadas de estudantes.
A economia de Cuba inicia seus primeiros passos no caminho da abertura. Observamos empreendimentos agrícolas privados utilizando a prática dos condomínios rurais em terras do governo. A exploração de petróleo hoje é em regime de parceria onde o Brasil, através da Petrobrás tem sido o maior parceiro.
Enfim posso afirmar que Cuba escolheu o seu melhor destino face as suas peculiaridades geográficas, sistema de colonização e regime político. Perguntei a ministra da economia qual seria o futuro regime? Se socialista, capitalista ou social-capitalista a exemplo da China. Ela nos respondeu o seguinte: Não temos os problemas da Rússia, nem dos Americanos e nem os problemas de China. Baseado em nossos problemas buscaremos nossas soluções. Cuba é realmente um país soberano.
  
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob seu próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser, que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir e ver.” ( Amyr Klink – Navegador).

Um comentário:

  1. me emocionei com o relato. Parabéns. Viva Cuba, viva o socialismo! Jenny Pompe Salvador - BA - Brigadista da XIX Brigada Sul Americana realizada em Cuba de 21/01 a 05/02/2012

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